Pela Liderança durante a 223ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento do compositor e cantor Luiz Gonzaga.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento do compositor e cantor Luiz Gonzaga.
Publicação
Publicação no DSF de 04/12/2012 - Página 65370
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, LUIZ GONZAGA, MUSICO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ELOGIO, ATIVIDADE ARTISTICA, IMPORTANCIA, INFLUENCIA, CANTOR, MUSICA BRASILEIRA, PARTICIPAÇÃO, ARTISTA, MAÇONARIA.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador João Vicente Claudino, ilustre representante do Piauí; Sr. 4º Secretário, Senador Ciro Nogueira, também do Piauí; primeiro signatário do requerimento desta sessão, Senador Inácio Arruda, que acabou de nos honrar com a sua brilhante palavra, e que é do Ceará; Exmº Sr. Deputado Osmar Júnior; maestro da Orquestra Sinfônica de Teresina, Sr. Aurélio Melo; cantor João Cláudio Moreno; cantor Raimundo Fagner, que tive oportunidade de conhecer na minha terra, no Estado de Roraima.

            Quero cumprimentar, também, o cantor Chambinho do Acordeon e sua esposa Daniela Piccino. O cantor Chambinho é intérprete, como ator e cantor, no filme Gonzaga de Pai para Filho.

            Quero dizer que várias razões me trazem, emocionado, a este momento desta sessão.

            A primeira a de ser um filho de um cearense, que foi do Ceará para Roraima na década de 40, como diziam naquela época, como mata-mosquito. Foi para lá pelo Serviço Especial de Saúde Pública e já encontrou a minha mãe, que tinha nascido em Roraima, filha de paraibanos que foram para lá na década de 30. Portanto, de um lado, tenho sangue cearense; do outro lado, sangue paraibano. Então, na verdade, nas minhas artérias e veias corre muito do sangue nordestino.

            A segunda coisa que também me traz muita emoção de estar aqui presente e que pouca gente sabe é que Luiz Gonzaga foi um ilustre maçom, um maçom que compôs uma música a que vou me referir durante minha fala, em homenagem exclusiva à Maçonaria. E eu, como maçom, sinto-me muito honrado de poder também falar de uma pessoa do povo, que é um exemplo de homem e que diz muito bem o que são os maçons.

            Por terceiro, Senador Inácio, a V. Exª, que foi o primeiro signatário, dizer que eu fui, digamos assim, vítima de um incidente em uma sessão que eu estava presidindo. Era uma sessão ordinária, em que um Senador pediu a palavra para uma comunicação inadiável, elogiou a presença do cantor Chambinho aqui. Até aí tudo válido, mas ele queria que o cantor cantasse naquela sessão ordinária, e eu, como Presidente, tinha de fazer cumprir o Regimento. E não podia, de fato, deixar que ele cantasse, diferentemente desta sessão, que é especial, convocada com o objetivo de homenagear Luiz Gonzaga.

            Então, eu quero dar esta explicação. Não que eu esteja com remorso, porque aprendi com o meu pai, cearense, que você tem sempre de fazer a coisa certa; fazer sempre a coisa que está na lei, ou que está na regra. E foi o que eu fiz naquele dia.

            Nada contra o cantor, nada contra o povo nordestino, porque seria uma incoerência eu, filho de nordestino, neto de nordestino, ser contra ou ter qualquer preconceito contra o nordestino. Até porque eu não tenho preconceito contra ninguém. A minha cabeça é de médico. Sou médico. Médico não tem preconceito. Médico não analisa o paciente pela cor da pele, pelo status social ou pela região de onde ele é. Então, não tenho isso comigo.

            Mas eu quero dizer, aqui, portanto, que essas razões me trazem, com muita alegria, a esta tribuna.

            De uma das muitas músicas que ouvi desde a minha infância, de Luiz Gonzaga, o meu pai gostava de repetir uma frase, que dizia o seguinte: “a esmola dada ao cidadão são ou avilta ou vicia o cidadão”. O meu pai dizia que a última coisa que se tem a fazer é pedir; que se tem de trabalhar. Aí, às vezes, algumas pessoas diziam: “Não, fulano, me dá isso porque é melhor pedir do que roubar”. E meu pai dizia que Luiz Gonzaga perguntava se só existiam essas duas opções, pedir ou roubar. “E trabalhar, não é a primeira delas?”

            Então, na verdade, muitas das coisas que aprendi com meu pai se deveram muito à cultura nordestina, do homem trabalhador, do homem que não tem medo até de deixar a sua própria terra e se aventurar.

            Imagine Roraima, aonde hoje se vai de avião a jato - não é, Fagner, já foi lá -, mas, naquela época em que meu pai foi, ia-se de navio até Belém, de Belém para lá num barco menor, e de Manaus para lá ia-se praticamente de canoa.

            Mas eu fico feliz de estarmos, hoje, aqui, reunidos para homenagear uma das maiores glórias da música popular brasileira, que é Luiz Gonzaga, por ocasião do seu centenário de nascimento, que ocorre no dia 13 de dezembro. Como é possível que nesta data nós não tivéssemos brecha para fazer uma sessão desta, ela foi adiantada para hoje, dia 3.

            Esse exímio instrumentista e grande compositor, já foi dito aqui, nasceu em Exu, uma cidade do extremo oeste de Pernambuco, a cerca de 630 quilômetros do Recife. E aprendeu a tocar sanfona com o próprio pai, Januário, personagem citado em uma de suas principais obras, Respeita Januário.

            Para ser mais exato, Luiz Gonzaga nasceu no sopé da Serra do Araripe, fato que inspirou uma de suas primeiras composições, que se chama No Meu Pé de Serra, e que se inicia assim: “Lá no meu pé de serra, deixei ficar meu coração [eu não tenho a virtude de alguns Senadores que até cantam, eu só sei falar] Ai, que saudades tenho, eu vou voltar pro meu sertão”.

            Ainda adolescente, animava os bailes, os forrós e as feiras das regiões; no princípio, acompanhado pelo pai.

            Por causa de um amor que não foi aceito pela família da namorada, nem por seus pais, acabou por fugir para o Ceará e lá ingressou no Exército Brasileiro. Ficou na vida militar por quase 10 anos, exercendo a função de corneteiro, tendo vivido em vários Estados por força das transferências comuns da vida militar.

            Por sinal, aqui quero fazer uma observação. Eu estive, recentemente, em um congresso maçônico em Juazeiro, e lá, a Banda da Polícia Militar fez uma homenagem muito linda: um dos soldados da Banda cantou, de maneira exemplar, várias músicas do cantor Luiz Gonzaga, entre as quais a Acácia Amarela.

            Mas, continuando, ele deu baixa do Exército em 1939 na cidade do Rio de Janeiro, então capital do País, para tentar a vida de músico. No início, dedicou-se à música instrumental como solista, apresentando-se com a clássica vestimenta, paletó e gravata, executando ritmos variados: choros, sambas, foxtrotes e outros gêneros de músicas estrangeiras populares àquela época.

            Em 41, foi muito aplaudido no programa de Ary Barroso ao executar uma música, de sua autoria, denominada Vira e Mexe, o que lhe valeu um contrato com a RCA Victor, à época, e a gravação dessa música, seu primeiro registro em disco. Mas, só em 45, gravaria a primeira composição cantada, a mazurca Dança Mariquinha, com parceria de Saulo Augusto Silveira de Oliveira.

            Seu maior sucesso, uma das músicas mais gravadas e interpretadas até hoje no Brasil, veio a público dois anos depois, em 1947: Asa Branca, com letra de Humberto Teixeira.

            Mesmo fazendo música de características marcadamente nordestinas, considerada música regional, esse incomparável artista abriu caminho, por assim dizer, para todos os grandes artistas da região que se lhe seguiram e foram dominar o grande mercado musical brasileiro, cuja base são os Estados da Região Sudeste.

            Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, convidados ilustres que aqui nos abrilhantam tanto aqui no plenário quanto nas galerias, de origem humilde, saído do mais profundo sertão pernambucano, Luiz Gonzaga pode ser considerado uma personalidade ímpar entre todas as figuras que engrandeceram a história deste País. O legado cultural que ele nos deixou é de valor inestimável, realçado pelo mérito de fazer da música nordestina um patrimônio nacional inquestionável.

            Reconhecido como homem de mérito por seu trabalho, passou, a partir de 1971, a integrar a Maçonaria, que tantos bons e grandes serviços já prestou para a história e para a população brasileira, tendo chegado ao grau de Mestre Maçom.

            Na qualidade de membro destacado de tão tradicional Instituição, da qual também me honra fazer parte, compôs, em parceria com o também maçom Orlando Silveira, a música Acácia Amarela, cuja letra eu vou ler. Não vou cantar, porque não tenho a qualidade de alguns Senadores que aqui cantam.

            A letra é a seguinte:

Ela é tão linda, é tão bela

Aquela acácia amarela

Que a minha casa tem.

Aquela casa direita, [a casa a que ele se refere é a Loja Maçônica, é a Maçonaria]

Que é tão justa e perfeita,

Onde me sinto tão bem.

Sou um feliz operário [operário é como nós nos chamamos, obreiros, trabalhadores de uma grande obra social.]

Onde aumento de salário

Não tem luta nem discórdia [aumento de salário aqui é a passagem de um grau para o outro; ele passou do grau 1, 2, até chegar ao grau de Mestre Maçônico].

Ali o mal é submerso [isto é, nós trabalhamos para submergir o mal, para acabar com o mal]

E o Grande Arquiteto do Universo [que é como nós, maçons, chamamos Deus. Nós chamamos Deus de “O Grande Arquiteto do Universo”. Outras religiões chamam de Alá, de Jeová; enfim, não interessa o nome que tenha, é “O Grande Arquiteto do Universo”. E termina a letra:]

É harmonia, é concórdia...

É harmonia, é concórdia...

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, existe uma explicação de José Castellani, que foi um ilustre autor maçom, em seu livro Dicionário Etimológico Maçônico, para a reverência que os maçons demonstram por essa planta, a acácia. No Egito, as acácias eram árvores sagradas e tinham o nome hieroglífico de shen. Já a Fraternidade Rosa Cruz ensina que a acácia foi a madeira usada na confecção da cruz em que Jesus foi morto. O tabernáculo hebraico era feito de madeira de acácia, assim como a Arca da Aliança, a mesa dos pães propiciais (ou pães da proposição), e o altar dos holocaustos.

            Na Maçonaria, além de ser o símbolo da Grande Iniciação, a acácia representa também a pureza e a imortalidade de ser o símbolo da ressurreição por influência da Divina Mística dos Árabes e dos Hebreus.

            Srªs e Srs. Senadores, para a Irmandade Maçônica é motivo de justo orgulho ter abrigado em seus quadros tão importante personalidade do meio musical, artístico e, além disso, ser objeto de homenagem com uma composição tão bela, cuja letra eu acabei de ler.

            Por isso, aproveito esta ocasião para unir-me às homenagens programadas para a ocasião do centenário de Luiz Gonzaga, reconhecidamente um dos melhores nomes já surgidos na música brasileira.

            Seu estilo inconfundível na execução das variações rítmicas do acordeom passou a ser imitado pelos instrumentistas que se aventuraram pela música nordestina e que lhe tributaram enorme respeito. É a herança marcante desse talento.

            Como foi dito aqui, Luiz Gonzaga não é mais um patrimônio do Nordeste. É um patrimônio do Brasil. Portanto, nós, nortistas, nos sentimos muito honrados, porque somos resultado da ousadia dos nordestinos de irem para lá naquela época, desde os soldados da borracha até aqueles que foram para lá, sempre em busca de uma melhor vida para suas famílias. Muitos fugiam da seca do sertão, mas muitos também iam exclusivamente trabalhar numa região onde achavam que teriam condições de propiciar uma vida melhor para seus filhos.

            Como meu pai dizia, o pai dele foi capaz de propiciar a ele o ensino médio, e ele dizia que não ficaria conformado se não tivesse todos os filhos doutores, isto é, se todos os filhos não tivessem feito uma faculdade - um objetivo de vida que anima o nordestino na sua quase totalidade.

            Portanto, eu quero aqui encerrar cumprimentando todos os que aqui estão, os telespectadores da TV Senado e os ouvintes da Rádio Senado, pela oportunidade de prestar essa homenagem a Luiz Gonzaga.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/12/2012 - Página 65370