Discurso durante a 223ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento do compositor e cantor Luiz Gonzaga.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento do compositor e cantor Luiz Gonzaga.
Publicação
Publicação no DSF de 04/12/2012 - Página 65376
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, LUIZ GONZAGA, MUSICO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), IMPORTANCIA, ARTISTA, CONTRIBUIÇÃO, CULTURA, PAIS.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco/PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Inácio Arruda, autor também desta homenagem; Sr. Senador João Vicente Claudino, que presidia até pouco tempo esta sessão; Sr. Senador Ciro Nogueira; Exmo Sr. Deputado Federal Osmar Júnior; Mestre da Orquestra Sinfônica de Teresina, Sr. Aurélio Melo; cantor e compositor João Cláudio Moreno; cantor e também compositor, Sr. Raimundo Fagner - sou fã do Fagner, das músicas-; sanfoneiro Waldonys, cumprimento, em nome dessas autoridades, as demais presentes, e minhas senhoras e meus senhores.

            Muito já se comentou, neste ano, sobre o centenário do excepcional Luiz Gonzaga, o pai do baião, o rei do baião. No entanto, quando se trata de celebrar o nascimento de um gênio desaparecido da cultura brasileira, não há excessos, só restam lacunas. Portanto, ainda cabe ao Senado Federal reservar sua especial homenagem ao maior cancioneiro dos ritmos nordestinos da história brasileira.

            Afinal de contas, sua toada, seu timbre, sua inconfundível harmonia melódica traduziu, à perfeição, a combinação antagónica de humores que habitam a alma nordestina. Se, de um lado, a melancolia tórrida assola a miséria da vida sertaneja, de outro, a visceral esperança pelo amanhã melhor resgata com humildade a chuva certa do porvir.

            Sem dúvida, de tão afinado com as agruras e as alegrias do sertão, Luiz Gonzaga não se furtou a difundir seu canto Brasil afora, mediante novos e modernos meios de comunicação. Pelo menos desde os anos 40, a indústria cultural brasileira tem atravessado os rincões do País, transformando folclores regionais em peças patrimoniais da cultura nacional.

            Em tal movimento de expansão, o fenômeno Luiz Gonzaga se encaixa como modelo emblemático desse processo de modernização da cultura brasileira, popularizando o som do Nordeste nos centros urbanos do Sul e do Sudeste. Não por acaso, o baião acabou por se consumar como gênero nacional, do radio à televisão, do cinema à indústria fonográfica, da crítica musical aos conservatórios clássicos.

            Como bem apontam os historiadores da música brasileira, graças a Luiz Gonzaga, o Nordeste saiu da sombra e se fez luz na "mídia". Desse modo, traduziu as culturas orais do universo agropastoril do couro e do gado, do Semiárido nordestino, para a linguagem dos meios de massa. Para tanto, ele teve que reinventar esse Nordeste ou, em outras palavras, inventar um gênero midiático-musical com a respectiva instrumentação, um estilo, uma poética.

            Desavisados, Sr. Presidente, chegamos a acreditar que o trio de sanfona, triângulo e zabumba sempre existiu, e que se constituía como padrão da música de dança sertaneja, que Gonzaga apenas tomou para si.

            Na verdade, o grupo sanfona, zabumba e triângulo foi consolidado pelo artista gênio como a melhor solução para a decantação dessa rítmica sertaneja “desidratada". Aliás, relatam os cronistas que ele se deu ao luxo de ensinar um anãozinho a tocar triângulo e um engraxate, com o perfil apropriado, a tocar zabumba, criando um resultado visual espetacular e escultural.

            Eu assisti ao filme Gonzaga - De Pai para Filho. Realmente, é um filme extraordinário. E digo àqueles que nos estão assistindo pela TV Senado, que nos estão ouvindo pela Rádio Senado, por todos os meios de comunicação, e que estão acompanhando esta sessão de homenagem, que devem ir assistir a este filme, pois vale a pena. É um filme extraordinário, espetacular!

            A melodia imortal de Asa Branca, por sua vez, envolve uma alquimia musical inspirada nessa passagem direta das tradições orais sem autoria ao domínio mercantil da canção urbana no Brasil.

            Os versos evocam mitos da memória coletiva do Nordeste, ornamentados com aquela frase típica de violas de cantadores e apoiados sobre um encantador ritmo dançante.

            Nessa armadura, o baião de Luiz Gonzaga vai sintonizar tristeza com alegria, falta com sobra, seca com chuva, dor com festa e, sabiamente, este foi seu recado subliminar para o Brasil. É como se, de Asa Branca a Assum Preto, o baião, ao mesmo tempo rítmico e sentimental, tivesse sintetizado, numa única fórmula, as alternâncias cíclicas da natureza, as mortes e os renascimentos, reagindo a todas as circunstâncias com a mesma vitalidade.

            Em suma, Sr. Presidente, senhoras e senhores, envolvidos em um sentimento de muito orgulho, brasileiros de todos os cantos agradecem o privilégio de o País ter abrigado um dos talentos mais notáveis de nossa história musical.

            Nossa singela homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga representa, por fim, uma parte ínfima de sua incomensurável contribuição para a cultura musical do Brasil.

            E, neste mesmo dia, Sr. Presidente, senhoras e senhores, há poucos instantes, a Câmara dos Deputados estava também homenageando algumas obras importante do nosso País: a Ferrovia Tereza Cristina, de Santa Catarina; e a Ferrovia Madeira- Mamoré, do Estado de Rondônia, que também estão completando 100 anos.

            Parabéns aos familiares, parabéns ao povo brasileiro pela história, pela linda história de Luiz Gonzaga!

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/12/2012 - Página 65376