Discurso durante a 234ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Lamento pelo convite feito ao Presidente Fernando Henrique Cardoso para que venha a uma comissão do Senado para falar a respeito da “Lista de Furnas”.

Autor
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: Aloysio Nunes Ferreira Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Lamento pelo convite feito ao Presidente Fernando Henrique Cardoso para que venha a uma comissão do Senado para falar a respeito da “Lista de Furnas”.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2012 - Página 70997
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • APREENSÃO, CONVITE, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, ESCLARECIMENTOS, REFERENCIA, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, FURNAS CENTRAIS ELETRICAS S/A (FURNAS), CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FALSIFICAÇÃO, DOCUMENTO, CALUNIA, OPOSIÇÃO.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Senadores, venho a tribuna, na abertura desta sessão, para comentar um episódio triste e lamentável ocorrido ontem no Senado, que foi o convite ao Presidente Fernando Henrique Cardoso para que venha a uma comissão do Senado, para falar a respeito de algo que foi absolutamente caracterizado, sem nenhuma dúvida possível, como uma farsa, a chamada Lista de Furnas.

            Trata-se de um documento que foi produzido em oficinas criminosas, oficinas que operam recorrentemente sob o comando do PT, com o objetivo de atacar a reputação dos seus adversários, em que constava uma série de nomes de políticos, vários políticos de vários partidos, que teriam recebido contribuição ilegal de uma empresa estatal, no caso Furnas.

            Essa lista, submetida à perícia, verificou-se fraudulenta. As assinaturas que tinham sido colocadas no documento exibido à imprensa eram fraudulentas, eram falsas. Houve um inquérito, houve uma investigação que concluiu pela falsidade do documento. No entanto, este documento foi trazido ao debate de uma comissão mista do Congresso, como pretexto para se convidar o Presidente Fernando Henrique para falar a respeito disto: a respeito de uma fraude, de uma falsificação.

            Quem promoveu esse acinte foi o Líder do PT na Câmara, o Deputado Jilmar Tatto. E ele declarou, depois da sessão, numa linguagem que seria mais própria de gangues de rua do que do Senado, e agora cito quase que textualmente, o Deputado: “Agora é guerra. Se querem guerra, terão guerra”. Ele se referia a uma iniciativa da oposição de pedir esclarecimentos, de pedir uma investigação ao Ministério Público Federal a respeito de declarações prestadas no Ministério Público pelo Sr. Marcos Valério, declarações produzidas na presença de procuradores da República, diante dos quais o Sr. Marcos Valério se apresentou acompanhado pelo seu advogado, e esta entrevista, que já se tornou célebre, dizia que um dos destinatários de recursos públicos, comprovadamente públicos, segundo decisão do Supremo Tribunal Federal, desviados pelo Sr. Marcos Valério, no esquema do mensalão, serviram para pagar despesas pessoais do ex-Presidente.

            Sendo intermediário entre Marcos Valério e o ex-Presidente Lula um personagem obscuro, sulfuroso, um tal Freud Godoy, cujo nome aparece em todos esses episódios que causam espanto e indignação àqueles que prezam pela saúde das instituições republicanos.

            Ele está presente em tudo, está presente no caso dos aloprados, está presente na roubalheira da Cooperativa dos Bancários de São Paulo, está presente em tudo. E, agora, apareceu presente, o seu nome aparece mencionado nesse depoimento.

            Nada mais correto, por parte daqueles que prezam a limpeza na vida pública, pedir que essa denúncia seja ou arquivada ou então levada adiante. Nós entendemos que ela deve ser levada adiante, deve ser investigada, e não é o entendimento da Oposição apenas, é o entendimento do Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Joaquim Barbosa, aliás, indicado para o Supremo pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

            Em represália a essa iniciativa da Oposição, o Sr. Jilmar Tatto exuma mais um documento falso, mais um dossiê apócrifo, mais um desses instrumentos de que o PT se utiliza recorrentemente para a luta eleitoral. Diz: Agora é guerra! Acontece que mesmo a guerra é sujeita a determinadas convenções, à Convenção de Genebra, por exemplo.

            Agora é guerra! Agora é o vale-tudo. E não é agora. Se nós remontarmos à crônica da baixa política brasileira, 10 anos atrás, nós encontraremos um dossiê fraudulento, o chamado Dossiê Caymã, que dizia, apontaria a existência de contas secretas de adversários do PT. Esse Dossiê Caymã se revelou uma farsa, os seus autores foram processados, alguns foram presos. Foi durante a campanha eleitoral de 2002. Depois, nós temos o caso

            Depois, nós temos o caso dos aloprados. Lembram-se, Srs. Senadores, o que é esse caso dos aloprados? Durante a campanha eleitoral de 2006 quando José Serra foi candidato ao Governo e Geraldo Alckmin candidato à Presidência da República, inventaram mais um desses dossiês. O dossiê que foi produzido, melhor dizendo, refrescando a minha memória porque são tantos, tantos os episódios de fraudes, mas exatamente na campanha em que Serra foi candidato a Governador contra Aloísio Mercadante e Geraldo Alckmin candidato à Presidência da República contra Lula. Inventaram, fabricaram mais um dossiê. 

            Um grupo, a quem o Presidente Lula acariciando a cabeça depois de terem sido apanhados no crime, disse: “Ah, são apenas uns aloprados”. Esses aloprados arregimentaram uma quantia respeitável, cerca de R$1 milhão e 700 mil para comprar de criminosos, de falsários, documentos frios para atacar a reputação do nosso candidato ao Governo de São Paulo: o caso dos aloprados.

            Um dos fabricantes desse dossiê é o mesmo Freud Godoy que aparece agora no depoimento de Marcos Valério, que já havia aparecido na CPI dos Correios, no dossiê dos aloprados. Não se sabe o que aconteceu com esses aloprados, do ponto de vista judicial. O que se sabe é que continuam gozando da intimidade dos altos círculos de comando do PT. Se não, do Governo do PT. Um dinheiro sujo arrecadado não se sabe como para fabricar esse dossiê, para pagar os bandidos que o fizeram também, até hoje, permanece com a sua origem desconhecida.

            Então, Srª Presidente, agora vem mais um episódio da campanha de 2010. Havia, aqui em Brasília, uma tal mansão do Lago Sul onde se reunia o chamado Comitê de Inteligência da campanha Dilma. Nesse ambiente foram produzidos materiais obtidos, foram tramadas quebras ilegais de sigilo bancário de dirigentes do PSDB. Cito o ex-ministro e atual Vice-Presidente do Partido Eduardo Jorge Caldas. Acesso a contas bancárias e fabricação de documentos falsos para atingir a reputação da filha e do genro de um candidato à Presidência da República, na casa mansão do Lago Sul, onde funcionava esse comitê de inteligência. Devia se chamar comitê de burrice, porque foi tão mal feito que a fraude foi descoberta imediatamente.

            Isso gerou uma balbúrdia no comando da campanha da Presidente Dilma, inclusive redundando no afastamento do coordenador da tal mansão do Lago Sul, diante da controvérsia imensa que o fato provocou, o afastamento do responsável por essa casa, que é o atual Ministro Pimentel.

            Então, o que estou dizendo aqui é o modus operandi tradicional de quem vê a política como uma guerra, uma guerra de extermínio, uma guerra que não está sujeita a leis, uma guerra que não está sujeita nem sequer à Convenção de Genebra. É a forma como o PT faz política.

            É por isso que existe dentro desse partido um componente de desrespeito, um componente de escárnio às regras institucionais do País, que faz com que eu me inquiete diante da perspectiva de perpetuação desse grupo no Poder.

            O que o Sr. Jilmar Tatto fez ontem nada mais é do que a sequência de um estilo, de uma forma de ação, de uma maneira de fazer política em que o adversário é visto não como alguém com quem se deve concorrer para vencer uma disputa com a base de argumentos ou de votos, mas como alguém que deve ser exterminado. Ou se não for exterminado, comprado. Daí a origem do mensalão. A origem do mensalão é essa, é o desprezo pelas instituições, é o desprezo pelas regras da política, pelas regras republicanas, que leva um líder de bancada, que será logo mais secretário da Administração de São Paulo a promover aquilo que promoveu ontem em uma Comissão do Senado.

            Por isso, Srª Presidente, eu não podia hoje deixar, tendo ainda outros assuntos que dizem respeito à administração e às questões legislativas das quais nós estamos nos ocupando hoje no Senado, na abertura desta sessão, deixar de expressar minha mais profunda indignação contra a utilização de um instrumento do Senado, do Congresso da República para promover uma guerra suja e sem quartel contra um ex-presidente da República a quem o Brasil deve tanto.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2012 - Página 70997