Discurso durante a 234ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Manifestação em defesa do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Autor
Wellington Dias (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: José Wellington Barroso de Araujo Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. HOMENAGEM.:
  • Manifestação em defesa do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Humberto Costa, Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2012 - Página 71039
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. HOMENAGEM.
Indexação
  • DEFESA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, REGISTRO, CONTRIBUIÇÃO, POLITICA, PAIS.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ANIBAL DINIZ, SENADOR, ESTADO DO ACRE (AC).

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Parlamentares, hoje venho à tribuna para tratar de uma acusação lamentável feita pela imprensa, por alguém que o Brasil inteiro passou a conhecer - também lamentavelmente -, e julgado, condenado, na maior condenação feita pelo STF. Digo aqui das acusações feitas pelo Sr. Marcos Valério ao ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

            Eu tive o privilégio de conhecer o Presidente Lula ainda muito jovem, e tive o privilégio de conviver com ele durante muitos momentos, não só agora, quando foi Presidente da República, mas também ainda nas origens do Partido dos Trabalhadores, por volta de 1980, 1982, 1984. É uma pessoa que dedicou toda a sua vida, até agora, às causas dos trabalhadores e do povo brasileiro, alguém que se revelou uma pessoa com uma história de vida, hoje inclusive contada em filmes, e com uma trajetória vitoriosa. O simples fato de ter sobrevivido na infância já é uma vitória, pela região onde ele morava.

            Depois vai para São Paulo, enfrenta a vida. Ali se revela umas das maiores lideranças do Planeta no movimento sindical, conformado não apenas em dirigir o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, mas em colocar para os trabalhadores do Brasil a oportunidade, mesmo quando ainda era proibido, de organizar uma Central Única dos Trabalhadores. Hoje, são várias centrais, mas, na época, isso era novidade no Brasil. A CUT, a Central Única dos Trabalhadores, passou a colocar na ordem do dia pautas que hoje estão na Constituição brasileira e em várias leis, assegurando direitos reais ao povo trabalhador.

            Mais do que isso, depois, como Deputado Federal, teve um importante papel aqui no Congresso Nacional, na Constituição de 1988. O Presidente, colocado como Presidente do Partido dos Trabalhadores, viajou pelo Brasil inteiro. Eu diria que são raros os brasileiros, provavelmente é possível não encontrar nenhum, que conheçam o Brasil, cada Estado, as diversas regiões, os diversos problemas, como o Presidente Lula.

            E talvez isso tudo fosse uma preparação para o momento que ele viveu logo em seguida, eleito Presidente da República, após três eleições, em 1989, em 1994 e em 1998, em que foi derrotado. No ano de 2002, tive o privilégio de ser eleito Governador do Estado do Piauí, no momento em que ele era eleito Presidente da República.

            Eu creio que é possível haver divergências entre adversários sobre vários pontos, mas é inegável desconhecer o papel de Luís Inácio Lula da Silva neste País. E cito apenas, de forma muito simples, o que era o Brasil em todas as áreas que podemos analisar. A começar pela soberania do País, que tinha que receber a cada ano a presença do Fundo Monetário Internacional, como agora assistimos, e, com a experiência que temos, sabemos o quanto estão sofrendo países como Grécia e outros, que também são importantes no Planeta, por toda a sua trajetória, por toda a sua história. E o Brasil, hoje, é respeitado mundialmente, inclusive como país credor do Fundo Monetário Internacional.

            O que era a política social? Hoje, temos a maior rede de proteção social dos países do mundo. A economia, que coloca, numa crise como a que estamos enfrentando desde 2008, o Brasil, ano a ano, gerando emprego, o Brasil ora mais elevado, ora menos elevado, mas com crescimento. Cito essas coisas para revelar a genialidade de Luiz Inácio Lula da Silva.

            Mas eu queria, ao dizer tudo isso, tocar no que mais me orgulha nesse brasileiro: é um homem honesto, é um homem decente. É uma pessoa de quem eu acho que este País tem razões de sobra para se orgulhar. E assim é respeitado no mundo inteiro.

            É por essa razão que eu quero aqui, também na mesma linha da Presidenta Dilma Rousseff e do Presidente do meu Partido, Rui Falcão, me somar a tantos brasileiros que lamentam que haja espaços que são dados, sabe Deus com que intenções, para pessoas como Marcos Valério fazerem acusações a alguém como Lula.

            Estou aqui, por tudo que conheço, para dizer da confiança que tenho, da confiança não apenas por ouvir falar, mas por conviver, e para dar este depoimento sobre alguém que, com todas as oportunidades que teve na vida, vindo de onde ele veio, se mantém simples. Ele, a D. Marisa, os seus filhos e, agora, os netos. Enfim, uma pessoa que tem uma vida simples. Alguém que nunca mudou seus hábitos, que não tem ganância por patrimônio, desapegado mesmo de bens materiais. Uma pessoa, portanto, que, eu diria, pelas benções de Deus, é um orgulho do povo brasileiro.

            Eu creio, e digo aqui, que precisamos ter um cuidado muito grande. Afinal de contas, na vida, no momento em que vivemos, na política, nós podemos ter divergências, sim, e temos divergências porque temos democracia, e temos democracia também porque esse homem ajudou na construção de um País com ampla liberdade, com ampla democracia.

            É por essa razão que estou aqui na defesa, sim, de Luiz Inácio Lula da Silva, que, aliás, não precisa de defesa. Sua própria história, sua própria vida é a maior defesa que tem a seu favor.

            Com maior prazer, Senador Humberto Costa.

            O Sr. Humberto Costa (Bloco/PT - PE) - Senador Wellington Dias, eu quero agradecer o aparte e dizer a V. Exª que eu me somo integralmente ao discurso que V. Exª faz neste momento em defesa do Presidente Lula, do seu legado político, da sua trajetória, de tudo o que ele fez por este País. E quero, também, aqui registrar com absoluta e total convicção a mesma coisa que V. Exª registrou. O Presidente Lula é um homem de bem, é um homem honesto. Eu tive oportunidade de ir à casa do Presidente em janeiro deste ano, eu e o Senador Jorge Viana, e ele vive de forma absolutamente simples, num apartamento de classe média. O Presidente Lula, como disse V. Exª, nunca teve uma postura patrimonialista ou estimulou qualquer tipo de ato de corrupção. O que parece é que há uma antecipação das eleições de 2014, uma tentativa de atingi-lo, uma tentativa de atingir o próprio PT, que já sangrou, já pagou por vários erros que foram cometidos, e agora a tentativa é de quebrar a imagem, de manchar o Presidente e o respeito que o povo brasileiro tem por ele. Então, quero parabenizar V. Exª e dizer que nós estaremos na trincheira para impedir que essa imagem venha a ser maculada. Muito obrigado.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - Eu agradeço a V. Exª e com o maior prazer ouço o Senador Lindbergh Farias.

            O Sr. Lindbergh Farias (Bloco/PT - RJ) - Senador Wellington Dias, quero parabenizar V. Exª pelo pronunciamento. Quero dizer que sou o próximo a subir à tribuna e também falar sobre Luiz Inácio Lula da Silva, do orgulho que nós temos desse grande brasileiro. Não vou antecipar o meu discurso, mas quero parabenizar V. Exª por subir a essa tribuna para defender o nosso Presidente, o seu legado, a sua história, a transformação que ele fez em nosso País. Vou só parabenizar V. Exª, porque, logo após, vou subir à tribuna com o mesmo propósito.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - Eu agradeço. Aliás, sei que V. Exª, como eu também, o conheceu ainda menino, muito jovem. Quantas vezes... Eu quero apenas, com este depoimento, Senadora Ana Amélia, Senador Jayme Campos, temos o privilégio de ter aqui também o ex-Ministro e ex-Deputado Federal João Henrique Sousa, do meu querido Estado do Piauí, que nos honra com sua presença.

            Lembro-me ainda, no início do meu mandato de governador, de gozar do privilégio de poder jantar com ele e com D. Marisa, juntamente com outros companheiros, na época também governadores, como Jorge Viana, me parece que Marcelo Deda e Eduardo Campos. E ali, naquele instante, ele dizia uma coisa interessante, mostrava a importância de termos cuidado com a família.

            Ao passar por um mandato de governador, ele, de Presidente, o cuidado para compreendessem que aquilo era uma passagem, aquilo tinha começo, meio e fim. Quatro anos. A partir dali, a vida normal, o padrão normal de vida. E ele nos aconselhando exatamente para que filhos e filhas nunca pudessem imaginar que os encantamentos de um palácio de governo fossem base para um padrão de vida, mostrando a importância de estarmos preparados e preparando para após o mandato. Tive o privilégio de conversar com ele depois, e ele repetiu exatamente isso.

            Então, quero aqui chamar a atenção, porque acho que é alguém que tem, eu diria, hoje, todo um carinho, todo um amor, toda uma relação criada com o povo brasileiro.

            Destaco aqui as caravanas em que ele, de ônibus, de trem, de canoa, de barco, muitas vezes até montado em cavalo, enfim, fez questão de conhecer os rincões do Brasil em cada Estado. Acho que essa foi a maior escola que ele teve na vida. Alguém que não teve, no tempo adequado, as condições de educação, como muitos brasileiros, mas que teve ao seu lado os maiores especialistas deste País, e, principalmente, com uma capacidade intuitiva e de absorção de conhecimento espetacular, alcançou as condições de ser presidente do Brasil, com um pé no chão, tratando de cada obra, de cada coisa a ser feita no Brasil como alguém que sabia exatamente onde aquilo ia acontecer e qual era o efeito.

            Então eu quero aqui, com estas palavras, me somar aos milhares de brasileiros, dos mais simples aos intelectuais, que neste instante também manifestam solidariedade ao nosso Presidente.

            Quero aqui repetir: acho que o Presidente Lula não precisa de defesa, a sua história é a maior defesa que ele tem para ataques como os que lamentavelmente ocorrem.

            Para encerrar, ouço, com muito prazer, o Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Cumprimento o Senador Wellington Dias por suas palavras. Quero dizer que pude conhecer o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por volta de 1975, quando, certo dia, telefonei para ele para conversar sobre alguns assuntos importantes. Ele começava a se destacar na Presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e de Diadema - assim se chamava à época -, e, em 1976, certo dia, na Fundação Santo André, eu havia sido convidado para realizar uma palestra e, ali, havia um assessor do Presidente do Sindicato, que era aluno de Economia e perguntou a ele: “Você não quer assistir a uma palestra do Professor Suplicy, aquele que escreve na Folha?”. O Presidente Lula foi à palestra e, naquele momento, quando eu abri a possibilidade de questões para todos, o Presidente do Sindicato, então, levantou a mão e formulou observações e perguntas. Quando ele terminou, o professor disse: “Mas o que é que o diretor da faculdade vai dizer na hora em que souber que está aqui presente um perigoso líder sindical?”. O Presidente Lula ficou um pouco sem jeito, achou melhor sair da classe. Eu acabei de responder a todas as perguntas e mencionei, especialmente naquela época em que os ministros da área econômica recebiam e conversavam sempre com empresários, mas muito raramente recebiam trabalhadores, o quão importante era para eles, que se tornariam economistas, na hora de tomar decisões de política econômica, sempre conversarem não apenas com empresários, mas também com trabalhadores, que seriam, obviamente, objeto das consequências daquelas decisões. Daí, acabei de responder às perguntas e, posteriormente, saí da escola. No pátio, estavam, ao lado de Lula, Devanir Ribeiro e outros, além de Osvaldo Cavinato, que era o aluno daquele 4º ano e que, até hoje, é assessor do Dieese junto àquela direção dos metalúrgicos. E o Lula disse a mim: “Ah, Eduardo, vamos conversar mais. Venha ao Sindicato, visite-nos!” E ali se iniciou uma relação, desde 1976 até hoje, de interação, de conhecimento. Conforme V. Exª, eu tive oportunidade de participar das inúmeras Caravanas da Cidadania e de tantas reuniões, assim como também participei em Acauã e Guariba, ao lado de V. Exª, quando, no início de 2003, por volta de fevereiro ou março, foi lançado o primeiro Programa Fome Zero, o Cartão Alimentação, que, depois, se tornou parte do Bolsa Família. Eu quero aqui dar o meu testemunho no conhecimento de tantas ocasiões, e todas as vezes que tive a oportunidade de interagir com o Presidente Lula, ele sempre me disse: “Para nós do PT, a ética é fundamental.” Então, no conhecimento que eu tive, na interação de muitos anos ao lado dele, nunca vi qualquer ação que pudesse estar ferindo a ética. De tal maneira que eu, pelo menos, posso dar o meu testemunho em tantas vezes que interagi com o Presidente Lula. Portanto, quero, aqui, comungar com o sentimento de V. Exª e espero que todas essas questões sejam dirimidas, esclarecidas, inclusive com a colaboração do próprio Presidente Lula e de todos aqueles que, com ele, interagimos ao longo dessas décadas, de mais de 32 anos de história do Partido dos Trabalhadores. Pelo fato de eu ter interagido com o próprio Presidente Lula e outros, desde os idos dos anos 70, é que, em 1979, quando o Presidente Geisel extinguiu Arena e MDB, vieram alguns amigos dizer a mim, líderes sindicais e intelectuais: “nós gostaríamos que você também ingressasse no nosso partido por ocasião da fundação”. Por isso, em 10 de fevereiro de 1980, eu participei da fundação do Partido dos Trabalhadores. Meus cumprimentos.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - Eu agradeço. Com certeza, o depoimento de V. Exª ele aqui é relevante, porque certamente V. Exª conviveu bem mais, por morar em São Paulo, por ter estado já há muitos anos na direção do Partido e ser um dos fundadores, e também como uma pessoa que nos orgulha muito. Eu disse aqui há poucos dias do orgulho também que temos, todos nós brasileiros, independentemente de partido e de divergências, de uma pessoa como V. Exª.

(Interrupção do som.)

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - Apenas para concluir, Sr. Presidente, primeiro parabenizando V. Exª pelo seu aniversário, nesta data importante, e por estar hoje, exatamente quando está aniversariando - e é uma honra, sei, para o povo do Acre -, por uma conjuntura que é muito rara, da ausência da Presidência da República, do Vice-Presidente, do Presidente da Câmara do País, V. Exª também está hoje como Presidente do Congresso Nacional e do Senado Federal. E isso também, para mim, é uma alegria muito grande.

            Mas, para finalizar, o que eu quero dizer é isso: o meu Partido ele é feito de seres humanos, tem hoje cerca de 2 milhões de filiados e, certamente, são pessoas que têm as mais diferentes posições e histórias de vida. Mas devo dizer que qualquer um que entrou nesse Partido e que ouviu Luís Inácio Lula da Silva tem a obrigação de caminhar pela ética, pela decência, porque é isso que ele sempre pregou e fez. A sua história de vida, o fazer é, eu diria, uma grande moral.

            Por essa razão, reconhecendo que qualquer pessoa pode denunciar, mas não poderia me calar em vendo uma situação como essa, concluo dizendo uma frase, porque essa mesma tentativa de manchar a história do Lula já ocorreu neste País várias vezes. Talvez a mais forte, por uma questão eleitoral, ocorreu por volta de 2005/2006.

            E eu recorro a uma frase e sei que o faço aqui não em meu nome, mas em nome de milhões de brasileiros - sim, é verdade, sou do Partido do Presidente; é verdade, sou quase um conterrâneo nordestino dele; também, é verdade, sou um amigo, falo aqui como cidadão, mas também revelo que sou um amigo -, a frase que o Brasil inteiro ouviu é exatamente esta: o Lula é meu amigo, mexeu com Lula, mexeu comigo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2012 - Página 71039