Pronunciamento de Jorge Viana em 17/12/2012
Discurso durante a 235ª Sessão Especial, no Senado Federal
Comemoração dos quarenta anos da Rede Amazônica de Rádio e Televisão.
- Autor
- Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
- Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Comemoração dos quarenta anos da Rede Amazônica de Rádio e Televisão.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/12/2012 - Página 72469
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, EMISSORA, RADIO, TELEVISÃO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO AMAZONICA.
O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente, José Sarney.
Gostaria de cumprimentar, com o carinho acreano, essa ilustre figura do Brasil, que é o Dr. Phelippe Daou, que tem raízes no meu Estado e, hoje, merece esta celebração aqui no Senado Federal, uma iniciativa da Senadora Vanessa, nossa colega aqui do Senado e também da região.
Quero cumprimentar o Sr. Moreira e todos que estão aqui, autoridades civis e militares, ressaltando a presença do Dr. Paulo Paiva, ex-Ministro, e também do ex-Ministro Juarez Quadros, duas pessoas que tiveram envolvimento direto para que pudéssemos estar aqui celebrando os 40 anos da Rede Amazônica de Televisão, e, quem sabe, para não correr risco de seguir nominando pessoas, apenas dizer que são uma verdadeira epopeia esses 40 anos do Dr. Phelippe Daou à frente desse grupo, com seus colegas, sócios, parceiros e familiares.
E a minha vinda aqui - fiz questão de estar presente nesta sessão e quero, mais uma vez, parabenizar a Senadora Vanessa - é porque estamos celebrando uma grande conquista da nossa região. E felizmente temos presidindo esta sessão o Presidente Sarney, que já governou este País e recentemente assumiu, depois de 22 anos, a Presidência da República e conhece profundamente os desafios, como já foi dito aqui nas palavras do Senador Raupp - e, certamente, os que me vão suceder também vão registrar -, dessa região que é um continente.
Os 40 anos da Rede Amazônica de Televisão, a história de vida do Dr. Phelippe Daou confunde-se com a história do Acre e da Amazônia. O Dr. Phelippe Daou é filho típico de uma família que ocupou a Amazônia no começo do século passado. A sua mãe, Dona Nazira, saiu do Rio de Janeiro, filha de libaneses, e foi residir em Sena Madureira, no Acre. Seu pai, José Nagib Daou, chegado do Líbano, como muitos outros - no caso, o meu avô, português -, jovem ainda foi morar em Brasileia, terra do meu pai. E se encontraram no Acre, construíram uma família. Daí uma relação na cabeceira dos rios, na fronteira com a Bolívia. Depois, foram viver em Manaus e lá o Dr. Phelippe Daou nasceu.
A relação afetiva do Dr. Phelippe Daou com o Acre sempre esteve presente. Eu me vi passando para adulto conhecendo essa sua história, Dr. Phelippe Daou, muito também por conta do seu pioneirismo na implantação da TV Acre. Quer dizer, a implantação da TV Acre, com o Tufic Assmar à frente, um comerciante tradicional do Acre que não tinha conhecimento dessa área de comunicação, tinha como tutor, como condutor, o Dr. Phelippe Daou, que pessoalmente implantou, no começo dos anos 70, a televisão no Acre. Eu, garoto ainda, mas para mim foi marcante, tive o privilégio de assistir à Copa do Mundo - para verem a dificuldade - de 1974.
Primeiro havia um problema: as pessoas não tinham aparelho de televisão para assistir - estou falando na década de 70. E o Dr. Phelippe Daou, engenhosamente, construiu um mecanismo pelo qual se levava a fita de avião e 2 dias depois de o jogo ter acontecido nós assistíamos e vibrávamos, vendo a Copa do Mundo de 1974.
Era assim, Sr. Presidente, Sarney. Foi assim que nós vencemos e sonhamos com a integração via comunicação.
Se a comunicação só tem sentido se for em tempo real, a nossa passava 2 dias para ver a novela, para assistir ao noticiário, e para ver um jogo que já tinha sido celebrado.
Isso foi de uma importância para a história do povo de Rio Branco e do Acre, que a TV Acre teve que colocar televisão da praça, e todo mundo ia assistir na praça ao jogo que já tinha ocorrido 2 dias antes. E com vibração, inclusive, comemorando os gols. Porque era novidade, era a possibilidade de ver aquela coisa que vinha do outro lado do mundo, aquela imagem que chegava para todos nós.
Foi dessa maneira que o Dr. Phelippe Daou integrou a Amazônia e construiu a Rede Amazônica de Televisão, que hoje completa 40 anos.
Foi muito difícil, certamente como ainda é hoje. Há uma certa insensibilidade de Brasília, das autoridades, com os problemas da Amazônia.
Eu mesmo reclamo e pretendo dedicar o meu mandato - tenho aqui vários colegas que têm esse mesmo propósito, tenho conversado -, porque acho que a Amazônia ainda não tem um endereço em Brasília. São 25 milhões de habitantes, uma região continente.
Eu acabei de fazer uma viagem para Doha, na COP 18. Vou fazer uma fala hoje aqui, na sessão, relatando a minha participação em Doha.
Todo debate que acontece no mundo, de alguma maneira direta ou indireta, está vinculado com biodiversidade, com sustentabilidade, está vinculado com a Amazônia e com o que ela guarda, com o desconhecido que ela tem, mas isso não sensibiliza ainda hoje.
Agora, imagine implantar uma rede de televisão naquela época, sensibilizar autoridades. Por isso a importância aqui do Dr. Paulo e do Dr. Juarez, porque eles se envolveram pessoalmente para que muitos dos obstáculos fossem vencidos.
Sr. Presidente, senhoras e senhores que acompanham aqui, o Acre, a nossa história de valorização do rádio ainda é muito presente, a nossa querida Rádio Difusora Acreana. O momento mais especial do dia, ainda hoje, no Acre, é o momento das mensagens, quando as pessoas que saem da floresta e que estão na cidade mandam uma mensagem meio cifrada, que tem que ter uma linguagem.
Presidente Sarney, que é um profundo conhecedor da língua portuguesa, um escritor, só algumas pessoas conseguem escrever de um jeito para que quem ouça, no meio da floresta, entenda a mensagem curtíssima, envolvendo saúde, envolvendo situação financeira -, que é chamado de numerário, nunca dinheiro. Existe um código de comunicação que funciona plenamente, mas que quem não é da região, ouvindo aquilo, não entende quase nada. E ali está sendo dito que já chegou, que fez boa viagem, que já encaminhou os meninos para o tratamento, que os exames já estão sendo feitos, que já transferiu o dinheiro, que já pagou não sei quem.
Isso, de vez em quando, vira anedota, porque são situações muito delicadas, quando se vai fazer um comunicado de um cavalo que está doente ou de um animal que já está curado e quando se quer saber alguma coisa. E há livros e livros escritos só sobre essas mensagens feitas em mão única. Quer dizer, é encaminhada da Rádio Difusora Acreana para pessoas que estão - algumas delas - há meses de distância se for terra ou por água.
Hoje, tudo bem, porque já temos uma condição muito melhor no Acre, mas, assim mesmo, é muito fácil encontrar pessoas que moram a 10 dias de viagem de Rio Branco. É muito fácil encontrar pessoas que tem 50 anos - a minha idade, já tenho 53 - e nunca foram a Rio Branco. Eu encontro - ando muito pelo interior - pessoas que nunca foram à capital e que não têm muito interesse. Dizem: “Eu não tenho nada para tratar lá, não; a minha história é por aqui na mata, na floresta.” E é dessa maneira que a gente ainda vive hoje na Amazônia, uma parte da Amazônia.
A comunicação é fundamental, é essencial para que a gente tenha a integração. E o Dr. Phelippe Daou acabou de inaugurar - lamentavelmente eu não pude estar - o sistema em HD, o sistema mais moderno de geração de imagem em Rio Branco. É uma coisa extraordinária! O que há de mais moderno no mundo está lá. Mas é dessa maneira que a gente consegue hoje conviver com situações que são tão interessantes e que, de alguma maneira, nos colocam ainda desafios tremendos para quem tem responsabilidade com o povo da Amazônia.
Então, eu queria encerrar as minhas palavras, cumprimentando o Dr. Phelippe Daou e toda a sua equipe, e dizer que o Acre deve muito ao senhor. O senhor acabou de receber uma condecoração também do Governador Tião Viana, a Estrela do Acre, por tudo o que o senhor fez também por toda a Amazônia.
Estou aqui ressaltando, mas meus outros colegas, certamente, vão ressaltar a história da Rede Amazônica em cada Estado, mas a nossa é emblemática: Aloísio Maia, que foi pioneiro, Campos Pereira, pessoas que não tinham contato nenhum com televisa e que dedicaram décadas de vida a tentar fazer a televisão no Acre.
Encerro, Dr. Phelippe Daou, dizendo que o Brasil deve muito ao senhor. Mas a Amazônia deve muito mais. Quanto mais para o interior, maior a dívida nossa com o senhor.
Eu venho a esta sessão, falo aqui em nome dos colegas, do Senador Anibal e de outros da Base de Apoio ao Governo. Estou falando em nome da Liderança, que me foi dada aqui no Senado, porque acho que todos nós aqui no Senado, nestes 40 anos da Rede Amazônia de Televisão, temos o que celebrar, temos o que agradecer.
E mais do que isso: a história certamente registrará o pioneirismo da sua família e o pioneirismo de V. Sª na implantação, na consolidação - porque hoje está consolidada - da comunicação do rádio e da televisão na Amazônia do Brasil. Pode ficar certo de que a maneira como o senhor trabalhou é uma referência para os outros países que detêm parte da Amazônia.
Parabéns a V. Sª. Eu tenho a honra e o privilégio de ter vivido, ainda na minha juventude, e, depois, como Governador e como Prefeito, parte dessa história, destes 40 anos que engrandecem o Brasil, que integram o Brasil e fazem o Brasil estar à altura dos desafios da comunicação dos tempos modernos.
Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)