Discurso durante a 235ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos quarenta anos da Rede Amazônica de Rádio e Televisão.

Autor
Randolfe Rodrigues (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AP)
Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos quarenta anos da Rede Amazônica de Rádio e Televisão.
Publicação
Publicação no DSF de 18/12/2012 - Página 72471
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, EMISSORA, RADIO, TELEVISÃO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO AMAZONICA.

            O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PSOL - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Caríssimo Dr. Raimundo Moreira, chefe da sucursal da Rede Amazônica aqui em Brasília; Dr. Phelippe Daou, fundador, dirigente maior da Rede Amazônica de Rádio e Televisão; Senadora Vanessa Grazziotin, autora do requerimento que dá luz a esta sessão em homenagem aos 40 anos da Rede Amazônica de Televisão, Presidente José Sarney, quero, ao cumprimentar V. Exª, na verdade, fazê-lo duplamente, já que, nessa semana, V. Exª assumiu a Presidência da República. Creio que a rápida passagem foi muito adequada, em homenagem ao importante papel que V. Exª cumpriu num momento difícil e conturbado, em que a Nação necessitava de liderança para consolidar a transição democrática. Então, Presidente Sarney, cumprimento-lhe duplamente - já o fiz na última quinta-feira -, não somente por esta sessão, mas também por, nos últimos três dias, ter dirigido e estar dirigindo os destinos de nosso País.

            Meus caríssimos Colegas Senadores, Srªs Deputadas, Srs. Deputados, meus senhores e minhas senhoras que prestigiam esta sessão solene, “Audácia, ainda audácia, sempre audácia.” Esse é um trecho de Georges Danton, um dos líderes da Revolução Francesa de 1789. Num momento de dificuldade, em que a Revolução poderia recuar ou ser derrotada, Danton conclamava seus companheiros revolucionários. “Audácia, sempre audácia, ainda audácia.”

            Lembro Danton, Dr. Phelippe Daou, porque ele sintetiza a sua obra. Quis o destino nos presentear, quis o destino e a história da nossa Região nos presentear com sua presença, devido a um momento importante da nossa formação histórica. É o segundo ciclo da borracha, entre 1914 e 1918, responsável por um fluxo de imigração libanesa para a Região Amazônica. E é devido a isso que nós tivemos a sua presença.

            E é devido à sua audácia que foi construída, há 40 anos, essa belíssima obra. É, porque somente a audácia pode definir uma obra do tamanho que, talvez, a atualidade não indique o que ela representa. Hoje, falar da Amazônia parece ser lugar comum. E as vantagens e possibilidades do desenvolvimento cientifico-tecnológico e de comunicação parecem tornar fáceis as distâncias, mas não era há 40 anos; não era construir uma rede da rádio e televisão no coração de uma região que representa quase metade do território nacional; não era construir uma rede de rádio e televisão em uma região com enormes dificuldades geográficas como há em nossa região.

            Dr. Phelippe Daou teve a audácia de construir e enfrentou, naquele momento, já as resistências de Brasília. Imagine, Dr. Phelippe, o ceticismo com que o senhor era tratado aqui em Brasília quando era recebido e dizia que queria montar uma rede de rádio e televisão na Amazônia brasileira. Muitos devem ter tentado desanimar o senhor dessa empreitada, dizer que não era possível, que a região era de difícil localização e as comunicações impossibilitariam que uma empreitada dessa natureza se concretizasse.

            Sua audácia o fez persistir.

            Mas adiante, devem ter dito para o senhor que era muita audácia montar um canal satélite que, basicamente, não tinha nenhum objetivo comercial, nos anos oitenta, e muito antes que vários outros optassem pelo caminho de satélite, e muito antes de existir TV a cabo e por assinatura no Brasil.

            Sua audácia o fez resistir.

            Talvez, tenham também dito ao senhor que não era possível montar junto a uma rede te televisão uma rede de rádio em toda a Amazônia.

            Sua audácia o fez resistir.

            E, talvez, recentemente, alguém possa ter dito ao senhor que seria uma precipitação já abrir o canal digital em HDTV em todas as emissoras sucursais da Rede Amazônica. Foi sua audácia que o fez resistir e constituir o que é hoje a segunda maior rede de televisão do Brasil. O que é mais audaz e ousado disso: em plena Amazônia com 130 emissoras.

            Eu quero aqui, Dr. Phelippe Daou, trazer a lembrança de, ao homenageá-lo, fazer uma referência à constituição de uma das sucursais de sua rede, pela qual o senhor tem um profundo carinho, que é a sucursal lá no meu Estado do Amapá.

            As informações me dão conta (a idade não me permitiu ter presenciado), e a história nos presenteia com isto: a constituição da TV Amapá, no então Território Federal, em 1972, foi o maior feito até então.

            Vejam que, até 1972, não existia nenhum canal de televisão no Amapá, não existia nada mais do que uma emissora de rádio.

            E há uma história que quero aqui lhe contar; na verdade é o senhor quem nos conta. Recebi um testemunho de que, quando senhor montava a TV Amapá, caminhava pelas ruas de Macapá nos idos de 1973, 1974, na companhia de dois companheiros seus, fundamentais para montar aquela sucursal da Rede Amazônica: Antônio de Correia Neto e Antônio Asmar. O senhor, junto com os outros dois Antônios, Correia e Asmar, procurou os empresários locais para oferecer-lhes serviços de divulgação comercial. Naquela oportunidade, um dos empresários locais disse ao senhor: “olhem, vocês podem pegar a chave dessa tevê e jogarem no rio.” E não era qualquer rio, o Jorge costuma dizer aqui, e isto também é uma obra sua: o senhor uniu a nascente do rio onde está a terra de Jorge e onde as águas deságuam, onde está a minha terra, do Presidente José Sarney, do Senador João Capiberibe. O senhor uniu os extremos, talvez uma obra que nem Orellana, cinco séculos antes, tenha ousado, tenha tido a audácia de concretizar. Mas, voltando à história, disse esse empresário: “joguem a chave no rio porque não interessa a ninguém aqui anunciar nesta tevê.” Os senhores persistiram.

            Diz a história que o Dr. Antônio Asmar, naquele momento, abriu os braços na frente da igreja de São José de Macapá e fez ali uma promessa: “se alguma emissora da Rede Amazônica tiver que fechar não será, definitivamente, a TV Amapá, ainda que, para isso, seja preciso gastar tudo o que tenho para evitar que isso aconteça”. Não só não fechou a TV Amapá como não fechou nenhuma das redes, nenhuma das emissoras da Rede Amazônica. O senhor insistiu e abriu mais por toda a Amazônia. Lá, no Amapá, também foi obra da sua audácia.

            Eu quero, do Amapá, além de Antônio Asmar, Antônio Correia Neto, lembrar os membros da primeira equipe, que tiveram, tal qual o senhor, a ousadia, a audácia, de instalar a TV Amapá: Carlos Andrade Pontes, Damião Jucá de Lima, Toninho Oliveira, Benedito Andrade, o próprio Correia Neto, que aqui destaquei.

            Quero aqui homenagear os atuais diretores da TV Amapá: o Sr. Francisco Dimas e o Diretor de Jornalismo Marilson Freire, que possibilitam que a TV Amapá seja a principal emissora do Estado do Amapá, às vezes com 70% de audiência no Ibope, provando que quem estava errado, há 38 anos, no Amapá, era aquele empresário que não quis investir na TV Amapá, e quem estava certa, mais uma vez, era a sua audácia.

            Esta sessão, como outra que já fizemos aqui, agora quando a Rede Amazônica completa 40 anos de idade, Dr. Phelippe Daou, é para, em especial homenagear a sua audácia.

            Conforme disse Danton, na Revolução Francesa, o senhor faz aqui uma revolução para a Amazônia, a revolução através da comunicação, nada mais adequado para uma revolução no século XXI. Tal qual Danton: “Audácia, sempre audácia, ainda audácia”. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/12/2012 - Página 72471