Pronunciamento de Anibal Diniz em 17/12/2012
Discurso durante a 236ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Anúncio da entrega, no último sábado, em Rio Branco-AC, do Prêmio Chico Mendes de Florestania.
- Autor
- Anibal Diniz (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
- Nome completo: Anibal Diniz
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM, POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
- Anúncio da entrega, no último sábado, em Rio Branco-AC, do Prêmio Chico Mendes de Florestania.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/12/2012 - Página 72549
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM, POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
- Indexação
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- REGISTRO, REALIZAÇÃO, LOCAL, ESTADO, ESTADO DO ACRE (AC), ENTREGA, PREMIO, AUTORIDADE, MOTIVO, DEFESA, MEIO AMBIENTE, COMENTARIO, ATUAÇÃO, PARTICIPANTE, HOMENAGEM, LEITURA, CARTA, AGRADECIMENTO, RECONHECIMENTO, TRABALHO, PROFESSOR UNIVERSITARIO, PARTICIPAÇÃO, EVENTO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, TEXTO, AUTORIA, PROFESSOR.
O SR. ANIBAL DINIZ (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmo Sr. Presidente, Senador Moka; Srªs Senadoras; Srs. Senadores; telespectadores da TV Senado; ouvintes da Rádio Senado, sabemos que a certeza da importância da preservação ambiental ganha, cada vez mais, reconhecimento no Brasil e no mundo. Por isso, eu gostaria de destacar que, no último sábado, em Rio Branco, no Estado do Acre, personalidades e entidades que atuam na defesa do meio ambiente e de ações socioambientais foram premiadas com o Prêmio Chico Mendes de Florestania. Esse Prêmio foi criado no Governo Jorge Viana, mantido nos Governos Binho Marques e Tião Viana, e foi o próprio Governador Tião Viana quem conduziu a solenidade de entrega do Prêmio Chico Mendes.
A entrega do Prêmio Chico Mendes acontece todos os anos sempre na data que marca o dia de nascimento do líder seringueiro Chico Mendes, 15 de dezembro. Neste ano, se estivesse vivo, Chico completaria 68 anos.
Os três vencedores desta edição foram o Prof. Dr. Irving Foster Brown, na categoria Nacional-Internacional; a Cooperativa de Trabalho do Acre (Cootac), na categoria estadual; e a Associação de Moradores e Produtores do Projeto Agroextrativista Chico Mendes (Amppae-CM), na categoria Iniciativa Comunitária.
O Prof. Foster Brown, vencedor da categoria Nacional-Internacional, é uma personalidade de renome mundial. É PhD em Geoquímica, pela Northwestern University, dos Estados Unidos, e desenvolve estudos nas áreas de Dinâmica do Uso da Terra e Florestas e Gerenciamento e Educação relacionados a Recursos Naturais e Mudanças Globais. É pesquisador do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre e é o atual Organizador Científico do MAP, que é o coletivo que envolve os Estados de Madre de Díos, no Peru; do Acre, no Brasil, e de Pando, na Bolívia, e que, por isso, leva o nome de MAP. Ele trabalha também como pesquisador em Woods Hole Research Center, de uma universidade dos Estados Unidos, em parceria com a Universidade Federal do Acre, cujo trabalho para o desenvolvimento sustentável da fronteira trinacional é amplamente reconhecido.
Da mesma forma, podemos dizer do amplo trabalho realizado pela Cooperativa de Trabalho do Acre (Cootac), que foi criada em dezembro de 2001 e que é composta por técnicos especializados, que desenvolvem diversas atividades voltadas para o desenvolvimento rural sustentável.
Já a Associação dos Moradores e Produtores do Projeto de Assentamento Extrativista Chico Mendes, conhecida também como Seringal Cachoeira, tem um trabalho muito interessante de desenvolvimento comunitário e uma experiência de turismo ecológico muito interessante. Vale a pena conhecer essa experiência no Seringal Cachoeira. Inclusive, as pessoas que gostam de esporte radical podem experimentar fazer a travessia pelas árvores, o que é algo bem interessante. Isso acontece no Seringal Cachoeira.
O ato no gabinete do Governador Tião Viana foi da maior importância e foi revestido de muita emoção, justamente porque faz parte da Semana Chico Mendes, que vai do dia em que ele nasceu, 15 de dezembro, até 22 de dezembro, o dia em que ele foi assassinado. Então, essa programação vai se estender até o próximo dia 22 de dezembro. É uma programação extensiva tanto à comunidade local, quanto aos nossos visitantes. Todos são convidados a se fazerem presentes a esse ato.
Eu estava presente ali como convidado do Governador Tião Viana e tive a honra de participar do Prêmio Chico Mendes de Florestania. Quero dizer que foi muito emocionante ouvir os filhos do Chico, tanto a Ângela Mendes, quanto o Sandino Mendes, dois jovens que eram crianças quando Chico Mendes foi assassinado e que prestaram seu depoimento de reconhecimento a toda a luta de Chico Mendes e também aos companheiros de Chico Mendes que hoje conduzem a política do Acre e dão grande contribuição nessa discussão, nessa reflexão de desenvolvimento sustentável tanto para a Amazônia, quanto para o Brasil e para o mundo.
Foi um ato muito emocionante também pela carta enviada pelo Prof. Foster Brown, que não se pôde fazer presente, mas que mandou uma carta que mexeu profundamente com todos os presentes. Ele teve de viajar para os Estados Unidos, por conta de um problema de saúde grave de sua irmã, mas mandou um documento, uma carta, um discurso, que foi lido durante o ato. E, por se tratar de um texto de muita profundidade, eu me comprometi com sua esposa, a Prof. Vera, de fazer o registro, na tribuna do Senado, desta carta do Prof. Foster Brown. Então, passo a ler essa carta e gostaria que ela fosse registrada nos Anais do Senado Federal como algo muito importante para a reflexão sobre a sustentabilidade no Brasil.
Este é o discurso de Foster Brown na homenagem que recebeu pelo Prêmio Chico Mendes de Florestania:
Primeiramente, peço-lhes desculpas pela minha ausência, que foi motivada por problemas de saúde de minha irmã que se encontra hospitalizada em Boston, nos Estados Unidos.
Gostaria de agradecer a todos os envolvidos na minha indicação, pela honra que me concederam com esta homenagem.
Gostaria de agradecer também a algumas pessoas especiais, dentre as muitas que me ajudaram ao longo da minha vida aqui, no Acre, e no Planeta.
1. Chico Mendes, que conheci e com quem troquei ideias duas semanas antes de sua morte, tempo suficiente para entender que ele tinha outra maneira de ver o mundo, ou, como falamos na Academia, pela mudança de paradigma que provocou. Ele percebeu que a luta pelos direitos humanos está interligada com a saúde de nosso Planeta.
2. A segunda pessoa que lembrou disso foi Leonardo Boff, que consegue combinar a visão biogeoquímica da Terra, algo que estudei no meu doutorado, com espiritualidade, algo que normalmente não é tratado pela ciência.
3. A terceira pessoa que reforçou esta mensagem foi Frei Heitor Turrini, que, por 50 anos, trabalhou como missionário em Sena Madureira [no Acre], em defesa dos pobres e da floresta. Ele me ensinou que Deus está em tudo, que as árvores têm alma e sorriem. Mesmo estando na Itália, continua preocupado com a Amazônia e sempre me pergunta: Foster, você está cuidando dos pobres e da floresta?
Atualmente, estou ajudando a um padre peruano - René Salizar - que coordena um grupo dentro da Iniciativa MAP (Madre de Díos-PE, Acre-BR e Pando-BO). Quando falo sobre Mini-MAP Direitos Humanos, ele sempre me corrige, “Direitos humanos e Ambientais”, porque ele também não vê dissociação entre o ser humano e o Planeta.
Foi via este Mini-Map de Direitos Humanos e Ambientais que conheci um jovem haitiano, Esdras Hector. Esdras me mostrou a beleza da solidaridade, quando o vi, depois de alguns meses, trabalhando em Rio Branco como ajudante de pedreiro e retornando a Brasileia para ensinar português de sobrevivência para mais de cem dos seus conterrâneos.
Infelizmente, neste momento, no Planeta Terra, estamos num caminho de insustentabilidade. Um indicador simples dessa insustentabilidade é a mudança na composição da atmosfera.
Durante minha vida, a concentração de CO2 na atmosfera, um gás de efeito estufa que ajuda a controlar a temperatura e a energia da Terra, elevou-se mais de 20% pela influência humana. Estamos com 392ppm de CO2 na atmosfera, e esse aumento está acelerando para 2ppm/ano. Isto é um sinal claro de que estamos num caminho insustentável que envolverá a mudança no clima que a civilização tem tido nestes últimos séculos.
Já estamos vendo os efeitos desse aumento com a intensificação do ciclo da água, promovendo chuvas mais intensas e secas cada vez mais severas.
(Soa a campainha.)
O SR. ANIBAL DINIZ (Bloco/PT - AC) - Continuo:
As pessoas mais vulneráveis a essas mudanças são geralmente as mais pobres, e os ecossistemas mais susceptíveis são as florestas.
A continuação da situação atual promete um futuro triste para a humanidade e para o Planeta Terra. Chico Mendes tinha outra visão que Leonardo Boff complementou em suas profundas reflexões, de que podemos viver em harmonia entre nós e com a natureza.
Sr. Presidente, se V. Exª me conceder mais 3 minutos, prometo concluir a leitura deste texto.
Chico Mendes tinha outra visão que Leonardo Boff complementou em suas profundas reflexões, de que podemos viver em harmonia entre nós e com a natureza. A Marina Silva [Senadora e ex-Ministra] continua como uma inspiração ímpar para disseminar esta visão. O exemplo de vida de Marina nos dá força e fé para superar as barreiras que separam pessoas e que separam pessoas e a natureza.
Para responder à pergunta de Frei Turrini, se estamos cuidando dos pobres e da floresta, significa que temos de mudar o nosso caminho. Um dos passos neste novo caminho é parar de alterar a composição da atmosfera. Um segundo passo é o de reverter a degradação que estamos gerando, restaurando a Terra. Essa mudança exige conhecimento científico, mas também algo mais importante: a convicção de que a nossa sobrevivência e bem-estar estão intimamente ligados à saúde do nosso Planeta.
(Soa a campainha.)
O SR. ANIBAL DINIZ (Bloco/PT - AC) - Continuo a leitura:
As ações derivadas da ciência e dessa convicção precisam acontecer em milhares de lugares neste Planeta.
Então, eu peço a vocês que trabalhemos juntos para que um desses lugares seja aqui, o nosso Estado do Acre.
Gostaria de terminar com frases oriundas da Carta da Terra:
“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz.
[Esperamos] Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça e pela paz e a alegre celebração da vida”.
Nós podemos ser instrumentos desse processo, individualmente, mas mais importante, como uma sociedade unida.
Essa é a carta que o Prof. Foster Brown mandou em agradecimento pelo seu reconhecimento no Prêmio Chico Mendes de Florestania. É uma forma de saudar todas as pessoas que contribuem à sua maneira.
Na oportunidade, pude fazer um pronunciamento, dizendo que o Brasil tem feito muito bem o seu exercício de casa. O Brasil está de cabeça erguida em frente aos demais países do Planeta.
(Soa a campainha.)
O SR. ANIBAL DINIZ (Bloco/PT - AC) - Durante a COP-18, em Doha, da qual tive a honra de participar, pude comparecer à reunião com o Parlamento Europeu e com o Parlamento alemão, e a gente pôde dizer, de cabeça erguida, que o Brasil, dada a sua legislação - que foi aprofundada com o Código Florestal, recentemente aprovado e, depois, transformado em medida provisória, que, aqui, contou com nosso esforço para a sua aprovação -, é um País que caminha, cada vez mais, para fazer a redução do aquecimento global com suas práticas, buscando fortalecer a produção, mas com sustentabilidade.
Nesse aspecto, o Estado do Acre também tem dado exemplo. Eu quero dizer que voltarei à reflexão desse assunto na tribuna do Senado.
Agradeço a todos pela oportunidade.
Parabenizo o Prof. Foster Brown pelo excelente discurso.