Discurso durante a 238ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Sr. Luiz Gonzaga; e outro assunto.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Sr. Luiz Gonzaga; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 20/12/2012 - Página 75113
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ARTISTA, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), COMENTARIO, ELOGIO, HISTORIA, CARREIRA, COMPOSITOR.
  • REGISTRO, TOMBAMENTO, AREA, MUNICIPIO, ESTADO, ESTADO DE ALAGOAS (AL), MOTIVO, IMPORTANCIA, HISTORIA, INICIO, INSTALAÇÃO, USINA HIDROELETRICA, BRASIL, ELOGIO, BENS PAISAGISTICOS, LOCAL, REFERENCIA, RELEVANCIA, REGIÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

            O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco/PMDB - AL. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria hoje de abordar, neste Plenário, dois assuntos relacionados à defesa da cultura e do patrimônio cultural nordestino, um dos mais ricos e influentes na nossa identidade nacional.

            Assim, começo lembrando que, em dezembro deste ano, comemoraremos o centenário de nascimento de um dos maiores artistas brasileiros, o grande Rei do Baião, Luiz Gonzaga.

            Luiz Gonzaga é verdadeiramente uma figura que, com sua grandeza e genialidade, revelou, como ninguém, as dificuldades, a luta e a bravura da gente sertaneja.

            Foi a música do grande Lua, senhor Presidente, que levou, do pé da serra de Araripe, no interior pernambucano, para o mundo, esse retrato da alma do sertanejo nordestino.

            Luiz Gonzaga foi iniciado na música por seu pai, Januário, com quem aprendeu a tocar acordeão.

            E muito cedo começou a mostrar o talento que o tornaria uma das referências musicais mais fortes do Brasil.

            Luiz Gonzaga tinha apenas 8 anos quando encantou a todos, substituindo o sanfoneiro em uma tradicional festa na fazenda Caiçara, onde nasceu, no interior de Pernambuco.

            Ali ele tocou e cantou a noite inteira, já indicando à família que seria difícil resistir à força daquela vocação musical.

            Nascia assim o músico, que, nas décadas seguintes, viria a se tornar um dos artistas mais célebres do País.

            Srªs Senadoras, Srs. Senadores, depois de um período no exército, de passagem pelo Rio de Janeiro, Gonzaga tem seu talento prontamente reconhecido e se instala na então Capital.

            Era o final da década de 1930, e estava para começar a Era de Ouro do rádio no Brasil.

            Luiz Gonzaga, com seu baião, foi uma das maiores estrelas e um dos principais ícones desse período de ouro do rádio brasileiro.

            É de 1947 seu maior sucesso, a música Asa Branca, uma das composições mais conhecidas e emocionantes da música popular brasileira, feita em co-autoria com um de seus grandes parceiros, Humberto Teixeira.

            Asa Branca, Senhor Presidente, é uma melodia síntese da alma sertaneja, da alma nordestina, que se faz expressar pelo sofrimento, mas também pela esperança.

            Srªs e Srs., precisamos ser justos e dizer que Luiz Gonzaga fez mais pela divulgação e pela valorização da cultura nordestina do que qualquer outra figura artística brasileira, no mesmo período.

            Se hoje o baião, o forró, o xaxado e as festas populares nordestinas são parte do patrimônio cultural de todo o País, de norte a sul, devemos muito ao exemplo, à criatividade, à genialidade de Luiz Gonzaga,

            Foi Luiz Gonzaga que, já nos anos 40, se apresentava em público com as roupas características do sertanejo, transformando em ícone o célebre chapéu de couro, que é uma de suas marcas mais características,

            Temos, portanto, todos nós, brasileiros, e não apenas os nordestinos, uma eterna dívida com esse músico, esse artista genial.

            Deixo aqui, desde já, minhas homenagens à memória desse grande homem, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cujo centenário comemoramos neste ano de 2012, em dezembro.

            Srªs Senadoras, Srs. Senadores, o segundo assunto que gostaria de tratar aqui é o tombamento do complexo histórico do Angiquinho, no Município de Delmiro Gouveia, em Alagoas,

            Angiquinho, Senhoras Senadoras, Senhores Senadores, é o sítio onde foi construída a primeira usina hidrelétrica a aproveitar o potencial da cachoeira de Paulo Afonso e a primeira hidrelétrica construída no nordeste, por iniciativa de Delmiro Gouveia.

            Não bastasse o valor histórico do sítio, ele se inscreve em área de grande valor natural e paisagístico - a região dos cânions do Rio São Francisco, que, cada vez mais, tem atraído o interesse turístico de brasileiros e estrangeiros.

            A usina entrou em funcionamento em 1913, deu início a um importante movimento de prosperidade e de desenvolvimento no interior do Estado de Alagoas.

            Visionário que foi, Delmiro Gouveia escolhe, no início do século, instalar-se na Vila da Pedra, hoje chamada Delmiro Gouveia em homenagem ao grande empreendedor.

            A área está distante quase 300 km da capital Maceió, mas em posição estratégica, na confluência de 4 Estados - Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas.

            Além disso, era ponto intermediário na ferrovia que então ligava o Baixo ao Médio São Francisco.

            Lá, Delmiro Gouveia instala, inicialmente, seu comércio de peles de animais e começa a transformação da região.

            Em 1912, começa a construção de sua fábrica de linhas de costura.

            Foi para alimentar de energia elétrica sua indústria que Delmiro se lançou na construção pioneira da usina no salto de Angiquinho no Rio São Francisco, distante 24 km da cidade.

            Em janeiro de 1913 a usina começa a produzir energia, que, atem de levar luz à cidade, resolveu o problema de abastecimento de água na região, graças à bomba d'água instalada também por Delmiro.

            Delmiro morreu em 1917, assassinado. Mas em menos de duas décadas havia mudado a região em que escolheu se instalar.

            O sítio histórico do Angiquinho é um testemunho da energia que animava Delmiro Gouveia e um monumento à capacidade empreendedora do nordestino.

            É de fato inspirador, Senhor Presidente, ver o quanto conseguiu um único homem naquele contexto natural belo, mas terrível, inóspito, que, à primeira vista, convidaria mais ao imobilismo e à inação do que ao empreendimento.

            O processo de tombamento histórico, que começou, por iniciativa da Secretaria Estadual de Cultura de Alagoas, em 2001, visa ao mesmo tempo valorizar e divulgar esse patrimônio importante, assim como preservá-lo.

            Desde 2007, a gestão de Angiquinho cabe à Fundação Delmiro Gouveia, que vem realizando um importante trabalho no sentido de confirmar o sítio histórico como um dos principais atrativos turísticos da região do São Francisco.

            Como disse, a região, por sua beleza natural ímpar, tem atraído cada vez mais a atenção dos turistas.

            Angiquinho tem tudo para se tornar um ponto de referência importante, tanto por seu potencial paisagístico, quanto por seu significado histórico e cultural.

            O processo de tombamento histórico nacional do sítio de Angiquinho tramita atualmente no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

            No início do próximo ano, estaremos celebrando o centenário do começo da geração de energia em Angiquinho, além dos 150 anos de Delmiro Gouveia e dos 65 da CHESF.

            Quem sabe então, Senhor Presidente, poderemos estar comemorando também o tombamento nacional do sítio.

            Isso seria um justo reconhecimento do significado, para todo o País e não apenas para Alagoas, desse legado pioneiro de Delmiro Gouveia, imortalizado no célebre baião "Paulo Afonso", do outro grande nordestino que evoquei hoje neste meu pronunciamento, Luiz Gonzaga.

            É o Rei do Baião que diz: "Delmiro deu a ideia/Apolônio aproveitou/Getúlio fez o decreto/E Dutra realizou/O presidente Café/A usina inaugurou/E graças a esse feito/De homens que têm valor/Meu Paulo Afonso foi/Sonho que se concretizou".

            Delmiro, como todos os pioneiros, mostrou o caminho e descortinou possibilidades antes desprezadas.

            Nada mais justo que estendamos a ele nossas homenagens.

            A esses dois grandes nordestinos, Luiz Gonzaga e Delmiro Gouveia, deixo aqui, encerrando este pronunciamento, minhas palavras de gratidão.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/12/2012 - Página 75113