Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 06/03/2013
Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Apresentação de voto de pesar pelo falecimento do Presidente da Venezuela Hugo Chávez.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Apresentação de voto de pesar pelo falecimento do Presidente da Venezuela Hugo Chávez.
- Publicação
- Publicação no DSF de 07/03/2013 - Página 7737
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- APRESENTAÇÃO, VOTO DE PESAR, HOMENAGEM POSTUMA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, REGISTRO, BIOGRAFIA, PERSONAGEM ILUSTRE.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Sem revisão do orador.) - Da mesma maneira como o Exmo Presidente da Comissão de Relações Exteriores, que muito bem teve a iniciativa, o Senador Ricardo Ferraço, eu também. Aliás, também o Senador Randolfe Rodrigues apresentou requerimento nesse mesmo sentido e deve estar se encaminhando para cá. Mas eu gostaria de expressar também a justificação para esse Requerimento.
Natural de Sabaneta, oeste da Venezuela, Hugo Chávez nasceu a 28 de julho de 1954. Ele era o segundo dos seis filhos dos professores Hugo de los Reyes Chávez e Elena Frias de Chávez. Sua infância e adolescência, vividas em Sabaneta e Barinas, foram marcadas pelo gosto por esportes e artes.
Em 1975, ingressou na Academia Militar da Venezuela, chegando ao posto de tenente-coronel, em 1990. Em 1997, ele fundou o Movimento Quinta República (MVR), agremiação pela qual venceu as eleições presidenciais do ano seguinte, com 56,5% dos votos. Em 2006, Chávez foi reeleito pela primeira vez, com mais de 62% dos votos, e novamente em 2012, com 54%.
Vale registrar a reflexão sobre o legado do Presidente Hugo Chávez, de autoria do Embaixador Rubens Ricupero, publicada no Jornal Valor Econômico de hoje. E abro aspas para a bonita reflexão do Embaixador Rubens Ricupero, que foi também Ministro da Fazenda:
Hugo Chávez passará à história como a manifestação mais inconfundível da afirmação de um ator político novo na América Latina: as periferias das metrópoles nascidas da urbanização explosiva das últimas décadas. Ele foi um dos primeiros a intuir que essas periferias não se sentiam representadas pelos partidos tradicionais, dado o fracasso destes em melhorar a vida das maiorias. Preenchendo esse vácuo, seu gênio foi tentar dar às periferias expressão própria, canalizando, assim, o descrédito desses partidos e instituições para um movimento de redistribuição imediata de benefícios tangíveis aos mais carentes: saúde, educação pública, moradia, alimentos.
O tempo histórico de Chávez é diferente do que prejudicou muitos líderes populares anteriores no continente. Ele é o primeiro a surgir após a Guerra Fria e o fim do comunismo. Isso e a concentração estratégica americana no Oriente Médio explicam que os Estados Unidos tenham se acomodado, embora de mau grado, a seu anti-imperialismo.
O desaparecimento de Hugo Chávez não significará a extinção do movimento de genuína base social que fundou, da mesma forma que não se apagaram os legados de Getúlio Vargas, Juan Perón ou Haya de La Torre. Não é impossível que, num primeiro momento, sua morte gere (como no suicídio de Getúlio ou na morte de Néstor Kirchner) um efeito de simpatia em favor dos sucessores. É o que parece ter ocorrido nas eleições regionais de dezembro, em que a oposição só conseguiu manter três dos sete governos estaduais que detinha. O desafio do chavismo virá mais adiante, devido ao seu fracasso na economia e na efetivação de muitas das reformas que tentou introduzir.
Ainda assim, seria pecar por superficialidade subestimar Chávez devido a seus dotes histriônicos ou descartá-lo como mais um caudilho populista latino-americano, ignorando a profunda aspiração de transformação social e cultural à qual buscou dar expressão. A ascensão dos setores populares próximos da linha de pobreza, sua exigência de dignidade e vida melhor, continuarão a alimentar na Venezuela e na América Latina movimentos que só se esgotarão quando se realizar sua promessa. Como o surgimento de um ator novo acarreta mudanças na posição de outros, é provável que isso gere desestabilização por décadas, como aconteceu na Europa do século XIX.
Não compreender por que milhões de venezuelanos rezam por Chávez é repetir a experiência narrada por Ernesto Sabato sobre a queda de Perón em 1955. O escritor comemorava com amigos intelectuais e profissionais liberais o fim do ditador que envergonhava a Argentina, até que, em certo momento, teve de entrar na cozinha. Lá, todos os empregados choravam.
Fecho aspas aqui para essa compreensão muito feliz do paralelo que Rubens Ricupero faz com respeito a Hugo Chávez, relembrando o depoimento de Ernesto Sabato quando faleceu Perón.
(soa a campainha. Interrrupção do som)
Concluindo, Chávez deu voz àqueles que não tinham e transformou os venezuelanos mais pobre em cidadãos, passando a serem sujeitos da história.
Que possa o povo venezuelano superar as dificuldades, e possam eles, oposição e chavistas, realizarem um processo democrático exemplar nestes próximos 30 dias e possa o povo da Venezuela elevar o grau de democracia de desenvolvimento econômico e social.
Minhas condolências também, prezado Presidente, Senador Ricardo Ferraço.