Pela Liderança durante a 31ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória intelectual e à carreira política de Ronaldo Cunha Lima, falecido em 7 de julho de 2012.

Autor
Vital do Rêgo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Vital do Rêgo Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória intelectual e à carreira política de Ronaldo Cunha Lima, falecido em 7 de julho de 2012.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/2013 - Página 10837
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RONALDO CUNHA LIMA, EX SENADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. VITAL DO RÊGO (Bloco/PMDB - PB. Pela Liderança. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Renan Calheiros, meus cumprimentos!

            Saúdo o Senador Cícero Lucena, que comigo e com o Senador Cássio, foi autor do requerimento de realização desta sessão; o Governador da Paraíba, neste momento representado pelo seu Vice-Governador, companheiro e amigo do nosso homenageado, Rômulo Gouveia; o Prefeito Romero Rodrigues, da nossa Campina Grande.

            Presto a você, Cássio, as minhas homenagens por estar aqui revivendo dia a dia e eternizando a memória do poeta.

            Quero dizer da satisfação, do orgulho, do sentimento da Paraíba em reencontrar um dos homens públicos cuja eterna amizade herdei do meu pai: Senador Ivandro da Cunha Lima.

            Falar em nome do PMDB, na presença da Paraíba, representada neste momento, é para mim motivo, Srªs e Srs. Senadores, de satisfação, de orgulho e de muita responsabilidade. O PMDB fez parte - e o MDB foi história - da vida de Ronaldo também.

            Quero saudar os familiares de Ronaldo, na pessoa dessa mulher brava, guerreira, corajosa, que viveu a vida de Ronaldo na sua plenitude, Dona Glória, para nós campinenses e paraibanos. (Palmas.) Ninguém mais do que ela, à imagem e semelhança da mulher, da mãe, da companheira, participou de toda a vida desse homem público que marcou a história da Paraíba.

            Peço licença a este Plenário para iniciar minhas palavras de homenagem à memória do Senador, Governador, Deputado Federal, Deputado Estadual, Prefeito, Vereador Ronaldo Cunha Lima, que gostava mais de ser chamado de poeta, mesmo com todas essas honrarias concedidas pelo voto. Lembro o soneto “A Árvore da Serra”, de Augusto dos Anjos, o preferido do saudoso Senador:

- As árvores, meu filho, não têm alma!

Esta árvore me serve de empecilho...

É preciso cortá-la, pois, meu filho,

Para que eu tenha uma velhice calma!

- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!

Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!

Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...

Esta árvore, meu pai, possui minha alma!...

- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:

“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”

E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,

O moço triste se abraçou com o tronco

E nunca mais se levantou da terra!

            Senhoras e senhores, Presidente Renan Calheiros, acerca desse poema tantas vezes declamado por Ronaldo Cunha Lima, há uma história, todavia não comprovada, de que Augusto dos Anjos teria se apaixonado por uma retirante filha de um vaqueiro. Esse era um romance impossível para a época, pois Augusto dos Anjos era filho de dono de engenho, e a mãe do poeta impediu a relação amorosa entre os jovens. Alguns estudiosos da obra do paraibano Augusto dos Anjos acreditam que o amargor e o pessimismo de sua poesia vêm daí. Entretanto, passados quase cem anos da morte de Augusto dos Anjos, o soneto parece encerrar uma melancolia quase serena e era recitado por Ronaldo Cunha Lima com grande emoção.

            Hoje, nós nos reunimos neste plenário para recordar a riquíssima trajetória de vida de Ronaldo Cunha Lima, um homem que viveu a plenitude de sua existência. Foi vendedor de jornal, garçom, advogado e político. Percorreu, nessa seara, um caminho marcado por grandes vitórias. Ao contrário de Augusto dos Anjos, Ronaldo pôde celebrar intensamente a vida. Construiu uma família forte e solidária, ao lado de sua esposa Glória, de seus três filhos, de seus netos, aqui presentes, aos quais presto minha homenagem na pessoa do colega Senador Cássio Cunha Lima.

            O bom humor, a descontração e o carisma do poeta puderam ser demonstrados quando ele encantou as famílias brasileiras ao participar e se sagrar vencedor do programa Sem Limites, da extinta TV Manchete, respondendo a várias perguntas do apresentador em versos e repentes. Ao receber o prêmio do programa, Ronaldo fez questão de reverenciar sua mãe, Dona Nenzinha, que, desde a morte do esposo, Demóstenes, teve a responsabilidade de, sozinha, criar e educar seus filhos.

            Ronaldo conheceu a face mesquinha da ditadura, que o afastou da vida política por mais de dez anos e que o obrigou a deixar a Paraíba para exercer a advocacia, inicialmente, em São Paulo e, depois, no Rio de Janeiro. Essa mesma face cruel eu a conheço, e lembro Pedro Gondim, Vital do Rêgo e muitos paraibanos injustiçados.

            Meus amigos, muitas vezes, o embate político e o confronto de ideias nos afastam e nos colocam em ringues opostos na disputa eleitoral. Quantas e quantas vezes isso ocorre, Cássio! Mas isso jamais deve ser motivo para nos impedir de reconhecer os méritos dos nossos adversários, que não são inimigos, ou de ressaltar-lhes as suas virtudes.

            No dia 9 de julho do ano passado, quando pronunciei o discurso em lamento ao desaparecimento físico de Ronaldo, fui acometido por uma emoção que aflorou, por um sentimento de dor, que estava guardado há três anos, por um sentimento de saudade, reverenciando a memória de Vital do Rêgo. Naquela oportunidade, eu não podia falar de Ronaldo sem me lembrar do seu mais histórico adversário e, com certeza, ao final de sua vida, o mais próximo ou um dos seus mais próximos amigos, meu pai. Essa aproximação, no final da vida, revela a dimensão e a generosidade desses dois homens públicos notáveis.

            Ivandro, um fato de que poucos se lembram - os mais antigos podem se recordar - foram as eleições de 1968 para Prefeito de Campina Grande: Vital do Rêgo e Ronaldo, embora adversários políticos, concorriam pelo mesmo partido. A ditadura, para acomodar diversas tendências que se encontravam engessadas pelo bipartidarismo, havia criado a sublegenda, que permitia a apresentação de mais de um candidato do mesmo partido nas eleições majoritárias. O candidato que obteve mais votos naquela eleição foi Severino Cabral, o Senador Milton Cabral, conhecido por Pé de Chumbo. Mas foi Ronaldo que se elegeu, pois seus votos, somados aos de Vital, superaram o candidato Cabral, do partido do governo. A ironia está no fato de que, naquele momento, a ditadura tinha projetado as sublegendas, mas a sublegenda fez com que perdesse o candidato do governo, o inesquecível Pé de Chumbo, um dos homens históricos da vida política de Campina Grande, o qual nós sempre reverenciamos.

            Quero finalizar, afirmando que Ronaldo Cunha Lima, com sua capacidade criativa, inteligência aguçada e oratória arrebatadora, além de sua vocação política, continuará a fazer falta à Paraíba e ao Brasil. Os poetas não morrem, são referências para a eternidade.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/2013 - Página 10837