Pela Liderança durante a 31ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória intelectual e à carreira política de Ronaldo Cunha Lima, falecido em 7 de julho de 2012.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória intelectual e à carreira política de Ronaldo Cunha Lima, falecido em 7 de julho de 2012.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/2013 - Página 10839
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RONALDO CUNHA LIMA, EX SENADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), ELOGIO, VIDA PUBLICA, COMENTARIO, RELAÇÃO, PROXIMIDADE, ORADOR.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Senador Renan Calheiros, Presidente do Senado Federal; Vice-Governador, Rômulo Gouveia, que muito nos honra com a sua presença; Prefeito de Campina Grande, Dr. Romero Rodrigues; Senadores Cássio, Lucena, Vital do Rêgo e Ivandro; meus companheiros Senadores; paraibanos conterrâneos e familiares de Ronaldo, que quero cumprimentar na figura dessa querida amiga Glória, a sempre esposa de Ronaldo.

            Quero lhe dizer, Glória, que fiz carreira de Natal para chegar hoje, porque tive um mundo de compromissos de manhã, mas eu tinha um compromisso maior nesta segunda-feira, às 18h30, que era estar aqui nesta homenagem, que pensei que fosse ser menor, a Ronaldo Cunha Lima, homem que honrou este plenário.

            Eu estava aqui, rodando, e me lembrando, Renan, do lugar onde ele se sentava. Ele ficava, Cássio, ali, onde está aquele senhor, que não conheço, de camisa amarela. Ele ficava sempre ali. Fazia seus discursos apropriados, circulava e tinha com todos uma convivência extremamente fraterna.

            De modo, Glória, que quem está aqui não é o Presidente do Democratas, não é o Senador, não é o ex-Governador, mas o amigo do seu marido, José Agripino Maia. Quem está aqui é o amigo dele.

            Ronaldo foi Prefeito de Campina Grande, cassado; e cassado fez sucesso como respondedor de um programa de auditório sobre Augusto dos Anjos. Ele ficou conhecido no Brasil inteiro pelo talento, pela memória que o manteve vivo na lembrança dos paraibanos, dos brasileiros, que fizeram com que ele pudesse voltar vivo na lembrança dos seus conterrâneos e pudesse ser, mais uma vez, eleito prefeito de Campina Grande. E daí para frente foi tudo o que a gente sabe.

            Tive uma convivência com Ronaldo. Eu nunca fui cassado. Pelo contrário, fui Prefeito de Natal, eleito pela via indireta, o começo das nossas vidas públicas foram diferentes, mas havia uma coisa curiosa: o meu sangue casava com o sangue de Ronaldo.

            Quando nós nos elegemos governadores, na primeira reunião que fizemos de governadores, houve uma sintonia de pontos de vista, de afinamentos, de simpatia entre mim e Ronaldo. Ele foi meu confidente durante muitos momentos. Ele tinha histórias fenomenais! Algumas que posso contar; e outras que não posso contar.

            Acho que Cássio se lembra da história. Ronaldo era um boêmio, poeta, amigo do povo, amigo do pobre. Agora, amigo real. Não era por ser político, porque pudesse precisar do voto. Era amigo porque isso era da natureza dele. Ele era homem do povo de verdade.

            Boêmio, frequentador de bar, ele me contava que, uma vez, tinha encontrado um sujeito bêbado, às quedas, num botequim. O cara chegou para ele - eu não vou agora imitar o bêbado, porque pega mal num discurso - e disse: “Ronaldo, está me conhecendo”? E Ronaldo, rápido no gatilho, disse: “Claro, amigo velho”! “Está conhecendo de onde”? Respondeu: “De um bar”. Claro! De um bar.

            A história de Xaréu eu não posso contar, muito menos a de Marissol, quando nós viajamos para o México. Mas são histórias que significam a relação de amizade pessoal que eu tinha com o seu marido e que talvez tenha tido um grande momento.

            Desculpem-me os irmãos, mas o xodó de Ronaldo era Cássio Cunha Lima. Era a idolatria da vida dele.

            Cássio, eu me lembro da alegria de Ronaldo ao vê-lo nomeado Superintendente da Sudene, ao vê-lo eleito Prefeito. Não se pode esquecer a alegria maior dele, já doente, ao vê-lo eleito Governador.

            O xodó maior da vida de Ronaldo era Cássio da Cunha Lima. Tinha orgulho do filho!

            A emoção é tão grande que eu perdi o fio da meada sobre o que eu ia falar, mas, ao falar, eu me lembrei.

            Todos vocês sabem que ele teve um momento extremamente difícil na vida em relação à defesa da honra de Cássio. Todos se lembram. E, quando se deu o ocorrido, o noticiário do Brasil inteiro explodiu, e ele correu para Campina Grande. Eu era Governador, e ele também. Eu procurei contato com o Ronaldo. Era difícil, até que eu encontrei, por intermédio não me lembro de quem, o telefone de Ronaldo em Campina Grande. Peguei o telefone e consegui falar com ele.

            Ele falou comigo monossilabicamente, e eu disse: “Ronaldo, se você tiver dificuldade, venha para cá, para o Rio Grande do Norte, que os tanques de guerra - não havia nenhum - da Polícia do Rio Grande do Norte estão prontos para te defender”. Ele caiu num pranto! Porque ele sentiu que, naquele momento de extrema aflição, quando ele tinha tomado a atitude extrema em defesa da honra do filho dele, um colega Governador tinha ligado para ele e lhe dito: “Venha para cá. Pode chover canivete que estou com você e não abro”. (Palmas.)

            Talvez tenham sido esses momentos que me tenham feito tão amigo de Ronaldo.

            Cássio, eu fui duas vezes Governador. Eu fiz um mundo de obras; físicas. As coisas de que o povo do Rio Grande do Norte se lembra, em relação ao Governador Agripino, não são 1.500 quilômetros de asfalto; não é de alguma barragem grande, de algum hospital grande. São os programas: é o Projeto Curral, um programa que eu fiz, voltado para o pequeno pecuarista que tinha perdido tudo durante a seca; era o Balcão de Ferramenta, que era o financiamento em tempo de inflação alta, um instrumento de trabalho para dar a alguém que tivesse uma vocação um instrumento para ele ganhar a vida. Eu sou conhecido e lembrado por isso.

            Ronaldo é lembrado por quê? Pela orquestra sanfônica; pelos poemas dele; pelo São João, de Campina Grande. Campina Grande ficou imortalizada pela obra que Ronaldo fez: a de juntar os artistas. Está aqui Genival Lacerda. Ele está aqui! Ele saiu da Paraíba para homenagear um cidadão que ele sabe que, quando vivo, deu tudo pela cultura e fez da cultura um instrumento de promoção dos cidadãos. A maior obra de Ronaldo foi a obra cultural, foi o São João, de Campina Grande; foi a difusão da Paraíba. Por aquele instrumento de ação, ele difundiu Campina Grande e a Paraíba pelo Brasil inteiro.

            É isto o que se está hoje reverenciando: a memória de um político que era um misto de muitas coisas. Ele foi um misto de político, de poeta, de homem das letras e, principalmente, um homem do povo. Mas, acima de tudo, ele não pode deixar de ter sido um grande marido, porque, farrista como era, boêmio como era, poeta como era, terminar a vida casado com você, Glória, é porque vocês eram um casal do barulho. (Palmas.)

            Era isso o que eu queria dizer. Abri meu coração, dizendo da saudade que eu sinto de Ronaldo, do grande Primeiro Secretário do Senado. Dizer - e eu não podia deixar de dizer - do homem público exemplar: ele foi Prefeito, ele foi Governador, ele foi Parlamentar, ele foi Primeiro Secretário do Senado, e contra a honra e o comportamento ético de Ronaldo nunca ninguém disse nada! (Palmas.)

            É obrigação do político ser honesto, mas nem todos o são. Nem de longe se fala sobre qualquer ato de improbidade ou deslize de Ronaldo. Ronaldo era um homem amigo dos amigos, bon vivant, poeta, de grande espírito público pela Paraíba e pelo Brasil, mas, acima de tudo, um homem honesto, no sentido reto da palavra.

            Por isso tudo é que, com muita alegria, venho hoje aqui - não pude estar no velório e no sepultamento dele -, com a modéstia do meu depoimento, prestar a minha homenagem a um dos melhores amigos da minha vida, a um grande brasileiro, a um grande paraibano, que se chama Ronaldo da Cunha Lima.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/2013 - Página 10839