Discurso durante a 33ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise da importância de alguns blocos econômicos, especialmente do BRICS.

Autor
Sergio Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Sergio de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Análise da importância de alguns blocos econômicos, especialmente do BRICS.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2013 - Página 11629
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, RELEVANCIA, ATUAÇÃO, GRUPO ECONOMICO, PARTICIPAÇÃO, BRASIL, COMENTARIO, REALIZAÇÃO, DEBATE, CRIAÇÃO, BANCO DE DESENVOLVIMENTO, FUNDO DE RESERVA, OBJETIVO, FORTIFICAÇÃO, AGRUPAMENTO, PAIS ESTRANGEIRO.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR. Sem revisão do orador.) - Senadora Ângela Portela, vou falar bem menos.

            Sr. Presidente, meu caro amigo Paim, Senador pelo PT do Rio Grande do Sul, venho hoje à tribuna para fazer uma análise sobre alguns blocos econômicos, especialmente sobre o BRICS, porque, nos próximos dias 26 e 27 do mês de março, será realizada, na cidade de Durban, na África do Sul, a 5ª Cúpula dos países do BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Trata-se de algo muito significativo se imaginarmos que, há mais de dez anos, era impensável a constituição de um bloco entre países de vários continentes longínquos. A gente imagina blocos econômicos dentro de um mesmo continente, quando, no máximo, num continente muito próximo. Trata-se de algo muito significativo, se imaginarmos a importância, hoje, que têm o BRICS.

            Quando em 2001, o economista-chefe da Goldman Sachs criou a sigla BRICS para identificar economias atraentes ao investimento estrangeiro, ninguém poderia imaginar que, passado pouco mais de uma década, a ideia se transformaria em mecanismo de articulação entre os governos do Brasil, Rússia, Índia e China.

            O conceito original expressava, Sr. Presidente, a existência de quatro países que, individualmente, tinham características que lhes permitiam ser considerados em conjunto. Entretanto, em setembro de 2006, uma reunião de chanceleres dos quatro países, organizada à margem da 61ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, ultrapassou o conceito e iniciou uma nova etapa de cooperação entre essas nações. Desde então, o BRICS, como agrupamento, foi incorporado à política externa do Brasil, Rússia, Índia, China, e tem sido utilizado como mecanismo de ressonância às aspirações convergentes do bloco.

            Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, Srªs e Srs. Senadores, há quase 70 anos, quando os vencedores do confronto definiram uma nova ordem global e, sobretudo, a sua governança, o mundo experimentou grandes e significativas mudanças políticas e econômicas. Nesse contexto, parece bastante lógico que tais mudanças sejam discutidas e consideradas para a redefinição do papel das nações na geopolítica mundial.

            O Brasil e os demais países do BRICS possuem um peso muito maior no comércio e na riqueza do Planeta hoje do que no meio do século passado e, por isso, almejam ter maior participação, Sr. Presidente. E essa é uma luta constante de o Brasil, por exemplo, ter um assento permanente no Conselho de Segurança.

            Então, os países buscam preencher alguns espaços, porque, de fato, isso denota sua grandeza.

            A realidade econômica de alguns países, hoje, é totalmente diferente da dos países da década de 50 do século passado e querem esses países participar das grandes discussões mundiais.

            É inegável que o BRICS possui grandes diferenças entre os seus membros, de ordem política, econômica e cultural, e, por vezes, interesses divergentes em pontos específicos, mas a pergunta é, Sr. Presidente: qual bloco ou organização de países, no mundo, goza da unanimidade de seus membros?

            Penso que nenhum. Nem mesmo a União Europeia ou a Otan estão livres de divergências internas. Importa, portanto, que as convergências representem ganhos superiores aos eventuais conflitos e que a atuação conjunta em temas de interesse comum possa antecipar e viabilizar conquistas e resultados positivos para esses países.

            Atualmente, é possível constatar resultados palpáveis nos temas relacionados às reformas do sistema financeiro mundial.

            A atuação do BRICS, senhoras e senhores, dentro do FMI, por exemplo, tem sido, evidentemente, coordenada e já ultrapassa os temas de convergência natural, o que evidencia capacidade de acomodação de interesses em prol da posição do bloco.

            Temos um posicionamento uniforme em relação à necessidade de redefinição da governança global em assuntos econômicos.

            Ouso afirmar que a criação e o fortalecimento do G20 como fórum de discussão econômica mundial, substituindo, inclusive, o antigo G8 em importância, passa, seguramente, pela existência do BRICS. Nada mais natural, Srªs e Srs. Senadores, afinal, o peso econômico do bloco é inegável, Senador Armando Monteiro.

            Entre 2003 e 2007, o crescimento dos quatro países representou 65% da expansão do PIB mundial. Em 2003, o BRICS respondia por 9% do PIB mundial. Seis anos depois, em 2009, o valor aumentou para 14%. No seguinte, o PIB conjunto dos cinco países, já incluindo a África do Sul, totalizou US$11 trilhões, ou seja, 18% da economia global estão nesses cinco países.

            Considerando o PIB pela paridade do poder de compra, esse índice é ainda maior, Sr. Presidente, US$19 trilhões, ou seja, 25% de todas as riquezas do Planeta estão nesses cinco países, considerado como um bloco econômico, o BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

            Isso sem falar no fato de juntos o BRICS possuírem 2,9 bilhões de habitantes, ou seja, 42% de toda a população mundial.

            É evidente e clara, Sr. Presidente, a importância crescente dessas cinco economias no cenário internacional. Situação que foi reforçada sobremaneira depois da crise financeira de 2008, cujos efeitos negativos foram mais intensos nos países mais ricos e menos intensos nesses países considerados um bloco chamado BRICS.

            Em 2009, foi realizada a primeira cúpula do BRICS na cidade de Ecaterimburgo, na Rússia. Dois anos depois, por ocasião da III Cúpula, em Sanya, na China, a África do Sul passou a integrar o bloco, no ano de 2011, que adotou então a sigla BRICS, colocando o S de África do Sul.

            Nestes quase cinco anos de cúpula, embora mantenha ainda um caráter informal, é inegável a ampliação da interação entre os membros do BRICS e a elevação do grau de institucionalização do bloco.

            Já se observam, por exemplo, Sr. Presidente - e isto é salutar -, movimentos de coordenação entre os países através de declarações, ações convergentes e similaridades de comportamento.

            O tema da mudança da ordem mundial, associado ao pleito do grupo por transformações correspondentes na governança internacional, perpassa todas as cúpulas do grupo BRICS.

            Aliás, é importante reconhecer que as cúpulas têm colaborado para que, além das naturais convergências nas reformas do sistema financeiro internacional, novas frentes de cooperação sejam descobertas e passem a ser trabalhadas.

            Agora estamos diante da 5ª Cúpula do BRICS, que se inicia na próxima semana no continente africano, o que certamente contribuirá para ampliarmos ainda mais a agenda do bloco.

            A cúpula ocorre num momento de grandes debates mundiais, alguns deles de grande preocupação para a comunidade internacional, como a crise da Síria ou mesmo a polêmica envolvendo os testes nucleares na Coreia do Norte.

            E talvez seja uma oportunidade, Sr. Presidente, ímpar para demonstrar que o BRICS pode ser mais do que um bloco que discute questões econômicas e possamos debater e apresentar novos caminhos e soluções para a convivência pacífica e harmônica de todos os países do Planeta.

            Sabe-se que em Durban, os países do BRICS intensificarão o debate em torno da criação de um banco de desenvolvimento e de um fundo de reservas internacionais. Dois passos fundamentais para o fortalecimento do bloco, um fundo de reservas internacionais e um banco de desenvolvimento. Essa será a agenda principal dos temas que serão discutidos no 5º encontro desses países cuja sigla é BRICS.

            Srªs e Srs. Senadores, somos a sexta maior economia do Planeta. Este é o Brasil de hoje, um País com quase 200 milhões de habitantes, cujas perspectivas de futuro são bastante favoráveis. Queremos ser uma Nação, Sr. Presidente, efetivamente desenvolvida. E nada mais justo, portanto, que simultaneamente almejemos uma posição mais expressiva e mais condizente com a nossa realidade no cenário internacional.

            Esta é uma agenda comum a todos os BRICS: ultrapassar a condição de nação emergente e atingir o patamar de país desenvolvido, inserido nas principais discussões mundiais.

            Por isso, Srªs e Srs. Senadores, entendo ser tão importante tornar o bloco cada vez mais coeso e procurar e exaltar as convergências possíveis que atendam aos interesses desse grupo.

            Vejo com grande satisfação a realização da 5ª Cúpula do BRICS, e torço para que os resultados sejam os melhores possíveis e para que tenhamos uma agenda ainda mais positiva para 2014, quando o Brasil sediará 6ª Cúpula do BRICS.

            Sr. Presidente, tenho feito algumas reflexões acerca da importância do Brasil. Tenho como bandeira de mandato a diminuição do custo Brasil e tenho refletido isso por vezes nas comissões desta Casa e também na tribuna do Senado Federal, manifestando que é inadmissível convivermos com produtos fabricados no Brasil ou vindos de outros países, que são vendidos ao consumidor, por vezes, mais caros do que aqueles consumidos na Europa ou nos Estados Unidos.

            Não tenho dúvida de que o Brasil precisa otimizar os modais de transportes, diminuir a burocracia, estirpar a corrupção, ser mais eficiente. Mas também faço a reflexão de que o Brasil precisa não só resolver os seus problemas internos, mas também ocupar o seu espaço no cenário mundial.

            Nós temos de mostrar ao mundo que o Brasil é um país de respeito e que não somos somente a sexta maior economia do mundo, mas altamente eficientes. Precisamos ocupar os espaços dentro das principais organizações mundiais, para fazermos ali valer o nosso valor, o nosso tamanho, a nossa expressão nesse cenário.

            Eram essas as considerações de hoje, Sr. Presidente.

            Agradeço a todos, desejando uma boa noite a quem nos assiste pela TV Senado, a quem nos escuta pela Rádio Senado.

            Uma boa noite a todas as Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2013 - Página 11629