Encaminhamento durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Referente à PEC n. 66/2012.

Autor
Randolfe Rodrigues (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AP)
Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Encaminhamento
Resumo por assunto
Outros:
  • Referente à PEC n. 66/2012.
Publicação
Publicação no DSF de 27/03/2013 - Página 13057

            O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PSOL - AP. Para encaminhar. Sem revisão do orador. ) - Obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, essa votação mostra como nosso País tem chegado atrasado em temas civilizatórios. Fomos o último dos países da América a declarar território livre da escravidão. E lembremos que na escravidão, com a edição da Lei Áurea, o conjunto da sociedade brasileira padecia de temor sobre o que significava aquilo. Ou seja, mesmo abolindo a escravidão, no século XIX, boa parte da sociedade brasileira achava que o normal era, naquele momento, existir dois tipos de pessoas: um, cidadão de direitos; e outra, que era tratada como coisa.

            Estamos no século XXI e, mais uma vez, somos um dos últimos países do mundo a passar todo o século XX, a passar parte do século XXI com duas categorias de trabalhadores: um, pleno de direitos; e, outro, tal qual no século XIX eram tratados os negros, uma espécie de subtrabalhador. Lamentavelmente, a nossa triste tradição patrimonialista portuguesa, que forjou o nosso Estado/Nação, legou uma compreensão de parte da sociedade que raciocina só a partir da perspectiva da Casa-Grande, e não a partir da perspectiva da maioria do povo brasileiro que formou - e isso é o que há de belo em nosso País, como já dizia Darcy Ribeiro - essa mistura negra, branca e indígena, formou a maior riqueza que nós temos, que é o povo brasileiro. Em que pese essa riqueza, nós constituímos, ao longo dos 500 anos, devido ao lamentável legado português, um Estado patrimonialista, um Estado atrasado que, felizmente, com o tempo e com a mobilização dessas belas mulheres que hoje estão aqui no nosso plenário, mulheres como Benedita - você já foi citada tantas vezes, que é até irrelevante a minha citação -, que têm sido aqui homenageada, justamente, por que, Benedita? Por que, Bené? Você, há muito tempo, é o símbolo de que este País não pode ser somente o país da Casa-Grande; este tem que ser o País dos oprimidos, que são a maioria do povo brasileiro, que formou e forjou este País. Este não pode ser um país somente de uma elite conservadora, arcaica, escravocrata, herdeira do legado da escravidão.

            Nesta data, Bené, eu acho que a maior homenageada dentre todas - você e a presidenta do nosso sindicato nacional hão de concordar - tem que ser e deve ser a maior homenageada de hoje; o nome de PEC Bené é mais do que adequado, porque você é o símbolo de que este País não pode ser somente o país dos opressores. Este é o País das pessoas e dos trabalhadores e daqueles da senzala que triunfam e que vencem, tal qual a data mesmo da Consciência Negra, o 20 de novembro.

            Tal qual representou o 13 de maio, como a data áurea, eu acho que representa hoje a mesma coisa para os trabalhadores brasileiros. Finalmente, no Brasil, nós podemos dizer que existe somente uma categoria de trabalhadores, com os mesmos direitos, com os mesmos deveres.

            Lembro até um trecho da bela Internacional Socialista: nem mais direitos sem deveres, nem mais deveres sem direitos.

            Parabéns, Bené!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/03/2013 - Página 13057