Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à propaganda eleitoral antecipada.

Autor
Ruben Figueiró (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Ruben Figueiró de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Críticas à propaganda eleitoral antecipada.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2013 - Página 15591
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, ANTECIPAÇÃO, PROPAGANDA ELEITORAL, REPRESENTANTE, GOVERNO FEDERAL, REFERENCIA, PARTICIPAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, REUNIÃO, PREFEITO, GOVERNADOR, OBJETIVO, APOIO, ELEIÇÕES, TROCA, ASSISTENCIA, ESTADOS, MUNICIPIOS, REGISTRO, DESAPROVAÇÃO, ORADOR, ATIVIDADE, MOTIVO, RESULTADO, CURTO PRAZO, POSSIBILIDADE, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL, DEMOCRACIA, POPULAÇÃO.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejo juntar as minhas palavras às da eminente Senadora Ana Amélia, quando se refere ao Washington.

            Eu, como flu e são-paulino, saúdo muito V. Sª pelo muito que fez pelo nosso esporte e que está fazendo hoje, como Vereador, lá em Caxias do Sul.

            Minhas homenagens a V. Sª!

            Mas, Sr. Presidente, ocupo a tribuna desta Casa, nesta tarde, para falar sobre a evolução política em meu Estado, o Mato Grosso do Sul, depois de passar o feriado da Páscoa mantendo contato com vários segmentos ativos de nossa sociedade.

            É impressionante como o tema das eleições de 2014, desde já, contamina as atitudes da classe política e de vários outros segmentos organizados em nossa sociedade.

            A Ministra Ideli Salvatti e os Ministros do Desenvolvimento Social, Tereza Campello; das Cidades, Aguinaldo Ribeiro; e do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas estiveram em Campo Grande, nessa segunda-feira, dia 1º de abril, reunidos com prefeitos municipais do Estado, em claro movimento de campanha eleitoral.

            Quem participou do evento pôde contatar a desenvoltura do assédio de representantes do Governo Federal aos representantes do Governo estadual e municipal.

            Como observador da cena, enxergo esse processo com grande preocupação, pois a lógica dos interesses meramente eleitorais passa a prevalecer sobre as verdadeiras prioridades nacionais. Isso nunca deu certo!

            A movimentação proativa de Ministros cria um ambiente estranho de antecipação do calendário político. Não sei quais são os ganhos reais para o País quando adiantamos no tempo os debates que deveriam ocorrer somente em 2014 e passam a acontecer desde agora, faltando quase dois anos para o pleito eleitoral.

            Nesse fim de semana, pude ler vários economistas de renome apontando, com certa apreensão, a adoção de inúmeras medidas populistas, de impacto imediato, que poderão prejudicar a economia de maneira drástica assim que passar o período eleitoral. O que estamos vendo é um imediatismo deletério corroendo as bases de nossa macroeconomia.

            Por enquanto, não há sinais de que essas medidas pontuais possam prejudicar os avanços da sociedade. Mas será que o acúmulo de decisões assimétricas não criará desarranjos no futuro, desorganizando as bases sólidas de nossa economia e da nossa produção?

            Está claro que as medidas de impacto eleitoreiro fogem aos padrões de normalidade, criando uma sensação momentânea de bem-estar social, para, em seguida, reverterem em contração de investimentos, aumento da dívida pública, elevação dos índices inflacionários, distorções cambiais, enfim, desequilibrando os fundamentos de uma economia sadia e sustentável no longo prazo.

            O clima atual pretende criar certa euforia na sociedade sobre bases irrealistas. Ainda assim, pude observar que a classe política faz o jogo do Governo sem criar compromissos efetivos, pois sabe, por experiência de tempos passados, que há muita encenação e pouquíssima ação propriamente dita no decorrer dessa fase política.

            Sei que existem obras importantes que nossos governantes locais pretendem viabilizar e encontram, nesse ambiente de antecipação eleitoral, um momento propício para reivindicar e ver atendidos os pleitos que há muito estão adormecidos nas gavetas dos Ministérios na Esplanada.

            Não sou contra isso. Sou crítico em relação aos oportunismos eleitoreiros que possam, lá na frente, criar óbices instransponíveis para a Nação.

            O Governo não pode ser imprevidente, perdendo oportunidades hoje que poderão ser fundamentais amanhã.

            Falo isso com a experiência dos anos vividos na política. Minha experiência diz que manter um foco meramente eleitoral em torno de decisões de medidas econômicas termina resultando em perdas sociais desastrosas para a população em médio e longo prazos.

            Nesse sentido, faço um alerta para o Governo, lembrando uma famosa frase de Abraham Lincoln - abro aspas: “Pode-se enganar a alguns o tempo todo e a todos por algum tempo, mas não se pode enganar a todos o tempo todo.” - fecho aspas.

            Srs. Senadores, o Brasil perderá tempo e energia com a antecipação do processo eleitoral. Isso parece evidente.

            Uma das observações que pude fazer foi sobre uma expectativa que está sendo gerada na opinião pública de meu Estado. É em relação à figura política do Governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

            Não sei por que se trata de uma novidade política no cenário nacional; não sei se a presença do nome dele é em razão do enfoque que a grande imprensa tem dado à possível pretensão dele em concorrer à Presidência da República; não sei se ele constitui um fenômeno que decorre da - entre aspas - “fadiga de materiais” decorrente dos anos de governo lulo-petista, mas um fato eu posso constatar: a presença do nome de Eduardo Campos está começando a tomar conta do corpo político da Nação, num processo, como diria o homem do campo lá do meu Estado, o Mato Grosso do Sul, de - entre aspas - “infestação do carrapatinho”.

            Sr. Presidente, a antecipação da campanha eleitoral se reflete em outras esferas. Vejo, em meu Estado, por exemplo, intensas movimentações em torno da sucessão do Executivo estadual. Os partidos estão se mobilizando para o embate. Há um esforço muito grande sendo despendido para desenhar cenários futuros. Quem será o candidato a quê? Quais serão as alianças eleitorais possíveis? Qual será a posição deste ou daquele partido? Qual caminho seguirá o Governador? Quais os candidatos ao governo do Estado? Qual será a nova configuração política depois de 2014?

            Enfim, o momento é de intensa especulação, e, diante disso, as referências mais próximas que temos são as eleições municipais do ano passado, as quais permitem inferir que a sociedade de Mato Grosso do Sul deseja fazer profundas mudanças nas suas escolhas, revisando o papel dos partidos que, há várias décadas, ocupam o centro do poder.

            O resultado eleitoral ocorrido em Campo Grande, capital do Estado, em 2012, foi emblemático e indica seguramente que um processo novo está em curso. A população parece estar abandonando alguns paradigmas que balizam suas escolhas.

            Coisas como desempenho administrativo fabricado com peso da propaganda, estrutura financeira abusiva, tempo de televisão desigual, equipes de marqueteiros profissionais, todos esses fatores valeram pouco no processo de escolha dos eleitores.

            O que a população mostrou que deseja é ter uma relação honesta com a classe política. O aprimoramento de nossa democracia exigirá cada vez mais um tipo de conduta diferenciada do candidato, obrigando-o a mostrar qual o grau de sintonia que ele mantém com a comunidade, qual o nível de transparência que ele propõe desenvolver entre os setores públicos e privados, qual é o padrão de sua sinceridade, o que fará com que suas promessas sejam exequíveis na prática.

            Nesse processo, o meu Partido, o PSDB, apresentou-se como uma grande surpresa do processo eleitoral de Mato Grosso do Sul. Ele aumentou significativamente o número de prefeituras e de vereadores e quase chegou ao segundo turno nas eleições da capital, Campo Grande.

            Esses e vários outros resultados das eleições municipais estão mudando o jeito de a população enxergar a política em meu Estado. Lideranças antes consideradas imbatíveis e com índices elevados de popularidade foram derrotadas. Avaliações de governo positivas, obras de impacto e bondades sociais foram simplesmente inúteis na hora da decisão do eleitor. A sociedade teve vontade de mudar e mudou.

            Essa força latente que está dentro de cada um em determinado momento histórico ultrapassa qualquer manobra estratégica artificial que queiram impor sobre as nossas consciências. Por isso, fico me perguntando: se o quadro se mostra tão favorável para o Governo - que, conforme as pesquisas, tem popularidade lá nas alturas -, qual a razão para antecipar tanto o calendário das eleições presidenciais? Qual é o temor? Para que tanta movimentação eleitoral? Considero tais desdobramentos estranhos e incoerentes.

            Srªs e Srs. Senadores, quero concluir dizendo que não há vencedores nem vencidos de véspera. O momento do grande debate de propostas e rumos políticos ainda não chegou, mesmo que boa parte da imprensa queira insistir ao contrário, dando uma emergência inexistente ao assunto.

            O Governo força e estimula essa pauta.

(Soa a campainha.)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - Todos os dias, ouvimos os próceres do PT dizerem que - entre aspas - "eleição é a prioridade máxima" na agenda governamental.

            Trata-se de substituir compromissos com o País pelo compromisso com a manutenção do poder. Mesmo assim, não se pode fazer nada, a não ser render-se a essa triste e vergonhosa realidade.

            Esperar, contudo, que esse caminho seja de aprendizado. Às oposições cabe manter o sentido de alerta sobre as distorções que possam vir a ocorrer daqui para frente. Tem-se a clareza de que o ambiente será contaminado, mas confio na sabedoria do povo brasileiro no momento de julgar aqueles que, sinceramente, desejam o melhor para o País, sabendo separar o joio do trigo.

(Interrupção do som.)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - É a impressão, Sr. Presidente, que trago lá do meu Estado, após consultas que fiz com pessoas da maior responsabilidade e de todos os segmentos da nossa sociedade.

            Espero que as minhas palavras, realmente, tenham sentido sobretudo àqueles que desejam antecipar o processo eleitoral.

            Muito obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2013 - Página 15591