Discurso durante a 48ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à manutenção da política de juros baixos no País.

Autor
Wellington Dias (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: José Wellington Barroso de Araujo Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL.:
  • Apoio à manutenção da política de juros baixos no País.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2013 - Página 17756
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, CONJUNTURA ECONOMICA, PAIS, REGISTRO, CRESCIMENTO, INDICE, INFLAÇÃO, APOIO, DECISÃO, GOVERNO FEDERAL, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Randolfe, Senador Aníbal - Presidentes, aliás.

            Eu gostaria de, na mesma linha do Senador Anibal - eu quero dizer, Senador Anibal, que V. Exª faz encurtar o meu pronunciamento -, primeiro, apenas resumir o que V. Exª trouxe aqui com base técnica.

            Se a gente pega a situação da inflação no ano de 2012 como exemplo, nós vamos verificar o mesmo comportamento do ano de 2011 e do ano de 2013, ou seja, nós temos uma situação em que, do primeiro semestre, por razões que são típicas do primeiro semestre, ora enchentes, ora situação de frustração de safra, ora situações que, muitas vezes, são do mercado externo, o resultado é um aumento, uma ampliação.

            O que me espanta, nessa fase que estamos vivenciando, é essa torcida pelo crescimento do juro. O que V. Exª lembrava aqui? É que nós temos uma inflação que começou em janeiro num patamar; em fevereiro, ela teve um crescimento; em março, na verdade, ela teve um decrescimento, e a tendência natural é que tenhamos, principalmente no segundo semestre, como aconteceu no ano de 2012, como aconteceu no ano de 2011, é a volta para o centro da meta, chamado.

            É claro que todos nós temos que tomar medidas, e como V. Exª lembrava, a Presidenta Dilma, o Banco Central, cujo papel e determinação é esse...

            Ainda há pouco, esteve aqui no Senado o Presidente do Banco Central, deixando claro. O Ministro Guido Mantega que, da mesma forma, faz a mesma defesa, ou seja, há um interesse do povo brasileiro.

            Infelizmente, apostando numa coisa que, eu diria, egoísta, temos uma associação de diversos setores que têm interesse, sim. Qual é o interesse? Ou seja, há uma verdadeira torcida para o aumento dos juros. Vejam que chegaram ao ponto de, na semana passada e nesta semana, trabalharem a apresentação de um projeto que vendem com o nome de independência do Banco Central e, por trás desse projeto, independência do Banco Central entendida como aumento do juro. Ora, isso é um trabalho contra os interesses maiores do povo brasileiro. Então, estou aqui para chamar a atenção. Eu acho que basta a gente olhar determinados setores da imprensa, determinadas declarações combinadas de ditos técnicos que, muitas vezes, estão associados a esses interesses maiores.

            A quem interessa juro alto? A quem interessa essa jogatina? A quem interessa, portanto, essa cobrança, quase que em campanha, do aumento do juro? Ora, o Brasil fez um esforço muito grande para chegar ao patamar em que chegamos. E reconheço que medidas foram tomadas, lá atrás, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, ainda na época do Governo do Presidente Fernando Henrique, ou seja, que foi aprimorada, mas medidas corajosas foram tomadas desde o Governo do Presidente Lula, que permitiu ao País ter um crescimento econômico, ter a condição de ter uma reserva em moeda estrangeira de aproximadamente US$360 bilhões, que nos tira de um patamar que vivenciamos durante muitos anos. Praticamente, uma crise como essa, não precisava nem ser a da Grécia, uma crise qualquer, em qualquer lugar do mundo, e o Brasil estava vulnerável. Por quê? Porque não tinha reservas em moedas estrangeiras e estava nas mãos do Fundo Monetário Internacional.

            Então, vejam: hoje temos um câmbio adequado aos interesses do Brasil, porque temos condições de evitar sua flutuação, simplesmente pelo interesse de especuladores. De vez em quando o câmbio oscila, mas está na casa de R$1,90, de R$2,10. E isso é importante para que tenhamos a tranquilidade de quem trabalha com o mercado externo e de quem trabalha com o mercado interno.

            A inflação está sob controle, sim. O que nós temos é uma oscilação típica do primeiro semestre para a realidade da economia brasileira. Aumentou o preço do tomate. Puxa! Quantas vezes não se repete o aumento do preço do tomate, ou da cebola, ou de outros produtos? Aliás, eu estou também preocupado com o aumento do preço da farinha, que é muito consumida no Norte e no Nordeste, com o aumento do feijão, com o aumento da tapioca. Mas isso tem a ver com a frustração de safra, inclusive em outros países. Frustração de safra no Paraná, frustração de safra em São Paulo, no caso da mandioca, e, ao mesmo tempo, no Nordeste, que relaciona uma produção própria para o seu abastecimento e tira a pressão do consumo de outras regiões do Brasil.

            Enfim, eu quero aqui chamar a atenção, além do que V. Exª alerta aqui no seu pronunciamento, citando estudos que foram apresentados, para uma campanha. E na campanha, lamentavelmente, se associa a oposição, inclusive, repito aqui, fazendo a apresentação de um projeto de independência do Banco Central, porque o Banco Central não pode aumentar os juros. 

            Ora, é claro que a primeira orientação de governo - isso nós dizemos de forma escancarada - é trabalhar para não haver aumento de juro. Aumento de juro é que nem uma injeção num paciente que está doente: se não tiver outro jeito. É como uma cirurgia: se não tiver outro jeito. E nós temos condições e estamos tentando outras alternativas. É esse esforço que faz o Governo brasileiro.

            Cientificamente, essas pessoas sabem que ainda temos uma memória inflacionária. Não faz muito tempo, este País trabalhava com uma inflação de 84% ao mês. Quem mais ganhava nessa jogatina? Os trabalhadores, com salários corroídos, a dona de casa. O pequeno produtor, que não tinha como armazenar o seu produto, caía na mão do especulador, como seu produto completamente desvalorizado.

            Então quem ganhava eram aqueles que apostam na jogatina, aqueles que apostam na especulação. A especulação é isto, fazer uma associação - e lamentavelmente a gente tem setores da mídia que se colocam a essa disposição - para que, no momento de uma oscilação do câmbio, ou de uma oscilação na taxa de juros, ganharem fortunas. É disso que se trata. Não está aí o interesse do Brasil, não está aí o interesse do empresariado sério, não está aí o interesse do produtor sério. Aí está o interesse de quem vive puramente da especulação.

            Então, eu quero aqui dar a sustentação às medidas adequadas. Veja que o Governo, agora, adota uma série de novas medidas, são cerca de duzentas medidas voltadas para o crescimento do País. Crescimento do pequeno, do médio, do grande; crescimento do campo; crescimento na cidade. Então, o que eu quero aqui é dizer que este é o caminho.

            Ora, quem ganha com o crescimento do Brasil? Quem ganha são os que estão desempregados, que passam a ter oportunidade de emprego. Vejam que, no meio de uma situação delicada que vivenciamos no mundo, o Brasil prosseguiu gerando emprego, emprego positivo. Parece que isso importuna determinados setores, porque o que nós temos é um desenho que está dando certo. De um lado, faz crescer a renda; crescendo a renda, aumenta o consumo. É a pessoa que compra verdura, que compra legumes, que compra roupas, que compra bens de consumo. Até a moto, o veículo, a bicicleta. E isso faz com que se tenha, com o aumento da demanda, a condição da ampliação de empregos na área dos serviços, especialmente, mas também no campo e na área industrial.

            Então, o que eu quero aqui é sustentar que está correta a política adotada pelo nosso Governo, uma política que é diferente daquela que nós tínhamos no passado. No passado, havia um conto de fadas de que todo o Brasil tinha que aguardar o bolo crescer, e um dia iam repartir o bolo. Agora não. Desde o governo do Presidente Lula, isso está colocado, é uma coisa que, muitas vezes, é combatida, como a transferência direta de renda, com o Bolsa Família, com o Brasil Carinhoso, com a aposentadoria rural, que foi facilitada, com um conjunto de medidas que são trabalhadas. Mas com o aumento do salário mínimo, com regras que permitem liberdade de negociação, que aumentam também o salário da classe média, do servidor público, e, assim, aumenta o poder de consumo. É, portanto, distribuindo a renda que fazemos o País crescer. Esse é o novo modelo. E fazer isso numa economia estável. Eu não tenho dúvida de que todo o esforço do nosso Governo é para que a gente tenha essas premissas.

            Vamos crescer este ano? Vamos crescer. Mas estão falando que vamos crescer só 3%, 4%, 4,5%. Eu não sei, só sei que, se crescemos no ano passado cerca de 1%, se neste ano crescermos 2%, será crescimento maior; se crescermos 3%, é crescimento maior; se crescermos 4%, é crescimento maior. E, mais importante, continuamos gerando saldo de emprego positivo. E esse é o maior desafio do Brasil, porque é isso que traz plena estabilidade.

            Então, Sr. Presidente, com essas palavras, quero saudar o pronunciamento que V. Exª faz, trazendo aqui dados importantes, e chamar a atenção do povo brasileiro, chamar a atenção das lideranças sociais, aqueles que mais sofrem com o juro alto. Nós estamos trabalhando e forçando a barra para que os setores que ainda resistem a cair os juros também possam acompanhar. Acho que a gente tem de estar atentos a setores que ainda não acompanharam essa tendência de queda de juros, ou seja, o juro da consignação, o juro do cartão de crédito, o juro do comércio, para que a gente tenha redução. É essa redução de juros - e quem perde é quem trabalha na especulação - que garante o aumento do poder de compra, garante a condição de alguém poder comprar mais. Se eu faço um crediário em que a taxa de juros é de 30%, 40% ao ano, e agora eu passo a ter uma oportunidade de poder comprar no crediário, pagando 8%, 9%, 10% ao ano, quem sabe até menos, aí nós temos uma condição de compra a mais. Quem ganha? Ganha o comércio, ganha a indústria, ganha quem produz matéria-prima. É esse Brasil que temos de sustentar.

            E assim, como Líder da Base de Apoio do Governo, como Líder do Partido dos Trabalhadores, Partido de V. Exª, Presidente Anibal, nós vamos estar aqui como guardiões, na defesa intransigente de que não prevaleça essa campanha dos juros altos. Nós queremos aqui sustentar, cobrando medidas para que o Banco Central não precise aumentar os juros. É claro que o Banco Central é hoje, sim, independente. Se tiver de aumentar para poder segurar a inflação vai aumentar. Mas essa não é a nossa política. A nossa política é trabalhar as condições de juro baixo.

            Era isso o que tinha a dizer.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2013 - Página 17756