Pela Liderança durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da instalação de CPI para investigar possíveis desvios no patrimônio da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam); e outro assunto.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZONIA (SUDAM).:
  • Defesa da instalação de CPI para investigar possíveis desvios no patrimônio da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam); e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2013 - Página 19554
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZONIA (SUDAM).
Indexação
  • DEFESA, ORADOR, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), OBJETIVO, INVESTIGAÇÃO, DESVIO, RECURSOS FINANCEIROS, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZONIA (SUDAM).

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Excelência. Fiz isso, porque tenho mais tempo após a ordem do dia para falar.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna na tarde de hoje, primeiro, dizer da minha satisfação de poder anunciar, nesta tarde, e agradecer a minha padroeira, a minha mãe, Virgem de Nazaré, padroeira dos paraenses, por ter me dado força suficiente para que eu pudesse usar, das alternativas que tenho como Líder da Minoria, um instrumento que é o único da Minoria neste Parlamento: a CPI. Consigo, depois de muita luta, meus paraenses queridos, assinaturas suficientes para a apresentação da CPI da Sudam.

            Senadores e Senadoras, este País há muito vem perdendo com a corrupção. Tenho eu, nesta Casa, batalhado substancialmente para que o Brasil possa, pelo menos, diminuir a quantidade e a perda de dinheiro público que há muito vem acontecendo neste País.

            Ouve-se muito falar de ladrão de galinha, ouve-se muito falar de ladrão de colarinho branco. Eu pergunto aos senhores e às senhoras: qual é a diferença entre o ladrão de galinha e o ladrão do colarinho branco? A diferença é muito simples: o ladrão de galinha vai preso; o ladrão de galinha, ao roubar uma galinha, passa anos na cadeia.

            Agora mesmo, senhoras e senhores, uma mãe, ao roubar um pão numa padaria, semana passada, porque o filho menor pediu a ela um pão para comer, e ela roubou o pão. Foi há umas três semanas. Está presa, incomunicável. Incomunicável!

           E os ladrões de colarinho branco? Esses não vão presos. Esses não vão presos nesta Pátria. Neste Brasil querido, os ladrões de colarinho branco não vão presos.

            Vou perguntar novamente: qual é a diferença do que foi roubado na Sudam e do que foi roubado pelos mensaleiros? Quanto foi roubado na Sudam, Senadores? Quanto? Quanto foi roubado pelos mensaleiros?

            Eu levantei. Eu levantei! Na Sudam, foram roubadas três vezes mais do que os mensaleiros roubaram da Pátria. Os mensaleiros pelo menos estão ameaçados, Brasil! Os da Sudam, nem se fala mais. Só do ranário foram R$200 milhões, Senadores e Senadoras. Não tem ninguém, nenhum daqueles que acabaram com a Sudam, daqueles que acabaram com o desenvolvimento da Amazônia. Esse órgão foi criado para isto, para desenvolver a Amazônia. A Sudam foi surrupiada escandalosamente, cinicamente roubada. E o processo desses criminosos, o processo desses corruptos que levaram o dinheiro público que era para ser aplicado para os paraenses e para aqueles que moram na Amazônia? Foi muito grande, milhões e milhões e milhões.

            Hoje observamos patrimônios, senhores e senhoras, patrimônios desses que assaltaram a Sudam, patrimônios acima de R$100 milhões. Nem incomodados eles estão, nem incomodados eles estão! Roubaram no cinismo, levaram o dinheiro dos paraenses, levaram o dinheiro do desenvolvimento da Amazônia.

            Meu amigo brasileiro, meu amigo paraense querido, eu fico indignado. Às vezes eu fico conversando com Nossa Senhora de Nazaré e eu fico a dizer para ela: “Mãe querida, como é que se pode ter um patrimônio tão grande se nunca tivemos de onde tirar o dinheiro para fazer esse patrimônio, mãe querida? E como é, mãe querida, que se passa a mão, que se esconde tudo? Como é que fica engavetado, mãe querida?”.

            Meus prezados Ministros do Supremo Tribunal Federal, eu não vou me calar aqui. V. Exªs têm que julgar, porque são muitos, os processos da Sudam que estão engavetados há muitos e muitos anos.

            Eis aqui o instrumento poderoso da minoria, meu nobre Senador Aloysio. Este é o único instrumento que temos para conseguir mostrar a fiscalização do dinheiro público. Aliás, a melhor atribuição que tenho, Senador, a melhor de todas, entre fazer projetos, vir discutir em plenário, a que me deixa mais feliz, Senador, é a de fiscalizar, a de zelar pelo dinheiro público, Senador.

            O nosso País está entregue não só aos ladrões de rua. O nosso País está entregue aos ladrões, principalmente, de colarinho branco.

            Senador, eu saio daqui junto com V. Exª e lhe pago um jantar. Custe quanto custar o jantar, meu Líder, a peso de vinho francês se for o caso. Eu pago! Me diga: quem da Sudam foi preso por assaltar a Sudam? Me diga, Senador!

            Estão todos ricos, Senadores. Todos. Tem um que roubou mais do que os outros. Não é, Jader Filho? Você mandou colocar isto no seu jornal.

            Teu jornal não vale nada, Jaderzinho. Teu jornal é fruto da corrupção. Este jornal aqui não pertence a ti; pertence ao povo do meu Estado.

            Olha, o adjetivo que tu me deste de fanfarrão é muito menor do que o adjetivo que eu vou te dar agora. E não adianta dizer que o Mário Couto é duro. Não adianta! Você me chamou de fanfarrão - esse é o adjetivo que tu usaste no teu jornal. Eu te chamo, Jader Filho, de [Art. 19 do RISF]. Tu és [Art. 19 do RISF], Jader Filho. Vai, vai a juízo questionar contra mim. Vai. Eu peço que tu vás. Vai questionar! Entra na Justiça contra mim, porque eu te chamei de [Art. 19 do RISF]. Entra! Eu quero provar que tu és. Eu quero provar que tu és.

            No teu jornal, ninguém acredita. No teu jornal, ninguém confia. O teu jornal não tem nenhuma credibilidade. O Pará e o Brasil inteiro sabem da família que tu vieste e sabem da família que eu vim. Há uma diferença muito grande.

            Eis aqui, Srs. Senadores, eis aqui a minha maior emoção. Eis aqui, Senadores, o meu maior trunfo. Eis aqui, Senadores, o momento exato para nós - cada um dos Srs. Senadores - mostrarmos à Nação brasileira que estamos interessados em proteger o dinheiro público. Essa é a única maneira, maneira única, Pedro Taques, que nós temos de mostrar. É fiscalizando, Pedro Taques. Eis a CPI da Sudam na minha mão, com 31 assinaturas.

            Vou dar entrada agora, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL. Fazendo soar a campainha.) - Senador Mário Couto, eu queria, sem interromper V. Exª, só lembrar a V. Exª a necessidade de nós cumprirmos o art. 19 do Regimento Interno do Senado Federal, que diz textualmente o seguinte: “Ao Senador é vedado usar de expressões descorteses ou insultuosas”.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - O que, Presidente?

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Eu estou lhe lembrando o art. 19 do Regimento Interno.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Descortês com quem? Não, só não escutei a última frase.

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - “Ou insultuosas”.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Com quem?

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - O Regimento é...

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - O Regimento não diz com quem? Com quem?

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - O Regimento é impessoal.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Ah, ele não diz com quem. 

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Nós já tivemos um outro caso aqui. Não foi retirado dos Anais da Casa. E a Presidência se considera no dever de fazê-lo, em função da necessidade de cumprir o Regimento.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Presidente, eu vou lhe atender.

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Obrigado, Mário.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Eu vou lhe atender, mas quero dizer o seguinte a V. Exª: eu não vou parar de combater a corrupção.

            Eu posso ser cassado, Presidente, V. Exª pode me cassar. Eu não sou covarde, Presidente. Não nasci covarde nem sou covarde. Eu lutarei pelo meu objetivo até o fim, Presidente, doa a quem doer. Doa a quem doer, Presidente. Mas eu não me afasto um minuto dos meus direitos, meus direitos sagrados. Eu vim para cá colocado pelo povo.

            Olhe, Presidente! Olhe, Presidente! Olhe, Presidente! Isso é a minha honra! Isso é a minha honra, Presidente! Eu tenho família!

(Soa a campainha.)

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Eu tenho família, Presidente! E eu quero também que me respeitem. Entendeu, Presidente? Eu quero que me respeitem! E eu quero uma coisa de V. Exª.

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Eu não quero polemizar com V. Exª. V. Exª...

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Eu quero uma coisa...

            Calma, Presidente. O senhor me chamou a atenção, eu já disse que eu não vou fazer.

            (Soa a campainha.)

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Chamei a atenção, não. V. Exª vai ter que cumprir o Regimento.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Eu não vou ter que cumprir nada.

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Vai ter que cumprir o Regimento.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Se eu não cumprir o Regimento, eu sou cassado, e sou cassado por V. Exª. Sou cassado por V. Exª!

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Eu não sou “cassador” de ninguém...

             O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Olhe para mim, Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - ...muito menos de V. Exª.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Olhe para mim, Presidente. Eu não vou me calar. O senhor vai ter que me cassar.

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Eu vou mandar retirar as suas palavras dos Anais da Casa, porque as suas palavras são antirregimentais, apenas isso.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Então, o senhor vai mandar tirar deste jornal mafioso...

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Não compete a mim.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Mafioso!

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco/PMDB - AL) - Não compete a mim tratar de jornal.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - O senhor vai mandar tirar do jornal mafioso! Eu não tenho por que não dizer que este jornal foi feito com o dinheiro do povo!

            Que ato eu estou cometendo de injúria? Que ato eu estou cometendo de injúria se eu disser, Pedro Taques, que esse jornal aqui é calunioso? Ou isto aqui não é uma calúnia, meu Presidente? Ou isto aqui não é uma calúnia?

            Eu não posso dizer aqui nesta tribuna que esta CPI da Sudam é para pegar os bandidos que roubaram a Sudam! Não posso dizer isso? Eu não posso dizer aqui nesta tribuna?

            Ora, se eu não posso! Ora, se eu não posso! Quebrem então, desmoralizem o Senado, calem a minha voz! Calem! Calem a minha voz, Presidente! Casse o meu mandato!

            Não, brasileiros! Posso ser cassado, mas aqui tem um homem de honra, de moral e de dignidade! Ninguém cala a minha boca enquanto eu souber onde tem a corrupção.

            Vou ler, Presidente. Vou ler o que diz a CPI. Aliás, podia até rasgar. Já vou rasgar, Presidente.

            Tem 31 Senadores que assinaram essa CPI, 31! Trinta e um Senadores querem apurar as irregularidades daqueles corruptos que saquearam os cofres da Sudam. Trinta e um!

            Olha, Presidente, a minoria não tem vez nesta Casa. Eu rasguei a CPI, Presidente. Rasguei! Pronto! Estão aqui, Presidente, 31 Senadores que queriam... Trinta e um que queriam apurar a corrupção. Mas eu já senti que não adianta. Eu já senti que o Brasil está perdido. Eu já senti que nós temos que colocar a nossa cabeça na guilhotina. Eu já senti que tem que ter um brasileiro para derramar o seu sangue, para que a Nação possa perceber que há até a proibição de falar em corrupção. Não se pode mais falar na tribuna do Senado.

            Brasil, onde estamos, Brasil?

            Muito bem, Senador. Se V. Exª quiser, eu ponho à disposição o meu mandato para V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2013 - Página 19554