Discurso durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio às políticas econômicas anunciadas pelo Governo Federal para o controle da inflação.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Repúdio às políticas econômicas anunciadas pelo Governo Federal para o controle da inflação.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira, Cícero Lucena.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2013 - Página 19564
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, ANUNCIO, GOVERNO FEDERAL, OBJETIVO, CONTROLE, INFLAÇÃO.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente Cícero Lucena.

            Srs. Senadores e Srªs Senadoras, Rádio e TV Senado, Agência Senado, quase todas as revistas repetiram o que dissemos nesta tribuna na semana passada: O Governo precisa parar de pisar no tomate! Mas, pelo visto, a Presidente Dilma Rousseff não está muito preocupada com o cenário econômico do Brasil.

            Como seu antecessor, que falava em marolinha e agora fala em tomatezinho, a Presidente parece alheia à realidade e tocada por um surrealismo impressionante. Vive como Alice no país das maravilhas!

            Fazer os ajustes nos gastos públicos e promover uma reforma tributária seria medida muito mais relevante para a atual conjuntura do que o aumento dos juros. Mas, no lugar de colocar os pés no chão, o Governo vai liberar o controle dos gastos reduzindo as metas fiscais em até 70%.

            Trata-se de uma atitude sem precedentes desde o controle adotado, em 1999, e revela-se como medida irresponsável e de cunho eleitoreiro. Se abrirem as comportas dos gastos públicos, conforme o desejo dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, será possível aos Governos Federal e Estaduais gastarem mais do que arrecadam? Isso não ocorre há 15 anos e representa uma perigosa manobra, com consequências imprevisíveis para o futuro das contas públicas.

            Conforme observa o Secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, afrouxar o controle seria uma medida a ser adotada para estimular a economia. Mas isso é um perigo! Ora, o superávit primário de 2012 foi o menor dos últimos anos e ocorreu exatamente pelo aumento dos gastos públicos.

            Senador Aloysio, com a nova medida, poderá haver um descontrole dos gastos públicos com impacto significativo no equilíbrio orçamentário e financeiro para os próximos anos. Na prática, é como se uma empresa no vermelho decidisse gastar sem qualquer preocupação; ou uma família com problemas no orçamento mensal decidisse sair gastando no cartão de crédito.

            Se isso for feito, repito, poderemos ter um círculo vicioso de resultados imprevisíveis para o Brasil. Isso porque, se o Governo gasta mais do que pode, ele precisa captar mais para equilibrar as contas. Vai sobrar para o brasileiro. Lá vêm arrocho e inflação!

            Diante do crescimento da inflação, o remédio do Governo não vai ser outro, mas o aumento dos juros para contê-la.

            E onde vai parar tudo isso? Quais são as implicações para o futuro do Brasil?

            A sonhadora Presidente jamais vai admitir publicamente, mas o PT, como bem assinala o Senador Aécio Neves, sempre foi permissivo com a inflação. Mas lembra que o PT foi contrário ao Plano Real, um instrumento com força suficiente para derrotar a inflação e proporcionar a prosperidade. O PT ignorou que o Plano Real; era uma necessidade do Brasil e dos brasileiros. Ignorou que o Plano Real era uma necessidade para os mais pobres. A inflação tem o poder de corroer de forma implacável o poder de compra das famílias de baixa renda.

            A atitude de estimular os gastos públicos faz parte de um projeto que coloca interesses partidários e eleitoreiros acima dos interesses da Nação.

            É um vale-tudo que não se justifica sob qualquer hipótese.

            Quem viveu a inflação dos anos 80 e 90 sabe o tamanho da força desse dragão e como é difícil combatê-lo.

            Se somarmos a liberalização dos gastos públicos à qualidade duvidosa de empréstimos do BNDES e da Caixa Econômica, além de uma Petrobras com problemas sérios de desvalorização, teremos um cenário perfeito para alimentar o dragão inflacionário.

            O monstro já colocou as garras de fora, basta ver os índices publicados pelo Dieese. O quadro mostra claramente que a inflação não é sazonal ou setorial. A mesa dos brasileiros ficou mais cara e aumentou 14% em 12 meses. O tomate foi o vilão, mas a farinha de mandioca teve alta de 151% em um ano.

            A pressão inflacionária vem do setor de alimentos. Só no último trimestre, a cebola, por acaso, subiu 54,9%, e a cenoura 53,3%. O Dieese apontou que os preços dos gêneros alimentícios essenciais continuam em alta e subiram em 16 das 18 capitais.

            E quais são os maiores prejudicados? Os mais pobres.

            Por isso, beira o absurdo a Presidente Dilma minimizar a alta recente nos preços dos alimentos e dizer que o Governo mantém a inflação sob controle. Ela disse: "Eu vou repetir essa frase: a inflação está sob controle". Isso não é verdade! Um despropósito sem limites! A Presidente só pode estar num país das maravilhas, e, como Alice, vive e sonha com uma realidade que não existe.

            Senador Cícero Lucena, a Presidente sonha tão alto e apresenta metas sem qualquer substância e lógica. Aliás, responsabilidade, lógica e bom senso são itens completamente ignorados pelo atual Governo.

            Baseado em que dados a nossa Presidente sonhadora pretende dobrar o PIB per capita até 2022? Para alcançar uma meta dessas, o Brasil precisará ter um crescimento médio de 8% do PIB, ao ano, nos próximos dez anos, considerando um crescimento populacional de 0,8% ao ano.

            Claro que seria um milagre desejável! Mas não precisa ser economista para saber que dizer isso é uma irresponsabilidade desmedida.

            A Presidente não está nem aí para o tomate! Falou um disparate desses a prefeitos e empresários gaúchos, na semana passada, sem mostrar qualquer projeção ou gráfico.

            Dilma joga para a platéia e ignora que a economia brasileira cresceu 0,9%, em 2012 e, no máximo, crescerá 3%, em 2013.

            Concedo a palavra, com muito prazer, ao Senador Cícero Lucena.

            O Sr. Cícero Lucena (Bloco/PSDB - PB) - Senador Cyro Miranda, V. Exª, em seu discurso, traz algo que está sendo vivido pela população brasileira que, melhor dizendo, começa a sofrer com essa realidade. V. Exª mencionou o que a imprensa noticiou, o que a dona de casa está vivendo na feira, o que o trabalhador está sentindo no bolso, uma realidade para a qual este Brasil precisa estar bastante atento. Recordo-me, Senador Aloysio Nunes, que quando tive a honra de participar do Governo Fernando Henrique Cardoso, como Ministro, nas primeiras reuniões ministeriais, já no primeiro ano, no começo do segundo ano, sentíamos que o Brasil estava no caminho certo da estabilidade econômica, que a inflação estava sendo vencida, que estava sob controle, que as medidas do Governo, suas reformas, seus posicionamentos - quando debatidos - levavam em conta a importância da inflação. Todas as ações do Governo eram importantes para a qualidade de vida do povo brasileiro. O Ministro Malan sempre dizia, Senador Aloysio - e acho que V. Exª, talvez, tenha até tido a oportunidade de ouvi-lo dizer - que: “A inflação do Brasil é um dragão adormecido. Todas as medidas são poucas para que ele não desperte.” É isso o que estamos vivendo. V. Exª, em seu discurso, está nos alertando. Gostaria de complementar, porque não posso deixar de falar do meu Nordeste. V. Exª tem o tomate como o símbolo da inflação. Há 15 dias estive na cidade de Esperança, na Paraíba, um nome bonito e o povo maravilhoso. Mas a inflação de lá é algo galopante na seca do Nordeste. E, o que é pior: o Bolsa Família não é hoje suficiente para as necessidades e demandas das famílias do Nordeste. Há uma agravante. Essa inflação que V. Exª cita é muito maior ainda no Nordeste, porque está atingindo de forma direta o poder de compra do nordestino, principalmente daquele que tem como fonte de renda o Bolsa Família. Em Esperança, o exemplo que me foi mostrado foi o de que há quatro meses a fava, que está no dia a dia, no prato, na mesa do nordestino, custava R$ 4,00 o quilo. Ou seja, uma Bolsa Família de R$70,00 comprava, vamos dizer, 17 quilos de fava. Mas na semana em que lá estive, há quinze dias, o quilo de fava estava por R$ 24,00, ou seja, o poder de compra tinha sido reduzido para três quilos. Então, quero parabenizar V. Exª por tratar de um tema que tem tudo a ver com o dia a dia e com o futuro deste País.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO) - Muito obrigado, Senador Cícero.

            Quando nós falamos em inflação média, é evidente que ela se reflete muito mais no Norte e Nordeste, pelas distâncias e pelas dificuldades, do que no Sul e Sudeste do País.

            Concedo a palavra ao meu Líder, Senador Aloysio Nunes Ferreira.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Senador Cyro Miranda, V. Exª, como sempre, faz um discurso equilibrado e, ao mesmo tempo, capaz de transmitir, a quem o ouve, toda a preocupação que sugere e exige o tema que V. Exª trata. Eu me permito, apenas de passagem, me deter num ponto que V. Exª mencionou no seu discurso, em relação aos empregos. V. Exª disse que os empregos que estão sendo gerados são empregos de baixa qualidade. Eu queria, apenas para ilustrar essa afirmação, que V. Exª não teve tempo de aprofundar, apresentar ao senhor um dado: 85% dos empregos que têm sido gerados são remunerados com até um salário mínimo e meio, 85%; praticamente 100% chegam até dois salários mínimos. A geração líquida de empregos acima de três salários mínimos está sendo negativa há muitos anos. Significa que estamos crescendo, o mercado de trabalho está absorvendo, cada vez mais, empregos menos qualificados: motoboys, vigilantes, operários pouco qualificados da construção civil. Isso se deve a um fenômeno que, no meu entender, é a preocupação maior de todos nós, inclusive de V. Exª, um fenômeno de profundidade, que é a desindustrialização do nosso País. Quem gera empregos de boa qualidade é a indústria. É a indústria que incorpora tecnologia, é a indústria que suscita serviços de maior sofisticação, que paga os melhores salários. E o Brasil está se desindustrializando. Os governos do PT estão liquidando a maior conquista do povo brasileiro do século XX, que foi a industrialização do nosso País. Hoje, a participação da indústria no PIB brasileiro é a mesma da década de 40. Apenas isso. Muito obrigado pela oportunidade.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO) - Obrigado, Senador Aloysio, por enriquecer esta parte. Com certeza, emprego sem qualidade é uma das piores coisas para a industrialização. Nós estamos realmente na contramão da história.

            Srªs e Srs. Senadores, desde o Pós-Guerra, o Brasil nunca conseguiu dobrar sua renda per capita.

            A Presidente falta com a verdade sem qualquer escrúpulo!

            Srªs e Srs. Senadores, a luta pelo poder não pode ser traduzida num vale-tudo que coloca os interesses eleitoreiros e partidários acima dos objetivos comuns da Nação.

            Quando um governo segue por esse caminho que apenas visa à reeleição, coloca em risco o desenvolvimento sustentável e duradouro do Brasil.

            É evidente que as articulações políticas visando à sucessão presidencial já começaram, e não é diferente com o PSDB, porém não vamos sintonizar nessa frequência irresponsável e sonhadora.

            Nós queremos debater projetos reais e verdadeiros para o Brasil.

            Nós queremos um governo de metas e resultados mensuráveis.

            Somos otimistas! Mas o otimismo responsável se constrói com os olhos no presente e a razão voltada para o futuro do Brasil.

            Não compartilhamos com essa atitude da Presidente, que mais se parece com os sonhos de Alice no País das Maravilhas.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2013 - Página 19564