Discurso durante a 54ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos quarenta anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos quarenta anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2013 - Página 20486
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), COMENTARIO, IMPORTANCIA, PESQUISA CIENTIFICA, AGROPECUARIA, DESENVOLVIMENTO, PRODUÇÃO AGROPECUARIA, EXPORTAÇÃO, INDEPENDENCIA, PAIS, IMPORTAÇÃO, ALIMENTOS, REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, EMPRESA, ANALISE, INOVAÇÃO, DEMANDA, ENFASE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Senador Jorge Viana, caro Presidente desta sessão especial em homenagem aos 40 anos de uma empresa que é o orgulho de todos os brasileiros, a nossa - e digo “nossa” porque é nossa - Embrapa; caro Presidente da Embrapa, Maurício Lopes, em nome de quem quero saudar todos os cientistas, pesquisadores, pesquisadoras, do mais alto nível, doutores e pós-graduados, ao mais singelo servidor dessa empresa pública, que é uma referência, no Brasil e também no exterior, na sua especialidade; quero cumprimentar o Presidente da Embrapa Eliseu Alves, tão comprometido que foi, ao longo do tempo, com as causas da pesquisa no setor agropecuário brasileiro, especialmente quando comandou a empresa, de 79 a 85; estimado Ministro Alysson Paulinelli, também comprometido com as questões do avanço tecnológico, da inovação na área da produção agropecuária, como ministro e como produtor, bem como nas discussões, aqui, sobre o nosso Código Florestal; caro amigo Embaixador Eduardo Santos, Secretário-Geral do Ministério das Relações Exteriores, a quem agradeço muito a presença nesta solenidade; caro Secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Augusto Klink, falo, Presidente, também em nome do Presidente da Comissão de Agricultura e Pecuária do Senado Federal, meu colega Senador Benedito de Lira, bem como em nome do Líder do nosso Partido, Senador Francisco Dornelles.

            Eu quero fazer uma saudação especial aos colegas que estão aqui: ao nosso ex-Ministro da Agricultura, meu colega de bancada do Rio Grande do Sul, Pedro Simon, um grande defensor da Embrapa, tanto quanto os demais Senadores; ao Senador Waldemir Moka, que também teve um empenho pessoal no debate, nesta Casa, do Código Florestal, a exemplo do que fez o Relator na Comissão de Meio Ambiente, Senador Jorge Viana; ao Senador Rodrigo Rollemberg, combativo defensor não só da causa da boa agricultura, da agricultura sustentável, mas da causa da empresa que nós estamos homenageando hoje, a Embrapa; ao Senador Ruben Figueiró, do Mato Grosso do Sul, não só um conhecedor da área, mas também um produtor rural que sofre na carne as agruras hoje da atividade rural.

            Eu estou muito à vontade; talvez eu nunca estivesse tão à vontade numa cerimônia como estou nesta. Primeiro, porque eu, ao longo do tempo, como jornalista, dei uma cobertura muito atenta para o setor da agropecuária brasileira, em especial porque sou de um Estado, Senador Jorge Viana, o Rio Grande do Sul, que tem, na produção agropecuária, a sua sustentação e o seu motor econômico de desenvolvimento social e, também, de um grande comprometimento com essa agricultura sustentável. É lá que está, junto com o Paraná, o plantio direto na palha, o manejo da nossa riqueza de águas, com o plantio irrigado de arroz; é lá que está, também, uma agricultura de alta precisão, no Município de Não-Me-Toque, com a Expodireto Cotrijal; e é lá, no Rio Grande, que muitas iniciativas preservacionistas se desenvolveram.

            Portanto, é um Estado cujos valores e necessidades eu, como jornalista, reconhecia. E eu posso dizer com muita tranqüilidade que este exemplar, distribuído aqui, praticamente resume, com muita clareza - e faço questão de lê-lo -, a história bonita, escrita por todos os senhores e senhoras, ao construírem a nossa Embrapa. Sugiro que todos levem para casa essa bonita história.

            A pesquisa agropecuária teve papel fundamental na revolução da agricultura tropical no Brasil nas últimas décadas. Em 40 anos, o Brasil deixou de ser dependente da importação de alimentos para se tornar um dos maiores produtores e exportadores do mundo. Os resultados de alto impacto são percebidos na tropicalização da agricultura, no desbravamento do Cerrado, na obtenção de cultivares adaptados ao solo e ao clima brasileiros e nos sistemas de produção, por exemplo. Tecnologias geradas com parceiros nacionais e internacionais promoveram ganhos de produtividade e viabilizaram o crescimento da sustentabilidade. É uma palavra tão forte e que é tão respeitada por todos os senhores na orientação que passam do conhecimento à prática na hora de utilizar o campo.

            Eu posso dizer também, pelos mais de 40 anos como jornalista na área e cobrindo o setor, que a história da agropecuária brasileira se divide em antes e depois da Embrapa. E é por isso que hoje eu estou muito à vontade para falar e por ter tomado a iniciativa, com o apoio de muitos colegas Senadores, de solicitar, por meio de requerimento ao Senado, esta homenagem.

            Queria cumprimentar o Presidente da nossa Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, o agrônomo Maurício Lopes, todas as autoridades aqui presentes, convidados e, principalmente, cada um dos cientistas, pesquisadores e pesquisadoras dessa renomada instituição que, por quatro décadas, se dedica à inovação no agronegócio, um dos setores mais estratégicos e competitivos da economia nacional.

            Não fossem o empenho e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, mediados, especialmente, pela Embrapa, grande responsável pelos elevadíssimos índices de produtividade no campo brasileiro, a nossa balança comercial estaria registrando perdas maiores que as observadas neste ano. No primeiro trimestre de 2013, o saldo negativo acumulado da balança comercial brasileira já passa de US$5,150 bilhões.

            Antes de me tornar Senadora, como disse, fui jornalista por mais de 40 anos, e, nesse período, a Embrapa, que nasceu lá no começo da minha profissão, sempre foi destaque em incontáveis notícias e comentários que fiz ao longo de minha carreira. A inovação, a novidade e o foco no desenvolvimento do campo sempre foram os motivos que tornaram a empresa tão respeitada e admirada não só por nós brasileiros, mas também no exterior.

            Posso dizer, sem medo de errar, que, após a Embrapa, o campo brasileiro ficou melhor e mais desenvolvido. Basta verificarmos as estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

            Há 37 anos, o Brasil ocupava uma área de 37 milhões de hectares para a produção de alimentos. Hoje, aproximadamente 52 milhões de hectares são usados para a produção agrícola. No mesmo período, a produção de alimentos, que era de pouco mais de 46 milhões de toneladas, Ministro Alysson Paulinelli, passou de mais de 180 milhões de toneladas e, nessa safra, deve alcançar um novo recorde: 183 milhões de toneladas. Isso significa que, nas últimas quatro décadas, enquanto a área plantada cresceu 40%, Senador Rodrigo Rollemberg - e usamos tanto esse percentual -, a produção de alimentos foi alavancada em 400%, um elevado e surpreendente salto de qualidade, de produtividade, que se explica, principalmente, pela aplicação de boas pesquisas e novas tecnologias no campo brasileiro.

            São os melhoramentos e o empenho dos pesquisadores e agricultores que possibilitaram esse desenvolvimento invejável no meio rural brasileiro.

            As apostas da Embrapa e dos pesquisadores que compõem essa respeitada instituição refletem, portanto, os resultados surpreendentes que têm sido obtidos em diferentes campos da ciência: agroenergia; tecnologia de alimentos, com variedades de sementes adaptadas a diferentes solos e climas; biotecnologia e nanotecnologia; geoprocessamento e sensoriamento remoto; genética animal e transferência de tecnologia; além da agricultura orgânica.

            Só no dia de hoje, a Embrapa, Presidente Maurício Lopes, é notícia em três grandes jornais brasileiros: Valor Econômico, Zero Hora, de Porto Alegre, e Jornal do Commercio, de Pernambuco. Em todas as publicações, a inovação e a importância dos investimentos em pesquisa são sublinhadas.

            Inclusive, hoje, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação deve divulgar um estudo inédito do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), com uma boa notícia: em 13 anos, entre 1996 e 2009, o número de mestres no Brasil subiu de 10.389 para 38.800. Isso significa um crescimento de 273,5%, uma média anual de 10,7%, que pode crescer ainda mais.

            E não podemos pensar em melhoria genética, em melhoria da qualidade da produção sustentável de alimentos sem a participação dos nossos doutores, dos nossos pesquisadores, dos nossos cientistas.

            Esses dados mostram a importância da ciência, do desenvolvimento acadêmico, da pesquisa e do estímulo à geração de novos mestres e doutores, matéria-prima essencial para o desenvolvimento da ciência e da pesquisa pública e também privada.

            Nesse particular, eu queria registrar, com muita alegria e orgulho, Senador Moka: a Embrapa, como empresa pública, tem a consciência da sua responsabilidade sociail, ao contrário de algumas outras instituições acadêmicas do setor público que não conseguem repassar o seu conhecimento, que ficam enclausuradas na sua ciência, não compartilhando o conhecimento que agregam com a sociedade, que é quem paga a conta para termos esses especialistas, esses cientistas e esses pesquisadores.

            O Ministério da Ciência e Tecnologia vem fazendo um enorme trabalho nessa direção, de abertura, de compartilhamento desse conhecimento. E quanto mais os pesquisadores repassarem o que descobrem e desvendam ao agricultor, do pequeno ao grande produtor, estarão cumprindo sua função social e projetando o Brasil como um grande protagonista nessa produção com sustentabilidade.

            Esse repertório levou a empresa a ampliar a cooperação internacional - está aí outro avanço e inteligência da Embrapa - com respeitados centros de pesquisa do mundo. São 78 acordos bilaterais com 56 países e 89 instituições, envolvendo principaimente a pesquisa em parceria e a transferência da tecnologia.

            A empresa também tem reforçado as parcerias com laboratórios estrangeiros, os chamados Laboratórios no Exterior (Labex's), para o desenvolvimento de pesquisas em tecnologias de ponta nos Estados Unidos, na Europa, especialmente França e Reino Unido, e também na Ásia, com China e Coreia do Sul. No mundo globalizado, hoje, enclausurar-se, ficar isolado já não comporta. O Século XXI não aceita esse isolamento. Por isso, parabéns à direção da Embrapa, que soube entender este novo tempo que estamos vivendo, de compartilhamento e de parcerias, preservando sempre o interesse nacional e a defesa daquelas descobertas que nós, brasileiros, fizemos.

            Aqui no Brasil, são 47 unidades da Embrapa, sendo quatro delas no meu Estado, o Rio Grande do Sul: a Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, região sul do Estado; a Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, na fronteira oeste; a Embrapa Trigo, em Passo Fundo - está aqui o Dr. Dotto, em nome de quem queria homenagear os demais chefes das outras unidades, porque houve um problema com o tempo em Porto Alegre, o aerporto ficou fechado, duas horas de atraso, e eles não chegarão a tempo de acompanhar esta homenagem -; e a Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves.

            Quero aproveitar essa deixa, meu Presidente, para pedir um empenho especial da direção no caso da Embrapa Trigo, em Passo Fundo. O Brasil tem uma condição privilegiada, mesmo sendo um país que tem protagonismo na produção agropecuária: ser hoje o maior importador de trigo do mundo. Precisamos vencer esse desafio e levar à Embrapa Trigo, em Passo Fundo, as condições para que possamos ter avaliação de qualidade da semente ali gerada, porque, às vezes, gera-se uma semente e garante-se ao produtor que aquela semente de trigo é para o trigo pão, e, quando ele colhe, não é para o trigo pão, que é o de maior qualidade e de maior valor agregado.

            Então, queria fazer este apelo desta tribuna, no aniversário. Em vez de eu dar o presente para a Embrapa, fazendo a referência e a homenagem, quero que a Embrapa o dê aos produtores e aos cientistas lá em Passo Fundo e também nas demais unidades de meu Estado e do Brasil.

            São quatro setores estratégicos da economia gaúcha e do nosso País que apresentaram saltos de desempenho desde a intervenção do capital intelectual da Embrapa.

            No caso do vinho especificamente, o Brasil está conquistando, apesar da concorrência no Mercosul, Senador Pedro Simon, prêmios internacionais na área de espumantes e de vinhos brancos, que são um orgulho para nós, gaúchos. Apesar de termos uma concorrência desleal com o contrabando de vinhos dos países do Mercosul, ainda sim os nossos produtores da região da serra, da região da campanha, do sul do Estado estão demonstrando uma grande capacidade, graças também à participação decisiva da Embrapa na recuperação de variedades de uvas que estavam já esquecidas. Nossos pesquisadores estão recuperando tudo isso.

            Portanto, reforço meus cumprimentos a todos que, de algum modo, têm feito parte da história da Embrapa, superando todas as limitações impostas ao desenvolvimento da pesquisa e da ciência no Brasil. Países como a China têm feito investimentos maciços em biotecnologia, bioenergia e nanotecnologia, porque perceberam que a inovação nessas áreas é estratégica para o desenvolvimento sustentável de uma nação neste Século XXI, que está começando.

            Ampliar os investimentos públicos e privados na Embrapa é essencial para a continuidade dessa missão tão nobre e tão relevante. Em muitos casos, essa missão tem sido feita com dinheiro dos próprios pesquisadores, que preferem colocar a mão no bolso para ver suas teses e pesquisas concluídas a ficar aguardando, às vezes, a liberação do orçamento que fica contingenciado.

            Então, eu queria cumprimentar esses abnegados pesquisadores que tomam essas iniciativas, porque estão cumprindo uma função social extremamente relevante.

            Muitos desses pesquisadores estão se aposentando. Isso exige uma renovação do quadro com talentos tão qualificados quanto os necessários à continuidade da instituição. O orçamento total de R$2 bilhões por ano é insuficiente para essa necessidade real. E aqueles que já contribuiram com o seu trabalho: o seu fundo de aposentadoria complementar também merece registro pela importância social que isso representa.

            A parceria com a iniciativa privada e o controle das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa são essenciais para que nos próximos anos a história de inovação, pesquisa e desenvolvimento se mantenha no Brasil. Que por muitas e muitas décadas, por mais 40, 60, 100 anos, essa empresa continue nos orgulhando.

            Queria também, ao terminar, chamar atenção para as modernas práticas de uso do solo, plantio direto na palha, já consagradas no País, especialmente na Região Sul, a começar pelo meu Estado e pelo Paraná, como disse no início deste pronunciamento.

            E, agora, há uma urgente necessidade, um desafio, Presidente Maurício Lopes, que é investir em tecnologia para a irrigação. Nós temos algumas áreas, como no Rio Grande do Sul, onde o plantio do arroz é um plantio irrigado, aproveitando as várzeas. E temos agora um desafio: ajustar o novo Código Florestal às exigências da produção e do uso da irrigação.

            Nós temos visto diariamente as notícias dramáticas da Região Nordeste do nosso País sofrendo com uma seca inclemente. Nós podemos, sim, vencer esse desafio para aproveitar a irrigação como política de desenvolvimento da agropecuária brasileira, Ministro Alysson Paulinelli.

            Queria dizer que a Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem, cujo Presidente Helvecio Saturnino está aqui prestigiando esta sessão, também tem dado uma contribuição para colocar essa questão da irrigação dentro das prioridades para a produção agrícola brasileira.

            Outro desafio dos cientistas e pesquisadores da Embrapa é aplicar as regras do recém-aprovado Código Florestal Brasileiro às necessidades do nosso País, para continuar produzindo uma agricultura de qualidade, com sustentabilidade.

            Agricultura orgânica, biotecnologia e energia renovável, todos esses desafios vão continuar na pauta para os próximos anos dessa empresa que é orgulho de todos os brasileiros. Parabéns a todos vocês que ajudaram a escrever essa bonita história da empresa chamada Embrapa.

            Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2013 - Página 20486