Discurso durante a 55ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à memória do Sr. Antônio Corrêa Neto, falecido ontem.

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Sr. Antônio Corrêa Neto, falecido ontem.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2013 - Página 20561
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, ESTADO DO AMAPA (AP), ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, IMPRENSA, REGIÃO NORTE, ENFASE, RESISTENCIA, REGIME MILITAR, PAIS.

            O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Jorge Viana; Srs. Senadores, Srªs Senadoras, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, em especial os que nos acompanham e assistem lá no Estado do Amapá, ontem, domingo, 21, enquanto Brasília comemorava os 53 anos de vida, o Amapá chorava a perda do combativo jornalista Antônio Corrêa Neto.

            Tão combativo quanto Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que foi enforcado e esquartejado no Largo da Lampadosa, na cidade do Rio de Janeiro, nesse mesmo dia 21 de abril, pelo envolvimento com a Inconfidência Mineira - um dos primeiros movimentos organizados pelos habitantes do território brasileiro, no sentido de conseguir a independência do País em relação a Portugal.

            Corrêa Neto tinha muita semelhança com o inconfidente Tiradentes, pois venerava a justiça e a liberdade.

            Sempre que conversava com Corrêa, vinham-me à mente os versos de Zé Keti:

            “Podem me prender / Podem me bater / Podem até deixar-me sem comer / Que eu não mudo de opinião”.

            Eu sou testemunha de uma das prisões de Corrêa. Ele foi retirado da cabine de uma emissora de rádio, preso por causa das opiniões, por causa da sua manifestação em relação ao poder naquele momento.

            Esses versos da composição "Opinião", de Zé Keti, que marcaram um período da vida política deste País, o período do golpe civil-militar de 1964, também, a meu ver, marcaram a passagem de Corrêa Neto pela Terra.

            Foi dessa forma a atuação de Corrêa Neto na imprensa do Pará e, nos últimos 30 ou 40 anos, do Amapá.

            Corrêa passou por emissoras de rádio, de televisão e jornais, sempre fazendo um jornalismo instigante, mas sem descuidar uma apuração exigente da notícia.

            Nos últimos anos, apesar da idade e das dificuldades físicas, vislumbrou na Internet uma ferramenta de democratização da informação e foi um dos primeiros jornalistas do Amapá a manter um sítio atualizado.

            Lembro, ainda, os tempos em que Corrêa dirigiu o jornalismo da TV Amapá, afiliada da Rede Globo, e, no jornal matutino “Bom Dia, Amapá” fazia entrevistas instigantes, às vezes tirando leite de pedra. Lembro que, na volta do exílio, no início de 1980, eu fui entrevistado pelo jornalista Corrêa Neto, no “Bom Dia, Amapá”, que era levado ao ar pela repetidora da TV Globo no Amapá.

            Apesar de nossa amizade, mesmo tendo uma história em comum, Corrêa não tergiversava. Para Corrêa, o pau que dava em Chico dava em Francisco também. Por isso, nunca colocou a nossa amizade acima do jornalismo. O jornalismo vinha sempre em primeiro lugar para Corrêa Neto.

            Sua morte é uma grande perda para o jornalismo do Amapá, do qual Corrêa foi um dos grandes mestres, haja vista que ele formou uma legião de jornalistas provisionados, enquanto o Amapá não era contemplado com um curso universitário de jornalismo.

            Domingo, 21 de abril, foi um dia de profunda tristeza para o Amapá. Um enorme sentimento de perda nos envolve ao ver o indomável jornalista Antonio Corrêa Neto empreender a grande viagem.

            Adeus, meu amigo Corrêa. Sua partida esvazia a grande trincheira do jornalismo combativo da Amazónia.

            Encerro as minhas palavras, dizendo, com esse depoimento sobre o jornalista Corrêa Neto, que ele vai continuar presente entre nós. É a referência de uma luta de mais de 30 anos em defesa da cidadania, da correta aplicação do recurso público. Ele denunciou seguidamente desvios de recursos, nunca se conformando com a possibilidade de o cidadão ser lesado, principalmente por aqueles que são escolhidos por ele.

            Corrêa teve esse papel importante na imprensa do Amapá e da Amazônia.

            Era isso, Sr. Presidente.

            Ficam aqui as nossas homenagens, e peço registro, nos Anais da Casa, desse dia tão triste para todos nós no Amapá.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2013 - Página 20561