Discurso durante a 51ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque à ascensão da mulher na sociedade; e outro assunto.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
FEMINISMO. CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Destaque à ascensão da mulher na sociedade; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 17/04/2013 - Página 18963
Assunto
Outros > FEMINISMO. CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, FATO, MULHER, ESCRITOR, PROFESSOR, PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA (PUC), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELEIÇÃO, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL).
  • REGISTRO, FATO, EXPLOSÃO, BOMBA, LOCAL, EVENTO, PRATICA ESPORTIVA, LOCALIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), APRESENTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, VITIMA, ATENTADO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Casildo Maldaner, vejo ali, em torno de Odilon Wagner, alguns grandes atores e atrizes da televisão e do teatro brasileiro. Vou pedir até para trazerem os nomes de todos os que estão aqui. Quero saudar todos. Dentre outros: a querida Beatriz Segall - seja bem-vinda, Beatriz Segall! -, Eduardo Barata, Odilon Wagner e outros que chegaram.

            Peço que sejam encaminhados à mesa os nomes dos atores e das atrizes que estão nos visitando, Vice-Presidente Jorge Viana.

            O SR. PRESIDENTE (Casildo Maldaner. Bloco/PMDB - SC) - A Mesa se solidariza com o anúncio de V. Exª em relação aos atores, aos artistas, que estão na tribuna de honra do plenário neste instante.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Também está presente o Vereador Jeferson Campos, de Taubaté.

            Sr. Presidente, houve dois acontecimentos importantes nesses últimos dias. O primeiro foi quinta-feira, dia 11, a eleição de uma mulher, feminista de primeira hora e de grande cultura para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira que já foi de Rui Barbosa e que, ultimamente, era ocupado por Lêdo Ivo. O segundo evento, muito triste, foi uma verdadeira tragédia. Um bombardeio assustador, por duas bombas, na Maratona de Boston, deixando inúmeras pessoas feridas e três mortos. Esse ataque espantou o povo americano por ter que reviver, de uma forma ou de outra, o acontecido em 11 de setembro de 2001.

            Por incrível que pareça, os dois acontecimentos, opostos, nos fornecem dados sobre as relações humanas: as relações de alegria e progresso da condição da mulher; e o outro, que deve ter sido um sinal de intensificação da violência nos Estados Unidos.

            Devemos incluir, ainda, um incêndio na biblioteca dedicada a manter o acervo da memória do saudoso Presidente John Kennedy. Lá houve um pequeno incêndio, mas o arquivo ficou intacto.

            Mas, vamos nos deter, de maneira breve, aos dois acontecimentos. O primeiro é o reconhecimento de uma mulher, feminista de primeira hora, doutora em ciências humanas, autora de alguns livros que permitiram o avanço do pensamento brasileiro sobre a condição feminina. Entre os quais: Elogio da Diferença, Reengenharia do Tempo - que reflete, justamente, sobre como a mulher, em tempos modernos, passou a ter outra forma de distribuir o seu tempo entre os deveres de casa, tomar conta dos filhos, bem como o trabalho fora, se dedicando mais e mais a tantas atividades produtivas -, A Dama e o Unicórnio, Outono de Ouro e Sangue, A Natureza do Escorpião e Chão de Terra, que também veem, do ponto de vista da mulher, a realidade total brasileira.

            Por isso, o Brasil está de parabéns. Atualmente, Rosiska Darcy de Oliveira é professora do doutorado do Departamento de Letras da PUC do Rio de Janeiro e continua, por onde atua, numa escala superior e muito merecida, seu trabalho de colocar o ponto de vista da mulher sobre a realidade atual.

            Nos Estados Unidos e na Europa, isso está se fazendo com muito afinco, pois não são apenas os problemas femininos vistos isoladamente do resto da realidade, mas, sim, ao contrário, é a visão da realidade humana do ponto de vista feminino. É como se fosse uma popularização dos estudos sobre o machismo, quer dizer, das diferenças entre o homem e a mulher, que são a origem da dominação desta pelo homem, mas, sim, o progresso que o pensamento feminino traz sobre a realidade total, juntando o feminino e o masculino.

            O século XXI será o século da revisão total das teorias isoladas em uma maneira de pensar e de viver que inclua a diferença e as desigualdades entre ambos os sexos, o que é fundamental para a mudança da realidade mundial. As mulheres começam a subir os graus de poder necessários para isto, modificando profundamente a história da humanidade,

            O segundo assunto é uma regressão aos valores masculinos de violência e morte, o que nos faz pensar como o povo americano deve estar deprimido por viver outra vez, sempre e sempre, uma violência que parece não ter fim. Este é o legado que nos deu a relação opressor/oprimido vivida nos últimos 10 mil anos em que o opressor ganha pela força e o oprimido perde por ser mais fraco em tecnologia. É um aparelho de guerra muito sofisticado que os opressores usam por se dedicarem inteiramente a conquistar mais dinheiro e mais poder.

            É um mundo ganha/perde, onde, para uns ganharem, os outros têm que perder. Mas a grande novidade que o século XXI está trazendo é que esse paradigma já não reflete mais o inconsciente coletivo que deseja democracia, igualdade, distribuição igualitária do dinheiro e não o uso deste por uns poucos para destruir uma grande maioria,

            Para isto é muito importante a atividade feminina, que, tanto na Primavera Árabe como nas revoltas da Europa e dos EUA, tem tido um papel fundamental. Várias mulheres já ganharam o Prêmio Nobel, como as liberianas Ellen Sirleaf, Leymah Gbowee e a iemenita Tawakul Karman, laureadas com o Prêmio Nobel da paz em 2011. A presença dessas mulheres e de outras está introduzindo um novo paradigma (ganha/ganha), em que ganham só aqueles que fazem os outros ganharem também. É a tecnologia eletrônica que funciona à velocidade da luz e que requer que todos conheçam tudo em tempo real; daí essas revoluções chamadas de “primaveras” e também o fracasso das recessões na Europa e nos EUA.

            O terceiro paradigma pode ser comparado a um fósforo que só se mantém vivo se transfere para outro a sua luz e o seu fogo. Neste terceiro paradigma, o dinheiro não é mais a base e, sim o conhecimento e a informação. Estamos absolutamente certos de que foi a ascensão da mulher que trouxe esse desejo, pois, se educarmos uma mulher, estamos educando uma geração inteira. Se educarmos um homem, estaremos educando apenas um homem, porque é a mulher que transmite, desde o seu útero, os valores que tornam possível a vida vivível, conforme ressalta a líder feminista brasileira Rose Marie Muraro.

            No século XXI, é assim, graças não à luta entre o homem e a mulher, mas à sua unificação que o paradigma ganha/ganha pode realmente ganhar. Se isto não acontecer a tempo hábil, virá o violentíssimo paradigma perde/perde, do qual ninguém sobreviverá. E isto, infelizmente, por vezes, tem acontecido, como no triste episódio de Boston.

            É preciso que aqueles que amam a vida se associem numa sociedade solidária e que tenham como finalidade a vida e não a posse do dinheiro. É isto que todos nós estamos querendo. E a colocação desses dois fatos opostos, que são mais uma mulher na Academia Brasileira de Letras e mais um acontecimento de grande violência nos Estados Unidos, que nos está mostrando: queremos um mundo ganha/ganha; homens e mulheres integrados, para que isso seja possível, e, só assim, conseguiremos vencer o paradigma perde/perde, que, sem dúvida, virá se não mudarmos rapidamente todos os valores da humanidade.

            Isto tudo nos mostra...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... que o que está guiando o pensamento humano é a aceleração, seja ela histórica, cultural, econômica etc. É preciso retardar essa aceleração que nós estamos vivendo.

            Assim, Sr. Presidente, Senador Casildo Maldaner, quero expressar minha solidariedade às vítimas dos atentados ocorridos em Boston, aos norte-americanos e a todos aqueles que estão preocupados, inclusive...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... o Presidente Barack Obama, o qual ressaltou que a justiça se fará sentida para os responsáveis por esse ato inexplicável, essa tragédia humana. Nestes tempos em que vemos alguns líderes, como o Presidente...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...da Coreia do Norte, que vem realizando ameaças de lançar mão de artefatos nucleares, é muito importante que nós levantemos as nossas vozes para que possa a humanidade, em todo o Planeta Terra, sentar-se à mesa, realizando negociações, com vistas a resolvermos os problemas de cada nação e dentro de cada nação, por meios democráticos.

            Nesse sentido, quero saudar o povo da Venezuela, que realizou eleições de uma maneira pacífica neste último domingo. Espero que o povo venezuelano avance muito em decorrência das eleições realizadas, e vamos respeitar...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/04/2013 - Página 18963