Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a violência no Estado do Mato Grosso do Sul.

Autor
Ruben Figueiró (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Ruben Figueiró de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Preocupação com a violência no Estado do Mato Grosso do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2013 - Página 25784
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, FATO, LANÇAMENTO, PROGRAMA, LOCAL, CAMPO GRANDE (MS), CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), OBJETIVO, REIVINDICAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, COMBATE, VIOLENCIA, COMENTARIO, HIPOTESE, CRIME, ROUBO, AUTOMOVEL, ESTUDANTE, MOTIVO, TROCA, DROGA, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras Senadoras, Srs. Senadores, honro-me muito em tê-lo como Presidente neste instante em que pretendo fazer um pronunciamento que reputo de expressão nacional. Porque, Sr. Presidente, na véspera do Dia das Mães, no último sábado, foi lançado em Campo Grande, capital do meu Estado, o Movimento Mães da Fronteira, sob a liderança das Srªs Lilian Silvestrini e Ângela Batista Fernandes, mães dos estudantes Breno Luigi Silvestrini de Araújo e Leonardo Batista Fernandes, assassinados barbaramente num dos crimes que chocou profundamente a sociedade de Mato Grosso do Sul no ano passado.

            Também foi inaugurada na capital a Praça Bosque da Paz - Breno e Leonardo. Na ocasião, centenas de pessoas plantaram as primeiras sementes para reivindicar a implantação de uma verdadeira política de segurança, e não apenas mais uma peça de retórica de campanhas eleitorais como estamos cansados de ver.

            Quero destacar aqui, Srª Presidente Senadora Ana Amélia, a dor e a comoção profunda que esse crime provocou em todas as famílias sul-mato-grossenses. O que aconteceu causou perplexidade e assombro imenso. Não há como ficar indiferente ao fato.

            No ano passado, Breno e Leonardo foram sequestrados em frente a um bar próximo à faculdade que frequentavam, levados para uma das saídas de Campo Grande, e ali foram amarrados, torturados e mortos da maneira mais estúpida e banal, num ato de selvageria inexplicável, que choca pelos detalhes e provoca até hoje indignação e revolta em nossa comunidade.

            O crime foi investigado, Srs. Senadores e Senadoras, rapidamente e os assassinos estão presos. Os três sequestradores confessaram que fizeram o que fizeram apenas para roubar o veículo em que estavam os rapazes para posteriormente poderem trocá-lo por três quilos de cocaína na Bolívia. Quero repetir: para trocarem por três quilos de cocaína na República da Bolívia.

            É preciso ressaltar, Srªs e Srs. Senadores, que roubos de veículos ocorrem diariamente em todo o País. Em Mato Grosso do Sul, esses crimes acontecem em operações cruzadas no grande esquema do tráfico de drogas entre o Paraguai e a Bolívia, visto que a região é pouco vigiada e oferece um imenso atrativo para organizações criminosas internacionais.

            A facilidade com que um veículo roubado atravessa a fronteira do meu Estado com as repúblicas vizinhas, do Paraguai e da Bolívia, serve de força de atração e estímulo para que jovens viciados e pequenos traficantes se arrisquem nesta empreitada. Foi num ato desses que os jovens Breno e Leonardo foram vítimas de sequestro e posteriormente assassinados da maneira mais vil e covarde possível.

            Esse crime, senhores, tornou-se emblemático porque ali se mostrou que toda a vida de nossa juventude tinha perdido o valor. Ali ficou claro que o tráfico de drogas havia ultrapassado os limites da humanidade. Ali ficou demonstrado que a barbárie tinha que ser refreada se quiséssemos manter níveis mínimos de civilidade e sociedade organizada.

            Na ocasião, o cordão de solidariedade criado foi imenso e hoje percebemos que a reação de todos começa a se frutificar. As forças organizadas da sociedade começam a agir. Percebem que a resignação e a impotência não são o caminho para a superação da dor e da revolta. E dessa maneira organizam-se os movimentos e buscam-se soluções para estancar essa ferida que parece não querer se fechar em nossos lares, nas nossas cidades e no nosso País.

            Desejo aqui fazer uma homenagem à coragem dessas duas mães que organizaram a reunião e perceberam qual o caminho a seguir para manter viva a memória de seus filhos e, mais do que isso, transformar a questão da segurança em nossas fronteiras numa bandeira política que visa a dar solução a um problema extremamente sério.

            Fiquei emocionado também, Srªs e Srs. Senadores, ao acompanhar o sentimento de união contra a violência e a criminalidade em meu Estado, principalmente quando fui informado de que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, por iniciativa do Deputado Federal Fabio Trad, do PMDB do meu Estado, a realização de uma audiência pública para debater este tema.

            Srª Presidente, lerei agora alguns trechos do artigo do avô de um dos jovens assassinados neste triste episódio, Juarez Marques Batista, ex-Deputado Federal e ex-Secretário de Justiça de Mato Grosso do Sul.

            O texto publicado na imprensa local, sob o título, aspas, "Minha dor indignada", teve grande repercussão. Digo ipsis litteris:

Durante vários dias perdemos o eixo, ficamos incrédulos e psicologicamente abalados. Muitos de nós indagamos em silêncio, remoendo nossa perplexidade, perguntando-nos qual o limite da bestialidade humana.

Na origem de muitos assassinatos - entre os quais o de Leonardo e de Breno - subsiste esta lógica perversa, que no fundo parece fazer parte de uma política de conluio entre governos que se afinam ideologicamente e que, por isso, transigem e permitem a criminalidade desenfreada. O Brasil precisa agir ante os tribunais internacionais, visando estancar essa sangria de bens e de sangue de brasileiros, vítimas dessa condenável ação criminosa.

            E continua o Sr. Juarez Batista:

O Brasil precisa estar mais presente nas fronteiras, para a defesa não só do nosso território, mas para o combate ao tráfico de drogas, o contrabando e o descaminho.

Nossa dor tem que gerar consequências práticas. Nossa revolta deve ser mitigada com a instituição de medidas concretas surgidas do clamor popular contra a violência. O conceito de cidadania plena deve ser aplicado para impedir o crescimento do tráfico de drogas e da consequente criminalidade que vem ocorrendo na região de fronteira [do Brasil com o Paraguai e a Bolívia]. Nossa vulnerabilidade é explícita. Nosso medo é crescente.

            Diz o Sr. Juarez Marques Batista.

            Sr. Presidente, as manifestações que acabo de fazer lembrando o pensamento de um avô sofrido com a morte de seu neto representam o clamor de muitos brasileiros que querem ver ações concretas, e assim, se libertar do sentimento de que somos todos reféns da barbárie e da impunidade.

            Espero, Srª Presidente, que esse clamor que levanto neste instante em nome da população do meu Estado de Mato Grosso do Sul, através de uma iniciativa das mães que foram vítimas da violência e perderam seus filhos, tenham realmente uma repercussão perante as autoridades para que a segurança pública do nosso País, o combate às drogas e outro tipo de criminalidade não sejam um exemplo para o Brasil do futuro.

            Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2013 - Página 25784