Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo a favor da reforma política e eleitoral no Brasil; e outros assuntos.

Autor
Ana Rita (PT - Partido dos Trabalhadores/ES)
Nome completo: Ana Rita Esgario
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA POLITICA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Apelo a favor da reforma política e eleitoral no Brasil; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2013 - Página 25895
Assunto
Outros > REFORMA POLITICA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, REALIZAÇÃO, REFORMA POLITICA, ENFASE, RELAÇÃO, ELEIÇÃO.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, PARTICIPAÇÃO, REUNIÃO, OBJETIVO, DEBATE, ASSUNTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, VIOLENCIA, VITIMA, MULHER, ALTERAÇÃO, CODIGO PENAL, LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTARIAS (LDO), REFERENCIA, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, QUILOMBOS, MOTIVO, OCUPAÇÃO, TERRAS, MARINHA, RELAÇÃO, PLANO NACIONAL, EDUCAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, POLITICAS PUBLICAS, BENEFICIO, HOMOSSEXUAL.

            A SRª ANA RITA (Bloco/PT - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores; telespectadores que nos acompanham pela TV Senado; ouvintes da Rádio Senado, eu venho hoje a esta tribuna para falar de um tema da mais alta relevância para a sociedade brasileira. Eu estou me referindo à tão necessária reforma do sistema político-eleitoral brasileiro. É urgente e indispensável empreendermos no Brasil um amplo movimento que coloque este tema no centro da agenda política do País, abordando aspectos da democracia representativa, da democracia direta, do aumento e aprimoramento do controle social junto ao Estado brasileiro em todos os seus Poderes, do fortalecimento de nossas instituições particularmente dos partidos políticos.

            O Brasil, Sr. Presidente, especialmente na última década, conquistou avanços significativos em várias áreas. Ampliou e melhor distribuiu a geração de renda, elevando o poder econômico das camadas mais pobres; ampliou e qualificou direitos sociais e fortaleceu significativamente a sua economia.

            Esse novo contexto socioeconômico foi fundamental para elevar o respeito do Brasil e o reconhecimento enquanto uma das nações de maior liderança em escala internacional, conquistando espaços privilegiados à sua intervenção no cenário político global.

            Frente a esse novo momento, é urgente avançarmos também em outras dimensões e entendermos serem necessárias para a consolidação de uma nação soberana, altiva e profundamente democrática. O debate sobre o direito à comunicação e a democratização da mídia, sobre a reforma urbana e a desconcentração da propriedade da riqueza, e o debate, nesse caso, sobre o atual sistema político-eleitoral brasileiro são agendas, no campo da democratização do País, inadiáveis para a sociedade brasileira.

            O fato é que, ao lançarmos um olhar mais atento sobre o atual sistema político-eleitoral brasileiro, podemos concluir que ele apresenta pontos positivos que permitiram conquistas importantes à democracia brasileira, como por exemplo o pluripartidarismo, a livre defesa de ideias, opiniões e ideologias, o crescimento de partidos com fortes vínculos populares.

            Por outro lado, Sr. Presidente, não podemos desconsiderar os seus gravíssimos defeitos e distorções que se agravam, de forma rápida e preocupante, colocando em risco a continuidade dos avanços necessários à plena democracia da sociedade brasileira.

            É muito grave o nível de intervenção que o poder econômico joga, cada vez mais, nas disputas eleitorais, transformando-se, de fato, na verdadeira cláusula de barreira eleitoral que determina, de maneira efetiva, quais candidatos se elegerão ou não.

            Preocupa-nos, também, o nível das campanhas eleitorais, que sofre um sensível rebaixamento. Disputa de projetos, debates políticos e programáticos vêm sendo substituídos por pleitos pasteurizados, artificiais, disputas entre marqueteiros, que diminuem as candidaturas a meras mercadorias a serem vendidas aos seus clientes, nesse caso os eleitores, cidadãos e cidadãs, brasileiros e brasileiras.

            O Partido dos Trabalhadores, nestes mais de 30 anos de existência, cresceu, fortaleceu-se, enraizou-se socialmente, transformou-se numa das principais referências dos trabalhadores e das trabalhadoras, governando cidades importantes, Estados e, nada mais nada menos, do que o Governo central do nosso País. Toda essa trajetória vitoriosa se deu justamente neste atual sistema eleitoral e político. Contudo, nem por isso estamos acomodados ou satisfeitos. Ao contrário, estamos convencidos que esse sistema está completamente esgotado, não permitindo mais os avanços necessários para as grandes transformações de que a sociedade brasileira necessita. É urgente a necessidade de mudanças profundas.

            Por esses motivos, o meu Partido, o Partido dos Trabalhadores e das trabalhadoras brasileiras, decidiu apresentar e conclamar a sociedade brasileira a se mobilizar em prol de uma ampla Campanha Nacional pela Reforma Política no País.

            Registro, também, que inúmeras outras organizações e movimentos sociais se mobilizam em torno de uma plataforma que reúne mais de 40 entidades, entre as quais destaco a OAB e a CNBB.

            Sabemos que essa não é uma tarefa fácil, mas é parte da história do PT não se furtar ao bom combate. Aliás, cabe dizer que o PT sempre enfrentou desafios difíceis ao longo de seus 33 anos, quebrando paradigmas, vencendo preconceitos. Elegemos, com a força do povo, o primeiro operário presidente e tivemos, ainda, a audácia de fazer história, mais uma vez, ao elegermos a primeira mulher Presidenta deste País. É com essa credibilidade que o PT conquistou ao longo de sua história, sendo um dos partidos mais respeitados pelo povo brasileiro, que vamos humildemente às ruas, em cada canto deste País, dialogar com a população e demonstrar que, sem partidos fortes, sem programas políticos consistentes, quem perde é a democracia. Para que a democracia brasileira possa avançar e se aperfeiçoar, é fundamental garantirmos o financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais, que é a base da nossa proposta.

            Faço questão de repetir: não podemos mais conviver com um sistema eleitoral em que quem define as eleições é o poder econômico. Isso fere de morte a democracia, além de ser uma absurda distorção, pois retira do povo a soberania da decisão, o seu direito legítimo de definir quem deve ou não representá-lo. É inaceitável que representantes públicos eleitos para tratar da coisa pública sejam eleitos com recursos privados. Acreditamos, também, que o financiamento público terá papel significativo no combate à corrupção, diminuindo as relações promíscuas existentes entre os financiadores privados e agentes políticos que, após eleitos, concedem contrapartidas aos mesmos financiadores, à custa do dinheiro público.

            Nós ainda defendemos o voto em lista preordenada para os parlamentos, com paridade de gênero, para que seja garantida a participação justa das mulheres na política, que, apesar de serem maioria na sociedade, ainda são sub-representadas nos espaços de poder.

            E, por fim, trabalharemos pela convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva sobre a Reforma Política, para que se aprofunde a democracia brasileira, com uma vigorosa participação da sociedade.

            Sabemos ainda da enorme resistência de setores partidários e alguns segmentos da sociedade com relação a esse debate. Sabemos, ainda, da pouquíssima vontade e disposição de amplos setores presentes no Parlamento em promover mudanças no atual sistema político. Aliás, a lógica predominante é: por que mudar um sistema que garante a manutenção do status quo apropriado aos seus interesses e sobrevivência?

            Afirmo isso, considerando as inúmeras iniciativas, seguidas de fracassos e mais fracassos, tanto nesta Casa, aqui no Senado Federal, quanto na Câmara Federal. A última tentativa se deu na Câmara no mês de abril, quando, após meses de negociações, num esforço gigantesco e louvável na busca de acordo liderado pelo Relator, o Deputado Henrique Fontana, o único ponto pautado em plenário foi a proposta de emenda à Constituição que estabelece a coincidência de mandatos nos três níveis, e, mesmo assim, nem foi votada. Os demais pontos, os fundamentais, nem sequer foram apreciados em plenário.

            Esse histórico do Congresso brasileiro revela que a alternativa possível para realizar uma reforma política que fortaleça os partidos, que aprofunde a democracia, ampliando inclusive a representação de segmentos sociais e populares hoje sub-representados nos espaços de poder, só será possível com uma ampla participação da sociedade e com a convocação de uma Constituinte específica para o tema.

            Por tudo isso, Sr. Presidente, convoco a militância petista, os movimentos sociais e as organizações a acelerarem o processo de recolhimento das assinaturas, já que é necessário coletar, no mínimo, 1,4 milhão de assinaturas para que um projeto de iniciativa popular seja reconhecido.

            Tenho certeza de que, com a contribuição de todos, de todas e de cada um, daremos um importante passo nessa que é uma das reformas mais importantes para a continuidade da construção do nosso novo Brasil!

            Sr. Presidente, era isso que eu gostaria de comentar e de falar a respeito deste tema tão importante, que é a reforma política, mas quero aqui, rapidamente, também, aproveitando esta oportunidade, fazer um relato de como foi a nossa tarde de hoje aqui no Senado Federal, Senador Pimentel.

            Os movimentos sociais de todo o Brasil, diversos setores dos movimentos sociais, estão presentes aqui em Brasília trazendo as suas pautas de reivindicações, fazendo as suas manifestações. Hoje à tarde, pela Comissão de Direitos Humanos, nós tivemos a oportunidade de fazer três grandes reuniões. A primeira, que aconteceu no início da tarde, foi uma reunião com a Articulação Brasileira de Mulheres em que estavam representados nove Estados da Federação e que tinha como pauta a CPMI que investiga a violência contra as mulheres, a reforma do Código Penal e a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Foi uma discussão muito interessante em que recebemos informações das mulheres da ABM e pudemos, também, compartilhar informações a respeito desses pontos, aqui no Senado Federal.

            Outra reunião que aconteceu hoje à tarde, altamente representativa, com o auditório da comissão superlotado, foi uma reunião com a comunidade quilombola do Rio dos Macacos, que fica no Estado da Bahia. Dezessete entidades estavam presentes apoiando a comunidade quilombola do Rio dos Macacos, e as famílias fizeram relatos a respeito da realidade que estão vivendo.

            Essa é uma comunidade negra, rural, composta por aproximadamente 70 famílias, todas descendentes de escravos - uma comunidade remanescente de quilombo -, e, com a chegada da Marinha do Brasil na década de 70, essas famílias centenárias foram sendo, aos poucos, expulsas para dar lugar à Vila Naval.

            As famílias relataram situações muito difíceis, e nós nos comprometemos a fazer os devidos encaminhamentos. Elas reivindicam o fim das violações dos direitos humanos naquela comunidade. Uma comunidade que não tem o direito de ir e vir; uma comunidade que não tem o direito de reformar as suas casas; uma comunidade que não tem acesso à água, não tem acesso à energia elétrica, não tem acesso aos serviços de saúde nem à educação; uma comunidade que se sente - e que é - perseguida cotidianamente, recebendo ameaças. Assim, diante do quadro apresentado, nós nos comprometemos, como disse, a fazer diversos encaminhamentos aos Ministérios que nós entendemos têm condições de resolver aquelas questões.

            Então, este foi o nosso compromisso. Nós vamos dialogar com o Ministério da Defesa, com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, com o Ministério do Desenvolvimento Social, com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, bem como com a Secretaria Especial de Políticas de Igualdade Racial, inclusive com o Incra; enfim, vamos fazer os encaminhamentos necessários para que possamos ajudá-los a resolver essas questões tão importantes e que ferem profundamente a vida daquelas pessoas.

            Por último, Sr. Presidente, nós também tivemos a oportunidade de nos reunirmos com o Fórum LGBT do Estado do Espírito Santo. Estavam representados aqui 18 entidades de 13 Municípios do Estado do Espírito Santo. Da pauta constou o Plano Nacional de Educação - e chamo a atenção do Senador José Pimentel, que é o Relator. E tive a oportunidade de informá-los de que, com certeza, nas próximas semanas, nós poderemos aqui votar o Plano Nacional de Educação, de que V. Exª é Relator.

            Tratamos também de políticas públicas para atender esse segmento, o segmento LGBT, e também da criação do Conselho Estadual LGBT do Espírito Santo, que já está com o Governo do Estado, faltando apenas o encaminhamento para a Assembleia Legislativa.

            Portanto, finalizo a minha fala dizendo que o dia de hoje foi, como todos os demais, de muito trabalho, de muitas reuniões e de muitos encaminhamentos, o que faz com que não só o mandato, mas também a Comissão de Direitos Humanos, estejam, como sempre, altamente comprometidos com essas lutas e com esses movimentos.

            Então, era esse o registro, Sr. Presidente, que eu gostaria de fazer nesta noite de hoje.

            Muito obrigada pela atenção de todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2013 - Página 25895