Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Sr. Ruy Mesquita; e outro assunto.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Homenagem ao Sr. Ruy Mesquita; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2013 - Página 28209
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), APRESENTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, RELAÇÃO, FAMILIA, MORTO.
  • LEITURA, RELATORIO, AUTORIA, ORADOR, MOTIVO, PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, REFERENCIA, OCORRENCIA, CONFLITO, PARTICIPANTE, POLICIA MILITAR, EVENTO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), FATO, REALIZAÇÃO, FURTO, DOCUMENTO PARTICULAR, SENADOR, DURAÇÃO, FESTA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, Senadora Vanessa Grazziotin, quero adicionar algumas palavras a mais nas palavras que seu filho, Fernão Lara Mesquita, faz ao Dr. Ruy Mesquita no artigo “Haverá sempre moicanos”.

            Ele diz:

Amou seus pais. Amou sua mulher. Amou seus filhos e seus netos.

Amou o Brasil e amou sua profissão.

Foi amado por todos eles. Não perdeu a ternura jamais.

Agora, na partida, volto-me para o poente para reeditar Chingachgook:

Ó Grande Espírito! Ó Grande Criador da Vida!

Um guerreiro está indo para os seus braços rápido e direto como uma flecha atirada em direção ao sol.

Ele é Ruy, meu pai, meu amigo.

Dê-lhe as boas-vindas e conduza-o até o lugar que lhe está reservado no conselho dos grandes homens.

Tranquilize-o!

Sem ele torna-se muito mais árida a solidão desta travessia. Mas nós seguimos demandando o mar. A bandeira será sempre levada adiante, qualquer que seja o barco.

           Neste momento em que se está realizando o velório - daqui a instantes vai se dar o enterro do Dr. Ruy -, deixamos nossa homenagem, nosso abraço a sua família e a todos da comunidade de O Estado de S. Paulo e a todos os paulistas e brasileiros que o admiram.

           Srª Presidenta, a Folha de S.Paulo solicitou-me, diante do ocorrido na Virada Cultural, que eu pudesse dar um testemunho sobre o que ali se passou e convidou-me para escrever um artigo, hoje publicado, que aqui passo a ler:

Como muitos paulistanos, tive dificuldade de escolher entre as atrações a que gostaria de assistir no último final de semana, gratuitamente, na Virada Cultural. Fiquei contente que, por sugestão minha e de outros, o Prefeito Fernando Haddad e o Secretário da Cultura, Jucá Ferreira, convidaram para se apresentar os Racionais.

Eu estava lá na praça da Sé, em 2007, quando, por volta das 4 horas da madrugada, surgiram conflitos por causa da forma com que a PM tentou conter a superlotação no apresentação do grupo. [Alguns rapazes haviam subido no teto da banca de jornais e quando os policiais resolveram pedir para que eles descessem, começou uma troca de agressões].

Mesmo com o apelo de Mano Brown, não houve como parar a ação violenta da polícia. [Houve lá bombas de gás lacrimogênio, cassetetes espalhados.] O show precisou ser interrompido.

Tendo assistido muitas vezes aos Racionais, eu tinha certeza de que eles poderiam cantar outra vez na Virada Cultural, num ambiente tranquilo, como aconteceu na praça Júlio Prestes, na tarde do último domingo, diante de uma multidão que se apertava por inúmeros quarteirões. [Eis por que fazia todo sentido eu propor ao Prefeito Fernando Haddad que eles pudessem ser convidados, como foram, seis anos depois da última apresentação na Virada Cultural, que, aliás, foi criada pela Prefeita Marta Suplicy e já aconteceu nove vezes.] Mano Brown falou com a sua costumeira assertividade: “Eu vim ontem à noite na Virada e vi muita covardia. Todo mundo fala da polícia, do sistema, mas vi vários manos se desrespeitando, se roubando, se saqueando. O rap precisa de caráter, não de malandragem”.

Eu tinha passado por um susto. No sábado, vindo de Ribeirão Preto, fui direto à praça Júlio Prestes para assistir aos shows de Daniela Mercury e Gal Costa. Fui em direção ao palco em que Daniela cantava. [Como estava vindo do aeroporto, deixei minha sacola num bar - gentilmente, o proprietário do bar falou que eu poderia buscá-la mais tarde] Fui em direção ao palco em que Daniela cantava. Foi difícil atravessar a multidão. A cada passo, eu era parado para tirar fotos, ser abraçado e beijado. Até recebi um pedido de casamento de uma bonita moça, mas eu disse que já estava comprometido. Por fim, consegui chegar à grade junto ao palco. [Perguntei ao segurança, que me reconheceu, se eu poderia pular a grade e ele permitiu.]

Subi ao camarim, sendo recebido por Daniela, que foi supersimpática e agradeceu-me pelo pronunciamento que fiz, em abril, no qual enalteci a sua coragem e respeito pelos seres humanos.[Lembramo-nos todos de suas entrevistas dadas um mês atrás, nas quais ela declarou que estava se juntando a Malu, sua companheira, por quem estava apaixonada.]

Ao dar-lhe um abraço, entretanto, notei [senti nos meus bolsos] que a minha carteira e o meu celular já não estavam comigo, que alguém os havia furtado [ora, fui naquele aperto]. Ela então me levou ao palco de onde acabara de se despedir do público, superaplaudida, e fez um apelo [ao meu lado] para que devolvessem [pelo menos] os documentos. Reforcei o pedido.

            Era a carteira de identidade, a carteira de habilitação, o cartão de crédito, pelo menos mais seis cartões plásticos - os da TAM e da GOL, o cartão fidelidade Smiles, o cartão da FGV e o da Droga Raia, entre outros que eu levava no bolso - e inúmeros cartões, tais como esses cartões do Senado. Instantes depois, um rapaz os trouxe e disse que os havia encontrado no chão. Provavelmente, aquele que os tirou de meu bolso, diante do apelo de Daniela Mercury e do meu apelo, acabou deixando-os no chão. E esse rapaz teve a gentileza de pegá-los. Alguns minutos depois, eles já estavam comigo.

            Então, junto com Gal Costa, agradeci. E agradeço ainda se porventura resolverem devolver o celular. Por aquele roubado, foram descontados da minha remuneração no Senado mais de R$600,00. Já aviso aos Senadores que custa entre R$600,00 e R$700,00 um desses celulares que costumamos usar. Mas aí não teve jeito, a não ser que a pessoa resolva devolvê-lo.

Fiquei ainda para assistir ao formidável show de Gal Costa.

No domingo à tarde, lá voltei para assistir aos Racionais. Estava ainda mais cheio. Muita tranquilidade, o povo cantando o rap [mesmo aquelas letras longas, como as de O Homem na Estrada e Vida Loka]. Ali estavam Haddad e Juca Ferreira, também para cumprimentar Mano Brown, Ice Blue, Edy Rock e KL Jay [os componentes dos Racionais].

O prefeito me disse que, se já tivesse implantado a renda básica de cidadania, muito provavelmente não teriam levado a carteira e o celular. Sim, tenho a convicção de que, quando todos tiverem o direito a uma renda básica suficiente para suprir suas necessidades vitais, será muito menor a incidência de delitos dessa natureza.

Na segunda-feira, ao registrar a ocorrência, fui informado de que houve um grande número de pessoas vítimas de pequenos furtos.

Para a próxima Virada Cultural, será bom haver maior precaução...

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Vou concluir, Sr. Presidente (Fora do microfone.).

Para a próxima Virada Cultural [que, certamente, vai acontecer no ano que vem], será bom haver maior precaução, organização e entrosamento entre a Secretaria de Segurança e a prefeitura. Será importante que São Paulo tenha cada vez mais uma Virada tão especial pela qualidade artística como a deste final de semana.

Em que pesem os episódios de violência [inclusive, dois jovens foram mortos], há um extraordinário mérito em se proporcionar a milhões de pessoas a possibilidade de assistir gratuitamente a mais de 900 espetáculos de tão boa qualidade.

            Portanto, quero aqui cumprimentar o Prefeito Fernando Haddad e o Secretário Juca Ferreira pela iniciativa, que pode, perfeitamente, com um bom entrosamento com o Governador de São Paulo e com o Secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, gerar atitudes de precaução.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eu próprio o fiz, quando voltei à Praça Júlio Prestes. Fui até lá sem o celular no bolso e só com R$20,00, não cometendo a imprudência de levar uma carteira em que eu tinha acabado de colocar algum dinheiro depois de passar no caixa eletrônico.

            Se a pessoa que levou a carteira quiser dialogar comigo e, sobretudo, devolver também o celular e o que havia a mais na carteira, será bem-vindo. Conversarei com ele e até direi, no Boletim de Ocorrência, no Distrito Policial nº 2, aonde fui, que posso até desistir da ocorrência que ali fiz, dada a disposição da pessoa de devolver.

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Fora do microfone.) - Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2013 - Página 28209