Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solenidade de devolução simbólica do mandato parlamentar do Senador Luiz Carlos Prestes e de seu suplente, Sr. Abel Chermont.

Autor
Randolfe Rodrigues (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AP)
Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Solenidade de devolução simbólica do mandato parlamentar do Senador Luiz Carlos Prestes e de seu suplente, Sr. Abel Chermont.
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2013 - Página 28303
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, EX SENADOR, SUPLENTE, DISTRITO FEDERAL (DF), VITIMA, CASSAÇÃO, MANDATO, EPOCA, ANULAÇÃO, REGISTRO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB).

            O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco/PSOL - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, agradeço-lhe. Sr. Presidente, ao lhe cumprimentar, cumprimentar a Srª Maria Prestes, Luiz Carlos Prestes Filho, familiares de Luiz Carlos Prestes; familiares do seu suplente, Abel Chermont, poderíamos - Sr. Presidente, eu já tinha dito anteriormente - estar contemplados pelo pronunciamento de V. Exª e pelo pronunciamento do Senador Inácio Arruda, autor desta cerimônia.

            Mas, diante da manifestação de outros colegas, eu não poderia deixar de aqui fazer o registro do meu Partido, do Partido Socialismo e Liberdade e fazer o registro de um filho da formação da esquerda brasileira. Senador Inácio, Senadora Vanessa, todos nós das diferentes matrizes da esquerda brasileira bebemos na fonte do Partido Comunista do Brasil, na fonte do PCB, desde a sua formação. Todos nós crescemos - e é de Lênin a frase que várias vezes aqui cito: “Palavras convencem; exemplos arrastam” - todos nós crescemos sob a inspiração de Luiz Carlos Prestes. Todos nós, militantes da esquerda brasileira, ouvimos os ecos da palavra de ordem que deveria toar no Brasil nos anos 30, nos anos de 1940: “De Norte a Sul, de Leste a Oeste, o povo exige Luiz Carlos Prestes.”

            Por isso, é com enorme emoção que nós todos da esquerda brasileira aqui estamos. Quero agradecer a Deus e ao povo da minha terra por me conceder a honra de ser Senador da República e estar presente em uma sessão em que o Senado faz justiça histórica e devolve o mandato a Luiz Carlos Prestes.

            Por isso, não são nossas as palavras que quero aqui proferir em homenagem a Prestes. Quero pedir do tempo e da história as palavras emprestadas para homenagear Prestes, não ditas por nós, mas ditas por outro comunista, já citado aqui anteriormente pelo Senador Inácio e pelo Presidente Renan. Quero pedir emprestada a poesia de Neruda, que tem o próprio título, Dito no Pacaembu, não à toa. Foi essa poesia dita por Neruda no dia em que o povo brasileiro acolhia de volta Luiz Carlos Prestes depois que ele saía dos cárceres da ditadura getulista. É aquele momento, inclusive, uma das demonstrações da maturidade política e do que significa ser militante comunista, ser militante de esquerda, ser militante de uma causa libertária, uma causa que não é causa nossa, é causa da humanidade. Prestes nos ensina que ser militante dessa causa é um sacerdócio.

            Veja o exemplo de Prestes, ao sair da prisão ele faz uma manifestação política e diz claramente que era a continuação do Governo de Getúlio não por que aquilo fosse vontade individual, pois, inclusive, a ditadura de Getúlio tinha tirado dele a filha e a esposa, tinha extraditado a esposa, então Olga Benário, para ser assassinada nos campos de concentração nazistas. É Prestes quem nos ensina, com a coerência singular, ao dizer: as minhas vontades individuais não são maiores do que as vontades coletivas. As minhas vicissitudes individuais e diferenças com o Sr. Getúlio Vargas estão abaixo das necessidades coletivas do povo brasileiro.

            Então, é de Neruda a poesia Dito no Pacaembu, em que diz:

Quantas coisas queria dizer hoje, brasileiros,

quantas histórias, lutas, desenganos, vitórias,

que levei anos e anos no coração para dizer-vos,

pensamentos

e saudações. Saudações das neves andinas,

saudações do Oceano Pacífico, palavras que me

disseram

ao passar os operários, os mineiros, os pedreiros,

todos

os povoadores de minha pátria longínqua.

Que me disse a nuvem chilena, o que me disse a bandeira? Que segredo me disse o marinheiro?

Que me disse a menina pequenina dando-me

espigas?

[Todos eles, cidadãos chilenos, me diziam] [...]:

Cumprimenta Prestes.

Procura-o, me diziam, na selva ou no rio.

Aparta suas prisões, procura sua cela, chama.

E se não te deixam falar-lhe, olha-o até cansar-te

e nos conta amanhã o que viste.

Hoje estou orgulhoso de vê-lo rodeado

por um mar de corações vitoriosos.

Vou dizer ao Chile: Eu o saudei na viração

das bandeiras livres do [...] povo.

Me lembro em Paris, há alguns anos, uma noite

falei à multidão, fui pedir auxílio

para a Espanha Republicana, para o povo em sua

luta.

A Espanha estava cheia de ruínas e de glória.

Os franceses ouviam o meu apelo em silêncio.

Pedi-lhes ajuda em nome de tudo o que existe

e lhes disse: [...] na Espanha os novos heróis lutam e morrem, Modesto, Líster, Pasionaria, Lorca,

são filhos dos heróis da América, são irmãos

de Bolívar, de O’Higgins, de San Martín, de Prestes.

E quando disse o nome de Prestes [nos conta Neruda] foi como um rumor imenso

no ar da França: Paris o saudava.

Velhos operários de olhos úmidos

olhavam para o fundo do Brasil e para a Espanha. [...]

Vou dizer-lhes, [aos meus compatriotas chilenos, que vós, Luiz Carlos Prestes], não guardas ódio.

Que só desejas que a sua Pátria, o Brasil, viva.

E que a liberdade cresça no [...] [futuro]

do Brasil como árvore eterna.

Eu quisera contar-te, Brasil, muitas coisas caladas,

carregadas por estes anos entre a pele e a alma,

sangue, dores, triunfos, o que deve se dizer

o poeta e o povo: fica para outra vez, um dia.

Peço hoje um grande silêncio de vulcões e rios.

Um grande silêncio peço de terras e varões.

Peço silêncio à América da neve ao pampa.

Silêncio: com a palavra o Capitão do Povo.

Silêncio: Que o Brasil falará por sua boca.”

            Hoje, todos nós ouvimos Luiz Carlos Prestes.

            (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2013 - Página 28303