Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao jornalista Ruy Mesquita, falecido ontem; e outro assunto.

Autor
Eunício Oliveira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/CE)
Nome completo: Eunício Lopes de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao jornalista Ruy Mesquita, falecido ontem; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2013 - Página 28624
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • HOMENAGEM, EX SENADOR, SUPLENTE, DISTRITO FEDERAL (DF), MOTIVO, SENADO, REALIZAÇÃO, SESSÃO, DEVOLUÇÃO, SIMBOLO, MANDATO PARLAMENTAR, VITIMA, CASSAÇÃO, EPOCA, ANULAÇÃO, REGISTRO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB).

            O SR. EUNÍCIO OLIVEIRA (Bloco/PMDB - CE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senhoras e Senhores aqui presentes e aos que acompanham os trabalhos desta casa nos veículos de comunicação do Senado, familiares e admiradores:

            Peço-lhes licença para iniciar minhas palavras invertendo um pouco a ordem desta homenagem, mas isso me parece bastante oportuno.

            Na noite de ontem, ao informar sobre a sua morte, um telejornal brasileiro mostrou partes de uma entrevista do Dr. Ruy Mesquita, onde o diretor de O Estado de S. Paulo dizia que seu pai, Júlio Mesquita, recomendou-lhe ser comunista, pois, na juventude, essa era uma prática que fazia bem à formação do caráter.

            Assim, aproveito este momento de reconhecimento a outro grande brasileiro para igualar a importante contribuição à resistência democrática, à liberdade de imprensa e de pensamento e, por que não dizer, à educação de milhões de brasileiros, que tivemos no trabalho do Dr. Rui e, claro da família Mesquita, à frente do grupo O Estado de São.

            Antecipo nesta tribuna meu reconhecimento de pesar à família, aos funcionários e colaboradores.

            Sr. Presidente, Senhoras e Senhores, os fatos históricos não podem ser reescritos. Contudo, não se pode deixar de reparar injustiças. Inclusive para que as novas gerações possam conhecer outros verdadeiros brasileiros que ajudaram a construir a nossa pátria.

            E assim, livremente, formarem as suas opiniões sobre erros, acertos, concepções e momentos históricos.

            Resgatar simbolicamente seus mandatos e restituir-lhes a história de Senadores da República eleitos em 1945, é, portanto, mais do que um dever que esta casa tem com Luís Carlos Prestes e a Abel Chermont.

            É um dever pra com a história do Brasil. Não é escamoteando o passado que construímos o futuro. Ao contrário.

            A discordância e o confronto de idéias são naturais e até previsíveis. Mais rara, entretanto, é a conquista do respeito dos adversários. Luís Carlos Prestes é uma das poucas personalidades da história nacional que o alcançou.

            Desde seu nascimento, na cidade de Porto Alegre, em 1898, à infância pobre, de menino órfão de pai aos 10 anos, o Cavaleiro da Esperança forjou sua personalidade biograficamente fascinante em um ambiente que lhe possibilitou aceitar, com admirável tranqüilidade, todas as vicissitudes que a vida viria a lhe impor.

            A simplicidade cotidiana de Luís Carlos Prestes sempre contrastou com sua energia e força de vontade inesgotáveis. Conforme anotou sua filha, a professora Anita Leocádia, "muito antes de tornar-se comunista, Prestes já era um revolucionário".

            Inconformado com o domínio das oligarquias, em 1921 Prestes passou a freqüentar o Clube Militar. Pouco mais tarde, sua intensa atividade política o faria engajar-se definitivamente no Movimento Tenentista, que combatia a política do "café-com-leite" e do Coronelismo, pregando a liberdade política, o voto secreto e a justiça social.

            Em 1924, os tenentistas, derrotados em São Paulo, se refugiaram no interior do Estado, para depois se juntarem ao grupo do Rio Grande do Sul, liderado por Luís Carlos Prestes, formando a célebre Coluna Prestes.

            Em dois anos e seis meses de duração, percorreram nada menos do que 25 mil quilômetros, atravessando onze Estados brasileiros, praticando inusitadas, para a época, táticas de "guerra de guerrilhas" e "entricheiramentos", sem nunca serem derrotados, construindo a história militar brasileira.

            Apesar de não ter logrado êxito em derrubar o Governo, a Coluna Prestes abalou politicamente a República Velha, preparando o caminho para Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas ao poder.

            Diante de difíceis condições políticas internas, Prestes se aproxima do Comunismo e se muda, em 1931, para a antiga União Soviética, onde permanece até 1934, quando, retorna clandestinamente ao Brasil, onde é aclamado Presidente de Honra da Aliança Nacional Libertadora, a ALN.

            Em 1936, Prestes é preso por nove anos. com a anistia, se candidata e é eleito Senador. O mandato é interrompido no início de 1948, pois o Tribunal Superior Eleitoral, por três votos a dois, cassa o registro do Partido Comunista brasileiro.

            A resolução da Mesa do Senado Federal atingiu igualmente a Abel Chermont, suplente de Prestes e a quem a homenagem hoje prestada se estende, de modo muito justo.

            Ilustre paraense, jornalista, advogado, Deputado Federal e Senador da República, Abel Chermont, já em 1935, havia sido o único Senador a fundar, junto com o então Deputado João Café Filho e 19 outros Deputados Federais, o "Grupo Parlamentar Pró-Liberdades Populares" para combater o avanço do Integralismo, contestar a aplicação indiscriminada da Lei de Segurança Nacional e defender a vigência das liberdades constitucionais.

            Como Senador eleito para representar o meu Ceará, democrata convicto, tenho a honra de declarar desta tribuna que as extraordinárias trajetórias de Luís Carlos Prestes e de Abel Chermont os fazem merecedores do título de Senador da República.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2013 - Página 28624