Discurso durante a 81ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relato da participação de S. Exª na 4ª Plataforma Global de Redução de Riscos de Desastres Naturais, em Genebra, na Suíça.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Relato da participação de S. Exª na 4ª Plataforma Global de Redução de Riscos de Desastres Naturais, em Genebra, na Suíça.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2013 - Página 30551
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, CONFERENCIA, REDUÇÃO, RISCOS, DESASTRE, MEIO AMBIENTE, REALIZAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, SUIÇA, COMENTARIO, NECESSIDADE, BRASIL, INVESTIMENTO, PREVENÇÃO, FATO GERADOR, GASTOS PUBLICOS.

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti, que preside a sessão; caros colegas, “Um olhar sobre o futuro na redução de riscos em desastres naturais”. Repito a frase: “Um olhar sobre o futuro na redução de riscos em desastres naturais”. Essa máxima foi a linha condutora dos grandes debates travados em Genebra, na Suíça, na semana passada, durante a 4ª Plataforma Global de Redução de Riscos em Desastres Naturais, onde tivemos a satisfação de representar esta Casa.

           O conceito que permeou todo o evento, como meta a ser alcançada, é a resiliência. Termo trazido da física, significa, literalmente, a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Essa é a interpretação da Física. Adaptado à prevenção de desastres, traduz a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar às mudanças climáticas radicais. Em suma, preparar-se, com investimento em prevenção, para evitar os desastres e, se eles vierem a ocorrer, conseguir sobreviver a eles e recuperar-se rapidamente.

           Muito além do conceito, o mundo busca ações concretas que possam garantir a expansão dessa capacidade - tarefa árdua, precisamos reconhecer. É preciso ressaltar algumas informações:

           - nos últimos 20 anos, os desastres naturais afetaram 64% da população mundial;

           - os prejuízos econômicos associados às catástrofes continuam crescendo a cada ano, em todas as regiões;

           - 95% das pessoas que morrem por desastres são de países em vias de desenvolvimento. Vejam bem: 95% das pessoas que morrem por desastres vivem em países em desenvolvimento;

           - as mulheres, crianças e idosos sofrem, desproporcionalmente, as maiores perdas;

           - a maioria das perdas por desastres advém de eventos recorrentes de pequena escala, principalmente relacionadas com os perigos climáticos;

           - há uma lacuna permanente entre as políticas e práticas nacionais de redução do risco de desastres.

           Para reduzir as desigualdades no enfrentamento dessas questões, em 2005 foi assinado o Plano de Ação de Hyogo. Foram 168 signatários, entre eles o Brasil, que se comprometeram com a implementação de um conjunto de ações, até 2015, que possibilitem a formação de comunidades resilientes e a redução do risco e do impacto dos desastres naturais.

            As estratégias passam por cinco eixos fundamentais, que gostaria de enumerar:

            1) reconhecer o impacto dos desastres sobre a vida, a economia e os meios de produção;

            2) priorizar as políticas públicas para pessoas em maior risco, mais pobres e marginalizados;

            3) abordar também causas subjacentes de vulnerabilidade às catástrofes;

            4) mobilizar o compromisso político;

            5) promover parcerias e a participação efetiva da sociedade.

            Outro vetor fundamental nas políticas de construção da resiliência é a educação. Somente através da formação permanente de uma cultura que introjete os princípios da prevenção e da resposta adequada aos desastres, garantiremos um futuro mais seguro.

            No Brasil, apesar das dificuldades, estamos trilhando o caminho adequado, transformando, pouco a pouco, um antigo paradigma. Percebemos, enfim, que é mais eficaz e econômico investir em ações de prevenção do que posteriormente, na resposta. Ainda não alcançamos o equilíbrio desejado, mas perseguimos o caminho.

            O Coronel Humberto Vianna, Secretário Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, que liderou a comitiva brasileira no encontro em Genebra, apresentou as principais ações do Governo Federal, como o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas, que prevê investimentos de R$18,8 bilhões até 2014, o cartão da Defesa Civil, e outras ações.

            Ainda faltam, contudo, recursos. Não apenas ao Governo Federal, mas principalmente verbas descentralizadas, que atendam às necessidades de Estados e Municípios brasileiros. Tivemos a oportunidade de apresentar, em um fórum que reuniu parlamentares de 40 diferentes nações, a proposta de contribuição das seguradoras. Através de uma ferramenta que podemos chamar de "transferência de risco", as seguradoras contribuiriam com 1% do valor de cada seguro eletivo adquirido no País. Com isso, teriam significativa redução no pagamento de indenizações, uma vez que o investimento reduziria a ocorrência de desastres. O valor permitiria uma arrecadação, em valores atuais, de aproximadamente R$2,5 bilhões, que seriam repartidos, em três medidas iguais, entre a União, os Estados e Municípios.

            A proposta, de nossa autoria, já tramita nesta Casa e mereceu a simpatia de parlamentares e organizações internacionais presentes ao encontro. Aliás, despertou, sentiram que valeria a pena partir para alguma coisa nessa direção.

            O encontro em Genebra apresentou novos rumos e alternativas viáveis na construção da tão sonhada resiliência. Além disso, nos deu a certeza de estarmos apostando no caminho certo: muitas das nossas propostas já constavam do relatório que apresentamos no fim de 2011, fruto dos trabalhos da Comissão Especial de Defesa Civil desta Casa, presidida, à época, pelo nosso companheiro o Senador Jorge Viana.

            Antes de concluir, abro um pequeno parêntese para agradecer o apoio logístico fundamental à nossa delegação, feito com muito carinho e competência pelo Ministro Conselheiro João Almeida, que atua na missão permanente do Brasil junto ao escritório da ONU na Suíça. Tivemos também a grata oportunidade de visitar a diplomata que hoje chefia a representação brasileira junto à Organização Mundial do Comércio, a catarinense Márcia Donner Abreu. Nascida em Florianópolis, é filha do reconhecido Prof. Alcides Abreu, que tantos serviços prestou à Santa Catarina. Com a posse de Roberto Azevêdo na presidência da OMC, Márcia assumiu o comando de nossa representação e somará esforços na construção de melhores relações comerciais para o nosso País.

            Gostaria de destacar ainda as presenças, em Genebra, do Deputado Federal Glauber Braga - que foi relator da Comissão de Defesa Civil na Câmara dos Deputados - e do Deputado Estadual Jean Kuhlmann, que desempenhou igual função na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

            Que essa união de esforços, caro Presidente e caros colegas, somada à consciência da necessidade de construir um futuro mais seguro, permita que as mudanças legislativas fundamentais sejam implementadas e transformem-se em ações preventivas. Só assim construiremos, verdadeiramente, a resiliência.

            Essas são as reflexões, Sr. Presidente e caros colegas, que não poderia deixar de trazer na tarde de hoje, depois de termos a honra de participar, representando esta Casa, desse encontro, que é de correção, é de enfrentar riscos, é de analisarmos como vamos tratar o que é melhor para o Brasil, o que há de melhor no mundo para podermos aplicar também no nosso País, e qual é a contribuição que podíamos levar daqui também para trocarmos idéias.

            Entendo que vale a pena nós nos esforçamos, não cruzarmos os braços e procuramos encontrar caminhos que evitem essa sequência de problemas que nós enfrentamos a todo instante no País, em diversas regiões, e não só no meu Estado, não só no Rio, em São Paulo, em Minas, mas no Brasil inteiro. Ou são as chuvas no Sul ou é a seca no Nordeste que nós estamos a enfrentar. E nós precisamos nos estruturar e nos prevenir, fazendo com que a Defesa Civil no Brasil, não só a nacional, no Ministério da Integração, mas a Defesa Civil nos Estados e, principalmente, Sr. Presidente, as defesas civis localizadas nos Municípios tenham condições de enfrentar os riscos e de se prepararem para isso, prevenindo-os. Aí, sim, nós estaremos equiparados ao primeiro padrão no mundo, e o Brasil estará preparado para enfrentar isso, o que será muito melhor não só para as pessoas, mas para os nossos bens, para as entidades.

            Esse é o caminho de que não podemos nos esquecer.

            Muito obrigado, Sr. Presidente e caros colegas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2013 - Página 30551