Discurso durante a 81ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à memória dos Srs. Ruy Mesquita e Roberto Civita, recentemente falecidos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. IMPRENSA.:
  • Homenagem à memória dos Srs. Ruy Mesquita e Roberto Civita, recentemente falecidos.
Aparteantes
Luiz Henrique, Pedro Taques.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2013 - Página 30587
Assunto
Outros > HOMENAGEM. IMPRENSA.
Indexação
  • HOMENAGEM, MORTE, JORNALISTA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, ELOGIO, ATUAÇÃO, IMPRENSA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ZERO HORA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), HOMENAGEM, MORTE, JORNALISTA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, o Brasil perdeu, nos últimos dias, dois jornalistas que fizeram história na imprensa brasileira: Ruy Mesquita, do Estadão, e Roberto Civita, da Editora Abril. Aliás, eles não apenas fizeram história na imprensa, eles foram protagonistas diretos na construção da nossa história recente.

            Os editoriais do Estadão e as capas da Veja pautaram a vida política nacional nos últimos tempos. Ler o editorial do Estadão e esperar pela capa da Veja foi, durante muito tempo, um aprofundamento da análise do Brasil e uma expectativa, das mais contundentes, dos acontecimentos brasileiros.

            As páginas amarelas da Veja refletem uma diversidade de opiniões, esclarecendo e prestando um serviço à sociedade, sempre com assuntos da atualidade que movimentam o País.

            Os dois jornalistas não deixaram de criar o contraditório, o que é bom, porque suscita, também, o debate de ideias. Sem as posições sempre contundentes de Ruy Mesquita e Roberto Civita, a discussão dos problemas nacionais teria sido bem mais pobre. Sim, farão falta neste momento de consolidação da democracia brasileira. Eu não tenho nenhuma dúvida de que, com seus estilos, com as suas linhas, com as sua opiniões, com as suas divergências, ele farão parte daqueles que precisavam, hoje, continuar a dialogar e, muitas vezes, mostrar que ninguém, quem quer que seja, por mais importante que seja, é o dono da verdade no nosso País.

            Sem as posições contundentes do Dr. Ruy Mesquita e de Roberto Civita, a discussão e o debate, no Brasil, das ideias ficarão mais pobres. Faltarão muito as suas presenças na consolidação da democracia brasileira.

            As receitas dietéticas colocadas no Jornal da Tarde e os poemas de Camões do Estadão, sempre no lugar das notícias censuradas, falavam, quem sabe, muito mais alto que a censura e o conteúdo da própria notícia: elas intensificaram na população a aversão pelo que acontecia nos porões da ditadura e, consequentemente, aguçaram o desejo de mudança. A censura suscitava o porão, a tortura, os desmandos, a escuridão. Tudo o que a população desejava mudar. Assim, o povo na rua foi, em grande parte, também levado por atitudes como a desses nossos grandes líderes que acabamos de perder.

            Tanto quanto as páginas vazias do Estadão, as receitas de doce, as capas da Veja também pautaram a política. Foram elas, por exemplo, que deram início à campanha contra a corrupção. Foram elas que deram início, por exemplo, àquilo que terminou no impeachment de Collor.

            Há uma rima entre os sobrenomes desses dois senhores da imprensa brasileira - Civita e Mesquita. Ita, em tupi, significa pedra. Talvez tenha sido esta a marca dos dois: uma pedra no sapato de quem ainda guarda ranços contrários à liberdade de imprensa.

            Eu, pessoalmente, sempre tive o maior respeito pelos dois jornalistas. Eu me lembro da primeira vez - eu ainda jovem - que falei com o jornalista Mesquita. Fiquei impressionado com o seu estilo, com a sua forma de falar, com a sua franqueza, com a sua realidade, e com a fidelidade que ele tinha àquilo que defendia.

            Eu sempre tinha ouvido muito falar dos Mesquitas, da sua fidalguia, da sua imponência, daquilo que chamavam de os donos da verdade, mas confesso que a impressão foi muito positiva. E, acompanhando, ao longo de sua vida, a sua história, a mim impressionou a firmeza e a fidelidade aos seus princípios e às suas ideias. A mim impressionou.

            E peço inclusive a transcrição nos Anais, junto com meu discurso: “Ruy Mesquita e a imprensa sem peias”, artigo de hoje de Paulo Brossard no Zero Hora.

            Paulo Brossard, um admirador inconteste do O Estado de S. Paulo, diz que, nas horas da ditadura, do arbítrio e da violência - era interessante -, falava na tribuna da Assembleia Legislativa, e o Correio publicava na íntegra o seu discurso; o Correio publicava os absurdos da ditadura, e Brossard transcrevia-os na íntegra na Assembleia do Rio Grande do Sul. Por isso peço essa transcrição.

            Conheci muito o bravo Civita. Conheci, ainda no início, ele e seu pai. Não nego que me emocionava ao vê-lo se dirigir ao pai com o maior respeito, chamando-o de “papai” e sempre olhando-o com carinho afetivo.

            Com relação à Veja, eu tive inclusive horas de mágoa, em que me senti injustiçado. E escrevi à Veja, escrevi ao Sr. Civita. Mas tenho que fazer justiça que ali eu tive com ele reparação, inclusive um editorial de página inteira, na época, em que ele dizia: “O Sr. Simon e eu temos uma campanha, uma luta, com muita coisa em comum. Às vezes divergimos, às vezes nós temos razão, às vezes ele tem razão”. E terminei consolidando uma amizade e um respeito pelo Sr. Civita.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco/PMDB - SC) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Com o maior prazer já lhe darei.

            Impressionou-me a garra, a vontade, a competência e a disposição de ir adiante. Aliás, o que me impressionou nos dois foi o amor total pela liberdade de imprensa, era a paixão que eles tinham pela liberdade de imprensa.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco/PMDB - SC) - V. Exª sabe bem (Fora do microfone.), Senador Pedro Simon, o que nos conquistou, neste momento, ao vê-lo na tribuna, saudando a memória do Dr. Ruy Mesquita e de Roberto Civita. V. Exª sabe bem quão foram duros os tempos do arbítrio, os tempos da censura, em que o Estadão ironizava, publicando trechos da poesia de Camões nos espaços onde seriam registradas notícias que os censores impediram de publicar. V. Exª coloca exatamente o que é o papel da imprensa como bastião do regime democrático. Eu prefiro a imprensa cometendo erros, mas livre, à imprensa calada. E V. Exª relata muito claramente isso. Eu quero cumprimentá-lo por esse pronunciamento e me solidarizar com V. Exª na homenagem que faz a esses dois expoentes da imprensa livre do nosso País.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Muito obrigado, meu querido amigo.

            Pois não, Senador.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - No mesmo caminho do Senador Luiz Henrique, Senador Pedro Simon, eu quero me associar a V. Exª, à sua fala em relação a esses dois brasileiros, dois jornalistas que falavam o que o outro não queria ouvir. Aliás, liberdade é isto: ter a capacidade de falar o que o outro não quer ouvir. Isso é liberdade. Hoje, quando alguns debatem o controle do conteúdo do que a imprensa fala - alguns defendem isso -, nós temos de, todos os dias, ficar atentos a esse tipo de ofensa à liberdade de imprensa. Falar em regulamentar, falar em regular o conteúdo da imprensa é ofender a Constituição. E esses dois jornalistas, em alguns momentos, falaram o que alguns não queriam ouvir. Vide algumas capas da revista Veja. Muitos políticos não dormem de sexta-feira para sábado, de sábado para domingo, com medo da capa da Veja no final de semana. Eles ficam com insônia, com medo do que pode aparecer na capa das revistas. E ainda insistem em calar órgãos de imprensa. Também, temos de nos atentar ao que o Senador Aécio Neves hoje falou na Folha de S.Paulo, ao escrever um artigo nesse jornal hoje, e ao que a Senadora Marina Silva falou, na semana passada. Em tempos modernos, nas redes sociais, a comunicação via rede mundial de computadores, muitas vezes, é aparelhada por grupos políticos. Um exemplo disso: se um de nós Senadores ou políticos como gênero sobe à tribuna e fala sobre determinado tema, uma verdadeira quadrilha organizada nas redes sociais começa a espalhar aleivosias, acusações sem fundamento, contra políticos, Senadores, Deputados, que não fazem parte da busca por um pensamento único. Na democracia, de acordo com a própria Constituição - e a Constituição fala em pluralismo político -, eu tenho a liberdade de ser contra o que o senhor está a dizer. E isso não significa que eu seja seu inimigo, isso não significa que eu não defenda o seu direito constitucional de falar até coisas que eu não queira ouvir. Agora, não é possível que nós tenhamos, na República, a possibilidade de regularmos o conteúdo do que será divulgado. O Dr. Ruy Mesquita e o Civita, dado o Grupo Abril, muitas vezes, falaram e escreveram coisas, informações que outros não queriam ouvir, inclusive, derrubaram Presidentes da República. Capas de revista derrubando Presidentes da República por intermédio de entrevistas, editoriais do Estado de S. Paulo derrubando ministros, anulando procedimentos licitatórios em razão da existência de fraude, em razão da existência de corrupção. É lógico que cada um tem o direito constitucional de falar o que quer, e é bom que assim seja. Mas liberdade rima com responsabilidade. Depois de propalada a notícia, cada um deve procurar os seus direitos. Mas temos que ressaltar que a imprensa livre é um direito fundamental do cidadão de bem viver dentro desta sociedade política chamada Estado. Parabéns pela sua fala!

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Pena que a Casa esteja tão vazia, porque os três que aqui estão falam da mesma maneira. Poderíamos debater com outros colegas que pensam de maneira diferente, e nós sabemos disso.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT. Fora do microfone.) - Nós não somos inimigos.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Sabemos disso. Hoje é o tipo do dia que, com elegância e alto estilo, daria para se debater a proposta que V. Exª apresentou.

            Penso como V. Exª. Muito divergi da imprensa, de jornais, de artigos, etc. e tal. Mas prefiro mil vezes a imprensa livre à imprensa escondida. Acho que a liberdade de imprensa é um dom muito grande e muito importante. Ainda mais agora, como V. Exª salientou, que existem as redes sociais.

            Temos que estar preparados para o futuro, para uma fase bem diferente da que existia até agora. De certa forma, até agora, nós estávamos à mercê da imprensa - jornal, rádio e televisão - e nós assistindo. Por isso até, muitos colegas nossos, embora a Constituição proíba, são donos de rádio, televisão e jornais, e mantêm isso em toda a sua região eleitoral. É porque querem ter uma maneira de atuar.

            Mas vejo como muito positivo essa presença das redes sociais, embora todo mundo acrescente que é um perigo, pois, de repente, pessoas podem usá-las de maneira inescrupulosa e nós teremos que entrar em um debate, mesmo não querendo, em cima daquilo que não é verdade. Mas que é bom, é bom.

            Olha, nós aqui tivemos duas grandes vitórias: o Ficha Limpa e o Mensalão. E cá entre nós, a Veja contribuiu muito para isso. As publicações e a espera pela sexta e o sábado, e as coisas que ali eram publicadas ajudaram, cá entre nós, muito mais do que nós aqui. A imprensa entendeu que não era caixa dois, era caixa um; era dinheiro do Governo em que eles estavam botando a mão e estavam tirando. As explicações que eles apresentaram explicaram muito mais do que as nossas, que era uma quadrilha mesmo e que ela tinha um chefe. E para haver roubo, para haver falcatrua, não é apenas o cara que bota a mão, pega o dinheiro e bota no bolso, tem que haver o intelectual, o que coordena, o que comanda, o que faz com que as coisas aconteçam, e até publicaram comparação feita. Se virmos as coisas que aconteceram no nazismo, não vamos encontrar assinatura de nenhum dos grandes líderes mandando prender judeu ou fazer as torturas que aconteceram. Quem estava ali eram os coitadinhos dos soldados, tenentes ou coisa que o valha. E ficou provado que, no mensalão, havia comando, havia chefe, embora não houvesse nada assinado por esse comando nem por esse chefe. Isso eles mostraram. Foi de grande importância.

            Eu me lembro que, na hora do impeachment, tanto o Estadão quanto a Veja levaram a questão adiante, e a questão não caiu no ar. O que eu vejo e o que eu respeitava no Dr. Ruy Mesquita e o que eu respeitava com profundidade no Dr. Civita era a firmeza de suas convicções - publicavam.

            A Veja, crescendo e se desenvolvendo, podia facilmente se identificar com o governo, podia facilmente tanto se identificar com o governo quando era ditadura como quando era Fernando Henrique ou, principalmente agora, sendo o governo do PT. Mas ele manteve a mesma linha, como o Dr. Mesquita manteve a mesma linha: de independência absoluta, mostrando as coisas quando estavam erradas e mantendo a posição de absoluta independência.

            Por isso, Sr. Presidente, deixo o meu pesar e o meu respeito a esses dois grandes brasileiros, eles merecem nosso respeito e nossa admiração.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

-“Ruy Mesquita e a imprensa sem peias” - Paulo Brossard.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2013 - Página 30587