Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao posicionamento do governo brasileiro perante o bloco econômico Aliança do Pacífico; e outro assunto.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Críticas ao posicionamento do governo brasileiro perante o bloco econômico Aliança do Pacífico; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2013 - Página 31336
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • CRITICA, POSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, RELAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, PAIS, CRIAÇÃO, AGRUPAMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, OBJETIVO, COOPERAÇÃO ECONOMICA, AREA DE LIVRE COMERCIO.
  • SUGESTÃO, ORADOR, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, AUTORIDADE, SETOR, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, OBJETIVO, DEBATE, CRIAÇÃO, AGRUPAMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, POLITICA, COMERCIO, POLITICA EXTERNA.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, colegas Senadores, o Vice-Presidente dos Estados Unidos está no Brasil. Ele chegou ontem; discursou hoje, no Rio de Janeiro; e, na próxima sexta-feira, tem um encontro com a Presidente Dilma Rousseff, aqui em Brasília.

            A pauta privilegia assuntos econômicos, questões estratégicas, com a presença crescente do Brasil no cenário mundial, a influência do País na América Latina e as relações internacionais.

            “O Brasil não é mais um país emergente. O Brasil emergiu, o mundo todo já notou” - disse o Vice-Presidente de Barack Obama.

            A recém-criada Aliança do Pacífico, um tema praticamente obrigatório, representa, para os Estados Unidos, uma nova oportunidade de introduzir a proposta da área de livre comércio para a América Latina. Ideia já rechaçada anteriormente, uma vez que inclui mais vantagens aos interesses norte-americanos que benefícios aos demais associados.

            A Aliança do Pacífico, porém, é o tema do momento. A Aliança do Pacífico... É com certa angústia, até, que vejo e analiso as declarações de autoridades diplomáticas brasileiras sobre a Aliança para o Pacífico. A criação de um novo bloco comercial na América Latina, com suas implicações geopolíticas na região, em minha opinião, é analisada de forma superficial pelo Governo brasileiro. É com incompreensão que eu digo isso. Na verdade, até agora, acompanhando a criação da nova aliança e a reação do Governo brasileiro, eu não consigo entender a falta de uma ação mais ativa do Governo brasileiro.

            Não se concebe que um novo e dinâmico bloco econômico, formado por algumas das maiores economias do continente, não cause a mais leve apreensão entre nós, tanto por parte do Governo como por parte do Itamaraty. Ao contrário, o assunto é visto com displicência.

            O assessor internacional diplomático da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, chegou a declarar, conforme os jornais publicaram, que a Aliança do Pacífico "não tira o sono do Brasil".

            Porém, se não provoca pesadelos, o novo bloco certamente tem potencial enorme para causar impacto no sonho de integração latino-americana. A começar pela redução do poder de fogo e de atração representado pelo Mercosul, um bloco criado há duas décadas e vivendo em permanente instabilidade.

            A Aliança representa um forte contraponto à influência política e econômica do Brasil na região. Formada há dois anos por México, Chile, Colômbia e Peru, a Aliança contabilizou no ano passado US$556 bilhões em exportações, contra US$335 bilhões, registrados no comércio dos países que integram o Mercosul.

            Há dias, na reunião de cúpula realizada em Cali, na Colômbia, numa prova de vontade e dinamismo, a Aliança adotou duas medidas: assinou um acordo comercial que zerou as tarifas de importação de 90% dos produtos negociados; e criou um visto comum para turistas.

            É compreensível que a Aliança do Pacífico, subestimada pelo Brasil, seja acompanhada com maior objetividade por outros países. Estados Unidos, Canadá, Panamá e Costa Rica estão mais diretamente interessados.

            Também países como a França, Japão, Espanha, Portugal, Nova Zelândia e Austrália enviaram observadores à reunião de cúpula da Aliança. Nesse cenário, é quase inacreditável que todo esse barulho em nossa vizinhança não desperte a curiosidade no Brasil. Tanta movimentação política e comercial deveria, isso sim, despertar diversas luzes amarelas piscantes no Itamaraty. Mas a preferência no ambiente é por outras cores. Talvez seja mais atraente o azul da bandeira da combalida União Europeia, com quem o Mercosul tenta formalizar, há mais de uma década, um improvável acordo comercial capaz de equilibrar interesses da indústria e da agricultura de ambos os Estados.

            Conforme o jornalista, o arguto analista Clóvis Rossi, da Folha de S.Paulo, a Aliança do Pacífico representa também uma integração que se constrói de costas para Brasília. Nesse vácuo de interesse, cabe maior responsabilidade ao Senado e, especialmente, à Comissão de Relações Exteriores e Defesa.

            Daí, nossa sugestão de realização de audiência pública com autoridades do setor e a quem mais interessar, para que possamos debater com profundidade a Aliança do Pacífico, suas implicações geoestratégicas, políticas e comerciais, no Continente e, principalmente, no Brasil e no Mercosul.

            Francamente, não consigo compreender como sai essa aliança fora da nossa. Nós ficamos nessas situações, exatamente neste momento longo e difícil...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - A operação que terminou afastando - espero que temporariamente - o Paraguai e essa entrada difícil, mas necessária da Venezuela, e, no entanto, se tivéssemos feito essa integração com esses quatro países a mais, estaria fechada a integração da América Latina. Em vez de, como ela está aparecendo, Aliança do Pacífico, enquanto nós formamos a Aliança do Atlântico, estaríamos com a integração da América Latina em uma grande realidade.

            Não consigo entender. Não consigo entender a política e a ação do Ministro Patriota.

            Falava-se muito do seu antecessor, do esforço que ele fazia na aproximação, inclusive, com países como o próprio Irã; na tentativa que ele fez, com Irã e Turquia, da busca de um entendimento que poderia ter resolvido a questão da paz, naquela região, e que o americano não quis, não deixou. E provado, depois, foi, quando invadido, liquidado e desmoralizado o Iraque, estava certo...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - ... o representante brasileiro, na organização internacional, que garantia que não havia armas químicas, e não havia, absolutamente, nenhuma ação nesse sentido.

            Mas, hoje, essa aliança nova que se forma leva de arrasto, digamos assim, o sonho do Brasil de integração da América Latina, que vem de longe: que o Sarney começou, quando presidente; que todos os presidentes do Brasil continuaram - Lula deu uma dedicação especial à América Latina e à África -; e que avançou, avançou muito, com muita possibilidade, embora, ultimamente, o Mercosul fique na discussão interna da divisão e distribuição de seus produtos, ...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - ... nas negociações entre Brasil e Argentina e entre Argentina, Brasil e Uruguai; e ainda não houve o avanço para o exterior, o desenvolvimento que se esperava. Mas deixar que Chile e os outros irmãos da América formassem o Tratado do Pacífico, que é uma bofetada no Brasil, não consigo entender.

            Não consigo entender como o grande internacionalista Garcia, que está lá no governo, diz, com a maior tranquilidade, que o problema da Aliança do Pacífico não preocupa o sono do Brasil. A Presidenta ainda não falou; o Lula ainda não falou, mas acho que foi um dia negativo.

            Pedi a convocação, e a Comissão de Relações Exteriores já marcou para agora. Eu esperava que a reunião tivesse saído na semana passada, na quarta-feira, quando os acontecimentos estavam anunciados, mas ainda não haviam saído. O Sr. Patriota não tinha tempo. Amanhã, dia santo, nesta semana ele também não vem, mas eu, sinceramente, que também estava com uma preocupação muito grande em relação ao Mercosul e a sua expansão, vejo que, de um lado, o Mercosul vive uma dificuldade permanente. Não conseguimos sair das briguinhas da Argentina, com o seu arroz, do Brasil, com o seu arroz, do Rio Grande do Sul, do Uruguai, coisas insignificantes diante do desenvolvimento do tema, agora que podíamos fazer a integração real da América Latina. É claro que é difícil, o americano não quer; o americano quer e se apaixona pelo comércio bilateral, acordo entre Estados Unidos e Brasil, entre Estados Unidos e China, entre Estados Unidos e Paraguai. Para a nação americana, isso é mais interessante, mas não é o caso do Brasil.

            Espero, com muita ansiedade, a vinda do nosso ilustre Patriota, Ministro das Relações Exteriores, cuja atuação, com toda sinceridade, não consigo acompanhar. Na minha falta de competência, não consigo interpretar o seu silêncio com relação a tudo e até, de certa forma, em relação às viagens da Presidenta. O Ministro Mercadante parece ser muito mais o homem das Relações Exteriores do que o Ministro Patriota. Vamos ver se dessa vez ele fala, ele explica.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Encerro, Sr. Presidente, dizendo que talvez ele tenha uma perspectiva, uma fórmula, tenha uma mágica na condução dos acontecimentos e que nós tenhamos de bater palmas. Por enquanto, apenas se lamenta.

            Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2013 - Página 31336