Comunicação inadiável durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque à quarta edição de premiação do Diploma José Ermírio de Moraes, cerimônia em que o Senado Federal homenageia a indústria brasileira; e outro assunto.

Autor
Armando Monteiro (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/PE)
Nome completo: Armando de Queiroz Monteiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
POLITICA INDUSTRIAL, HOMENAGEM.:
  • Destaque à quarta edição de premiação do Diploma José Ermírio de Moraes, cerimônia em que o Senado Federal homenageia a indústria brasileira; e outro assunto.
Aparteantes
Ana Amélia, Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2013 - Página 31348
Assunto
Outros > POLITICA INDUSTRIAL, HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, SENADO, ENTREGA, PREMIO, HOMENAGEM, INDUSTRIA NACIONAL, COMENTARIO, SITUAÇÃO, INDUSTRIA, PAIS, NECESSIDADE, RECUPERAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO.

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu quero registrar hoje, desta tribuna, a satisfação que tivemos ontem com a realização da quarta edição da premiação do Diploma José Ermírio de Moraes, que se inscreve, no calendário aqui da Casa, como um momento em que o Senado da República homenageia a indústria brasileira. Essas solenidades ocorrem na semana da indústria.

            E ontem tivemos aqui uma tarde - final da manhã e início de tarde -, memorável, eu diria, porque o Senado pôde tributar um justo reconhecimento a três ilustres empreendedores deste País, cujas trajetórias foram, ontem, muito bem homenageadas aqui.

            Quero referir-me ao empresário Francisco Ivens Dias Branco, Presidente do Grupo M. Dias Branco, talvez o mais expressivo conglomerado empresarial do País na área em que atua, no segmento de alimentos, especificamente de biscoitos e massas; ao empresário e Presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade, Presidente do Orteng; e ao valoroso empresário do Estado de Alagoas, o Sr. José Alexandre dos Santos, Presidente do Grupo Coringa.

            Nessa solenidade, nós pudemos, ao homenagear essas três figuras, destacar os desafios da indústria brasileira. Foi também um momento de reflexão sobre a atual situação da indústria brasileira, os seus desafios, desafios que se projetam no futuro, sobretudo na perspectiva da retomada, da recuperação dessa posição relativa que a indústria vem perdendo no País.

            Meu caro Senador Cristovam, nós temos podido conversar sobre esses temas, e não escapa a ninguém, hoje, a constatação de que a indústria manufatureira no Brasil vem perdendo posição relativa na formação do produto econômico do País. Na década de 80, a indústria manufatureira representava mais de 30% do nosso PIB, e essa participação declinou ao longo do tempo e, hoje, responde por pouco mais de 15% do produto da nossa economia.

            Alguns identificam esse fenômeno como sendo um fenômeno nítido de desindustrialização, que nada mais é do que a perda de posição relativa da indústria. É claro que nós temos a compreensão de que, nas economias mais maduras e desenvolvidas, o setor terciário tende a crescer e, por essa razão, o espaço da indústria tende a diminuir. Mas o que está acontecendo no Brasil, por assim dizer, é um processo precoce de desindustrialização, porque nós somos, ainda, um País de renda média e que por isso não deveria ter uma posição já tão clara e tão pronunciada de perda de posição relativa da indústria.

            Ora, isso tudo nos coloca o desafio de pensar na indústria e de compreender que um país deve crescer pela indústria.

(Soa a campainha.)

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - A indústria dissemina conhecimento; a indústria produz um impacto importante na produtividade global da economia; a indústria forma capital humano.

            Portanto, a melhor forma de crescer é pela indústria. E o Brasil não pode, hoje, Senador Jorge Viana, aceitar a justa ambição de manter-se como importante plataforma manufatureira na América Latina nem dela abdicar-se. O Brasil não pode aceitar um processo regressivo de reprimarização da nossa pauta de exportação.

            Nós não podemos, de repente, imaginar que o modelo australiano é algo que pode, como alguns analistas já apontam, servir ao Brasil.

(Soa a campainha.)

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - O Brasil tem que se manter como uma potência nas áreas mineral e agrícola, portanto, com uma vocação natural para a exportação de commodities. Mas o Brasil não pode renunciar ao espaço que o trabalho de gerações, neste País, permitiu e é um ativo valioso do nosso País: a indústria.

            Agora, a indústria perde posição relativa, porque o Brasil padece ainda de entraves e constrangimentos estruturais graves. E é por isso que produzir no Brasil ficou caro. A energia é cara. Há um perigoso descompasso entre o aumento do custo unitário do trabalho e a produtividade.

(Soa a campainha.)

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - Portanto, meu caro Senador Cristovam, nós temos hoje uma situação desafiadora. Não temos o custo dos asiáticos, que são hoje os principais players na área da exportação de manufaturados, e, ao mesmo tempo, não temos a capacidade de inovar e de incorporar conhecimento ao que produzimos, como as economias mais desenvolvidas têm.

            Portanto, precisamos assumir, clara e corajosamente, com o sentido de urgência que isso requer, o desafio de atuarmos simultaneamente numa agenda velha e numa agenda nova.

            A agenda velha é essa que ainda nos leva a lutar para superar estes constrangimentos estruturais: infraestrutura precária; sistema tributário anacrônico e disfuncional; relações do trabalho...

(Soa a campainha.)

(Interrupção do som.)

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - ... marcadas por uma grande rigidez (Fora do microfone.); e um sistema educacional que está longe de ser o que nós desejamos. Ao mesmo tempo, há o desafio de atuarmos numa agenda nova, que nos coloca a perspectiva de desenvolver competências, de incorporar inovação, de inovar processos e produtos.

            Eu quero, se for possível, ouvir o Senador Cristovam, que havia solicitado. É possível, Presidente?

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC) - Regimentalmente, não pode. A gente atende, mas o problema é que está no horário da Ordem do Dia. Eu fiz esse arranjo para V. Exª e para o Senador Sérgio, que vai viajar imediatamente e tem um compromisso de agenda. Mas é óbvio que o Senador Cristovam vai saber fazer rapidamente, só para que não atrasemos o início da Ordem do Dia.

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - E eu quero ouvir o Senador Sérgio em seguida também, rapidamente.

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC) - Ele vai falar.

            Eu faço a Ordem do Dia logo depois da fala de V. Exª.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Armando, primeiro, para dizer que fico satisfeito de vê-lo lembrar a solenidade de ontem que tivemos aqui e em que o Dr. Robson foi um dos homenageados como Presidente da CNI. Segundo, para lembrar o seu discurso de ontem, que realmente merece ser olhado com muito cuidado - e eu fiz isso mais tarde; não assisti, mas depois li. Nós precisávamos refletir sobre tudo aquilo que o senhor colocou, diante do risco que nós estamos vivendo, conforme o senhor chamou - e alguns estão chamando -, da desindustrialização. Eu quero dizer que tenho trabalhado a ideia da desindustrialização 2.0, que é a desindustrialização como proporção do nosso PIB de alta tecnologia no cenário mundial - 2.0 para fazer uma brincadeira com a informática, que trata sempre 2.0 - além da redução, comparando historicamente um momento com outro no Brasil...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - ... do ponto de vista da indústria, da sua participação no PIB. Se a gente olha a nossa participação mundial com produtos de alta tecnologia, ela é muito pequena. Ontem eu fiz um desafio aos empresários aqui reunidos - devia haver uns 150, pelo menos -, porque eles precisam começar a trabalhar, Senador Jorge, no sentido de haja uma maior competência, como o senhor chamou, na economia, e isso passa pela ciência, pela tecnologia e pela educação. E este foi o desafio: que eles lutem para que um dia os filhos dos trabalhadores deles estudem em escolas com a mesma qualidade dos filhos dos próprios empresários. Mas o seu discurso merece ser bastante analisado, discutido, não só nesses poucos minutos, mas também numa sessão mais ampla e com mais Senadores.

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - Eu agradeço muito a V. Exª e quero só, ao final, Senador Jorge Viana, agradecendo-lhe a tolerância, lembrar o patrono desse Diploma, que é um ilustre conterrâneo...

(Interrupção do som.)

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - ... nosso, um grande brasileiro, José Ermírio de Moraes (Fora do microfone.), importante industrial brasileiro do século passado, que lançou as bases de um dos mais importantes complexos empresariais do Brasil e que teve um papel ousado, meu caro Senador Cristovam, desafiando, na época, oligopólios e monopólios estrangeiros.

            Foi de José Ermírio a luta para quebrar a patente do rayon, uma fibra sintética que deu origem à indústria química, à Companhia Nitro Química Brasileira. Foi dele a luta para criar uma empresa de capital nacional para produzir alumínio em nosso País, cujo grande insumo é a energia elétrica. E ele pôde criar um complexo de pequenas usinas produtoras de energia para o autoconsumo.

            Ele foi um brasileiro extraordinário! E dizia uma frase, meu caro Senador Jorge Viana, que marca, por assim dizer, uma compreensão desse processo que hoje vivemos: “Pobre de um país que cede as suas matérias-primas e fica importando manufaturas”. É como se ele pudesse antever esse processo que hoje nós experimentamos.

            Portanto, ao final, quero renovar o meu compromisso, que é um compromisso desta Casa, de atuarmos com um sentido de urgência necessário para levar adiante uma agenda pró-competitividade do nosso País, que passa pela retomada da agenda de reformas, pela superação do atraso institucional que temos em algumas áreas, mas, sobretudo, pela necessidade de desonerar, de reduzir custos sistêmicos, de buscar elevar a produtividade.

            Queria ouvir, com muita atenção, a minha querida Senadora Ana Amélia.

(Soa a campainha.)

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - Não vamos poder recusar, Senador Jorge Viana, a participação dela neste final da nossa fala.

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Agradeço ao Senador Jorge Viana, mas já concedi o meu lugar, em permuta, ao Senador Sérgio Souza para que ele possa falar; já fiz essa cessão.

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC) - Agradeço a gentileza de sempre.

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Eu lhe agradeço também, Senador Jorge Viana. Caro Senador Armando Monteiro, parabéns pela cerimônia de ontem, que tive a oportunidade de acompanhar. Seu pronunciamento foi realmente revelador do cenário que vivemos. Não foi um pronunciamento novo, já que temos acompanhado a sua posição sobre isso, sempre prestando um grande serviço ao País. Como sou de um Estado de grande produção agropecuária, vejo que há um discurso de que somos um País exportador de commodities agrícolas ou commodities minerais. Isso tem que mudar. É claro que isso tem que mudar, mas por que é assim? Por conta disso que V. Exa...

(Interrupção do som.)

            A Sra Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - ... tem falado tanto (Fora do microfone.), que são as condições de falta de competitividade. O nosso custo hoje é muito maior do que em qualquer lugar. Eu comprei ontem um cinto fabricado na China por R$16,00. O custo desse cinto, fabricado pelo ex-Presidente da Fiergs, que o senhor conhece, Renan Proença...

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - Conheço muito, Renan Proença.

            A Sra Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - ... custa muito mais, fabricado lá em Bento Gonçalves, que gera empregos. Então, nós estamos patrocinando os empregos lá fora e deixando de estimular aqui dentro. E também, a agropecuária, por exemplo, tem uma grande demanda industrial: tratores, colheitadeiras, máquinas semeadoras. Tudo isso faz parte do conjunto. E a indústria é fundamental. Então, essa cadeia produtiva é muito mais ampla do que simplesmente a produção de grãos. Caminhões e todo - digamos - o entorno de que se precisa para fazer grande e competitivo o País internacionalmente. Então, eu me associo ao seu pronunciamento, mas queria destacar esse papel, porque a agricultura também é uma geradora de desenvolvimento no setor industrial.

(Soa a campainha.)

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - Eu quero agradecer a V. Exa. Sei que V. Exa compartilha dessas preocupações, e eu quero que fique claro que eu não tenho, e nem poderia ter, nada contra o setor do agronegócio, por reconhecer nele uma base extraordinária de recursos que nós temos e esse encadeamento do setor primário com o setor secundário da economia, que é fundamental. Então, eu quero que o Brasil possa ser uma potência agrícola e, ao mesmo tempo, sem deixar de ser um país que tem vocação para o setor industrial e que pode, portanto, conservar-se como o mais importante parque manufatureiro da América do Sul.

            Muito obrigado, Senador Jorge Viana, pela tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2013 - Página 31348