Pronunciamento de Pedro Simon em 31/05/2013
Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Reflexões sobre ética, política e religião.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
REFORMA POLITICA, EXPLICAÇÃO PESSOAL, RELIGIÃO.:
- Reflexões sobre ética, política e religião.
- Aparteantes
- Cristovam Buarque.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/06/2013 - Página 31696
- Assunto
- Outros > REFORMA POLITICA, EXPLICAÇÃO PESSOAL, RELIGIÃO.
- Indexação
-
- REGISTRO, DESAPROVAÇÃO, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO, FICHA LIMPA, DEFESA, PROMOÇÃO, REFORMA POLITICA, OBJETIVO, GARANTIA, ETICA, POLITICA, AMPLIAÇÃO, DEBATE, SOCIEDADE, ANALISE, VIDA PUBLICA, ORADOR, COMENTARIO, IMPORTANCIA, VALOR, RELIGIÃO, HISTORIA, ENFASE, RELAÇÕES DIPLOMATICAS.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, mais uma vez, meus cumprimentos pela importância do conteúdo do pronunciamento de V. Exª.
Não há dúvida alguma de que o projeto do nosso querido companheiro Osmar Terra é de profundidade, e é a esses projetos que a Câmara se dedicou, reuniu o povo brasileiro, todas as entidades a favor e contra, foi um estudo feito com o maior carinho e com maior respeito, e Osmar Terra conseguiu uma grande vitória, e acho que a maneira de homenageá-lo melhor não é só votar a favor - V. Exª, eu e o Senador Cristovam já dissemos que vamos votar a favor -, mas é debater mais a matéria, porque essa é uma matéria que não tem limite para debater, é quase que o infinito. Então, vamos analisá-la sob o ângulo do Senado, e creio que cada um de nós tem várias tonalidades que podem dar o caráter pessoal a esse assunto.
Eu, como pai, como governador, como ministro da agricultura, como político, ao longo de mais de 50 anos, posso falar a vida inteira sobre isso, posso falar como V. Exª, um coloninho lá, de Caxias. Nunca ouvi falar de droga, não sabia o que era. Para mim, droga era - nós, em Caxias - uma porcaria que comprávamos, era o sapato em que entrava água, caderno em que as folhas arrancavam-se ao natural. Por isso, acho que me emocionei com o discurso de V. Exª. E conte comigo no trabalho que sei que V. Exª haverá de coordenar e quanto a esse eu faço questão de participar, discutir, debater, aprender e não digo ensinar, mas contar fatos que eu conheço e que podem ajudar.
Sr. Presidente, eu tinha preparado um pronunciamento, e vou apresentá-lo, sobre ética e política. Eu fiz esse pronunciamento, pensei, quando começou a correr na Câmara uma emenda querendo mexer com a Ficha Limpa, querendo alterá-la. Desculpe-me, mas eu acho um desastre. Eu acho um desastre. E quando eu vejo os Senadores que estão dentro dessa matéria, eu me apavoro, porque é um Deputado do maior estilo, um líder importante, de grande credibilidade, e que entra numa matéria dessa natureza. Não que eu não diga que o Ficha Limpa merece muita discussão e muito debate. Nós três, que estamos aqui, somos testemunhas: quando nós votamos o Ficha Limpa, foi uma espécie de golpe que nós demos - nós demos um verdadeiro golpe, que pegou muita gente de surpresa. Nós sabemos que o projeto de Ficha Limpa veio da Câmara com muitas questões que devem ser alteradas; ele não veio perfeito. Nós - Cristovam, V. Exª e eu -, como muitos Senadores, entramos com uma série de emendas para aperfeiçoá-lo. Mas quando chegou naquele dia, que era o último dia, que ou a gente votava ou morria, nós ficamos aqui para discutir. E se nós apresentássemos emenda e a emenda fosse aprovada, voltava para a Câmara e morria o projeto, acabava. Então, eu fui um dos que vim a esta tribuna fazer um apelo: “Meus colegas Senadores, eu retiro todas as minhas emendas”. E faço um apelo para que outros colegas também retirem as emendas deles. Vamos votar como está e vamos assumir o compromisso de, mais tarde, debater a matéria e fazer o aprimoramento necessário. Mas, se não fizermos isso agora, volta para a Câmara e morre; não se fala mais. E a lógica era tão correta que todos os Senadores retiraram as emendas, e vários Senadores que eram contra votaram a favor do projeto, que foi aprovado por unanimidade sob este argumento: vamos votar agora e, depois, vamos ver. Então, vamos ver.
Mas não uma emenda como a que se apresenta na Câmara. Vejam: há uma figura que acho que é unânime no Brasil. A figura deste querido cidadão, Carlos Ayres Britto, é hoje uma unanimidade nacional de seriedade, de respeito, de credibilidade. Presidente do Supremo, sim, Presidente do Supremo. Mas ele foi muito mais do que Presidente do Supremo. Ele soube conduzir aquela Casa nas horas mais difíceis, inclusive nesta da Ficha Limpa, com tranquilidade, com grandeza e com respeito.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Permita-me, Senador Simon, lembrar a política de cotas. V. Exª foi um dos que mais a defendeu aqui, quando alguns se encolhiam. V. Exª sempre defendeu, e foi sob a presidência dele que nós a aprovamos no Supremo.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - É verdade, é verdade.
E, aqui, ele faz a defesa enfática da Ficha Limpa: “Do ponto de vista da depuração ética dos costumes político-administrativos, acho um lamentável retrocesso para não dizer um desastroso retrocesso”. É a palavra do Presidente do Supremo até ontem.
Ainda espero que a Câmara não vote. Ainda espero que o nobre líder do PT de São Paulo, por quem tenho o maior carinho, o maior respeito, não avance com esse projeto. Mas, se avançar, temos de nos preparar para rejeitar aquele projeto e reconhecer que temos de entrar na reforma política e aprimorá-la, mas não da maneira como que é feita, pura e simplesmente para acabar com o projeto.
Há prefeitos que têm rejeitadas as suas contas pelo Tribunal de Contas. A emenda exige que seja votada pela Câmara de Vereadores, e, cá entre nós, sabemos, infelizmente, que a manifestação da Câmara de Vereadores é só política: se ele tem maioria, ganha sempre, por maior vigarista que seja; se ele não tem maioria, perde sempre, por maior seriedade que tenha.
Entro no pronunciamento. Algumas pessoas estranham que eu, que, na minha vida política, praticamente não entrei muitas vezes em pronunciamentos voltados à ética e ao sentimento de fé e de compreensão, desta vez tenha insistido - e venho insistindo - nas questões da ética e da política.
Talvez, Sr. Presidente, chegando aos 83 anos... E olha, lá no Ginásio do Carmo, em Caxias do Sul, com 14 anos, um coloninho que nem eu, de calça curta, fundava o Grêmio Estudantil do Carmo, porque li, no jornaleco dos lassalistas, que nos colégios grandes eles já haviam criado, e não parei mais esses debates, essas discussões, que venho fazendo até agora. Mas, agora, ao final da vida política e, naturalmente, me aproximando do final da vida física, nos meus 83 anos, acho que há algumas coisas que considero importantes. Tenho falado, tenho sido chamado e tenho ido a reuniões a que nunca tinha ido antes: reuniões de católicos, reuniões de protestantes, reuniões de evangélicos, reuniões de professores, reuniões de líderes sindicais, enfim, reuniões de vários segmentos que não têm nada de política partidária, mas que querem discutir com a nossa sociedade.
V. Exa, Senador Cristovam, é o maior exemplo que eu vejo nesse sentido, pelo seu esforço emocionante para fazer com que toda a sociedade se interesse pela saúde e, de modo especial, pela educação. A convocação e as viagens que V. Exa faz, sem nenhum cunho político de interesse futuro, são apenas para levar ao interior do Rio Grande ou ao interior do Nordeste essa causa, que, como diz V. Exa, só haverá de ir adiante quando a nossa sociedade aceitar e entender que é ela que deve conduzir, e nós, atrás dela.
Fui surpreendido com um convite do Conselho de Pastores Evangélicos no Rio Grande do Sul para fazer uma palestra e debater com eles ética, política e também cristianismo. Eu me senti muito honrado em participar de um encontro que tinha como meta discutir essas matérias com pessoas com as quais eu não tinha maior intimidade.
Na palestra, eu contei àqueles mestres, muitos pastores, que tinha muito orgulho de dizer que estas três palavras sobre as quais eles me convidaram para falar - cristianismo, ética e política - sempre estiveram no centro da minha existência.
Desde jovem, desde os bancos escolares, sou alguém que - eu não sei por que - sempre teve vocação para a política.
Eu entendo como política a luta que se dá no interior de uma sociedade, tendo como objetivo alcançar o bem-estar da maioria da população.
E todo avanço social, todo avanço econômico resulta de um debate político, de uma votação em algum Parlamento.
A minha vida está ligada, indissociavelmente, à atividade parlamentar. Alcancei meu primeiro mandato eleitoral com vinte e poucos anos, quando me elegi Vereador na nossa Caxias. Depois, passei dezesseis anos na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Passados os primeiros quatro anos, insistiam os colegas que eu devia vir para Brasília, mas, com a ditadura... Eu cheguei à Assembleia um guri, vindo do governo Juscelino, com uma atuação na vida estudantil emocionante - como eu vejo com saudade o que foi a minha vida estudantil, com a figura de Juscelino na Presidência, com um País de liberdade, de debate, de discussões, de crescimento e de avanço! Depois de um ano ali chegado, veio a Revolução.
E no Rio Grande de Sul houve uma limpeza geral: caçaram, prenderam, mataram; gerações foram afastadas da política. Terminei eu, um guri de primeiro mandato e no segundo ano de desempenho, chefe de partido. Era o que tinha sobrado, até porque ninguém queria. O troço era muito violento. Para nós do velho PTB do Rio Grande do Sul, que tinha história, que tinha biografia - Getúlio Vargas, Pasqualini, Jango -, a hora era muito difícil, e eu tive de ficar. Fiquei, fiquei e, infelizmente, quando Brizola voltou, a minha tese era a de nos unirmos, darmo-nos as mãos para fazer um grande movimento de resistência, de convocação de uma assembleia nacional constituinte, de reorganização da vida partidária.
Foi feito um acordo com o Sr. Golbery no sentido de, como a Arena estava esvaziada, desmoralizada. ridicularizada, fazer um pluripartidarismo falso. O Brizola concordou em fundar o seu PTB, que depois lhe tiraram, e criou o PDT.
Por essas razões, eu tive de ficar no Rio Grande - tive de ficar ali por mais tempo que o necessário -, embora, nesses 16 anos como Deputado Estadual, eu tenha passado metade dos dias aqui em Brasília, com o Dr. Ulysses, com Teotônio, com Tancredo, pela importância do nosso MDB do Rio Grande do Sul, pela importância do nosso trabalho.
Mas lá fiquei por 16 anos, e agora estou no Senado. Cheguei aqui em 1979, eleito em 1978. Foram quatro anos como Governador, um período como Ministro da Agricultura, e o resto aqui nesta Casa.
Ao longo desse tempo, eu aprendi a conhecer a importância do Legislativo. O Parlamento é o local onde...
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Pedro Simon, permita-me.
O tempo de visita se encerrou. Alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo das Faculdades Integradas Alcântara Machado e da Faculdade de Artes Alcântara Machado, vocês estão se retirando, mas saibam que estão ouvindo aqui um Senador que é um ícone para todos nós.
Levem para a sua cidade que vocês estiveram em Brasília e assistiram a um discurso do Senador Pedro Simon, com a presença do ex-Governador Cristovam Buarque - o Senador Pedro Simon também foi Governador - e deste negro operário na Presidência.
Sejam bem-vindos e bom retorno. (Palmas.)
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Vocês não calculam como é bom vocês estarem aí: manga de camisa, saem pela porta que entraram; vocês têm um guarda, vocês podem olhar, virar a cara para ele, não há nenhum perigo. Essa é a democracia. Mas perguntem para os pais de vocês como foi difícil mantê-la, como era difícil, na ocasião: eles estavam aqui, daqui a pouco desapareciam, e a gente levava um tempão para descobrir. E feliz se a gente os encontrasse vivos.
Um abraço, irmãos.
O Parlamento é o local onde são discutidas as diferentes visões econômicas, sociais e políticas de como deve ser uma nação. O Parlamento é um campo de batalha, no qual as únicas armas empregadas - ou que deveriam ser empregadas - são a palavra e o voto. Como todo processo efetivo na vida de um país decorre da luta política, é óbvio que não pode haver progresso em uma ditadura.
Depois dessa confissão de fé na política, analiso a questão, sempre polêmica, da junção da ética com a política. Frequentemente as pessoas me questionam: será que ética combina com política? Eu respondo que sim. Minha vida pública, até aqui, tem sido uma luta incessante, para que, no Brasil, se consiga compatibilizar uma administração pública com decência e com dignidade.
É uma luta dura, eu sei, mas nunca me senti só. Estamos aqui, ali está o Cristovam, ali está o Paim, e tantos quantos têm esse mesmo ideal. V. Exª, com lutas constantes e permanentes, e a gente sabe disso, e, às vezes, com uma organização partidária. E V. Exª consegue manter os seus compromissos com a ética e com a política. V. Exª, Senador Cristovam, mudou de partido. V. Exª que era um daqueles que, dentro do PT, levava o mundo a acreditar que aquela gente organizada por Dom Evaristo, que tinha caminhado, que vinha para um mundo novo... Olhando para V. Exª, olhando para o Frei Beto e tantos outros, não havia dúvida nenhuma de que era um mundo novo.
Eu sofri muito com a saída de V. Exª do PT. Eu sofri muito com a saída de Frei Beto. E não vamos citar aqui tantas e tantas pessoas que deviam estar lá e não estão. Mas V. Exª saiu para ficar com o seu princípio: da ética e da dignidade dentro da política. Eu garanto que há um grande número de brasileiros para que se acabe com a corrupção e se mantenha essa linha da ética e da dignidade.
É bom esclarecer que as pessoas decentes são das mais diferentes orientações religiosas, das mais diferentes agremiações partidárias e das mais diferentes profissões. Não dá para dizer que advogado é mais ou é menos; que católico é mais ou menos que cristão; não dá para dizer que o partido A é mais ou menos que o partido B. A divisão partidária no Brasil é tão anárquica, é tão sem conteúdo, é tão sem profundidade. Se nós quiséssemos reunir os chamados éticos e ir para um ou outro lugar, escolher o lugar, não dá para dizer que é este, porque todos têm o ótimo e todos têm o péssimo, mas em todos há uma grande maioria de dignos, de éticos e de moralistas.
Por isso, é interessante dizer: a decência não é monopólio de um grupo político, como apregoam alguns.
Agora, quando se antecipa uma eleição presidencial fora de hora, chega a ser ridículo quando a gente vê os debates do candidato A com o candidato B; do partido A com o partido B, quem é o dono da ética ou quem é o dono da dignidade.
Até porque, com todo o respeito, para mim, eu não vejo nada tão parecido com o PSDB do Fernando Henrique na Presidência com o PT do Lula na Presidência. Sinceramente, eu não vejo diferenças; eu não vejo interrogações; eu não vejo coisa nenhuma! Para mim, é a mesma linha, é o mesmo estilo e a mesma força.
Eu tenho o maior respeito pelo Lula, pela Dilma, como tenho o maior respeito pelo Fernando Henrique e pelo Serra, nas qualidades e nos equívocos e desgovernos que ambos praticaram. Não vejo nem um lado nem o outro pegar a bandeira, levantar e dizer: “Essa é minha! Não é tua, PSDB!”. Ou o PSDB levantar a bandeira e dizer: “Essa bandeira é minha! Não é tua, PT!”.
No fim é a mesma coisa, do mesmo jeito, da mesma forma, inclusive no relacionamento com o Congresso Nacional. Inclusive naquilo que é a grande tese de, com 20, 30 partidos políticos, com partidos sem ideia, sem conteúdo, sem nada, terem de conviver, terem de encontrar uma fórmula de andar, de marchar, de ir junto, e essa forma seja o “é dando que se recebe”. Foi assim no Governo do Fernando Henrique, foi assim no Governo Lula, e está indo para isso, no Governo da atual Presidente.
Meu amigo, desculpe-me, pode ser até pecado o que vou dizer: não foi assim no Governo Itamar. Eu presidi, fui Líder do Governo Itamar durante dois anos e não sei quantos meses nesta Casa. No Governo Itamar não existiu o “é dando que se recebe”.
A lei talvez mais importante dos 35 anos que estou nesta Casa; a lei mais positiva, mais concreta foi a que criou o Plano Real. Foi corajosa, foi inteligente, foi competente, diferente do Plano Cruzado, independente do Cruzado Novo, independente do Sr. Presidente Collor, do seu projeto, o Plano Real foi feito com medida, com cautela, foi feito nesta Casa, não por medida provisória. Foi debatido nesta Casa, os Ministros vieram várias vezes e mudaram várias vezes para ser aprovado. Não teve um emprego, uma emenda, nada que um Deputado ou Senador tenha dito para votar: eu fiz isso, ou eu fiz aquilo. Isso é importante salientar. Para o Governo Itamar Franco a governabilidade não significava troca-troca. Convidou a Ministra Erundina, do PT, que, para aceitar, teve que sair do PT porque o PT jogava contra o Governo Itamar, era contra o Real, não esperava que o Real desse certo, votou contra. Mas o Governo foi heterogêneo, ocupou-se de todos.
Eu diria que os brasileiros éticos são aqueles que colocam os interesses nacionais acima dos seus sonhos individuais. E eu, Pedro Simon, sou um inexpressivo discípulo de Alberto Pasqualini, um dos mais destacados sociólogos políticos na história deste País, teórico do trabalhismo brasileiro. Pasqualini tinha justiça social e a ética como metas principais de seu trabalho político. Sempre trabalhei nesta mesma linha. E pela firmeza dos princípios de Pasqualini, pela sua dignidade e pela sua retidão, ganhou para o Senado, mas perdeu duas vezes para o governo do Estado.
Que os acordos, os arreglos feitos, inclusive candidato pelo PTB quando Getúlio era candidato a Presidente da República e ele a Governador... Desculpe, Dr. Getúlio, mas o Getúlio apoiou mais o candidato do PSD, Jobim, do que o candidato do PTB, Pasqualini. Que tinham medo do Pasqualini: esse Pasqualini pode ser comunista, não sei o quê... Tinham medo da ideia social, tinham medo da dignidade, do caráter, da firmeza do Pasqualini.
Lá adiante, quando ele foi candidato novamente a governador, o boicote foi total. O boicote foi total, e ele não ganhou. Mas as suas ideias estão aí. Eu sou responsável por quatro volumes da Biblioteca do Congresso, que a Gráfica do Senado aprovou, votou, escreveu, publicou e distribuiu, das ideias de um homem, que ainda não são nacionais, porque infelizmente poucos têm a coragem de debatê-las.
Está aí um nome, meu querido Cristovam, que V. Exª não sei se já leu, mas devia ler mais. Eu vou lhe dar cópia de tudo para V. Exª ver o impressionante na personalidade do Pasqualini.
Em 1937, com a intervenção, ele foi parar na Secretaria da Justiça do Rio Grande do Sul. E lá ele bateu na mesa: “Aqui não tem censura”. E o governador dizia: “Como é que é?”. E ele: “Como é? Não, pode publicar o que publica porque não admito censura”.
Por isso não cresceu. Aqui defendeu com profundidade o BNDES, o Banco do Brasil, a Petrobras, as grandes ideias sociais, mas na política não teve vez. Brizola, Jango, outras pessoas com a malícia e com o jeitinho brasileiro passaram adiante um homem com ética, com seriedade, que dizia as coisas que eram e como deviam ser, e não aquilo que precisava dizer para ganhar o voto.
Embora o número de bons políticos seja maior do que se imagina, o povo brasileiro tem uma má impressão dos que exercem a vida pública. E, cá entre nós, o povo brasileiro tem razão. A verdade é que, nos últimos anos, assistimos a uma quase interminável série de escândalos no meio político. E, lamentavelmente, muitos desses escândalos referem-se à malversação do dinheiro público. É forte a sensação de que, em nosso País, reina a impunidade total para os que cometem crimes contra a Administração Pública, especialmente aqueles que ocupam os cargos mais elevados. Frequentemente, a população brasileira se sente abandonada, impotente, desiludida, diante das denúncias da imprensa.
É por isso que eu digo e repito da tribuna do Senado: o povo brasileiro deve vigiar de perto os homens públicos brasileiros. O povo deve cobrar dos políticos que lutem para pôr fim às mazelas sociais que nos infelicitam e envergonham. O povo deve exigir dos seus representantes que se mantenham longe das más práticas políticas: a troca de favores, as negociações escusas, a corrupção, o compadrio, o clientelismo. Em suma, o cidadão brasileiro deve pedir aos seus homens públicos que sejam éticos.
Eu sempre achei, na minha talvez ingenuidade, que seria importante unir a atuação política ao pensamento cristão. Em outras palavras, levar adiante uma atuação política levando em conta os valores do Evangelho.
Quando analisamos em conjunto esses temas - política, ética e cristianismo -, chegamos ao cerne desse nosso tempo de tantas e tão profundas dificuldades para o ser humano. São muitos e grandes problemas universais que nos angustiam. Eu destaco, por exemplo, o aparente declínio da religiosidade, paralelamente ao avanço do egoísmo, do ateísmo e do consumismo. Ressalto ainda a fome, a miséria e a falta de perspectiva de ascensão social para uma vasta fatia da espécie humana.
Vivemos hoje num mundo assolado pelo materialismo vulgar, pela pobreza espiritual, pelo individualismo, pela indiferença aos mais pobres, pelo consumismo desenfreado e pela ganância. A situação é dramática, mas eu acho que os políticos cristãos devem trabalhar para mudar esse quadro. Os políticos devem atuar com os olhos voltados para a caridade e para a solidariedade. O acúmulo de 2 mil anos de história desenvolveu nos cristãos um olhar mais aguçado para perceber as contradições do mundo. O Cristianismo produziu, nesses 20 séculos, um verdadeiro manancial de ensinamentos em defesa da dignidade da pessoa humana.
Vivemos hoje uma vida muito movimentada. O mundo exige de nós que nos mantenhamos em agitação o tempo todo. Nunca estamos sós. Há sempre um computador, uma televisão, um rádio, um aparelho de som por perto. Seja em nossa casa, seja no ambiente de trabalho, não temos mais o silêncio necessário ao recolhimento que é reflexivo, ao recolhimento que dá fruto.
Essa reflexão espiritual deverá resultar, é claro, numa prática mais intensa, numa dedicação maior ao trabalho pelos nossos irmãos mais necessitados. Proponho, agora, refletirmos sobre os valores como caridade e solidariedade.
Nós, cristãos, somos movidos pelo amor ao próximo; nós, cristãos, vivemos para partilhar e compartilhar nossas experiências, nossos conhecimentos e nossos bens. Pode-se dizer, portanto, que o cristão é levado, desde o início de sua formação, a buscar o bem comum. Queremos buscar uma vida melhor? Sim, mas que seja uma vida melhor para todos.
Os cristãos têm de ser cidadãos participantes, interessados de que a vida seja melhor ou menos sofrida para todos que o cercam, na nossa cidade, no nosso universo. Os cristãos devem ser solidários. O que é a solidariedade? Nada mais do que o princípio da partilha. O ser solidário é justamente o contrário do ser indiferente. Ele se preocupa pelos que sofrem e, mais do que isso, trabalham para que lhes sejam amenizados os males. A solidariedade e a caridade são os traços diferenciados do cristão.
Apresentei uma proposta, aceita pela Mesa, de o Senado levar uma representação à Jornada da Juventude. Não sei se o Presidente Renan e sua assessoria da Mesa estão tomando as providências de, se possível, ter alguns minutos com o Papa no Rio de Janeiro.
Eu sou um homem que se emocionou com o nosso Papa. Eu vinha angustiado na expectativa do que iria acontecer naquilo que sabíamos que estava a caminho na sucessão do Papa Bento XVI. Acho que Sua Reverendíssima teve um elevado gesto de grandeza ao renunciar. E eu me emociono quando vejo na televisão, pela primeira vez, dois Papas juntos: Francisco, em pleno exercício, e Bento XVI, o Papa emérito. Bento XVI fazendo o que disse que faria, uma vida solitária, meditando, rezando e torcendo para que o seu sucessor vá bem.
Confesso que, desde que saiu a noticia do Papa Francisco até agora, veio tendo emoções acumuladas, na sua seriedade, na sua humildade, na sua maneira de ser. Coisas simples: ele, já Papa, pagar a despesa da hospedagem; ele, já Papa, guiar. Nunca tinha visto, nunca se tinha comentado sobre os aposentos do Papa no Vaticano. O máximo que a gente via era o Papa na janela. Daí, sai a notícia de que o Papa Francisco tinha olhado os aposentos a ele reservados e tinha dito: “Mas isso aqui é um condomínio”. E pedira que fosse reservada uma parte muito menor para ele. E continua lá, praticamente num hotel destinado aos cardeais quando estão em Roma, no Vaticano.
A escolha do nome de Francisco, quando o Cardeal brasileiro, confirmada a sua indicação, bateu nas costas e disse: “Não esqueça os pobres”. E, naquele momento, ele escolheu o nome Francisco. Ele contou isso na sua primeira fala. Quando lhe perguntaram qual seria o nome, ele disse: “O cardeal brasileiro, quando ficou esclarecido que o nome seria o meu, bateu nas minhas costas e disse: ‘Não se esqueça dos pobres’. E eu escolhi o nome de Francisco”.
Acho que os precedentes que se falam dele - essas páginas amarelas da Veja, do ilustre representante, chefe do judaísmo em Belo Horizonte, dizendo que ele era o maior amigo do Papa, antes, quando ele era padre ou bispo em Buenos Aires; a convivência que eles tinham, andando de ônibus ou de metrô, e as conversas que eles tinham sobre o que pensavam da humanidade - me levam a acreditar que nós tenhamos, talvez, a oportunidade de um fato novo. Não sei, mas essa coincidência, a mim, me emociona. Um encontro da mocidade do mundo inteiro, no Rio de Janeiro, com o Papa Francisco. Creio que alguma coisa nova haverá de acontecer.
Tenho dito que o mundo nunca esteve tão vazio de grandes líderes, de grandes nomes como atualmente. O Obama, em quem eu tinha uma esperança tão grande, acho que é um grande nome, mas a política dos americanos, o Congresso Nacional não o têm deixado avançar como deveria. Então, a sua palavra, a sua orientação, o seu estilo, nesses quase 5 anos de mandato, têm sido longe do que a gente imaginava, da sua pregação na primeira campanha.
Embora tenha que se fazer justiça, porque o que ele prometeu com relação à saúde ele fez, dentro do possível. Quanto à penitenciária em Cuba, ele está tentando fazer e o Congresso não deixa. Mas ele não conseguiu se firmar.
A França, meu Deus, onde está De Gaulle? Onde está Mitterand? A Inglaterra, meu Deus, pelo menos o primeiro-ministro é um pouquinho melhor do que o outro trabalhista, que era quase que um cachorrinho do americano; a Alemanha, pelo menos, tem uma líder que pensa, que fala, que impõe, mas sem grandeza; a Itália, coitada da Itália, com aquele primeiro-ministro, que ainda dizem que foi o melhor primeiro-ministro da história; a Rússia, até sou sincero em dizer que respeito a figura daquele primeiro-ministro, hoje presidente e outra hora primeiro-ministro. A Rússia teve uma transformação quando a União Soviética acabou, mas não teve a competência de conduzir, como a China conduz, e está vivendo horas difíceis e amargas, onde hoje os maiores capitalistas do mundo eram aqueles que eram os chefes do Partido Comunista e que, com as privatizações, ficaram com os grandes capitais na Rússia. A China, nem sei o que dizer; o Japão também não. A América Latina, ainda vejo na nossa Presidente a que merece mais respeito. A África, meu Deus, quão longe do Mandela estão os atuais dirigentes!
Isso que está acontecendo na Síria não dá para entender. Não é nenhuma disputa. Vamos fazer justiça, a culpa não é da Rússia, nem da China, nem dos Estados Unidos, nem de Israel. É uma briga interna. A ONU, essas nações e o Conselho de Segurança não têm autoridade de parar, não têm condições de parar. E já são 80 mil mortos na estupidez de uma guerra civil cujo motivo é um ditador, filho de outro ditador que inferniza a vida na Síria.
Mas não há líder. Nem os palestinos, que tinham um vulto que era uma liderança enorme, nem Israel, de grandes nomes do passado. O mundo vive uma hora de uma tremenda falta de liderança. Por isso, eu vejo que, nesta reunião do Rio de Janeiro, o Papa pode iniciar uma movimentação, e essa movimentação, por mais importante que seja, não é no sentido de aumentar o número de cristãos - isso também é importante -, não é no sentido de se preocupar que o catolicismo está diminuindo na Europa, no Brasil e por aí afora - o que também é importante -, mas eu acho que não há uma segunda pessoa em condições de, realmente, falar e tentar reunir aquilo que talvez...
Quando terminou a Grande Guerra, o Churchill, com o Stalin e com o Roosevelt, propôs que se convidasse também o Papa para fazer parte da reunião para discutirem o pós-guerra. E o Stalin teria perguntado: “Mas quantas divisões tem o Papa? O que ele representa?” Realmente, hoje, até mais do que naquela época, o Papa representa menos sobre a realidade do poder na humanidade. Mas seria importante que se iniciasse esse movimento e que o Papa pudesse iniciá-lo; pudesse, no Rio, no meio dessa convocação, solicitar uma reunião das grandes lideranças do mundo; pudesse discutir, numa hora em que, cá entre nós, hoje, a ONU é uma entidade de mentirinha.
Posso dizer que a ONU não vale nada. A ONU é como o Senado: não vota nada, não vale nada, não representa nada. O que vale é o Conselho de Segurança. E lá, no Conselho de Segurança, o que valem são as nações cativas, permanentes, que estão lá o tempo todo: França, Inglaterra, Rússia, China, Estados Unidos. Esses têm o poder de veto e esses é que podem decidir o que é e o que não é. Esses é que desmoralizam a Assembleia Geral das Nações Unidas.
A Assembleia Geral das Nações Unidas já aprovou, com imensa maioria, que a Palestina se integre à ONU e seja considerada uma nação, mas, como o Conselho ainda não aprovou, não vale nada. Ela pode entrar, assistir sentada, na expectativa de que pode ser, mas não é. A imensa maioria da Assembleia disse que é, mas a minoria do Conselho de Segurança, dos cinco que têm direito a veto, um dizendo que não, não pode pertencer.
Na Guerra Fria, o mundo inteiro ficava naquela expectativa, entre o Presidente americano e o Presidente russo, do telefone vermelho dos dois. Os dois tinham um telefone direto de um para o outro. E, qualquer coisa, um avisava o outro.
Foi o que aconteceu em Cuba. Quando a Rússia enviou os foguetes para Cuba, o mundo ficou naquela expectativa, e o americano se preparou para o ataque. Houve um telefonema, e a Rússia concordou em retirar. Ela retirou os foguetes, e não houve nada.
Essa era a linguagem. A linguagem do mundo era entre um telefone vermelho, que quem podia usar era o Presidente Roosevelt e o Presidente americano. A humanidade inteira ficava assistindo. Falava, gritava, etc. e tal, mas era por aí.
Hoje não há mais a Guerra Fria. Caiu o Muro de Berlim, desapareceu a União Soviética, a Rússia não tem mais aquele poderio, aquela força, aquela autoridade que ela tinha no mundo. De certa forma, pode-se dizer que ela foi substituída pela China. Eu não consigo entender por que a China, que era um comunismo muito mais duro do que o russo, um regime muito mais fechado do que o russo, como é que o russo se esvaziou e a China consegue viver?
Quando eu estive em Hong Kong, fiquei impressionado porque, em Hong Kong, a Embaixada da China funcionava como se fosse o governo da China. A empresa de aviação aérea chinesa funcionava como se fosse o Ministério das Relações Exteriores da China. E, já naquela época, ali, do outro lado da ponte que saía de Hong Kong rumo ao continente da Rússia, ali era território chinês, mas já se permitia que as fábricas capitalistas que tinham sede em Hong Kong, como não havia mais como se expandir, podiam se expandir no território da China. Lá na China, eram capitalistas, obedeciam às regras do capitalismo. Não recolhiam imposto e não tinham as proibições, e não tinham nada. E, assim, a China foi indo. Macau, território português passou para a China se transformou numa terra de jogo, uma miniatura do que há nos Estados Unidos. Não com tanta suntuosidade, mas era um território, em plena China, onde o jogo era aberto e que funcionava às mil maravilhas. E a China está aí, ocupando uma posição, dialogando.
A Europa, é engraçado. Eu não sei se V. Exª pensa como eu, Senador Cristovam, mas a Europa, no século passado, por duas vezes ficou em uma posição econômica, política e militar mais forte do mundo e suportou duas guerras que estavam praticamente vencidas e perdeu as duas. Ela foi esfacelada. Agora, no terceiro milênio, sem guerras, sem nada, não faz parte do Conselho de Segurança da ONU, não tem força nesse sentido, não tem exército ou coisa alguma. No entanto, quem dita as normas, quem manda hoje na Europa é a Alemanha. Nunca Hitler, que berrava daquele jeito, batia na mesa, teve tanta expressão e ação como a primeira-ministra da Alemanha, a quem todos obedecem, de quem todos têm medo.
Interessante essa posição da Alemanha. Com a Inglaterra louca de raiva, mas ela, com uma humilhação aos Estados Unidos, digamos assim, não tendo uma política própria, uma ideia própria dela, Inglaterra, vem sendo apenas repetitiva do americano. A Inglaterra não tem a simpatia nem da França, nem da Itália, nem de ninguém. E todo o mundo, apesar das restrições, tem que reconhecer que quem dita as normas, quem orienta é a primeira-ministra alemã.
Então, neste mundo, passa pela cabeça de alguém a ideia de que, agora, no mês que vem, o Obama, o chefão da Rússia, o Putin, a Alemanha, a China vão se reunir e fazer qualquer coisa de bom e de útil, acima de bem e do mal, acima do comunismo ou do capitalismo, acima da China ou dos Estados Unidos, algo de bom para a humanidade? Não passa pela cabeça de ninguém isso.
É aí aonde eu quero chegar. Pessoas como V. Exª, Senador Cristovam, nós deveríamos fazer um movimento neste sentido. Pelo menos hoje, amanhã, maio, junho e julho,
Acho que é um momento em que algo pode ser iniciado nesse sentido, e a presença do Papa na reunião, como cidade do mundo inteiro.
É por isso que eu acredito, eu espero, eu tenho a convicção e, por isso, eu tenho a esperança, não sei se teremos chance, de que haja dois minutos para o Papa receber a comissão do Senado.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Pedro Simon, permita-me responder a V. Exª, eu ia responder no final, mas, antes do aparte, o Presidente da Casa, Renan Calheiros, disse que a comissão já está pronta, e V. Exª é o número um dessa comissão. A comissão vai ao Papa, e o Papa vai receber.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - O Papa vai receber?
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Vai receber.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu ainda não sabia.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Se V. Exª quiser, eu digo aqui.
Claro, vai ser encabeçada pelo Senador Renan Calheiros, em seguida, Senador Pedro Simon, Vital do Rêgo, Francisco Dorneles, Lindbergh Farias, Ruben Figueiró, Cícero Lucena, Paulo Paim e Inácio Arruda. Vou estar com V. Exª e com o Papa.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Falta botar o Cristovam.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - É que essa é a relação que eu recebi aqui.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Mas eu fico feliz, porque vejo com muito entusiasmo, mas acho que a minha intuição me diz que pode nascer algo de uma grande ideia, que começa no Rio de Janeiro, e o mundo aceite.
Eu peço, primeiro, obrigado e, em segundo lugar, desculpa, por eu ter me alongado, Sr. Presidente.
E dou o aparte, com muito carinho, ao meu amigo Cristovam.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Eu presidindo, o seu tempo não tem limite.
Senador Cristovam, com a palavra.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Pedro Simon, o senhor falou aí em recolhimento e reflexão. E eu fiquei aqui, no meu canto, recolhido, refletindo, e é impossível dar um aparte com toda a dimensão do seu discurso, por isso eu escolhi alguns pontos. O primeiro é a ideia do francisco, mas não Francisco nome próprio, o francisco adjetivo. Quem é Francisco pela escolha de um comportamento que a gente sabe que é estar ao lado dos pobres. Cada político devia ser um francisco, mas a gente está mais para Rockfeller ou para Eike Batista do que para Francisco. Nós estamos muito mais orientados - eu nem falo em termos só de privilégio - para a ideia de riqueza, até com a promessa de riqueza para todos, essa demagogia, do que mesmo para a ideia de um mundo que o senhor definiu como cristão, onde o amor ao próximo prevaleça sobre a ideia de quem é mais rico; onde o bem-estar prevaleça sobre a ideia do progresso. Então, trazer aqui a figura do Francisco, nome próprio, o Papa, é muito oportuno para a gente lembrar de que está precisando de mais franciscos no mundo, sobretudo na política. Como o senhor falou, a política tem que estar junto da ética. E a ética que a gente precisa é uma ética mais para Francisco do que para Rockefeller, só que essa ética vai exigir uma postura nossa muito radical, de ruptura com o próprio modelo civilizatório. Eu não falo econômico, entre socialismo e capitalismo. Romper com a história do progresso até aqui, porque, nesses 250 anos, o progresso tem sido, ao mesmo tempo, um conto de fadas e um conto de terror. Ele é um conto de fadas no que se refere à saúde, por exemplo, no que se refere a ir à lua, no que se refere ao conforto que nós temos. Eu falo a humanidade inteira, embora má dividida. Mas é um conto de terror, pela destruição ao meio ambiente, pela desigualdade. A saúde teve um avanço fenomenal, mas alguns continuam com a saúde do século XIX. Então, nós estamos no momento em que precisamos escolher se o progresso vai ser um conto de fadas ou um conto de terror. Sobre aquilo que o senhor falou: se China, Estados Unidos etc. se juntassem e pensassem não em termos de cada país, mas em termos do futuro da humanidade, a gente poderia encontrar um caminho, só que não vai encontrar esse caminho se não mudar o propósito do progresso. Aí entra o Papa. O Papa tem menos compromisso com eleitores ou, melhor, não tem compromissos com eleitores. Ele não tem compromisso nem mesmo com esse mundo. Ele tem compromisso com um mundo até muito mais distante. Poderia ser a pessoa para levantar uma bandeira alternativa, de um progresso alternativo, que nossos Chefes de Estado não conseguem, porque estão presos, inclusive, ao voto. E sem o voto é ditadura. O Papa nem é ditadura nem precisa de voto. Aí há outro ponto que mostra isso no Brasil. O senhor falou como são parecidos PT e PSDB. Não são só esses dois. Todos somos parecidos - e desde Itamar, não a partir de Fernando Henrique Cardoso. Uma das grandes coisas desses últimos 20 anos no Brasil foi a permanência do mesmo governo, com o nome de Itamar, com o nome de Lula, com o nome de Fernando Henrique, com o nome da Dilma, mas o mesmo conceito: o respeito à democracia, mas uma democracia sem-vergonha - vamos chamar assim; o respeito à estabilidade monetária, mas um respeito que está ameaçado; o uso da generosidade do Bolsa Família, que começa com Fernando Henrique, mas uma generosidade insuficiente, porque é dada com R$70 - chega até um pouco mais em alguns casos, mas não dá escola, não dá saúde, não dá emprego, não dá cultura; e a busca de um crescimento superado, pois é um crescimento econômico depredador da natureza, como agora, em que estamos para aprovar pelo Plenário a possibilidade de, na Região Amazônica, se poder plantar álcool, cana para produzir álcool; e um modelo concentrador, porque o modelo econômico é concentrador por sua definição. Um modelo econômico que baseia o seu sucesso na produção de automóveis é concentrador, porque precisa ajudar alguns a comprarem auto e não a comprarem comida, não a terem escola, não a terem saúde. Por isso, foi o mesmo modelo; só que está se esgotando. Está se esgotando na Europa, nos Estados Unidos, no Brasil. A gente talvez adie um pouco mais, porque, como a gente não chegou ao nível deles, a gente ainda tem um pouco a avançar. Mas está se esgotando. E aí a gente talvez precise de um Papa nosso, talvez a gente precise de um Francisco no Brasil. Não basta procurar só um Francisco no mundo. É preciso um Francisco no Brasil. E esse Francisco não vai ser uma pessoa. Teria de ser um projeto construído por pessoas, no plural. Essa devia ser a tarefa da gente. Se é difícil colocar a China, os Estados Unidos, líderes para buscarem um projeto para a humanidade, porque é tão difícil colocar cada um de nós buscando um projeto para o Brasil? É claro que alguns não vão querer, porque têm interesses pessoais no que está aí, ou seja, mesmo essa parte do terror os beneficia também. Então, não estão ligando para encontrar alternativa. Mas alguns aqui deveríamos encontrar uma alternativa. Esse talvez seja o seu desafio, até porque o mais próximo de Francisco aqui é o senhor, que explicitou a sua opção de franciscano, que se preocupou em ir ao Papa e teve essa delicadeza.
(Soa a campainha.)
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Então, talvez caiba ao senhor esse papel de começar a ajudar este grupo aqui a construir uma ideia nova de progresso. Não é de retomar o progresso. Esse progresso que está aí, uma parte dele é um conto de terror. Temos que borrar essa parte: a parte de aumento da desigualdade, a parte de depredação da natureza, a parte da inviabilidade de continuar, porque tudo que faz gera problemas. Eu acho que talvez o senhor pudesse assumir um pouco o papel de nosso Francisco e quem sabe sua visita ao Papa Francisco não ajude a inspirá-lo nessa missão. A gente precisa de alguém que faça não para o sozinho, mas para liderar uns francisquinhos que, juntos com um Francisco, queiram ter um projeto novo para o Brasil. Essa, eu diria - o senhor falou em recolhimento e em reflexão -, é a reflexão que eu fiz enquanto o senhor falava. Eu espero que ela não seja apenas uma reflexão vazia, mas que seja, sim, uma convocação para que o senhor nos ajude a procurar um caminho para um novo progresso no Brasil.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu disse que faltava o Senador Cristovam: agora, está completo. V. Exª foi de uma felicidade total e acho que pela profundidade da manifestação de V. Exª nós, inclusive, temos que nos reunir e discuti-la, e principalmente tê-lo conosco onde quer que seja.
Muito obrigado a V. Exª. Acho que V. Exª foi muito feliz e muito objetivo dentro de uma realidade que está aí. Não importa a gente pensar de um jeito; o mundo que está aí é esse aí, e alguma coisa de útil que pode ser feita, com chance de dar certo, é essa que a gente está propondo.
Eu agradeço, e agradeço a V. Exª pela generosidade do meu tempo.
Obrigado.