Discurso durante a 86ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Responsabilização do Governo Federal pelo boato sobre o falso fim do Programa Bolsa Família.

Autor
Jarbas Vasconcelos (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PE)
Nome completo: Jarbas de Andrade Vasconcelos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Responsabilização do Governo Federal pelo boato sobre o falso fim do Programa Bolsa Família.
Publicação
Publicação no DSF de 04/06/2013 - Página 32407
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, ANUNCIO, FALSIDADE, INFORMAÇÃO, EXTINÇÃO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, BOLSA FAMILIA, RESULTADO, EXCESSO, PESSOAS, RETIRADA, BENEFICIO, AGENCIA, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, DENUNCIA, ANTECIPAÇÃO, PAGAMENTO.

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco/PMDB - PE. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em que pese a imagem propagada pelo marketing petista de que o País é comandado por uma gestora excepcional, o Governo da Presidente Dilma Rousseff voltou a trocar os pés pelas mãos nesse episódio obscuro do boato sobre o falso fim do Programa Bolsa Família.

            Está claro, Sr. Presidente, que o Governo tem total responsabilidade pelos tumultos causados na corrida de milhares de pessoas às agências da Caixa Econômica Federal nos dias 18 e 19 do mês de maio passado.

            A Presidente Dilma é a principal responsável pelo sofrimento dessas pessoas, mas, mesmo assim, teve o disparate de afirmar, no dia 20 de maio, num palanque armado, em meu Estado, Pernambuco, no Porto de Suape, que o boato era “algo absurdamente desumano e criminoso”.

            Por que a Presidente da República escolheu Pernambuco, no primeiro dia útil após os tumultos, para fazer um discurso no qual disse que não abriria mão do Bolsa Família? Àquela altura ela já tinha informações internas apontando a Caixa como causadora do boato. Mesmo assim, a Presidente Dilma foi ao Porto de Suape e fez um discurso de vítima, eleitoreiro, quando, na verdade, deveria se desculpar por mais essa trapalhada do seu Governo.

            Já o ex-Presidente Lula disse que o boato foi um "vandalismo" e uma "ofensa aos mais pobres".

            E quem foi o desumano, quem cometeu esse crime contra os beneficiários do Bolsa Família? Quem foram os vândalos que ofenderam os pobres? A resposta é simples: o Governo do PT e os seus gestores aloprados.

            A história é fácil de entender: por uma razão que ainda não foi devidamente explicada, a Caixa Econômica Federal antecipou o pagamento do Bolsa Família para parcela dos beneficiários, e isso criou um boca a boca de que a antecipação se devia ao fim do programa. Com as redes sociais e a velocidade de multiplicação das notícias, o resultado foi aquele que todos nós conhecemos.

            No entanto, o que tem prevalecido, Sr. Presidente, é o cinismo galopante por parte dos petistas. A Secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário, que eu tinha em conta de uma pessoa responsável, apressou-se em responsabilizar, por meio das redes sociais, a oposição pelo boato e pelos consequentes tumultos nas agências bancárias.

            O também boquirroto Presidente Nacional do PT, Rui Falcão, chegou ao cúmulo de divulgar um vídeo no qual falou de "terrorismo eleitoral", também culpando a oposição pelo problema com o Bolsa Família.

            Um cinismo absurdo, tacanho e criminoso, elevado à enésima potência, Srªs e Srs, Senadores. Algo feito nos moldes da política arcaica e desleal praticada, hoje, em alguns países da América Latina, cujos presidentes populistas e autoritários se valem da pobreza da população para continuar seu reinado de manipulações, a exemplo da Venezuela e da Argentina.

            O PT deveria criar o Bolsa Óleo de Peroba e distribuir entre seus líderes e integrantes do Governo, tamanha é a cara-de-pau e a irresponsabilidade que tem marcado todos os personagens envolvidos nesse escândalo do boato sobre o Bolsa Família.

            O que temos visto até agora, Sr. Presidente, é muita mentira, incompetência gerencial e completa falta de transparência e decoro, envolvendo o Governo como um todo, da Presidente da República aos dirigentes da Caixa Econômica, passando pelos petistas que querem tapar o sol com a peneira, esconder suas próprias trapalhadas e tentam jogar a culpa nos outros.

            Devo aqui registrar, Sr. Presidente, o fundamental trabalho realizado pela imprensa, por meio do jornal “Folha de S.Paulo”, que, na sua edição do último dia 25 de maio, trouxe reportagem apontando o pagamento antecipado dos benefícios do Bolsa Família. A reportagem da “Folha” desmontou a mentira que estava sendo construída no Palácio do Planalto.

            É impossível acreditar na versão de que o Palácio do Planalto não sabia da antecipação do pagamento do programa. Todo esse episódio está cercado de mentiras em cima de mentiras, de falsidades e de recuos constrangidos do Governo.

            Também não cola mais, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta história de que a Presidente Dilma ficou irritada, transtornada, seja lá o que for. Não basta o Presidente da Caixa Econômica, Sr. Jorge Hereda, pedir desculpas pelo ocorrido. Afinal de contas, a Presidente da República utilizou o episódio para agredir a oposição, fazer - aí sim, Sr. Rui Falcão - terrorismo eleitoral antecipado. Talvez esse episódio se enquadre naquela expressão cunhada pela própria Presidente Dilma, de que "podemos fazer o diabo na hora da eleição".

            O Bolsa Família foi usado como terrorismo eleitoral contra os partidos de oposição em duas eleições presidenciais seguidas: em 2006 e 2010. Por todo o País, surgiram boatos propagados pelo PT e seus aliados. Foi uma ação criminosa. Quando se imaginava que essa prática arcaica e fascista - digna da República Velha - tinha ficado enterrada no passado, o Governo do PT volta a colocar o assunto em pauta, para criar medo entre os beneficiários do Bolsa Família.

            Daí não ser gratuito o fato de ganhar força a versão de que essa história toda foi intencional, para que o Governo Dilma apareça como bonzinho, para que a Presidente surja como a mulher que vai manter e até ampliar o Bolsa Família.

            Foi o que ela fez no Porto de Suape, em Pernambuco. Como se estivesse em campanha eleitoral, em cima de um palanque, bateu no peito e disse: “Não abro mão do Bolsa Família”. Algo, inclusive, proibido pela legislação eleitoral que faz vista grossa diante dessa postura. A presidente fez isso porque tinha a informação da trapalhada da Caixa Econômica e queria responsabilizar a oposição por isso. Ela quis colocar na conta da oposição uma irresponsabilidade do seu governo.

            Como eu acredito que os interessados nesse escândalo estão acompanhando atentamente as notícias pela imprensa, talvez eles cheguem à mesma conclusão que eu: o boato em torno do Bolsa Família ocorreu pela ineficiência ampla, geral e irrestrita do Governo Dilma Rousseff, ou, pior ainda, pela má-fé, uma prática habitual de um partido que, apesar de apregoar a ética, a desconhece no seu exercício cotidiano de governar.

            Não é a primeira vez, Sr. Presidente, que isso ocorre nos governos petistas, o costume é sempre o de responsabilizar os outros e de não admitir a culpa pelos erros cometidos.

            Foi isso que ocorreu, por exemplo, com os "apagões" do setor elétrico e do setor aéreo, com os dossiês falsos contra adversários políticos, a que aludiu há pouco o nobre e combativo Senador Alvaro Dias - fazendo referência ao episódio contra José Serra, em São Paulo. Com a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos da Costa, que, por uma dessas coincidências do destino, também envolveu a Caixa Econômica Federal. Infelizmente, como tantos outros espaços do Governo, a Caixa está completamente aparelhada pelos "companheiros do PT".

            Concordo com a jornalista Dora Kramer quando ela diz que os dirigentes da Caixa Econômica mentiram ao afirmar que adiantaram o pagamento por causa do corre-corre às agências causado pelos boatos, até porque nenhum banco e nenhum programa de governo adianta o pagamento simplesmente porque uma multidão de interessados acorreu para suas portas tentando receber o benefício antes da hora. O que ocorreu foi exatamente o contrário. Tentaram esconder isso, tentaram manipular a opinião pública, mentiram para os brasileiros, mas, felizmente, não obtiveram sucesso, porque, diferentemente do que eles pensam, o povo não é bobo.

            Sei que, nos últimos anos, muitos dos escândalos terminaram jogados para debaixo do tapete vermelho e cheio de estrelas, mas esse caso envolvendo o Bolsa Família não pode ser esquecido, não apenas pela oposição, mas por todos aqueles que querem um Brasil mais sério e transparente, no qual o Governo tem a obrigação de prestar contas.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/06/2013 - Página 32407