Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à política econômica implementada pelo Governo Federal.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Críticas à política econômica implementada pelo Governo Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2013 - Página 33129
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, RELAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, MOTIVO, AUSENCIA, CAPACIDADE, INCENTIVO, CRESCIMENTO ECONOMICO, COMBATE, INFLAÇÃO, COMENTARIO, AUMENTO, CUSTO, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Mário Couto, que preside neste momento esta sessão.

            Sras e Srs. Senadores, Rádio e TV Senado, Agência Senado, senhoras e senhores, tenho ressaltado nesta tribuna que a Presidente Dilma Rousseff não corresponde à imagem de boa gestora que criaram em torno dela. Se a maior preocupação da Presidente é a reeleição, ela ainda não se deu conta de que está comprometendo a estabilidade econômica do Brasil.

            À medida que o quadro econômico de 2013, Sr. Presidente, compõe-se, e alcançamos a metade do segundo trimestre, a gestão econômica do Governo Dilma dá sinais claros de incapacidade para estimular o crescimento e conter a inflação. Crescimento econômico de 0,6%, no primeiro trimestre, é um banho de água fria no otimismo do Governo. E olhem que esse índice só não foi pior porque tivemos a força costumeira do agronegócio.

            Quando se considera o aumento da inflação, a alta do dólar, a diminuição do superávit primário e o recuo da indústria, o quadro que se delineia para 2013 não é nada esperançoso. A reação do Governo, lamentavelmente, foi péssima.

            Capitaneada pelo Ministro Mantega, mestre em previsões erradas, e com o submisso Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a equipe econômica vai perdendo controle da situação e parece ter apenas um mecanismo para tentar dominar a inflação: a alta dos juros. O fato é que, hoje, a previsão para o crescimento do PIB, com todo o otimismo possível, não deve superar 2%, a menos que haja um milagre.

            Em relação à inflação, a média das projeções medida pelo IPCA continua em 5,8% para 2013 e 2014. Centro da meta, em torno de 4%, nem pensar! Ninguém no Governo fala mais disso! Ao contrário das expectativas, a inflação não cedeu ao aumento da taxa Selic do início do ano, e os 8% estabelecidos pelo Copom não devem dar o resultado esperado. Nem com o tomate fora de cena a inflação caiu. Nesse ritmo, a Selic deve ficar bem acima das previsões anteriores: 8,25% para o final de 2013. Para 2014, quem arriscaria uma previsão? Será que vamos voltar aos patamares de juros impensáveis que eram praticados no Brasil?

            Ora, é evidente que há algo errado na política econômica do Governo. As medidas para conter a inflação são insuficientes. A equipe econômica está presa numa armadilha. Não consegue se mexer. A Presidente Dilma, Senador Aloysio, vai perdendo o controle sobre a política econômica.

            O efeito dessa letargia sobre os setores produtivos é nefasto. O Instituto Valor Data constatou que, entre duzentas e trinta e oito empresas não financeiras, as despesas cresceram mais que as receitas. Repito, Sr Presidente: as despesas cresceram mais que as receitas. A consequência é óbvia: o lucro desse grupo caiu em relação ao verificado no mesmo período do ano anterior. É o resultado da complacência do Governo diante da inflação, que faz as despesas crescerem mais rapidamente que o eventual aumento da demanda, gerada pelos incentivos governamentais. Os lucros retidos são a fonte mais importante do investimento. Se esses lucros são corroídos pela elevada inflação, o resultado não poderia ser outro: o Brasil já caiu no círculo vicioso da inflação.

            A sociedade, nesse contexto, já sentiu o impacto no orçamento doméstico. Em particular, a classe média. São cortes para todos os lados: lazer, escola, viagem e assim por diante. Se a classe média, principal força motriz da economia, coloca o pé no freio, o País como um todo diminui o ritmo e faz o PIB cair.

            Mas, Sr Presidente, é fundamental dizer neste Plenário que o Governo da Presidente Dilma está errado na condução da economia e pode destruir a estabilidade econômica construída desde o Plano Real.

            Os dados da inflação de 2012 de alguns importantes países da América Latina, por exemplo, mostram que a taxa brasileira foi bem mais alta. Esses países têm em comum com o Brasil o fato de serem exportadores de commodities. Portanto, estão sujeitos aos humores da crise financeira internacional. Ainda assim, o México teve inflação de 3,57%; o Peru, de 2,65%; a Colômbia, de 2,4%; e o Chile, de 2,1%, bem mais baixa que a inflação brasileira. Aqui, a inflação só não foi o dobro da mexicana, mas esteve pelo menos duas vezes acima dos demais vizinhos ou parceiros sul-americanos.

            Alguns economistas justificam a inflação pelo choque de oferta. Por isso, a inflação não responderia ao aumento da taxa Selic. Só esse argumento já invalida o principal instrumento de controle da inflação apresentado pelo Governo Dilma: o próprio aumento dos juros.

            O problema da inflação brasileira é muito mais complexo, e o Congresso Nacional, em particular o Senado Federal, tem a obrigação de exigir explicações adequadas da equipe econômica sobre o fenômeno inflacionário.

            Sr. Presidente, eu não acredito que o Ministro Mantega não saiba dos verdadeiros fatores que compõem a inflação brasileira. Não acredito, muito menos, que o Presidente do Banco Central também não conheça a verdade dos números, e menos ainda que a Presidente Dilma desconheça o quadro real da economia brasileira.

            Mas por que então os Srs. Mantega e Alexandre Tombini insistem nesse costumeiro lengalenga quando comparecem ao Senado? Para mim, o Governo da Presidente Dilma não está de fato preocupado em vencer a eleição. A única meta a tentar é a reeleição.

            A Presidente sabe o que deveria ser feito, mas não tem ousadia nem audácia para fazer o que o Brasil precisa. Para controlar a inflação, seriam necessárias medidas bem mais enérgicas. O corte deve começar por essa enorme máquina pública, que onera o contribuinte e o setor produtivo, para arcar com custos de R$58 bilhões ao ano.

            Em 2002, no final do Governo Fernando Henrique Cardoso, havia 24 ministérios ou secretarias com esse status. O Presidente Lula elevou o número para 37, e agora a companheira Dilma achou que era pouco e cria mais duas. Hoje são 39 ministérios ou órgãos com essas condições. Desde Fernando Henrique, houve um aumento na máquina pública da ordem de 60%. Para uma Presidente que se diz boa gestora, não é impensável? Qual é o argumento minimamente razoável para a máquina pública crescer dessa forma?

            Os números são impressionantes. De acordo com matéria publicada no jornal O Globo, sob o título "Gigante Caro", no total, o orçamento para custeio de toda a engrenagem federal chega a R$377,6 bilhões. Aí estão incluídos, por exemplo, órgãos técnicos, empresas públicas, universidades, escolas e institutos técnicos federais. É um valor, Srªs e Srs. Senadores, que representa mais do que o PIB de países como Peru, Nova Zelândia ou Marrocos. Aí vêm o Sr. Mantega e o Sr. Tombini tentar convencer o Senado de que a inflação está sob controle, e a Presidente diz que está firme no mesmo propósito. É tudo uma grande encenação, um teatro, com um final que pode colocar em risco todo o esforço empreendido desde a implantação do Plano Real por Fernando Henrique Cardoso.

            O Brasil não pode se curvar diante de um projeto de governo em detrimento dos interesses maiores da Nação. O Brasil quer o crescimento sustentável, o crescimento duradouro, sem inflação, com uma educação pública de qualidade, segurança...

            (Soa a campainha.)

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO) - ... e assistência médica e hospitalar, um país planejado, um Ministério da Fazenda, um Banco Central com planejamento a longo prazo, e não como nós estamos assistindo até agora.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2013 - Página 33129