O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero fazer o registro, para mim de muita tristeza, do falecimento do meu amigo e Prefeito do Município de Japaratuba, no Estado de Sergipe, Padre Gerard Olivier.

            Ele tinha 76 anos de idade. Faleceu ontem, no Hospital São Lucas, em decorrência de um câncer que adquiriu no ano passado e, infelizmente, não resistiu ao seu tratamento.

            Padre Gerard estava no quarto mandato como Prefeito do Município localizado no leste do Estado, distante 54km da capital sergipana. Em 1988, ele se elegeu pela primeira vez pelo PMDB e, 10 anos depois, ingressou no PT. Gerard Olivier era chamado pela população de Japaratuba simplesmente de Padre Geraldo.

            Nascido em 10 de outubro de 1936 em Tournai, na Bélgica, Gerard Lothaire Jules Olivier é um dos maiores políticos que já existiu na história de Japaratuba e um dos melhores homens públicos do meu Estado de Sergipe. Aprendeu ainda na infância - quando viu membros de sua família serem prisioneiros na Segunda Guerra Mundial - a persistir em seus objetivos, com garra e determinação, sem esmorecer diante das dificuldades.

            Descobriu sua vocação para o sacerdócio ao se envolver em movimentos de juventude, através de uma caminhada de engajamento pelos trabalhos desenvolvidos pela Ação Católica, coordenada pelo famoso Cardeal Cardin, que aplicava o método do ver, julgar e do agir. Decidiu, então, entrar para o seminário na Bélgica, ao passo que investia nos estudos, sendo aluno livre de Medicina Tropical e Sociologia pelas Universidades de Lyon, na França, e Louvain, na Bélgica.

            Ordenou-se em 19 de março de 1964, transformando-se em um dos primeiros sacerdotes da Bélgica. Depois de ordenado, passou um ano estudando a língua portuguesa na Universidade de Louvain. Foi justamente nesta época que Gerard passou a conhecer um pouco da realidade latino-americana. Parecia que o seu caminho já se direcionava para o Brasil.

            Foi designado para o menor Estado do País, o Estado de Sergipe, para trabalhar na paróquia da cidade de Japaratuba.

            Chegou no período do regime discricionário para desenvolver um novo trabalho na Igreja, voltado para o social. Encontrou certa resistência por parte dos habitantes nos primeiros meses, mas, com seu jeito simples, humilde e simpático, conquistou a população. O seu sorriso estampado na face era uma característica na sua convivência diária. Em pouco tempo, o Padre Geraldo já conhecia o modo de viver, pensar e até mesmo rezar de seus paroquianos. Mesmo residindo em Japaratuba desde 1965, Padre Geraldo teve ainda a oportunidade de trabalhar nos Municípios de Canhoba e Ilha das Flores, no Estado de Sergipe.

            Empenhado em suas funções, ajudou a população de Japaratuba em grandes conquistas, sobretudo em posses de terras. Segundo o próprio Padre Geraldo, com o apoio do Estado, conseguiu angariar oito mil tarefas de terra para a distribuição entre os trabalhadores. Dentre as benfeitorias que realizou, Geraldo também colaborou para a fundação da Cooperativa Agrícola Mista de Colonização Jardim, foi Presidente da Associação de Caridade de Japaratuba e esteve à frente das bandas de músicas Euterpe Japaratubense e Santa Terezinha.

            Por ser uma pessoa benquista pelos moradores de Japaratuba, o ingresso na política não demorou acontecer. Atendendo a um pedido do povo de Japaratuba, resolveu iniciar sua carreira.

            Começou entrando em contato com todos os partidos, inclusive os de esquerda, e optou pelo PMDB, "pois naquela época era o partido que acolhia, praticamente, toda a esquerda brasileira, todos que não tinham espaço, pois só existiam no Brasil, dois partidos. Quando o PT foi formado, nosso relacionamento foi o mais válido possível", disse Padre Geraldo.

            Uma vez inserido na política, continuou com a mesma proposta revolucionária, aplicada em Japaratuba no período em que fez parte da pastoral de Dom José Brandão de Castro. Em 1982, resolveu, finalmente, se lançar candidato a prefeito, mas foi cassado pelas "forças conservadoras", um mês antes da eleição.

            Neste mesmo ano, após dois anos de luta, conseguiu se naturalizar brasileiro, após uma análise minuciosa das autoridades federais.

            Apesar de não ter conseguido se eleger na primeira tentativa, o Padre Geraldo não desistiu. Em 1988, voltou a se candidatar e venceu a eleição para prefeito de Japaratuba, com a coligação Força Popular. Nascia naquele momento uma forma de governo diferente, voltada para a participação popular e para a democracia. Era a maneira "Gerard de governar”.

            Nove anos após seu primeiro mandato, padre Geraldo voltou a vencer uma disputa eleitoral no Município que o acolheu. Em janeiro de 2001, iniciava-se a gestão "Dignidade e Esperança". No ano de 2004, disputou a reeleição logrando êxito e vencendo nas urnas. Passou a dar continuidade ao seu trabalho na administração "Com Paz, Dignidade e Esperança". E no ano de 2010 foi candidato outra vez e se elegeu ao lado de Hélio Sobral, seu Vice-Prefeito, que agora comanda os destinos do Município, por determinação do destino. Ele venceu a eleição com dignidade, com força e coragem, enfrentando uma campanha já se sentindo adoentado, mas, como tinha um grande compromisso com a população de Japaratuba, não desistiu de sua candidatura e continuou a sua luta.

            Eu quero neste momento, Sr. Presidente, mais uma vez, manifestar ao Padre Geraldo, aos seus amigos, à sua família, aos seus eleitores, aos seus admiradores o nosso mais sentido pesar e a nossa gratidão eterna pelo que fez pela política em Sergipe, política de renovação, de trabalho, comprometida com o social. E também pelos compromissos que cumpriu com o nosso Partido, o PSB, em todas as eleições em que fui candidato ao Senado da República. Que Deus o tenha em bom lugar!