Discurso durante a 90ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Confiança na administração da Petrobras para reversão de indicadores negativos registrados; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA. POLITICA EXTERNA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Confiança na administração da Petrobras para reversão de indicadores negativos registrados; e outros assuntos.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2013 - Página 34827
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA. POLITICA EXTERNA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, EXPECTATIVA, ORADOR, GESTÃO, PRESIDENTE, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ESFORÇO, MELHORIA, RESULTADO, EMPRESA, ELOGIO, ATUAÇÃO, MULHER, ENGENHEIRO QUIMICO, SETOR, ENERGIA, ANALISE, SITUAÇÃO, EMPRESA DE PETROLEO, CRITICA, UTILIZAÇÃO, INSTRUMENTO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, OBJETIVO, CONTENÇÃO, INFLAÇÃO, COMENTARIO, REDUÇÃO, PRODUTIVIDADE, COMBUSTIVEL, MOTIVO, IMPASSE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO.
  • DEFESA, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, PARTICIPAÇÃO, INVESTIMENTO, EMPRESA DE PETROLEO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, SITUAÇÃO, PARCERIA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), CONSTRUÇÃO, REFINARIA, LOCAL, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), REGISTRO, ATENÇÃO, PRESIDENTE, EMPRESA, PETROLEO, BRASIL, ASSUNTO.
  • REGISTRO, DESAPROVAÇÃO, ORADOR, REALIZAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, EX PRESIDENTE, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ELOGIO, GESTÃO, EMPRESA.
  • CRITICA, NOMEAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VICE-GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), MINISTRO, SECRETARIA DA MICRO E PEQUENA EMPRESA, MOTIVO, ACUMULAÇÃO, FUNÇÃO, ANALISE, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), LIDERANÇA, GOVERNO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, Srªs e Srs. Senadores, a presidente da Petrobras, a senhora Graça Foster, esteve recentemente nesta Casa prestando informações aos senhores Senadores.

            Se tivesse que sintetizar em poucas palavras a longa exposição da presidente da Petrobras, eu diria que ela garantiu aos senadores que a nossa grande empresa petrolífera não está passando por uma crise.

            Peço licença para discordar.

            Sou um admirador de longa data da Petrobras e dos seus trabalhadores.

            Sou um entusiasta da manutenção do petróleo sob o controle do Estado.

            E sou grande admirador da engenheira Maria das Graças Foster, a primeira mulher a presidir a Petrobras. Ela está há 35 anos na companhia e há pouco mais de ano no cargo. Antes, respondeu pela diretoria de Gás e Energia.

            Graça Foster conhece a empresa a fundo, mas me sinto obrigado a discordar dela.

            Eu diria que a frase correta da presidente Graça Foster deveria ser: "A atual administração da estatal está fazendo um grande esforço para aumentar a eficiência da Petrobras, perdida em anos recentes."

            A verdade é que os atuais problemas da Petrobras são imensos e numerosos.

            Eu diria que, hoje, o maior problema da Petrobras é o de estar sendo indevidamente usada, pelo Governo, como instrumento para controlar a inflação.

            Não é algo novo. Outros governos já incorreram no mesmo erro. E esse é um grave erro.

            A Petrobras foi criada para exercer o monopólio do petróleo.

            E também para abastecer plenamente o mercado interno, o que não está ocorrendo.

            A Petrobras já não abastece integralmente o mercado interno porque não investe os recursos necessários para manter a autossuficiência alcançada em 2006.

            E a Petrobras não investe porque está vendendo no mercado interno o combustível a um preço subsidiado - inferior ao que deveria ser! - para mascarar a taxa de inflação.

            Em suma, vendendo sua mercadoria por um preço irreal, a Petrobrás causa prejuízos aos seus acionistas.

            Vejamos mais atentamente a questão das ações.

            Os acionistas da Petrobras não são apenas o Estado e alguns milionários, como se poderia pensar.

            Em anos recentes, cerca de 300 mil trabalhadores brasileiros usaram seus suados recursos do FGTS para comprar ações da estatal.

            Muitos deles, se não a esmagadora maioria, já se arrependeram desse investimento que fizeram sob o estímulo do próprio Governo federal.

            Incrédulos, os trabalhadores viram desabar o preço de ações que adquiriram da maior empresa brasileira, pensando e acreditando em ter um futuro melhor.

            O Jornal da Globo informou recentemente que, na Bolsa de Valores, a Petrobras está depreciada. Vale hoje 65 por cento do seu patrimônio.

            O preço das ações da estatal teve queda de 7 por cento nos quatro primeiros meses deste ano.

            Na soma do valor de suas ações, a Petrobras foi superada pela estatal colombiana Ecopetrol e está chegando ao nível da mexicana Pemex.

            Insisto, Sr. Presidente: o Governo não permite que a Petrobras aumente, de modo coerente, os preços cobrados dos consumidores do país.

            As elevações recentes nos preços da gasolina e de outros produtos foram pífias, insuficientes para os cofres da Petrobras.

            O Governo não quis se indispor com os consumidores. E nem colocar lenha na inflação.

            Em outras palavras, a Petrobras está sendo usada como instrumento de política econômica.

            Distorção gera distorção.

            Ao subsidiar o preço da gasolina e do diesel, o Governo indiretamente incentiva a venda de automóveis novos.

            De outro lado, o crédito farto e o corte de impostos também impulsionam o crescimento da frota nacional.

            E, em conseqüência, aumenta ainda mais o consumo de combustível.

            Dizem os especialistas que esse subsídio mascarado ao combustível teria custado R$ 12,8 bilhões nos últimos oito anos.

            É esse o principal motivo pelo qual a estatal perdeu sua capacidade de investir.

            Não modernizou seus poços já em produção e parou com a prospecção de novas jazidas.

            Recentemente, Graça Foster chegou a admitir a perda de eficiência média de 10% nas plataformas. Chegando, em alguns casos, a 50%.

            Uma das causas é o declínio natural da produtividade de poços mais antigos, mas influíram também as transferências e a aposentadoria de equipes de manutenção e operação altamente treinadas.

            Assim, por tudo isso, a presidente Dilma Rousseff se encontra agora diante de um dilema severo.

            Se desafogar o caixa da Petrobras, autorizando o repasse dos preços externos, a inflação subirá mais rapidamente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, abordo agora dois outros problemas que considero - para usar uma linguagem elegante - estranhíssimos.

            O primeiro é o da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que seria construída numa parceria entre Petrobras e Pedevesa, estatal venezuelana de Petróleo, a um custo de US$ 2 bilhões.

            O parceiro venezuelano não colocou um tostão na obra.

            E agora os estudiosos da área do petróleo dizem que o custo final dessa refinaria chegará a US$ 20 bilhões.

            Ou seja, dez vezes mais.

            Repito: dez vezes mais.

            Felizmente, a senhora Graça Foster disse no Senado que está revendo o processo que levou o preço da refinaria pernambucana a multiplicar-se tantas vezes.

            Passo agora ao segundo problema que muito me chamou a atenção:

            A Petrobras, segundo sua presidente, está pretendendo vender uma refinaria que possui em Pasadena, nos Estados Unidos, comprada em 2005.

            Parece que foi pior negócio da história da empresa porque a Petrobrás enterrou lá 1,2 bilhões de dólares em uma planta de produção que hoje não vale 200 milhões de dólares.

            Quem teve a brilhante idéia de realizar essa compra?

            Foi apenas por pura incompetência?

            Bem, confirmando-se os números que apresentei acima, a Petrobrás estará vendendo sua refinaria americana por um sexto do valor de compra.

            Repito: um sexto do valor de aquisição.

            A presidente da Petrobras afirmou publicamente que não repetiria a operação, fechada pelo antecessor José Sérgio Gabrielli, de compra dessa refinaria de petróleo nos Estados Unidos.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dizem os especialistas do setor que os gastos da Petrobras estão descontrolados.

            A empresa estaria enfrentando uma grave crise de caixa que a levou a atrasar o pagamento de suas contas.

            Há indícios de que a nossa estatal do petróleo esteja penalizando seus fornecedores internacionais.

            Essa situação faz com que muitos dos melhores fornecedores técnicos internacionais optem por não trabalhar mais para o Brasil.

            De outro lado, o fundo que foi criado para incentivar e desenvolver as cadeias locais de fornecimento não recebeu os recursos estipulados.

            A Petrobras está sendo forçada a apoiar contratações locais mesmo quando se sabe que o setor de serviços do país não está preparado para a enorme complexidade inerente aos projetos nas águas profundas do pré-sal.

            A tudo isso, soma-se o atraso na entrega de plataformas e sondas para novos campos no pré-sal, por contingências do mercado internacional.

            O estrangulamento financeiro da Petrobras teria levado o Governo a retardar leilões de campos de petróleo, que exigiriam ainda mais investimentos.

            Sem novos campos, é claro, a produção não cresce, o que acentua a dependência de importações.

            Por tudo isso, é muito pouco provável que a Petrobras atinja sua própria meta de mais do que dobrar a produção e chegar a 5,7 milhões de barris por dia até 2020.

            Encerro, Sr. Presidente, afirmando minha confiança total na gestão de Graça Foster, sob a supervisão da Presidente Dilma Rousseff.

            É preciso ter em mente que a Presidente da República ocupou por três anos o Ministério de Minas e Energia e foi durante sete anos Presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ela conhece muito bem a nossa estatal.

            Acho, em suma, que a Petrobras tem condições de reverter com rapidez muitos dos indicadores negativos hoje registrados.

            Dilma Rousseff e Graça Foster são gestoras competentes e vão recolocar a Petrobras no patamar que merece.

            Um sinal extremamente positivo para a área petrolífera veio recentemente quando a Agência Nacional de Petróleo (ANP) realizou um leilão para exploração de petróleo e gás. Licitados 142 blocos, o ágio obtido foi de 798%.

            Sr. Presidente, votei contra a CPI da Petrobras. Aliás, não assinei o pedido de CPI para a Petrobras. Achei que o espírito que estava havendo naquela convocação não era construtivo, não era no sentido de buscar os esclarecimentos sobre a matéria, mas era a oposição aproveitar, e aproveitar bem, um aspecto negativo do Governo. E me assustei ao imaginar as manchetes internacionais: CPI na Petrobras.

            E até agora não tenho um pensamento definitivo sobre o ex-Presidente Gabrielli. Não nego que, na época, eu o achei altamente positivo, concreto, noticiando uma realização nova da Petrobras todo dia, o desenvolvimento, o crescimento... Ele dava uma boa impressão. Mas, depois da sua saída, a usina de Recife, uma união entre Brasil e Venezuela, metade de cada um - e a Venezuela não colocou um centavo até agora -, que era para sair por algo em torno de US$2 bilhões, pelas notícias de hoje, se ela for concluída, quando for concluída, sairá por US$20 bilhões.

            Hoje, ninguém explica direito o que está acontecendo. Por outro lado, essa compra da usina nos Estados Unidos é muito complicada. Comprou-se e agora se quer vender a qualquer custo, por algo que seja 10% do preço por que compramos. O Governo quer se ver livre e reconhece que foi um fiasco o que fez. E esse é um assunto, eu repito, do qual a Presidente da República tem obrigação de estar por dentro.

            Diga-se de passagem que o olho clínico do Sr. Lula estava certo com relação à Dona Dilma. O Lula convocou uma equipe de governo para preparar sua posse. Ele estudou os assuntos mais importantes e mais significativos e escolheu técnicos do Brasil inteiro. Em minas e energia, entre as várias pessoas convocadas para coordenar estava Dilma Rousseff, Secretária de Minas e Energia do governo do Sr. Olívio Dutra, do PT, no Rio Grande do Sul.

            E contam, meu amigo Cristovam, que ela chegou aqui sem credibilidade, porque ela era do PDT. Quando o PDT e o PT romperam no Rio Grande do Sul, um grupo saiu do PDT e foi para o PT. A Dilma fazia parte desse grupo, assim como seu ex-marido. E ela continuou no governo como Secretária de Minas e Energia lá no Rio Grande do Sul.

            No primeiro governo do Presidente Lula, foi impressionante o número de gaúchos no Ministério, acho que cinco ou seis. A Dilma também estava. Mas a Dilma não estava por indicação do PT do Rio Grande do Sul. Ela praticamente não tinha vinculação mais profunda com o PT do Rio Grande do Sul. A Dilma entrou porque o Lula ficou impressionado com o comportamento dela na comissão que discutia os problemas relativos a minas, energia e petróleo, com a competência que ela tinha. À revelia de todo mundo, da Petrobras e do PT, por conta dele, ele escolheu a Dilma Ministra de Minas e Energia. E não se arrependeu, ela teve bom desempenho e foi terminar na Presidência da República.

            Volto a repetir: eu olhava com entusiasmo as manchetes, todas positivas, que davam conta de que a Petrobras produzia muito sob a presidência do Sr. Gabrielli. Eu via, realmente, uma situação muito positiva, situação que, agora se viu, está longe de ser verdadeira.

            Então, a Dona Dilma, eu diria, tem a obrigação de encontrar uma saída o mais rapidamente possível. É interessante que essa é uma das questões de que a Presidente Dilma pouco fala e talvez fosse daquelas de que ela mais teria condições de falar, de que mais teria conhecimento quanto ao que era, ao que é e ao que deve ser. Talvez seja daquelas questões que o povo olha e um assunto para o qual ele daria mais credibilidade quanto à sua palavra, porque ela conhece a área.

            Repito: eu, modéstia à parte, não só não assinei como não estimulei à criação da CPI. Eu achava tremendamente negativa uma manchete internacional como “Governo cria CPI da Petrobras”. Tínhamos terminado a do mensalão e não podia haver coisa pior. Fui contra, porque acreditava, como acredito, na Srª Graça e acreditava, como acredito, na Presidente.

            Mas as coisas não estão melhorando. Se V. Exª me permitir, Sr. Presidente, quero dizer que vejo, hoje, nos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, uma notícia que muito me preocupa:

Agência ameaça rebaixar nota de risco do Brasil por piora das contas públicas.

Cinco anos após ser elevado à categoria de grau de investimento pelas agências de classificação de risco, o Brasil recebeu um duro golpe. Primeira a promover o País, em abril de 2008, a Standard & Poor’s também foi a primeira a reduzir a perspectiva positiva das condições macroeconômicas brasileiras, que saiu de "estável" para "negativa", por conta do baixo crescimento e dos gastos do governo.

É o primeiro passo na direção do rebaixamento da nota de crédito do País, algo que pode ocorrer ao longo dos próximos dois anos, segundo a S&P.

A nota dada pelas agências de rating funciona como um selo de qualidade para o investidor estrangeiro aplicar o seus recursos no País. O movimento da S&P acontece poucos dias depois de o governo mudar a tributação sobre o capital externo para trazer mais recursos para o País. A decisão [...] foi sustentada, segundo comunicado da agência, pelo baixo ritmo de crescimento do PIB nos últimos anos, aliado a uma política de expansão do gasto público. De acordo com a nota assinada por Sebastian Briozzo, analista de crédito da S&P, essa dinâmica recente do País resulta em "sinais ambíguos" do governo, que reduzem a confiança do investidor estrangeiro.

            Outro assunto: “MP diz que Afif pode ser cassado por dupla função”. Eu queria fazer só um parêntese aqui. Eu não entendo. Dona Dilma, eu não entendo. É algo inédito na história deste País. O Sr. Afif está lá, é Vice-Governador de um Estado importante como é o Estado de São Paulo... Não é um presidente... Inclusive, houve vários presidentes governadores. Inclusive, um morreu no exercício de um mandato e o vice teve que assumir.

            O Afif é um ótimo Vice-Governador e, sim, um ótimo Ministro. Mas preencher as duas coisas? Eu não sei como é feito. Alguém me disse que, às segundas e terças, ele está aqui em Brasília. Ele é Ministro de Minas e Energia. E, às quartas e quintas, ele é Vice-Governador. E, ainda mais, depende das viagens da Presidente da República, que, quando viajar, suspende o Ministério, e ele está lá.

            Para quê isso, Dona Dilma? Colocar alguém no Ministério, só para fazer o PSD, para dar apoio com três ou quatro minutos na televisão? Esse troca-troca, que a senhora tantas vezes criticou duramente, a senhora fez de maneira cruel. Ficou feio para a senhora. E depois orienta o seu Governo a não deixar criar o partido da Marina. O dela pode. O PSD foi criado com todas as garantias dadas pelo Governo. E, quando chegou a vez do partido da Marina, o Governo entrou para impedir, para desclassificar. Eu fecho o parêntese.

            Eu digo com toda a sinceridade: esse é um assunto realmente sério. A Senhora Presidente da República, com quem o Lula agiu com tanta competência, quando a colocou na direção da Casa Civil, quando a colocou como pai do PAC e a transformou em Presidente da República... E olha que o Lula não tinha grandes assessores para isso. Era ele. Olhando em roda, entre os assessores que ele tinha e que o conduziram no início do seu governo, uma parte, ligada ao PT mais avançado, mais progressista, à Igreja de Dom Evaristo, saiu fora, porque achou que o PT estava se identificando muito com o centro-direita. E os seus aliados mais fiéis, que estavam no Governo, estão lá no mensalão. Então, o Sr. José Dirceu, que era o homem forte, o braço direito dele, praticamente ele teve que demitir, e depois foi cassado, e depois foi condenado.

            Então, o Lula, praticamente, conduziu sozinho. Em uma hora difícil! Eu também posso dizer, Senador Cristovam, que fui daqueles que desestimularam o pedido de impeachment do Lula. O PFL estava fazendo isso, estava reunindo, estava crescendo. Reuniu os grandes juristas do Brasil para discutir o impeachment. O Bornhausen, Presidente do PFL, meu amigo, convidou-me para participar de uma reunião. Quando cheguei à reunião, os juristas estavam lá e disseram: “Bom, vamos ver agora o pensamento de um político que participou do impeachment do Collor e que sabe como é .” Eu respondi: “Os senhores me respeitem, senhores juristas! Os senhores são excepcionais, são o que há de melhor no Brasil, mas para um impeachment nós não precisamos dos senhores. Os senhores não vão encontrar nos compêndios que tratam da matéria nada que oriente “sim” ou “não” para fazer o impeachment do Lula. Essa é uma decisão política. Essa é uma decisão de debate, de análise política. Primeiro é olhar o fato, se o fato existe, se é concreto, se é real e se terá repercussão e apoio popular. Segundo é ter maioria para levar adiante.”

            Os juristas concordaram, e o Bornhausen concordou. O PFL e o PSDB não entraram com o pedido de impeachment.

            Concorreu muito o Presidente Fernando Henrique. Ele dizia que, se tocassem no Lula, seria uma revolução. O povo iria gritar: “É um operário, um homem simples, um homem humilde, a burguesia está aí.” Se não tocassem no Lula, melhor seria deixar o Lula sangrando até o fim do governo. Aí o Fernando Henrique errou. Muita gente errou. O Lula teve a fantástica competência de, no meio do mensalão, no meio do descrédito que ele tinha, da impopularidade que naquela hora existia, reeleger-se Presidente da República no primeiro turno. Se ele conseguiu fazer isso, a Presidente Dilma, que está com os índices de popularidade mais altos que nós conhecemos, que tem o respeito de toda a nação…

            São muito estranhas as últimas posições da Presidente. Ela considera a Copa do Mundo e as Olimpíadas as coisas mais espetaculares do Brasil. Ela acha que vai passar para a história inaugurando 12 estádios de esporte. Eu tenho vergonha. Não existiu. Nós vamos para o livro dos recordes. Lá, vai estar: “Nunca na história do mundo - nem na Grécia, nem em lugar nenhum - gastou-se, e se deu tanta importância, e se fez tantas obras destinadas ao esporte como no Brasil da Presidente Dilma.”

            Essa é a grande obra da Dona Dilma. Nunca na história do mundo 12 estádios foram construídos ao mesmo tempo. Em alguns lugares, 2, como no Rio Grande do Sul. São Paulo tinha um estádio espetacular, o maior do Brasil, o Morumbi. Era questão de fazer arranjos. Como o Lula é do Corinthians, não gosta do São Paulo, e o Morumbi é do São Paulo, nem deu bola para o Morumbi, e vão fazer um estádio novo. Vão fazer um estádio novo e uma cidade nova lá, numa região não sei da onde.

            Perguntei, meu amigo Cristovam, num debate: “Em vez de se destinar esse dinheiro a esses times, por que o dinheiro não é destinado à educação, fazendo 12 superescolas de educação integral, ou à saúde, fazendo 12 complexos hospitalares de primeira grandeza?” Vejam a resposta que veio na televisão, do povo, de gente que não sei quem é. Um rapazinho disse o seguinte: “Dr. Simon, o senhor acha que, se suspender a Copa do Mundo e se suspenderem as Olimpíadas, eles vão botar esse dinheiro na educação ou na saúde? O senhor acha mesmo que eles vão fazer 12 complexos de educação ou de saúde? É claro que não vão, Senador! Então, deixa fazer os estádios de futebol mesmo. Então, deixa! Estes eles vão fazer; estes eles vão fazer.”

            V. Exa, Senador Cristovam, estava lá no governo de Brasília, mas eu, aqui, era fã do PT. Eu tinha uma inveja, que eu acho que não era nem uma inveja cristã; era uma inveja pecaminosa, por ver aquele pessoal que quase tinha ganhado a eleição, lutando.

            Quando eu vejo o Suplicy, pedindo, durante dois meses, uma audiência com o Lula, e o Lula nem responde! Aí ele vai por conta dele ao escritório, senta-se no gabinete e diz para a secretária: “Eu quero dois minutos com o Lula.” Depois de não sei quanto tempo, o Lula o recebeu, durante quinze minutos, e o Suplicy entregou a carta a ele, que não disse nada e não deixou tirar fotografia. Não apareceu a fotografia do Senador entregando uma carta para o Lula. Não deixou tirar fotografia. A imprensa publicou, e o Lula, até agora, não disse uma palavra.

            O Suplicy, ali, era o único Senador que o PT tinha nesta Casa, e todo mundo tinha medo dele. Vinha, cobrava, debatia, analisava, cobrava as coisas que tinham que ser. É que ele era do velho PT. E, quando o PT foi para o Governo, ele continuou sendo do velho PT.

            Mas essas reuniões de agora, essas decisões do PT! Cá entre nós, o PT é que está comandando no toma lá dá cá. Não venha a imprensa botar em cima do PMDB, que o PMDB está comandando. O PMDB tem quatro ministérios. Cada um mais mixuruca que o outro. O Ministério da Agricultura está esvaziado. Tiraram praticamente tudo do Ministério da Agricultura. Eu fui ministro e posso dizer: não sobrou nada. Botaram aquele Ministério que tinham tirado, o Ministério do Turismo. Botaram um ilustre amigo do Dr. Sarney, lá do Maranhão, Ministro do Turismo. Colocaram o ex-Governador do Rio de Janeiro num Ministério nem sei do que é, não sei, não consigo entender o ele faz ou deixa de fazer, agora tiraram e colocaram no Ministério da Aeronáutica.

            Então, nesse troca-troca, o PMDB tem isto aqui. O resto está nas mãos do PT. Tirando um ministeriozinho que está aqui, outro ministeriozinho que está ali, outro ministeriorizinho que está lá, o resto está nas mãos do PT.

            E a Dona Dilma... Estou gostando muito do Prefeito de São Paulo. Esse Haddad é um rapazinho que é muito competente, colocou uns quantos secretários de seu governo sem partido. Para lá, para cá, não seio que... Ele disse: “Não, não. Esse eu não boto, esse eu não quero...”. Escolheu um técnico especializado na matéria e colocou. Na hora de discutir os assuntos, foi discutir lá com o Governador, debateu, analisou, fez o entendimento, o Governador teve que topar, e fizeram o jogo.

            Esse PT parece que está desaparecendo. Parece que está desaparecendo!

            O Presidente do Supremo Tribunal Federal ia a Porto Alegre agora fazer uma visita ao Presídio Central. Diante das notícias que vêm em âmbito internacional, de decisões que vão ser tomadas de instituições internacionais com relação o presídio de Porto Alegre, ele ia, marcou que ia. Diz a imprensa - eu até não acredito nesse negócio da imprensa, mas ainda não vi o desmentido - que o Governador Tarso disse que não poderia estar lá para recebê-lo. Então, o Presidente do Supremo disse que deixaria para outra oportunidade.

            Diz a imprensa que o Tarso fez para não receber, porque seria uma hora muito delicada, realmente, seria manchete mundial. O presídio, que é considerado o que está em piores condições no Brasil, com a presença do Presidente do Supremo, seria manchete internacional.

            Esse é o PT. Essas são as realidades de hoje, Sr. Presidente.

            Nesse movimento, vemos a Dona Graça. Você vê na Presidente da Petrobras que ela está querendo fazer o bem, que ela está querendo acertar. Vamos nos lembrar aqui: desde o tempo da Dona Dilma no Ministério de Minas e Energia que havia briga entre a Ministra Dilma e outros setores, inclusive do PMDB, que queriam lotear os cargos da Petrobras e Dona Dilma não queria. Dona Dilma queria colocar técnicos, mas teve que aceitar o loteamento.

            Eu acho impressionante isto: a CUT, a CGT e a Força Sindical brigando pelo Fundo de Pensão da Petrobras, do Banco do Brasil... Eu gostaria de saber qual é o cunho lógico, o que é que a CUT pode fazer para melhorar a situação dos seus filiados com a Presidência com o comando no Fundo de Pensão da Petrobras. Mas é o que está acontecendo. É exatamente o que está acontecendo.

            Eu pensava, meu amigo Cristovam, que, com a simpatia que eu tinha pela Dona Dilma, eu, Senador da República de um Estado por que ela tem carinho, uma vez ou outra eu poderia ter uma conversa com ela. Uma vez até me pediram isso. Mas, de outra vez, escrevi uma carta a ela dizendo essas coisas. Nunca tive chance, nada.

            Houve coisas assim... Na Festa da Uva, foi com avião especial, convidou o Paim, convidou não sei quem, alguém da Bancada... A mim, nada! Tanto que naquele ano eu nem fui à Festa da Uva. A essa última Festa da Uva eu não fui.

            Eu não sei... Eu sei ir às reuniões dela com o comando do PMDB e que estão muito... Porque, justiça seja feita, na minha opinião, o Vice-Presidente da República, nosso companheiro, Presidente do PMDB, está muito competente. Ele está atuando no sentido de acalmar as causas. Tão competente como é incompetente o nosso Líder na Câmara, que eu não sei como terminou lá. Juro por Deus que não sei como uma Bancada de quase 90 Deputados tem um Líder como aquele. Nasceu para ser mil coisas. Em qualquer lugar que se metesse, ele seria vitorioso. Podia entrar no setor financeiro, devia ser dono de uma empreiteira. Ele seria... Ele é fantástico na capacidade de conduzir. Mas não líder do PMDB. Vimos Ulysses de um lado, Tancredo do outro, e de repente está esse cidadão. Dizem que a Dilma também não gosta dele. Essa é uma das boas qualidades da Dilma.

            Mas dentro desse contexto é que eu pergunto: para onde nós vamos caminhar? Para onde nós vamos caminhar? Qual é o nosso futuro? Essas notícias que estão saindo não seria um motivo para reunir Governo, oposição, PMDB e tal, para uma discussão do troca-troca? “Está na hora do troca-troca, me dá que eu te tiro, me dá aqui que eu te pego lá.” Seria uma hora para discutir a situação que nós estamos vivendo, a hora que nós estamos vivendo.

            E, no meio disso, a grande crise nacional, qual é? Afinal, o PT vai ter ou não vai ter candidato a governador no Rio de Janeiro? Ou vai apoiar o PDMB? O PMDB vai ter ou não vai ter candidato a governador na Bahia? Ou vai apoiar o PT? Como é o Ceará? O Líder do PMDB no Senado hoje vai ser candidato com o apoio do PT ou vai discutir com os irmãos Gomes, o apoio dos irmãos Gomes? Essas são as discussões que nós temos. E Santa Catarina? O PT vai apoiar o governador que foi eleito pelo PMDB, mas é não sei se do PSDB ou do PFL, mas está em negociação. A D. Dilma está recebendo e fazendo gentilezas enormes a ele. É essa a briga. A Presidente está brigando por palanque. A Presidente está brigando por palanque!

            E, cá entre nós, os partidos também. Eles estão reunidos lá porque querem e garantem que vão terminar com a Ficha Limpa para a eleição que vem aí. Vão terminar, porque foi votada de uma maneira que não deve, e vão mudar o negócio da Ficha Limpa. É muita coragem. Como disse o ex-Presidente, manchete de capa do Correio Braziliense, é um retrocesso que ninguém pode acreditar que esteja para ser feito. E está. É o que estão discutindo. É o que estão debatendo, porque tem muita gente que se vê atingida e que não pode ser candidato.

            Num país como o Brasil... Não há quem não reconheça que o grande problema do Brasil se chama impunidade! Eu duvido, traga quem quiser... Qual é o problema do Brasil? É a educação. É a educação por causa da impunidade. Os caras não fazem o que deveriam fazer, e não acontece nada. Nessa hora, eles querem e têm a coragem de querer mexer na Lei da Ficha Limpa para liberar e permitir, inclusive, que para muitos que estão sub judice ainda se possa decidir a favor deles, e, para a próxima eleição, o negócio de a decisão só no segundo turno ser definitiva não valer.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Simon, eu peço permissão ao Presidente para fazer uma porção de comentários.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Além do Presidente, que respeito muito, no plenário está só V. Exª, mas eu digo aqui...

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Não, e o povo todo, assistindo pela televisão, e os nossos taquígrafos também.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - ... que eu estava em casa vendo a sessão do Senado, que não começava. E eu pronto, arrumado. De repente, começou, e está lá o Senador Cristovam. Eu disse: “Eu vou”. Para mim, o plenário está lotado com a presença de V. Exª.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Eu dizia, Presidente, que quero fazer diversos comentários e espero que a gente tenha tempo hoje. Primeiro, uma ressalva muito curtinha: é que o senhor falou que o Presidente Lula ganhou no primeiro turno. Não, ele foi para o segundo turno, e eu dei minha pequena colaboração, com 2,5% dos votos, na campanha de 2006, para que houvesse o segundo turno. Então, ele ganhou no segundo turno. Feita essa ressalva, eu queria comentar diversos pontos. Vou começar pela Copa. O que mais me incomoda com a Copa, além de que o Brasil pode não ganhar, isso é o que mais me preocupa, sabe o que me preocupa? Se vier o Francisco, o Papa argentino, entregar a taça à Argentina. Aí vai ser uma tragédia muito grande. Aí vai ser uma tragédia. Mas hoje o que me incomoda, além do custo - e vou falar do custo -, é a energia que a gente gasta falando da Copa, inclusive eu agora. Já não se conta mais piada nos botecos. As crianças nos intervalos de aula não falam das disciplinas que eles estudam. Nós próprios aqui estamos falando de Copa. Há uma energia intelectual desperdiçada neste País por conta da Copa do Mundo ser no Brasil. Além disso, há o custo financeiro. O senhor falou no nosso estádio aqui, que está orgulhando o povo. O que eu vou falar agora vai contra meus eleitores: há um orgulho de ter um monumento para 70 mil pessoas numa cidade que não tem tradição de futebol, não tem time. Foi preciso trazer Flamengo e Santos para encher. Diferente de seu Estado, que tem pelo menos dois fortes. O meu tem três fortes em Pernambuco. Mas o meu em Brasília não tem. Eu fiz umas continhas, Senador. Se a gente pegasse o dinheiro desse estádio - R$1,6 bilhão - e investisse na educação da primeira série do primeiro grau até concluir o Instituto Tecnológico da Aeronáutica... Obviamente, seria Instituto Tecnológico da Biotecnologia, Instituto Tecnológico das Fontes Alternativas de Energia, um instituto como o ITA, que deu lugar a Embraer, que é o setor de alta tecnologia do Brasil. Se a gente pegasse esse dinheiro e formasse, dos 6 anos de idade até os 26, em entidades como o ITA, a R$60 mil por ano a formação, a gente formaria 6 mil grandes engenheiros. As pessoas não sabem o que são 6 mil. É mais do que o ITA formou em toda a sua história. O ITA deve ter formado 5 mil nos 50 anos que tem. Ou seja, quando a gente compara as finalidades, vê que é um equívoco gastar esse dinheiro todo, até porque dava para fazer com menos custo. O Governador de Pernambuco fez um estádio, e lá há três times fortes, com R$500 mil de dinheiro privado. Não há dinheiro público no estádio. Aqui é todo do Distrito Federal. Inclusive, não aceitaram o dinheiro do Governo Federal. Dizem que para não entrar no Tribunal de Contas da União. Agora, isso, espalhado para todo o Brasil, é um gasto muito alto, uma energia desperdiçada e um custo muito alto, segundo o Afif. Eu quero dizer que, num primeiro momento, quando falaram em Afif ser ministro e vice-governador, eu fiquei chocado. Mas eu descobri, Senador Simon, que há lógicas. Existem duas lógicas que explicam isso. Primeira, como eu sempre insisto, este País é tão carente de mão de obra qualificada que tem de recorrer a um vice-governador para ser ministro, tão pobre que é a nossa quantidade de pessoas preparadas para serem ministros. Estou ironizando, porque, às vezes, não se entende ironia pela televisão, só olhando no olho. Mas a segunda é que eu não vejo nenhum problema em ser ministro da pequena e média indústria e ser vice-governador de São Paulo, porque os dois fazem muito pouco. Se ele ficar os sete dias em São Paulo e não vier aqui nem um dia, ninguém vai sentir falta. Se ele ficar os sete dias aqui e não for lá é capaz de ninguém sentir falta dele como vice-governador. Então, está explicado por que a Presidenta pôde ter que escolher um vice-governador para ser o seu ministro. Tanto faz lá e cá; é um Ministério que existe apenas para compor. Posso até, daqui a seis meses, dizer que eu me enganei, que virou um grande Ministério. Eu ficaria contente de reconhecer que eu estou errado - nada indica. Digo isso por causa da experiência dos outros ministérios criados dessa forma ao longo dos Governos Lula e Dilma! Dos 39 - nós somos Senadores -, de quantos ministros, Senador Simon - por favor, eu estou fazendo a pergunta só como uma questão retórica, não tentem respondê-la -, o senhor, Senador Acir ou eu próprio, dos 39, somos capazes de citar os nomes? Eu tenho as minhas dúvidas se eu passo de cinco, seis, sete. Ou seja, são ministérios, como diria o Ministro Joaquim Barbosa, de mentirinha, como ele diz dos nossos partidos. E não é mentira o que ele diz. Verdade! Somos partidos de mentirinha. Acho até que o Presidente do Supremo não devia dizer isso de público. Mas ele não mentiu: são ministérios de mentirinha! Dava para juntar tudo isso em dez e funcionar bem. Isso para falar do Ministro Afif. Aproveito o gancho do Ministro Afif para dizer que eu comparto totalmente com sua visão sobre o Prefeito Haddad. E, logo que ele foi eleito, eu disse isto: está surgindo, possivelmente, um novo PT, através do Fernando Haddad, pela sua competência, pela sua seriedade, pelo seu compromisso público...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu concordo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - ... pela visão de longo prazo...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu concordo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - ... e pela falta de preconceitos com siglas. Ele é um homem maior do que isso. Então, eu comparto da sua visão de que o Fernando Haddad pode vir a ser...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Nisso tem de tirar o chapéu para o Lula...

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - É verdade.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - ... pela competência dele...

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - É verdade, é verdade.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - ... de dizer: “É este aqui.”

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - É verdade, e ninguém acreditava.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Tem de tirar o chapéu.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Então, eu comparto seu otimismo. Os primeiros gestos dele, de fato, confirmam essa esperança que nós temos. Depois, sobre o Suplicy. Veja como São Paulo está dominando, aqui, a nossa conversa. Eu só queria dizer que, além dele, no PT, a gente tinha Heloisa Helena, que é uma figura que a gente não deveria esquecer nunca nesta Casa. Heloisa Helena, a Senadora Heloisa Helena. Essa é uma figura de quem a gente deveria ter um retrato por aqui, no Senado, para a gente se lembrar o que é Senador, ou Senadora, no caso, combativa, presente. Às vezes, até irritava a gente, de tão combativa que ela era. Suplicy e ela são os dois grandes exemplos que nós tivemos aqui e que, lamentavelmente, não conseguem passar para o PT as suas posições. Uma teve de sair, até, do Partido. Segundo, mais um ponto é sobre os gastos públicos a partir da Petrobras. Eu tenho a mesma preocupação sua sobre a Petrobras, até porque ela hoje tem coisas inexplicadas. E, quando há coisas inexplicadas, como essa compra e venda de uma refinaria nos Estados Unidos, quando surgem coisas inexplicadas, as coisas não vão bem, e isso é preocupante. É claro que também existe algo de que ela não é culpada. Essa ambição brasileira por automóvel fez com que a Petrobras não estivesse preparada para a quantidade de tanques de gasolina para ser consumida pelos automóveis. Foi absolutamente inesperada essa explosão. A Petrobras não estava preparada para isso. Além disso, seus gastos são altos, realmente, mas não são só os dela. Eu falei há pouco aqui, Senador, mais cedo, sobre o mesmo indicador da agência que dá indicador de risco. Eu falei aqui, e fui talvez até enfático demais, porque somos muito cuidadosos aqui. Eu pedi a substituição da equipe da economia no Governo Federal, porque essa equipe não passa mais credibilidade. Eu disse isso ontem, antes de ler os jornais de hoje, e eu não sabia que ia sair esse novo indicador de risco. Quando eu li, hoje de manhã, voltei a falar do assunto. Nós estamos vivendo uma crise de credibilidade muito séria, muito séria. E credibilidade é um dos principais fatores da produção e da economia hoje, tão importante, embora subjetivo, quanto matéria-prima, quanto capital, quanto mão de obra, quanto tecnologia e quanto logística. O sexto é credibilidade, porque as coisas são tão voláteis, movem-se tanto, há tanta liberdade no mundo hoje para você fazer o que quer com o dinheiro, por causa da globalização, que um país que não passa credibilidade nas suas autoridades econômicas e monetárias, caminha para a marginalidade. E - o senhor falou aqui, eu também falei - nós precisamos reunir todo mundo. A Presidenta não pode se isolar nesse grupo dela. Ela tem que ouvir economistas críticos, ela tem... E eu espero que eles tenham patriotismo para falar com ela se ela convidar. Eu espero que tenham patriotismo. Tem que convidar aqui, os Senadores da oposição também, e eu espero que eles tenham patriotismo para irem dizer o que pensam a ela e publicamente. Então, nós temos uma situação grave. Mas o fundamental, um dos pontos fundamentais, não “o”, é a perda de controle dos gastos. E aí não é só o Governo. Hoje a gente lê, mas já vem saindo há alguns dias, essa coisa de pagar auxílio alimentação a servidores de alta renda, e retroativo, Senador Acir! Eu sei que ninguém gosta de falar mal de tribunal quando está na política. É muito perigoso! Mas eu não vou deixar de falar. Eu acho um absurdo pagar retroativamente, por nove anos - até mais tempo do que o imposto de renda dá de prazo para corrigir tudo o que se fez de errado; quem fez há cinco anos antes não tem esse direito -, vale alimentação. Primeiro porque o vale alimentação foi criado, eu acho, pelos militares, porque os salários eram tão achatados que os trabalhadores não iam ter energia, por não comer, para vir para o trabalho. “Para não aumentar os salários, a gente dá comida para o trabalhador. Deixa a família passando fome em casa” - essa foi a lógica do vale alimentação, mesmo que não houvesse esse grau de perversidade na cabeça das pessoas. É uma maneira de você ter salário baixo sem matar o trabalhador. Ele come, mesmo que sua família não. Essa ideia de vale alimentação, que tem uma perversão, mas tem um lado positivo, porque não deixa a pessoa morrer de fome, terminou se espalhando para as altas rendas também. Isso não está certo. Agora, além disso, retroativo. Eu faço uma pergunta: Quem morreu nesses nove anos a família vai receber vale alimentação para o defunto? Ou não vai pagar vale alimentação para os que morreram? E, se entrar na Justiça, será que não vai ganhar? Essa coisa esdrúxula de vale alimentação para quem já não está mais vivo, essas coisas todas, Senador, estão inviabilizando o funcionamento do País no médio e longo prazo. Daí o que eu sempre digo, e mostrei hoje neste texto que eu fiz há quase dois anos: “A economia está bem, mas não vai bem”. O Brasil está bem, mas não vai bem. É claro que está bem um país que faz uma Copa, mas não vai bem um país que faz uma Copa, gastando tanto dinheiro. É claro que nós estamos bem - o real era uma moeda fortíssima; a gente podia passear no exterior -, mas não ia bem porque desindustrializou. Agora, o dólar começa a se desvalorizar. Isso é bom para a indústria; é ruim para os consumidores, para nós; e é péssimo para a inflação. Não está bem um país que não sabe se espera a taxa de câmbio valorizar-se ou desvalorizar-se. É o caso do Brasil. Não sabemos se para nós é melhor valorizar ou desvalorizar o real. Isso é um sintoma de que as coisas não vão bem. E aí fico satisfeito que a gente possa estar aqui discutindo pontos tão variados, mas lamento que sejamos só nos dois e o Senador Acir, realmente. Era bom que houvesse mais gente. Eu já pensei sugerir ao Senador Renan... Aliás, não devia nem falar isso de público, porque sugestão ao Presidente se deve dar calado, mas é tão esdrúxula que eu até digo aqui, porque eu não devo sugerir a ele. Eu acho que ele devia fazer umas sessões aqui abertíssimas ao público e à imprensa, mas sem televisão. Pode ser que, se a gente fizesse sem transmissão pela televisão, os outros Senadores venham saber o que a gente está falando. De repente, é a maneira de a gente debater entre nós. Grava e passa de noite, para não dizer que foi escondido. É público, mas não ao vivo. A televisão está fazendo com que a gente fale lá para fora, o que não é ruim, mas a gente não fica aqui dentro debatendo. Eu queria tanto que os outros Senadores assistissem ao discurso aqui e não pela televisão, porque é uma coisa interessante: isso aqui vicia tanto a gente que os Senadores, quando vão para as suas bases... Eu, quando vou para as minhas palestras, ligo a TV Senado para ver o que o colega está dizendo, mas não debato com eles, não dialogo com eles. Isso está fazendo falta ao Brasil. Por isso, o Brasil está bom, mas não está indo bem. E aí a preocupação é quanto tempo esse “não está indo bem” vai se transformar em “não está bem”. É como se - eu até falei hoje - você fosse no carro, confortavelmente, contente, na velocidade, com um abismo no final. Está indo bem. O carro não está quebrado. Está bem, mas não está indo bem, porque, lá na frente, há uma parede ou um abismo. Nós não sabemos qual é a distância que tem...

            O SR. PRESIDENTE (Acir Gurgacz. Bloco/PDT - RO) - Ou a ponte que falta.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - A ponte que falta, como o Senador Acir falou hoje. Em Rondônia, há estrada sem ponte e ponte sem estrada, o que é prova da falta de um dos fatores, que é a logística. E aí me preocupa. Passou despercebido, mas vi no Fantástico, no domingo, a Ministra Miriam Belchior dando uma entrevista sobre obras desse tipo, que não avançam. E ela disse: “Essas obras são tão necessárias que a gente não faz mais o projeto executivo necessário para fazer a obra”. É de uma gravidade tão grande essa afirmação, que eu me pergunto por que a oposição não tomou nenhuma iniciativa de tentar debater com a Ministra. Como é possível a Ministra reconhecer na televisão que não faz o projeto que serve de base para uma obra? Aí acontecem coisas deste tipo: estrada sem ponte, e ponte sem estrada, por falta do tal projeto executivo. Mas, Senador, eu quero dizer que a gente concorda hoje e que seria bom que fosse uma discordância também, para que a gente pudesse debater. Mas a única em que fico não é uma discordância, mas uma constatação: de fato - estou repetindo como comecei -, o Presidente Lula teve de ir para o segundo turno na eleição de 2006, e dei uma contribuiçãozinha para isso, mesmo que apenas com 2,5% dos votos, porque ele foi para o segundo turno, se não me engano, com a diferença de menos de 1%. Eu estive muito perto. E acho que foi positivo haver o segundo turno. Foi importante que ele fosse para a televisão, para debater com o Governador Alckmin qual era a diferença entre os dois, embora eu hoje ache que não há nenhuma diferença entre PSDB e PT, do ponto de vista de projeto para o Brasil. Há grande diferença de personalidade entre Lula e Alckmin, Lula e Fernando Henrique ou Dilma e Alckmin, Dilma e Fernando Henrique ou Serra - de personalidade, grande. Há diferença de ênfase de projetos, de maneira de administrar, mas, do ponto de vista de projetos para o Brasil, com aqueles quatro pilares, democracia, estabilidade monetária, transferência de renda para pobres e crescimento econômico, os quatro em crise - repito, os quatro estão em crise -, não há diferença. E nenhum deles parece perceber a crise que há nesses quatro pilares que sustentam o nosso projeto - não digo a nossa democracia, porque democracia é um pilar - de longo prazo. Não há diferença. Mas foi bom que houvesse o segundo turno, para eles poderem debater e até para a gente ver que não havia diferença e terminar votando, como gosto sempre de dizer, não no mais próximo da gente, mas no menos distante. O primeiro turno é para a gente votar no mais próximo; o segundo turno é para votar no mesmo distante, naquele de que a gente menos discorda. No primeiro turno, naquele com quem a gente mais concorda; no segundo, naquele de quem a gente menos discorda. É isso, Senador Simon. Fico muito agradecido pela possibilidade de haver - não vou nem chamar debate - esse diálogo entre nós dois, aqui nesta manhã.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu agradeço a bela exposição de V. Exª. Eu diria que o meu discurso agora ficou completo. Fiz a exposição dos fatos e V. Exª fez uma proposta de um passo adiante, proposta esta que em seu primeiro pronunciamento quando chegou aqui, do qual tenho a cópia em meu gabinete, já falava isto: vamos aproveitar para olhar para o Brasil no dia a dia das coisas obrigatórias.

            É impressionante como a gente não consegue. V. Exª tem centenas de ideias brilhantes; Jarbas Vasconcelos não se acerta com o governo, mas ele fez um excelente governo de oito anos e, na época em que ele estava identificado como irmão do PT, teve uma atuação a mais brilhante que se pode imaginar.

            Olhando para onde quisermos olhar, temos pessoas que têm um cabedal... Luiz Henrique, quando governador de Santa Catarina, trouxe o Balé da Rússia, que só tem uma filial no mundo e é em Joinville, parece até piada. Mas é uma escola de primeira grandeza.

            O Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, não é por ser gaúcho, mas está dando uma aula espetacular de como é possível, ao invés de fazer o debate entre a polícia e o bandido - porque na verdade os dois eram bandidos -, transformar a polícia em representante do povo e tentar fazer uma convivência. E uma corrida de paz onde o secretário é o primeiro que está correndo.

            Mas nem a imprensa, de um lado, e nem a gente, de outro lado, damos importância a isso. Não damos importância.

            Aconteceu um fato grave e os caras já queriam que eu pedisse a convocação para vir falar, depor, explicar aqui - convocação não, convite - do Ministro do Supremo sobre o que aconteceu na penitenciária de Porto Alegre. Não vou fazer isso. Não estou preocupado com isso, mas sim se ele vai fazer a visita, etc. e tal. Mas esse profundo desgaste não é isso que interessa.

            Encerro, Sr. Presidente, e faria outro pronunciamento copiando V. Exª e aduzindo, mas só quero encerrar dizendo que ontem foi uma noite muito especial, com o lançamento do suplemento de Veja destinado a Brasília. Emocionante, porque assistimos, pela televisão, ao pronunciamento do Sr. Roberto Civita e parecia que ele estava vivo, falando ali. Ele gravou e, de certa forma, parecia que ele sabia que não estaria vivo quando aquilo fosse publicado.

            Cheguei em casa ontem - tenho essa angústia de conhecer as coisas quando acho que deve conhecê-las - e li a revista do início ao fim. É fácil, dá para entender que é uma edição festiva, não entra em detalhe, não entra em absolutamente nada, mas já mostra a intenção da nossa querida cidade.

            Meu abraço à sucursal de Brasília da Veja.

            Muito obrigado a V. Exª.

            Obrigado pelo acréscimo altamente positivo que o Cristovam deu ao meu pronunciamento.

            Muito obrigado.

 

SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR PEDRO SIMON

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Srªs e Srs. Senadores, , a presidente da Petrobras, a senhora Graça Foster, esteve recentemente nesta Casa prestando informações aos senhores Senadores.

            Se tivesse que sintetizar em poucas palavras a longa exposição da presidente da Petrobras, eu diria que ela garantiu aos senadores que a nossa grande empresa petrolífera não está passando por uma crise.

            Peço licença para discordar.

            Sou um admirador de longa data da Petrobras e dos seus trabalhadores.

            Sou um entusiasta da manutenção do petróleo sob o controle do Estado.

            E sou grande admirador da engenheira Maria das Graças Foster, a primeira mulher a presidir a Petrobras. Ela está há 35 anos na companhia e há pouco mais de ano no cargo. Antes, respondeu pela diretoria de Gás e Energia.

            Graça Foster conhece a empresa a fundo, mas me sinto obrigado a discordar dela.

            Eu diria que a frase correta da presidente Graça Foster deveria ser: "A atual administração da estatal está fazendo um grande esforço para aumentar a eficiência da Petrobras, perdida em anos recentes."

            A verdade é que os atuais problemas da Petrobras são imensos e numerosos.

            Eu diria que, hoje, o maior problema da Petrobras é o de estar sendo indevidamente usada, pelo Governo, como instrumento para controlar a inflação.

            Não é algo novo. Outros governos já incorreram no mesmo erro. E esse é um grave erro.

            A Petrobras foi criada para exercer o monopólio do petróleo.

            E também para abastecer plenamente o mercado interno, o que não está ocorrendo.

            A Petrobras já não abastece integralmente o mercado interno porque não investe os recursos necessários para manter a autossuficiência alcançada em 2006.

            E a Petrobras não investe porque está vendendo no mercado interno o combustível a um preço subsidiado - inferior ao que deveria ser! - para mascarar a taxa de inflação.

            Em suma, vendendo sua mercadoria por um preço irreal, a Petrobrás causa prejuízos aos seus acionistas.

            Vejamos mais atentamente a questão das ações.

            Os acionistas da Petrobras não são apenas o Estado e alguns milionários, como se poderia pensar.

            Em anos recentes, cerca de 300 mil trabalhadores brasileiros usaram seus suados recursos do FGTS para comprar ações da estatal.

            Muitos deles, se não a esmagadora maioria, já se arrependeram desse investimento que fizeram sob o estímulo do próprio Governo federal.

            Incrédulos, os trabalhadores viram desabar o preço de ações que adquiriram da maior empresa brasileira, pensando e acreditando em ter um futuro melhor.

            O Jornal da Globo informou recentemente que, na Bolsa de Valores, a Petrobras está depreciada. Vale hoje 65 por cento do seu patrimônio.

            O preço das ações da estatal teve queda de 7 por cento nos quatro primeiros meses deste ano.

            Na soma do valor de suas ações, a Petrobras foi superada pela estatal colombiana Ecopetrol e está chegando ao nível da mexicana Pemex.

            Insisto, Sr. Presidente: o Governo não permite que a Petrobras aumente, de modo coerente, os preços cobrados dos consumidores do país.

            As elevações recentes nos preços da gasolina e de outros produtos foram pífias, insuficientes para os cofres da Petrobras.

            O Governo não quis se indispor com os consumidores. E nem colocar lenha na inflação.

            Em outras palavras, a Petrobras está sendo usada como instrumento de política econômica.

            Distorção gera distorção.

            Ao subsidiar o preço da gasolina e do diesel, o Governo indiretamente incentiva a venda de automóveis novos.

            De outro lado, o crédito farto e o corte de impostos também impulsionam o crescimento da frota nacional.

            E, em conseqüência, aumenta ainda mais o consumo de combustível.

            Dizem os especialistas que esse subsídio mascarado ao combustível teria custado R$ 12,8 bilhões nos últimos oito anos.

            É esse o principal motivo pelo qual a estatal perdeu sua capacidade de investir.

            Não modernizou seus poços já em produção e parou com a prospecção de novas jazidas.

            Recentemente, Graça Foster chegou a admitir a perda de eficiência média de 10% nas plataformas. Chegando, em alguns casos, a 50%.

            Uma das causas é o declínio natural da produtividade de poços mais antigos, mas influíram também as transferências e a aposentadoria de equipes de manutenção e operação altamente treinadas.

            Assim, por tudo isso, a presidente Dilma Rousseff se encontra agora diante de um dilema severo.

            Se desafogar o caixa da Petrobras, autorizando o repasse dos preços externos, a inflação subirá mais rapidamente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, abordo agora dois outros problemas que considero - para usar uma linguagem elegante - estranhíssimos.

            O primeiro é o da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que seria construída numa parceria entre Petrobras e Pedevesa, estatal venezuelana de Petróleo, a um custo de US$ 2 bilhões.

            O parceiro venezuelano não colocou um tostão na obra.

            E agora os estudiosos da área do petróleo dizem que o custo final dessa refinaria chegará a US$ 20 bilhões.

            Ou seja, dez vezes mais.

            Repito: dez vezes mais.

            Felizmente, a senhora Graça Foster disse no Senado que está revendo o processo que levou o preço da refinaria pernambucana a multiplicar-se tantas vezes.

            Passo agora ao segundo problema que muito me chamou a atenção:

            A Petrobras, segundo sua presidente, está pretendendo vender uma refinaria que possui em Pasadena, nos Estados Unidos, comprada em 2005.

            Parece que foi pior negócio da história da empresa porque a Petrobrás enterrou lá 1,2 bilhões de dólares em uma planta de produção que hoje não vale 200 milhões de dólares.

            Quem teve a brilhante idéia de realizar essa compra?

            Foi apenas por pura incompetência?

            Bem, confirmando-se os números que apresentei acima, a Petrobrás estará vendendo sua refinaria americana por um sexto do valor de compra.

            Repito: um sexto do valor de aquisição.

            A presidente da Petrobras afirmou publicamente que não repetiria a operação, fechada pelo antecessor José Sérgio Gabrielli, de compra dessa refinaria de petróleo nos Estados Unidos.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dizem os especialistas do setor que os gastos da Petrobras estão descontrolados.

            A empresa estaria enfrentando uma grave crise de caixa que a levou a atrasar o pagamento de suas contas.

            Há indícios de que a nossa estatal do petróleo esteja penalizando seus fornecedores internacionais.

            Essa situação faz com que muitos dos melhores fornecedores técnicos internacionais optem por não trabalhar mais para o Brasil.

            De outro lado, o fundo que foi criado para incentivar e desenvolver as cadeias locais de fornecimento não recebeu os recursos estipulados.

            A Petrobras está sendo forçada a apoiar contratações locais mesmo quando se sabe que o setor de serviços do país não está preparado para a enorme complexidade inerente aos projetos nas águas profundas do pré-sal.

            A tudo isso, soma-se o atraso na entrega de plataformas e sondas para novos campos no pré-sal, por contingências do mercado internacional.

            O estrangulamento financeiro da Petrobras teria levado o Governo a retardar leilões de campos de petróleo, que exigiriam ainda mais investimentos.

            Sem novos campos, é claro, a produção não cresce, o que acentua a dependência de importações.

            Por tudo isso, é muito pouco provável que a Petrobras atinja sua própria meta de mais do que dobrar a produção e chegar a 5,7 milhões de barris por dia até 2020.

            Encerro, Sr. Presidente, afirmando minha confiança total na gestão de Graça Foster, sob a supervisão da Presidente Dilma Rousseff.

            É preciso ter em mente que a Presidente da República ocupou por três anos o Ministério de Minas e Energia e foi durante sete anos Presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ela conhece muito bem a nossa estatal.

            Acho, em suma, que a Petrobras tem condições de reverter com rapidez muitos dos indicadores negativos hoje registrados.

            Dilma Rousseff e Graça Foster são gestoras competentes e vão recolocar a Petrobras no patamar que merece.

            Um sinal extremamente positivo para a área petrolífera veio recentemente quando a Agência Nacional de Petróleo (ANP) realizou um leilão para exploração de petróleo e gás. Licitados 142 blocos, o ágio obtido foi de 798%.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2013 - Página 34827