Pela Liderança durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões sobre o elevado preço do gás natural no Brasil.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Reflexões sobre o elevado preço do gás natural no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/2013 - Página 35471
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • REGISTRO, APREENSÃO, ORADOR, RELAÇÃO, AUMENTO, CUSTO, PRODUÇÃO, GAS, REDUÇÃO, CAPACIDADE, INVESTIMENTO, PRODUTO NACIONAL, PREJUIZO, INDUSTRIA NACIONAL, SOLICITAÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, EXPLORAÇÃO, GAS NATURAL, PAIS.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco/PMDB - RO. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Ana Amélia, Srªs e Srs. Senadores, causou-me enorme preocupação a leitura de uma notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, no dia 13 de maio, que trazia por título o seguinte: “Energia barata dos EUA tira investimentos do Brasil”.

            Se não bastasse a China, com a mão-de-obra barata, com o custo de produção, tirar das nossas indústrias, agora vem o gás americano, com o custo muito baixo.

            Na indústria brasileira, fabricantes de cerâmica e vidro, petroquímica e química, têm no gás um dos componentes que mais afetam os custos de produção, podendo representar até 35% do custo total.

            A matéria que mencionei relata que o avanço da tecnologia para exploração do gás de xisto nos Estados Unidos fez que esse gás passasse a custar apenas cerca de 20% do gás brasileiro. Veja só, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores: 20% do custo do gás brasileiro!

            Como conseqüência, empresas brasileiras estão cancelando investimentos e trocando a produção nacional por produtos importados.

            O empresário Antonio Carlos Kieling, Superintendente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos - Anfacer, afirma que “uma fatia importante do setor está com o forno desligado. Estamos perdendo competitividade. O risco é a produção nacional ser substituída pela importada”.

            Os dados do setor mostram que as importações aumentaram 9.000% em 7 anos, para US$220 milhões ao ano, com tendência a crescerem ainda mais, pois uma grande parcela dos custos de produção dessas mercadorias decorre do uso de gás. A perda de competitividade atingiu, sobretudo, a indústria petroquímica, provocando a suspensão de investimentos previstos por empresas como Braskem, Unigel e Dow Chemical, gigantes do ramo.

            Em péssima situação encontra-se, também, a multinacional de vidros AGC, que tinha decidido, há pouco mais de três anos, investir R$800 milhões numa fábrica para a produção de vidros planos, espelhos e vidros automotivos, a ser inaugurada em 2013.

            Davide Cappelino, CEO da AGC Vidros do Brasil, declarou o seguinte a respeito da atual situação:

De lá para cá, o preço do gás dobrou, mudou totalmente o cenário e a rentabilidade. Por isso, a decisão de aumentar a capacidade, com o grande investimento previsto, foi suspensa por tempo indeterminado. Saíram ganhando as unidades da multinacional nos Estados Unidos, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Egito onde o preço do gás é de cerca de um quinto do cobrado aqui.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os prejuízos para a economia brasileira não param por aí.

            A Cebrace, outra multinacional, que tinha planejado investir até R$1 bilhão, transformando o Brasil em sua plataforma de exportação de vidros para a América Latina, também suspendeu qualquer decisão sobre investimentos e estuda alternativas de produção em países como a Argentina e a Colômbia.

            Estamos perdendo, agora, não mais para a China, para os Estados Unidos, para os Emirados Árabes, para os asiáticos, mas estamos perdendo para a Colômbia e a Argentina - a nossa indústria.

            O setor de vidros já está importando cerca de 35% dos vidros planos, um crescimento de 250% ante os 10% de 2007 - isso, em pouco mais de 5 anos.

            As indústrias que utilizam o gás como matéria-prima, qual seja o caso dos produtores de fertilizantes, ou que se utilizam do gás para mover as máquinas, e as que necessitam de altas temperaturas, como as indústrias cerâmicas, estão num beco sem saída. É impossível competir numa situação de tão grande diferença de preços para um insumo tão básico e consumido em larga escala.

            O superintendente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro - Abividro, Lucien Belmonte, disse que o setor estima uma perda de até US$3 bilhões em investimentos, devido à redução da competitividade provocada pelo alto preço do gás. Segundo ele, "não há novos investimentos de peso, e o futuro depende de decisões de agora, Quero ver como o setor vai estar lá para 2018".

            Um fator relevante, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pode explicar essa crise que passou a afetar seriamente o setor que utiliza intensivamente o gás como insumo de produção. Os Estados Unidos saíram da situação de grande importador de gás para a de potencial exportador, com a descoberta da técnica de fraturamento terrestre em formações de xisto. Essa é uma nova tecnologia. Há apenas cinco anos, seria inimaginável que isso pudesse acontecer. O preço do gás caiu de US$9,00, em 2008, para US$1,82 por milhão de BTUs.

            O preço de gás no Brasil é proibitivo. Varia de US$12,00 a US$16,00 a BTU. Enquanto nos Estados Unidos vai custar US$1,00, aqui custa de US$12,00 a US$16,00.

            Na Europa, onde os custos mais altos de produção se justificam, a BTU custa de US$8,00 a US$10,00; e nos Estados Unidos o preço se estabilizou entre US$2,5 e US$3,00 a BTU.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil tem gás, o Brasil tem reservas de gás ainda inexploradas. Nós hoje estamos dependendo muito do gás boliviano, que teve também os seus preços alterados nos últimos anos, praticamente numa chantagem do governo boliviano contra o Brasil.

            Então, tudo está conspirando contra o Brasil. O que o Brasil tem que fazer? Tem que investir alto, investir pesado em novas prospecções, na descoberta de jazidas, tem que colocar nossas jazidas para funcionar. Temos, hoje, o gás lá no Amazonas. Há quantos anos, desde que cheguei aqui, no Senado Federal, há dez anos, tenho cobrado a construção de um gasoduto ligando a Bacia do Urucu, do Juruá, do Solimões, lá no Amazonas, à Rondônia? Já ligaram a Manaus. Hoje, Manaus já tem o gás encanado, o gás canalizado, lá da Bacia do Urucu. Novas descobertas estão acontecendo na Bacia do Juruá, que vai produzir muito mais gás, mas há uma reserva estimada de 2 milhões de metros cúbicos/dia para Rondônia. O gasoduto não saiu por questões ambientais. A licença já estava aprovada, mas sempre tem um problema a mais, e, em dez anos, esse gasoduto não saiu.

            Então, faço aqui um apelo. Essas indústrias que estão indo para os Estados Unidos, para a Ásia, para os Emirados Árabes, ou perdendo competitividade para outras indústrias, agora para a Argentina, para a Colômbia, podem se instalar em Rondônia, em Porto Velho, no Amazonas, no Acre, enfim, mais próximas do gás. Então, o apelo que faço às autoridades brasileiras é para que explorem o nosso gás, para que não fiquemos dependentes do gás de outros países ou perdendo competitividade para a indústria de outros países.

            Estou aproveitando a oportunidade deste pronunciamento para fazer um alerta para que as autoridades salvem a produção nacional adotando as medidas adequadas para que o preço do gás torne conveniente a fabricação dos produtos que mencionei em terras brasileiras. Se isso não ocorrer, não somente perderemos os investimentos, conforme as declarações dos principais representantes do setor, como teremos de importar mais e mais, principalmente nas áreas de química e petroquímica, vidros, cerâmicas e fertilizantes.

            Srª Presidente, era este o alerta que eu queria deixar às nossas autoridades competentes do setor do gás.

            Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/2013 - Página 35471