Pronunciamento de Ana Amélia em 20/06/2013
Discurso durante a 100ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Considerações a respeito das manifestações populares que têm acontecido no País.
- Autor
- Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
- Nome completo: Ana Amélia de Lemos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
- Considerações a respeito das manifestações populares que têm acontecido no País.
- Aparteantes
- Cristovam Buarque, Eduardo Braga, Rodrigo Rollemberg.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/06/2013 - Página 38784
- Assunto
- Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, FATO, POPULAÇÃO, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, AUSENCIA, LIDERANÇA, REIVINDICAÇÃO, MELHORIA, SERVIÇO PUBLICO, CRITICA, EXCESSO, IMPOSTOS.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Presidente desta sessão, caros colegas Senadores, nossos ouvintes da Rádio Senado, nossos telespectadores da TV Senado, eu já tinha até desistido de subir à tribuna, Senador Paulo Paim, porque estamos aqui desde as 14 horas e foram se sucedendo os pronunciamentos, todos eles na mesma linha, na mesma direção. Fiz apartes a praticamente todos os oradores e decidi subir à tribuna, porque eu estou realmente, como todos os brasileiros e, aqui nesta Casa, os Senadores, vivendo uma experiência nova, uma experiência gratificante e uma revelação dramática, uma revelação dramática, Senador Cristovam: o Brasil todo está mobilizado, e não há líder. O Brasil todo se mexeu e não há nenhuma bandeira de ninguém, de nenhum partido político, de nenhuma instituição; mesmo daquelas mais respeitadas, CNBB, OAB e tantas outras que escreveram a história da democracia neste País. E é exatamente esse o aspecto mais notável do que está acontecendo no País.
Ninguém imaginaria, em uma hora de prosperidade econômica, em uma hora de arranjo e de serenidade, o País mostrando números - percalços, claro, na inflação que está assustando a classe média e os pobres, em maior grau - o que está acontecendo hoje. É um recado direto a todas as instituições brasileiras, ao Congresso, aos governos, ao Judiciário, ao Ministério Público: as instituições precisam ouvir as ruas.
Com muita alegria, concedo o aparte ao Senador Eduardo Braga.
O Sr. Eduardo Braga (Bloco/PMDB - AM) - Senadora, V. Exª vai à tribuna com o tema pertinente das manifestações. Eu pediria ao fotógrafo que me permitisse (...) Muito obrigado. Eu tenho uma informação que acabo de colher aqui na Internet que mostra exatamente este Brasil que está em transformação. V. Exª que é jornalista, porque uma vez jornalista sempre jornalista, lembra - e haverá de lembrar - de uma época em que, no Brasil, quando havia manifestações de rua, a bolsa caía, o dólar disparava. Era como se um tsunami acontecesse na economia brasileira. Evidentemente, o dólar vem sofrendo movimento de alta. Não em função de os meninos e os jovens estarem na rua (...)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS) - Especulação.
O Sr. Eduardo Braga (Bloco/PMDB - AM) - (...) mas em função de que há um movimento da economia americana que se fortalece. Hoje, o Presidente do Banco Central dos Estados Unidos, do Federal Reserve, acaba de anunciar que a economia e os indicadores da economia americana estão tão robustos que o Banco Central deverá, proximamente, retirar os subsídios para o crescimento da economia americana, numa prova de que os indicadores do crescimento econômico nos Estados Unidos voltam. Isso faz com que dinheiro estrangeiro, em vários países emergentes, comece a migrar, novamente, para os Estados Unidos. Há uma tendência de aumento dos juros do tesouro americano e tudo isso faz uma movimentação cambial. Mas o que me chamou a atenção e me provocou fazer esse aparte a V. Exª é que a bolsa de valores do Brasil, a Bovespa, fechou com alta de 0,67% em um movimento contrário das outras 30 maiores bolsas do mundo que caíram no dia de hoje. Ora, numa demonstração de que os fundamentos de nossa democracia são seguros e estáveis, de que o regime que aí está, o regime democrático que aí está tem o apoio do povo brasileiro; que nossas instituições estão fortalecidas: Supremo, STJ, Congresso Nacional. E eu falo com ênfase Congresso Nacional porque esta Casa, com todas as suas mazelas, é o Poder mais transparente que o povo brasileiro possui. Tanto é assim que o povo está na porta do Congresso, a sua Casa, falando para o Brasil e falando para a República. Nosso Governo está absolutamente assenhoreado das condições da governabilidade. E a resposta é que o investidor, o capital privado, que, via de regra, é covarde, no momento em que milhões de brasileiros estão nas ruas, confia, investe, aposta no Brasil, no Brasil que trabalha, no Brasil que quer construir, que quer transformar. Portanto, apenas para dizer a V. Exª do orgulho que todos temos que ter e sentir de sermos brasileiros, porque estamos construindo uma democracia que não é uma democracia qualquer. É uma democracia que, em que pese seja jovem, já enfrentou impeachment de presidente. Já enfrentou impeachment de presidente! Já enfrentou grandes crises da ética, grandes crises do combate à corrupção. E a Presidenta Dilma tem dado demonstrações de não compactuar com o malfeito. Este Governo tem como uma de suas marcas exatamente isto. Portanto, eu fico sinceramente orgulhoso de ver o meu País, no dia em que milhares de brasileiros - com certeza mais de um milhão de brasileiros - estão nas ruas no dia de hoje, se manifestando, protestando, reivindicando; e a Bolsa de Valores fecha em alta. Portanto, eu fico aqui com uma palavra de entusiasmo pelo nosso povo, pela nossa representatividade e pela certeza de que haveremos de sair mais fortes dessa nova etapa.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS) - Senador Eduardo Braga, a confiança e a crença de V. Exª também é compartilhada por todos os brasileiros de responsabilidade e de compromisso com o País. Não só com os fundamentos da economia, mas, sobretudo, com os fundamentos da democracia. E talvez esse seja o peso mais importante do que nós estamos vendo agora.
É claro que a bolsa de valores é um grande termômetro para qualquer economia do mundo. A bolsa de valores é a área mais sensível da economia. Não há nenhuma outra. O câmbio é relativamente sensível, mas a bolsa é, sim, a mais sensível de todas. Ela trata de estabilidade, de confiança, de credibilidade, de humor do mercado, como se fala, de tudo isso.
Se o mercado não tivesse com sensação de segurança nos seus negócios, certamente a bolsa não estaria mostrando esses números que V. Exª está mostrando agora para enriquecer e, especialmente, para dar melhor conteúdo a este meu pronunciamento aqui, neste final de tarde, no dia em que os brasileiros escrevem uma página importante na história da democracia e dos direitos da população.
Um recado muito direto, Senador Eduardo Braga, eu diria, de um esgotamento da paciência por tudo o que foi dito aqui, hoje, nesta tarde: os maus serviços, pagamos muitos impostos, trabalhamos quatro meses por ano - talvez mais um pouco do que isso -, e para receber em troca o quê? Ônibus de má qualidade, ter que pegar dois ou três ônibus; a violência batendo à porta; a falta de vaga na escola para o filho em todas as cidades e em todos os lugares. As deficiências cada vez maiores em todo o sistema público brasileiro. O que nós pagamos de impostos daria para termos serviços de primeiro mundo. O padrão FIFA, como se disse tanto agora, passou a ser um selo de qualidade; lamentavelmente passou a ser um selo de qualidade.
E exatamente talvez esse evento internacional, que também ganha o mundo, na visibilidade, o que acontece em nosso País, nesta Copa das Confederações e na Copa do Mundo, o ano que vem, essa visibilidade que o Brasil ganha também é compartilhada por esta histórica manifestação espontânea que, se é difusa, também tem pontos relevantes a levarmos em conta, Senador Paulo Paim.
Falamos aqui, tantas vezes, sobre a PEC 37, aquela que tolhe a ação do Ministério Público nas investigações. E olhem, o que o Ministério Público tem feito no nosso Estado, Rio Grande do Sul, em favor da moralidade, da preservação dos direitos, da aplicação correta dos recursos públicos nas instâncias municipais e estaduais! Em quantas coisas positivas o Ministério Público tem se envolvido no nosso Estado! Que dizer da Procuradoria-Geral da República em tantos aspectos!
O Senador Eduardo Braga fez referência à questão da corrupção e eu, sempre, aqui no plenário, tenho tido uma atitude de independência em relação ao Governo, mas, em todos os momentos, disse que a Presidente Dilma sempre acertou a mão quando tocou fundo na questão do que ela convencionou chamar os malfeitos. E nisso a Presidente da República tem o apoio integral da sociedade brasileira, porque é nos malfeitos que estão os desvios daquilo que a sociedade, com muito sacrifício, paga e entrega ao cofre público, seja o Município, seja o Estado, seja o Governo Federal.
E exatamente esta é a forma que tem hoje a sociedade, ir às ruas, com toda a liberdade, em um regime e num momento de plena consolidação democrática, com as suas instituições funcionando, de nós termos essa liberdade. Esse é o lado bom de tudo o que está acontecendo, Senador Paim.
Mas nós, aqui nesta Casa, precisamos ficar com o ouvido muito atento ao que vem do rufar desses tambores das ruas de Brasília, da nossa Porto Alegre, que mesmo com a chuva que aconteceu, com o mau tempo, em qualquer lugar, o Brasil está mobilizado. E não só Porto Alegre; mais de dez cidades no Rio Grande do Sul e em todas as regiões estão também fazendo a sua mobilização democrática de cidadania, para dizer uma espécie de basta. Chega! A paciência esgotou! Parece que é esse o recado que está acontecendo e que nós estamos recebendo. Mas isso é um recado para esta Casa, para o Poder Legislativo, para o Poder Judiciário, para o Poder Executivo, para o Ministério Público, para todas as instituições. Para os servidores públicos também, que ora são vítimas, ora são parte do processo, porque são responsáveis pelo atendimento à população nas demandas da saúde, do Sistema SUS. Então, nós temos que ver o conjunto de todo este processo, desse sistema tão complexo que é a nossa sociedade, a nossa estrutura.
Aqui foi dito pelos Senadores, pelo Senador Cristovam, Senador Pedro Taques, Senador Rodrigo Rollemberg e por todos os Senadores que antes falaram lembrando também dessas questões relacionadas ao Pacto Federativo. Discutimos muito, usamos muito a retórica, e pouco, na prática, acontece para que o cidadão que mora no Município receba um serviço de qualidade. Hoje, as prefeituras municipais estão sufocadas, numa repartição injusta do recurso, que é concentrado na União; uma pequena parte vai para os primos remediados da Federação, que são os Estados; e os primos pobres, que são os Municípios.
Isso tudo distorce, isso tudo cria problemas, e não cuidamos de áreas essenciais.
Temos um especialista, o nosso querido Senador Cristovam Buarque, que, na educação, tem sido um mestre para todos nós, um sacerdote, como eu disse há poucas semanas aqui. O foco na Educação Básica e Fundamental, nós temos nos descuidado disso, porque parece que não há porta-voz do Ensino Fundamental em nosso país para tratar de uma questão que é grave, que é a base. Sobre a Educação Infantil, de 0 a 3 anos, ouvimos, recentemente, grandes especialistas a nos mostrar esse caminho.
Então, temos de fazer o dever de casa aqui, Senador Cristovam, exatamente para ampliar o debate em torno dessas necessidades que a sociedade está exigindo de nós. Das mães que não têm a creche para o filho, a mãe que trabalha e se vê na contingência de ou cuidar do filho ou trabalhar para consolidar a sua posição de emancipação econômica e para ter também a garantia do seu desenvolvimento, da sua autoestima como pessoa, como cidadã, como profissional. Demandas que precisam ser atendidas na área da saúde, no campo da segurança pública, no campo da mobilidade urbana.
Como disseram aqui vários Senadores, não são apenas os R$0,20 que estão mexendo com o coração e o bolso dos brasileiros. É uma atitude, uma atitude que está sendo tomada coletivamente pela sociedade brasileira de forma espontânea. Uma atitude, uma reação de maneira estrondosa, vigorosa, potente, alta, um verdadeiro brado, um brado da independência. Parece isso.
Então, a sociedade acordou de uma aparente letargia, Senador Pedro Taques, e agora está gritando solenemente: chega! Agora é preciso trabalho, é preciso muita ética na repartição do dinheiro, é preciso muito cuidado com o dinheiro que o contribuinte, o cidadão, entrega para o setor público. Muita ética nas relações interpessoais, nas relações políticas, nas relações entre governos. Temos eleições cada vez mais caras, Senador, gastando dinheiro, e a lei não vai evitar que tenha esse caixa dois. Temos de ter em conta essa cobrança. Por que estão sendo aniquiladas as bandeiras dos Partidos Políticos? Esse é um recado para que tenhamos muita ética nessa relação com o eleitor. O compromisso que assumimos numa campanha eleitoral precisa ser respondido aqui adequadamente, porque quando o negamos e damos as costas para o eleitor ele vai para a rua. Ele agora está mostrando para todos nós a força que ele tem. Essa descoberta é a coisa mais importante que o nosso país e a nossa democracia estão vivendo neste momento.
Senador Pedro Taques, eu estou realmente muito feliz de estar apreciando, não de longe, a fachada. Basta chegarmos ali para vermos o que é, que força tem quando o povo deseja mudar alguma coisa.
Já houve, como lembrou aqui o Líder Eduardo Braga, de maneira absolutamente tranquila, a mobilização, aqui em Brasília, dos caras pintadas. Agora, algumas caras são pintadas, outras nem precisam, enroladas na bandeira nacional, revelando a sua indignação, a sua falta de paciência, e dizendo a força que tem a união do povo. Como diz aquele slogan antigo: “O povo unido jamais será vencido”. Alguém vai dizer: mas por que essa Senadora do Partido Progressista usa este slogan, mas é isso mesmo. Esta é a união que está fazendo a sociedade mostrar a todas as instituições que a sua paciência se esgotou. A beleza de tudo isso é que nenhum partido político pode ousar levar a sua bandeira para este movimento. A sociedade não quer isso. Ela está mostrando a sua força, o seu poder e a sua capacidade de mobilização. Começaram com os jovens, com a questão de uma tarifa de transporte coletivo, e agora inclui uma pauta, Senador Pedro Taques, que nos é muito cara: a PEC nº 37 e a PEC nº 33. V. Exª, eu e tantos Senadores aqui, nesta Casa, temos falado tanto nela.
Vou repetir aqui. Falei a seus colegas, aos membros do Ministério Público, aqui no Distrito Federal e lá no meu Estado: “Se a pressão não viesse das ruas, a PEC nº 37 corria sérios riscos”. Nós vimos o filme aqui quando foi votado o PRC nº 132. Vimos o filme aqui, Senador, e, naquela noite, eu fiquei assustada. Agora não. Agora eu acho que a PEC... E desejo: vamos fazer uma grande força, uma grande corrente para que a PEC nº 37 seja definitivamente sepultada, assim como a PEC nº 33. Sempre que acontece o desgosto ou o desagrado pela ação do Ministério Público, sempre adequada... Claro, de novo, a instituição tem que se encarregar de afastar os maus que ali existem. Existem maus juízes, existem maus procuradores ou promotores, maus Senadores, maus jornalistas, maus médicos, maus professores, em toda área eles existem. A maioria é de bons, mas existem as exceções, que são os maus. Então, é preciso que essa instituição também tenha o cuidado de afastar o joio do trigo, separar aqueles que a contaminam eventualmente. E nós aqui vamos fazer uma continuada vigília para que a PEC nº 37 seja definitivamente sepultada, Senador Pedro Taques, porque o Ministério Público tem o dever constitucional de defender a sociedade em todas as questões. Neutralizar a competência do Ministério Público é reduzir a proteção da sociedade em várias das suas demandas, inclusive e especialmente as demandas sociais.
Às vezes, para se achar uma vaga para uma criança, aqui em Brasília, é invocado o Ministério Público quando o Poder Público não responde adequadamente à demanda de um pai ou de uma mãe que leva um filho nos braços desesperadamente para ter uma vaga na UTI. É o Ministério Público que responde a isso ou que vai à casa de uma mulher agredida para atender, porque ninguém responde, ninguém lhe dá guarida, ninguém a ouve nesse ato de violência. É isso que precisa ser entendido desta instituição, que tem uma grande responsabilidade.
Vimos isso e por isso ela precisa ser preservada, como as outras instituições precisam ser preservadas. E esta é a grande mensagem que as ruas estão dando a todos nós.
Com muita alegria, concedo o aparte ao Senador Cristovam Buarque.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senadora Ana Amélia, V. Exª falou da nossa responsabilidade daqui para frente. Agora, a gente precisa também fazer uma análise da nossa culpa com o que está acontecendo, a nossa responsabilidade com o que está acontecendo. Não fomos só nós, do Senado, mas nós tivemos. Quando a gente vota um projeto como aquele dos portos, importantíssimo, com milhares de páginas, sem ter lido, isso gera um ingrediente; quando a gente elege um presidente no voto secreto, sem o voto aberto para que todo mundo lá fora saiba por que e em quem a gente votou, a gente joga um ingrediente; quando deixamos acumular milhares de vetos e não votamos; quando nós, de repente, pegamos esses vetos e queremos votar em uma tarde. Tudo isso vai deixando uma marquinha, é um ingrediente numa coisa que vai cozinhando, cozinhando, até que um dia acontece isso aí. Quando deixamos de votar as coisas fundamentais para o País, sobretudo a reforma política, que nós negamos a mudar, é um ingrediente; quando as pessoas sabem que estamos aqui vazios hoje, e nem a sexta-feira nem segunda-feira, isso é um ingrediente. Nós colocamos ingredientes na panela de onde está saindo esse movimento que tem uma grande vantagem: despertar a gente, na linha do que a senhora falou. Eu espero que nós nos despertemos para que tudo isso fique no lado não só bonito esteticamente como ele é, mas também consequente politicamente, para mudar o Brasil.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS) - Muito obrigada, Senador Cristovam Buarque. Compactuo com a posição de V. Exª e quero lhe dizer, Senador Cristovam, que V. Exª, como eu, o Senador Paim, o Senador Pedro Taques e o Senador Rodrigo Rollemberg, nós nos valemos de uma arma muito poderosa que é não só o título de eleitor, mas também isto aqui: a rede social. A rede social, Senador Pedro Taques. E essa rede social fez também a diferença, fez para eleger um Presidente, o primeiro Presidente negro da história dos Estados Unidos. Fez a diferença a rede social.
A rede social fez a diferença nessa grande e democrática mobilização nacional, histórica. E isso tem que ser levado em conta. O cidadão, além do título de eleitor, está empoderado pela rede social. Usando a rede social, Cristovam Buarque, ele tem um poder de autoria, um poder de mudar as coisas, um poder de pressionar. A rede social fez a diferença nessa mobilização. Eu, que, como jornalista, trabalhei muito com isso, acho que hoje nós precisamos exatamente dessa questão.
Então, para encerrar, vejo que o Presidente Renan Calheiros está chegando. Deve fazer alguma manifestação. Mas vou encerrar, Presidente Renan Calheiros. Sei que a sua manifestação será relevante ou importante, mas eu concedo o aparte ao nosso querido Senador Rodrigo Rollemberg.
O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - Senadora Ana Amélia, só para cumprimentar V. Exª pelo pronunciamento e pelas reflexões que traz a esta Casa, nesta tarde/noite, de hoje, a noite de hoje. Eu diria que o Brasil mudou completamente, mudou completamente todas as... Nós não temos nenhuma certeza. Aquilo que parecia sólido se desfez e, de uma forma, mostrando que a população resolveu acordar, utilizando, como V. Exª diz, as novas tecnologias de comunicação. É uma questão absolutamente nova para todos. Ela é nova nos instrumentos, nos meios de comunicação, nos meios de mobilização, nos meios de atração. Ela é nova porque não têm lideranças específicas, as pessoas não estão vinculadas a partidos, a sindicatos, a associações. As pessoas estão vinculadas pelas suas vidas nas diversas cidades, pelas suas necessidades. A pauta é extremamente politizada. Chamo a atenção, Senador Pedro Taques, de que a pauta, a agenda ampla é extremamente politizada e é interessante que se dizia que a juventude não gosta de política, a juventude não participa de política. E nós não estávamos percebendo que a juventude não gosta de política como a política está sendo feita. Não gosta de política, não gosta de políticos, não gosta de partidos políticos, não gosta das instituições como elas estão atuando, como elas estão organizadas. E é interessante que não há absolutamente nenhuma manifestação contra a democracia. Zero. Pelo contrário, há um processo de radicalização da democracia. E é interessante, Senadora Ana Amélia, perceber também que mesmo aquelas pessoas que tem se comportado de forma violenta nas manifestações, e são a minoria, a própria massa procura alijar do processo, deixar claro que não concorda com aquilo, que a grande maioria não quer a violência. A grande maioria quer se manifestar de forma contundente, como está se manifestando de forma contundente, mas quer se manifestar de forma pacífica. Eu diria que nós temos que ter humildade para reconhecer que todas as certezas que poderíamos ter em relação ao futuro político, ao desdobramento político, elas foram embora, elas desapareceram. E nós temos que ter a humildade de reconstruir o pensamento político, inclusive porque vai ter um momento em que haverá a necessidade de um diálogo com essas manifestações da rua. E esse diálogo será também um novo tipo de diálogo que não é um diálogo tradicional. Há pouco, falou-se aqui que o Presidente receberia uma comissão. Que comissão? Que comissão é essa? Qual é a legitimidade que qualquer comissão tem neste momento, se nós estamos tendo manifestações simultâneas em todo o Brasil, convocadas pela rede, sem terem exatamente uma liderança? O que existem, na verdade, são sentimentos. Nós precisamos dialogar com os sentimentos, com as expectativas, com as aspirações, com as reivindicações que estão na rua. E existem alguns temas, Senador Pedro Taques - e aí nós precisamos dar resposta - que estão aqui, no Congresso, e não estão há pouco tempo no Congresso, estão há muito tempo no Congresso, e o Congresso, como V. Exª disse no seu pronunciamento, pela sua velha forma de agir, vai empurrando, vai empurrando, vai empurrando com a barriga. O Congresso não aprecia o voto aberto, por exemplo. Aqui, quem é contra e quem é a favor do voto aberto, vamo-nos manifestar claramente. E a população está mostrando que quer saber como é que nós votamos, e, para mim, a manifestação mais contundente foi a do Senador Paulo Paim, outro dia, mostrando que esse sistema de voto secreto, Senadora Ana Amélia, da forma como ele é, foi construído para o Parlamentar se proteger da pressão do Governo, e nós vemos que, historicamente, não estão sendo derrubados os vetos, e hoje a grande pressão que o Parlamentar pode sofrer é essa que está aqui na porta, é a pressão da opinião pública. Ela quer saber como nós votamos. Nós temos que começar de novo, mudar os paradigmas. A nossa reforma política, tão propalada, tão defendida, tem que ser em torno de outros paradigmas. Há pouco, eu falava aí que nós estamos discutindo reforma política com lista fechada, dando poder aos partidos de construir listas fechadas, e financiamento público de campanha, quando a população aqui, na porta, está gritando: “O povo unido governa sem partido”, ou seja, a população está dizendo: “Nós não acreditamos nos partidos.” Nós temos buscado sempre a negociação, a composição. Tem-se dificuldade de tratar os temas de frente, e nós precisamos ter esse recado. Está aí, eu quero ver qual vai ser a posição do Senado Federal na semana que vem em relação ao projeto que restringe a criação de partidos, porque nós não estamos fazendo um debate sobre como devem se organizar os partidos políticos: nós estamos fazendo apreciação de uma matéria às pressas, com o objetivo de prejudicar um determinado grupo político para favorecer outro grupo político. Mas até isso perdeu o sentido, Senadora Ana Amélia, pois a população está dizendo que não adianta mais essas coisas também. Os meios tradicionais de comunicação já não são suficientes. Existem outros meios, e a população está sabendo. A população está sabendo! Se ela tiver interesse em saber o que nós estamos fazendo aqui agora, é só entrar nas redes sociais. Essa é a comunicação. Não há mais como esconder nada. E o que está demonstrado é a ineficiência das instituições! Nós temos que reconhecer isso. Há parlamentares mais sintonizados com as bandeiras que estão aí? Há. Mas é importante registrar que o recado que está ali não é um recado dirigido a algumas autoridades, ou apenas aos governantes. Não. Será um equívoco imaginar isso. Os recados que a população está passando são recados para todos nós. É um recado para as instituições. São para as personalidades que representam as instituições, mas são, sobretudo, para as instituições. Como elas estão organizadas, elas estão superadas. São instituições do século passado, ou do século retrasado, e a nossa juventude, que imaginávamos que estivesse alienada, que não quisesse saber de política, está demonstrando aí: ela quer saber de política, sim, mas de uma nova política, não da velha política a que o País estava acostumado a assistir.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS) - Muito obrigada, Senador Rodrigo Rollemberg.
Eu ontem, quando o seu aparte estava mostrando exatamente a parte pacífica do movimento, fazendo rejeição a todos os atos de violência, veio-me à mente a cena maravilhosa de uma jovem com um balde e um pano, lavando um monumento histórico que havia sido pichado. Não sei se era São Paulo ou Rio de Janeiro. E aí ela disse: “Estou aqui ajudando a limpar, porque não concordo com esse vandalismo que venha manchar, ou prejudicar, ou destruir um prédio histórico, um monumento histórico, um monumento público”. E ela disse aquilo com tanta serenidade, com tanta convicção, que eu mais respeitei ainda o gesto que ela teve, e, dentro desse grupo que o Senador Rodrigo acaba de falar: o grupo que quer continuar na manifestação de forma pacífica e recusando, assim recusa as bandeiras de partidos políticos, recusa a violência também, Senador Rodrigo Rollemberg.
Então, essa sua atitude e essa sua manifestação foi muito oportuna. E também porque a inovação está entrando na área política.
V. Exª tem aqui defendido muito o direito da Senadora Marina Silva de ter o seu próprio partido. Ela própria está inovando, muda-se até o nome: não é partido, é a Rede. É uma forma de inovação e de estar sintonizado com os novos tempos.
É a tecnologia, são as redes sociais nos conectando e nos unindo mais na sociedade com essa grande manifestação que acontece hoje em todo o Brasil, talvez a maior da sua história, mais do que aconteceu nas Diretas Já, mais do que aconteceu com os caras pintadas no impeachment de um Presidente da República.
Eu, daqui a pouco, Senador Pedro Taques, embarco para o Acre. Vou a Rio Branco a convite do Deputado Gladson Cameli, que é do meu partido, para fazer um debate sobre drogas. Eu tenho certeza de que também lá, em Rio Branco, capital do Acre, onde o gaúcho Plácido de Castro teve uma participação muito importante na definição de território, lá também, como aqui em Brasília, como em Porto Alegre, como em todas as outras capitais, tem havido mobilização. Chegarei lá nesta madrugada, por causa de fuso horário.
Penso que, dessa forma, nós estamos cumprindo com o nosso dever. Sinceramente, algumas pessoas me disseram que estava perigoso andar com o boton, com o distintivo de Parlamentar. Eu não tenho nenhum risco e vou continuar usando meu distintivo de Senadora, porque faço isso em honra e homenagem aos 3,442 milhões de votos que recebi no Rio Grande do Sul. É por eles que eu carrego este distintivo.
E eu penso que, se não respeitarmos a Instituição e não tivermos a coragem de representar a Instituição que nós fomos chamados para defender, então nós não devemos mesmo usar este distintivo que temos, que é a representação do Parlamento e do Senado Federal.
Muito obrigada, Senador Pedro Taques. Obrigada a todos os Senadores que apartearam este meu pronunciamento.