Discurso durante a 101ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação de repúdio aos atos de vandalismo praticados durante as manifestações populares ocorridas nos últimos dias; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Manifestação de repúdio aos atos de vandalismo praticados durante as manifestações populares ocorridas nos últimos dias; e outros assuntos.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2013 - Página 39049
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANUNCIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, CERIMONIA, ENTREGA, TITULO, PROFESSOR, BIOLOGO, ORIGEM, BRASIL, LOCAL, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), BRASILIA (DF).
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, RESPOSTA, REIVINDICAÇÃO, JUVENTUDE, AUTORIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, CRITICA, DECISÃO, PRESIDENTE, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REFERENCIA, SOLICITAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTICIPAÇÃO, MANIFESTAÇÃO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Eu agradeço vossa gentileza em permutar o tempo comigo. Não que eu vá sair. Eu pretendo voltar ao Senado, mas às 10 horas e pouco eu terei que ir à Universidade de Brasília, onde o Professor Ivan Marques de Toledo Camargo, Reitor, convida à cerimônia de outorga do título de Professor Emérito ao biólogo brasileiro Carlos Roberto Félix.

            O motivo é muito simples. Está aqui o diploma com o qual Carlos Roberto Félix entra no top dos cem cientistas, pelo esforço feito na área da bioquímica. Os cem maiores cientistas do mundo. Entre eles está o nosso ilustre conterrâneo. Testemunhado na data abaixo pelos oficiais do Centro de Biografia Internacional, em sua sede em Cambridge, Inglaterra, e assinado pelo editor-chefe e diretor-geral.

            É algo que emociona, Sr. Presidente. Para nós que lutamos tanto para entrar no primeiro mundo, esse foi um grande passo. Entre os cem maiores cientistas do mundo, passamos a ter um, aqui de Brasília, que nos honra muito.

            Sr. Presidente, antes de vir a esta Casa, passei, como geralmente faço, na igreja do Santíssimo Sacramento. Para nós católicos, tem um significado que, naquela igreja, durante 24 horas por dia, esteja exposto Jesus no Santíssimo Sacramento: para nós é Deus que está presente. E, como disse ontem aqui, rezei. Rezei pela nossa Presidente. Eram exatamente 9 horas, horário em que a reunião deve ter começado. Pedi a Deus que inspire a nossa Presidente, que lhe dê condições de ver, de olhar, de analisar e de acertar neste momento.

            Sua Excelência, a Presidenta, teve muitos momentos, na sua vida, de angústia, de dificuldade. Torturada em um pau de arara, sofrendo o que ela sofreu, é fácil imaginar quão longa e difícil trajetória ela teve. Chegou à Presidência da República por, eu diria, quase que um destino; foi predestinada. Pela sua caminhada, pelo seu início, como secretária da Prefeitura de Porto Alegre, pelo PDT, nem era PT, entrou no Ministério do Lula, por insistência dele, porque o Lula gostou do trabalho dela, e não por indicação do PT do Rio Grande, que tinha muitos Ministros. Foi, impôs-se e foi uma grande Chefe da Casa Civil. Impôs-se e ganhou. E começou com o pé direito. Começou firme, começou com garra, começou com luta, mas, infelizmente, a situação chegou a esta em que estamos.

            E é impressionante, Sr. Presidente. A Presidenta deve estar se perguntando: “Mas se as últimas pesquisas me deram os índices mais altos de prestígio que um presidente já teve; se o meu Governo é considerado ótimo pela imensa maioria; se a imensa maioria diz que eu sou candidata à reeleição; se a imensa maioria diz que eu sou mais candidata à reeleição do que o próprio Lula; como é que, de repente, baixa do jeito que baixou?”. A política é isso. O General Pétain, herói na Primeira Guerra na França, herói da resistência, foi traidor na Segunda, quando, a pretexto de salvar Paris, fez um acordo com Hitler e deixou que a Alemanha invadisse a França.

            Digo, com isso, apenas o seguinte: o povo está na rua. Endosso o discurso do Paim e do nosso ilustre Senador de Brasília: essa algazarra que está aí não é o que queremos. E vamos fazer justiça: não é o que os organizadores queriam! Eles repetiram, repetiram, repetiram várias vezes, inclusive pediram: “Não compareçam!”. E o pedido de não comparecer eu não levei como ofensa, como agressão, apenas achei que eles queriam fazer uma manifestação de povo e não queriam ver partidos, porque, se tiver partido A, vai partido B, e, daqui a pouco, se acusa partido contra partido, e não é o que eles queriam.

            Hoje, vi no jornal, Paim, que a Presidente está lamentando a decisão do Presidente nacional do PT de mandar os militantes para a rua. Que bom isso! Porque, na verdade, só havia uma interpretação: se ela vai a São Paulo, se reúnem Dilma, Lula, Mercadante, o Presidente do PT e Santana, da publicidade, e, saindo dali, o Presidente do PT vai e comanda os jovens do PT para botarem camisa vermelha e enfrentarem, é um absurdo. E a única interpretação que há é que foi uma decisão da reunião. Como é que ela sai de uma reunião com o Lula e esse rapaz e dá uma declaração dessa natureza? Por isso, a nota que ela está dando, repudiando, é muito positiva.

            Creio, Sr. Presidente, que deveríamos fazer agora uma profunda reflexão: as coisas aconteceram, foram positivas, mas, na verdade, o que o público está fazendo na rua hoje, mais do que tudo, mais do que Dilma, mais do que tudo, é o Congresso Nacional, porque, para as reformas saírem.. É verdade que nós... Todo mundo depende da Presidenta, mas depende no medo, no troca-troca, porque, no voto, podemos fazer o que queremos.

            Eu dizia, anos atrás - quando falava, os olhares a mim pelos colegas era meio de deboche - “Essa gurizada vai para a rua. O mundo está mudando, as redes populares de televisão estão espalhando”. Derrubaram o governo do Egito sem uma bala, sem coisa nenhuma, só reunindo o povo em roda do palácio, e o presidente foi obrigado a renunciar.

            Isso hoje é uma realidade. Hoje, é uma realidade que mostra outra face. Há os que vão para a rua querendo apoiar, querendo ajudar, querendo debater as grandes ideias, e há os que vão para a rua querendo fazer baderna, querendo fazer anarquia, querendo fazer confusão, querendo tumultuar, querendo agitar.

            Tem um caso típico que é muito importante nesse sentido. Não ontem, anteontem, vi um rapaz, apareceu nítido na televisão, pegando barra não sei do quê e quebrando os vidros da Prefeitura do Rio de Janeiro. Ele fazendo tudo. Hoje ele está preso. A polícia o identificou, e hoje ele está preso, está aonde deve estar. E deve responder pelo crime que cometeu.

            Acho que, hoje, a gente conhece tudo. Inclusive, cá entre nós, com o nosso telefone, com o celular, você filma. A Globo pede: “Vocês que têm filme, quem têm qualquer coisa para mandar, mandem para nós que nós editamos e damos o nome de quem está mandando”. Aliás, o mundo inteiro está cheio disso.

            Então, eu digo daqui: quem está vendo alguém atirando pedra, alguém agredindo, alguém usando de violência, fotografe e mande para a imprensa.

            Mas eu espero é da reunião de hoje. Meu olhar está para a reunião de hoje. Digo, com todo o respeito, que, olhando, não sei, dizem que são os principais ministros que a Presidente vai reunir. Eu não tenho nem ideia, não podia nem dar palpite para saber quais são os principais ministros. Não sei. Mas ela vai reunir os principais ministros.

            Em primeiro lugar, que a Presidente seja tranquila. Não é hora de mostrar o lado radical. É hora de mostrar comando. E comando se faz não no grito, mas no diálogo. É hora de ela tomar uma grande posição, uma grande posição. Ela tomou uma grande posição quando estava na Presidência. Quando sete ministros cometeram atos de ilegalidades, ela demitiu os sete. E foi com esse ato de não aceitar desvios que o prestigio dela subiu para onde subiu. Hoje, ela tem uma posição a tomar.

            Senhora Presidente Dilma, ou continua com a política do troca-troca - vota comigo e leva o cargo, vota comigo e tuas emendas serão atendidas - ou terá a política da grandeza - convoca-nos, manda o projeto e pede para votar porque é bom para o Brasil, e não porque é bom para o PMDB nem para o PT, nem por isso nem por aquilo, mas porque é bom para o Brasil.

            É hora de ela se identificar, é hora de ela se identificar com esse povo que está na rua. Ela diz que está analisando, que está recebendo a discussão, que está ouvindo as ruas para discutir. E agora ela vai se reunir.

            Que critiquem os cretinos que tentaram atirar pedras na Catedral e outros cretinos que atiraram pedras na obra mais bonita que temos em Brasília, que é o Palácio das Relações Exteriores.

            Protestem! Busquem os responsáveis! Isso é correto, mas, fundamentalmente, que penetremos no âmago da questão.

            A questão começou com os R$0,20 da passagem, mas todos nós sabemos, todos nós sabemos, todos nós sabemos que existem questões que estão aí: o problema da Emenda 37, dos procuradores, é impressionante o que já apareceu na pesquisa feita: 87% a favor dos promotores!

            Reforma política nesta Casa, nós que temos que fazê-la, mas não a nosso favor. Uns líderes querem que a reforma política seja com o candidato majoritário e que quem o indique seja o partido. Então, o presidente de partido, em alguns lugares, é o comandante. Vai aparecer candidato a Deputado em que o primeiro é ele, em segundo, a mulher, em terceiro, a avó, em quarto, a empregada... Porque é isso que tem acontecido. Isso já acontece agora em Municípios, em alguns lugares, em alguns Estados, em que o comando é distribuído entre os parentes.

            Então, vamos escolher uma forma de independência.

            O voto majoritário - eu até sou sincero - é uma etapa que seria muito feliz, em que nós tivéssemos partidos sérios, responsáveis, competentes, partidos como nos Estados Unidos - o Republicano e o Democrata. Então, o voto majoritário seria importante, porque aí o partido botaria os melhores candidatos, por ordem de importância, para ganhar os votos. Mas, de qualquer maneira, nós não temos que decidir aqui, nem fora daqui, nem pelas Lideranças.

            Que me perdoem a sinceridade os Srs. Líderes, mas há um exagero de Líderes, são mais de 40. Esses Líderes hoje não estão mais no estilo de antigamente, quando o Líder era o mais competente, era o mais antigo, era o que tinha mais capacidade. Hoje é um grupo. Eles comandam? Comandam. Então, tem que ser gente deles em cada uma das posições.

            Por isso a D. Dilma está com a palavra.

            D. Dilma, o seu pronunciamento hoje, desde que a senhora tomou posse na Presidência da República, é o mais importante que a senhora vai fazer. Eu diria mais, Presidenta, hoje realmente é o início com relação ao destino do prestígio do seu nome junto à sociedade. Caiu dez pontos? Caiu. Mas, a partir de hoje, vai se decidir o rumo: se ela vai continuar caindo ou se ela vai se estabilizar e começar a subir.

            Eu acho que, infelizmente, nós da aliança democrática para derrubar a ditadura tivemos que fazer uma aliança e uma composição em que o Fernando Henrique pegou como vice alguém - aliás, um excepcional companheiro - que representava a Direita, do PFL. E aí as coisas já não começaram bem, já não foram bem.

            Nós estamos devendo à sociedade uma posição concreta, objetiva, real. Quando o Senador Cristovam fala em convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, eu entendo o porquê. É porque ele, como toda a sociedade, não acredita no Congresso Nacional, duvida que nós façamos alguma emenda positiva a favor do povo brasileiro. Mas aí está.

            Senhora Presidente Dilma, em seu Governo, a partir de hoje, em vez dessas decisões como essa última agora do Supremo, quando foi o ex-prefeito de São Paulo para fazer um partido, o PSD, para apoiar o seu Governo, a lei foi aprovada, correndo, e até se cometeu este ato esdrúxulo que eu não consigo entender: Vice-Governador de São Paulo e Ministro da Dilma... Eu não consigo entender. Como é? Divide o horário? De manhã, ele é Ministro da Dilma; de tarde, ele é Vice-Governador? Qual a fórmula com que isso é feito? E foi a Dona Dilma que o nomeou.

            Por isso, Excelência, não me passa por aqui e seria ridículo da minha parte…

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Simon, permite-me um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Só um minutinho.

            Não me passa por aqui e seria ridículo da minha parte pedir que a Presidente Dilma rompesse com as alianças ou - romper não digo - se atritasse com as alianças do PMDB, do PT, do PDT, de todos os partidos que estão aí. Eu não digo isso. Mas ela pode reunir os partidos, pode mostrar as manchetes que estão percorrendo o mundo inteiro: “Um milhão vai às ruas” - e não dizem que era um; eram dois. Essas são as manchetes de todos os jornais do Brasil e do mundo. E ela pode dizer: “Nós temos que encontrar uma saída para isso; temos que encontrar uma saída.”

            Doutora Dilma, não há outra saída senão seguir o paradigma da dignidade, da seriedade. Fazer com que realmente o entendimento político, o Governo participativo seja feito nesse sentido. Mas não - mas não - em troca da distribuição de cargo.

            A CUT ontem resolveu aparecer em São Paulo. Quando é que a gente imaginou que a CUT iria a São Paulo e não à polícia? Mas os jovens tiraram as bandeiras e os proibiram de ir. O Presidente mandou, e milhares foram a São Paulo com a camiseta do PT fazer o enfrentamento, levantar. Foram obrigados a baixar e se humilhar.

            Presidente Dilma, Vossa Excelência vai falar à Nação. Pense bem. Se Vossa Excelência vai se agarrar àqueles que dizem que tem que ser esse caminho para ser reeleita…

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - … ou se Vossa Excelência vai seguir o caminho do que é sério e do que é digno, que, na minha opinião, pode levar à reeleição.

            E eu faço um apelo, embora saiba que leitura de atos meus não tem a simpatia da Presidente. Mas eu tenho simpatia por ela. Tenho. Confio nela.

            Pois não, Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Simon, eu hoje conversava com o Senador Jorge Viana e ele me perguntava como é que foi a nossa vigília de ontem. Eu disse que foi muito positiva, mas disse a ele, e vou dizer de público, que eu estava um pouco constrangido com essa posição de que haveria um documento, uma nota do Presidente do nosso Partido pedindo para que os militantes fossem para as ruas com a bandeira e com a camisa vermelha, enfim. Senador Jorge Viana, o que é que eu entendo sobre essa questão? E ontem eu não falei sobre isso e quero falar aqui na presença do Senador Simon: A ideia foi boa, a forma de expressar é que foi ruim. E por que eu digo que a ideia foi boa? Se esse movimento é suprapartidário, ninguém vai achar que lá entre aquelas duas milhões de pessoas, como eu digo, não havia gente de todos os partidos. Claro que havia! De todos os partidos. Se não nós vamos dizer que a nossa juventude não quer nem votar e não tem nem o mínimo de visão político-partidária. Claro que tem! O que a juventude não quer...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Camiseta não tinha nem do PSOL.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - O que a juventude não quer é que nenhum partido assuma a liderança ou o comando do movimento. É como eles dizem: o movimento não quer ser conduzido pelos partidos que estão aí, mas é um movimento que até respeita os partidos, mas não na condução do movimento. Por isso, eu entendo, Senador Simon, onde está o erro: ir com a bandeira e se identificar como esse ou aquele segmento...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - E a camiseta.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - E a própria camiseta. Esse foi o erro. Mas também quero dizer para V. Exª que, de fato, se sabe do carinho que tenho pela Presidenta Dilma. Eu era um operário de fábrica, e a Presidenta Dilma foi à fábrica - ela e o marido Carlos Araújo - me convidar para ser dirigente sindical. A Presidenta Dilma entregava panfletos na porta das fábricas junto com o Araújo - que V. Exª conhece, que foi Deputado, Advogado, por quem tenho o maior carinho e o maior respeito e que me ajudou muito ao longo da minha vida. Todas as vezes que fui candidato, a Presidenta Dilma, inclusive, quando a disputa era entre mim - operário, negro e metalúrgico - e uma mulher, ela abria o voto, no mesmo partido, para este Senador. Mas eu confesso que eu também... Essa questão do Afif eu não entendi. Até quero entender, mas não entendi. Não há muita lógica, e as pessoas não entendem. Então, eu acho que, nessas coisas, nós temos que ter a grandeza de querer acertar, mas às vezes a gente erra. Quando é que nós erramos ao longo de nossas vidas? O Vice-Governador de São Paulo, do PSDB, ser Ministro ao mesmo tempo é algo que não casa - estou pegando a sua fala inclusive -; é algo que não casa. Então, quero apenas me somar neste momento, e estou torcendo também como V. Exª, para que a Presidenta faça um grande pronunciamento ao País...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Será que esse Ministro será convocado hoje para a reunião dos ministros ou estará com o Governador de São Paulo discutindo o que vão fazer?

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Eu lhe confesso que não sei nem se ele é Ministro ou é Vice-Governador. Não tenho claro o papel dele, o papel dele, não institucional. Mas qual é o papel dele? Ele está ajudando a governar São Paulo ou está ajudando Brasília? Não sei. Então, acho que essas coisas não pegam legal. Temos que ter a grandeza de entender que não é por aí e que podemos acertar. Acho, de fato, que a Presidenta tem que fazer um pronunciamento à Nação, ao País, que se encontra nesta situação toda. Claro que é um movimento, como digo, mágico, porque a juventude, que muitos diziam que estava adormecida - se estava ou não, não sei; ou se estava se preparando -, está aí no campo, está no cenário, está no palco, está como sujeito da história; não está como coadjuvante. Agora, a quebradeira, a balbúrdia que aconteceu, isso merece uma posição perante o País, de Chefe de Estado mesmo, dizendo: sejam bem-vindos às manifestações, seja bem-vinda a juventude, agora, aqueles que hoje quebram a Catedral, o Itamaraty, as Assembleias, amanhã, poderão quebrar as suas casas, porque perdem o controle.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Um que quebrou a Prefeitura do Rio de Janeiro está na cadeia.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - E me parece que já foi solto. É um estudante de Arquitetura e saiu sorrindo, inclusive. Então, acho que este momento exige, e tenho certeza de que o Conselho - os seus Ministros - vai caminhar nesse sentido, e muita gente diz, Senador Jorge Viana - e vou para aí, para presidir em seguida: “Ah! Mas não devem falar no assunto!”. Como não falar? Nós somos agentes públicos. Temos responsabilidade com este momento histórico; temos que valorizar o movimento da juventude, mas temos que ajudar no combate àquilo que muitos querem fazer, que é o quebra-quebra, que não vamos aceitar. E não podemos nos omitir; temos que ter posição clara, sim. Por isso, mais uma vez, cumprimento V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Encerro, Sr. Presidente, agradecendo a tolerância de V. Exª.

            Volto a me dirigir à Presidenta. Desde que ela assumiu, hoje é o pronunciamento mais importante da vida dela.

            O Santana é um homem de imprensa, é um baita cara, competente e responsável. E às vezes eles até acertam. O Duda Mendonça transformou o Lula bigodudo, gorducho, enorme, num cara com a pinta de banqueiro. Mudou. Mudou até o discurso. O Lula realmente foi feito um modelo.

            A Dilma não é isso. A Dilma tem personalidade própria, que já é a que vem das lutas. Ela tem condições de assumir um momento histórico. Mas o importante é que a gente louva a Princesa Isabel porque proclamou a abolição da escravatura - ali foi um ato importante -, mas, em termos de mulher, há um lugar vazio, que a Presidente Dilma pode ocupar.

            Ou é isso, com o apoio da Nação, ou é reunião com o Lula, com o Presidente do PT, e não sei o quê, que vai conduzir a não sei o quê. Ou ela se une à Nação, sendo firme, não aceitando a política do troca-troca. A política deve ser a do entendimento, do diálogo. Vamos reunir os partidos; unidos, cada um vai pegar uma parte - tu é isso, tu é aquilo, tu é aquilo outro -, mas não no troca-troca, não no "me dá aqui, eu te dou lá”. Isso é importante, Sr. Presidente.

            Aliás, ontem até a CUT apareceu.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - A CUT, que só cuidava da gestão dos fundos de pensão da Petrobras, ontem apareceu. E quem diria que ela seria mal recebida pelos jovens? Pois foi. A Une, pelo menos, não apareceu. Não teve coragem de aparecer.

            Vamos fazer isso, Senador. O senhor, que é um dos grandes líderes do PT, daqui a pouquinho, vá lá dar um telefonema. Diga que isso é o que todos nós queremos.

            Acho que deve estar vendo as manchetes de hoje. O Presidente do PT deve estar muito magoado, porque as manchetes são todas dizendo que a cúpula, o comando... O erro inicial foi ele ter mandado os jovens do PT de camisa vermelha fazerem o enfrentamento. Isso aí foi o resultado do enfrentamento.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

            (…)

 

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Passo a palavra, neste momento, pela ordem, ao Senador Simon.

            Eu mesmo estou lembrando que ele falou, sim, quando aqui chegou, pela manhã. Primeiro, ele disse que tinha um compromisso na UnB - não é, Senador? -, mas que voltaria aqui para complementar a sua fala inicial, com o brilhantismo de sempre.

            Por isso, é com alegria que a palavra está com V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente.

            Antes de vir à tribuna, procurei me informar com todos os companheiros, e notícia nenhuma veio do Palácio. Dizem...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Que estão em reunião ainda.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Parece que estão em reunião, mas ninguém viu entrar lá ou sair ninguém de lá, a não ser o Sr. Carvalho. Não sei, não sei, mas continuo na expectativa. Volto a dizer que temos de fazer realmente algumas reflexões.

            Depois que saí ontem, aliás hoje, desta Casa, não consegui dormir e meditei muito. Que situação estranha é essa! Que situação esdrúxula! As passeatas geralmente eram feitas pelo PT, pela CUT e pela UNE, nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, para buscar melhor salário, melhor isso, melhor aquilo. Elas eram feitas e se encerravam. No Governo do PT, ficou diferente, porque a CUT e a UNE caíram fora.

            O Governo botou debaixo das suas asas todas as organizações não governamentais oficiais. Ficaram as ONGs. É verdade que as ONGs, no mundo inteiro, têm um papel muito destacado. Aqui, no Brasil, há ONGs importantes, há ONGs ilustres, mas, infelizmente, há ONGs que são um escândalo! Tivemos de fazer uma CPI sobre as ONGs, e esse é um dos fatos negros do Senado. Fizemos a CPI, e apareceram ONGs comandadas pelo PSDB fazendo escândalos, e apareceram ONGs comandadas pelo PT também fazendo escândalos. Então, o que aconteceu? O PT e o PSDB se reuniram, e nós não apuramos as do PT, não apuramos as do PSDB e encerramos a CPI sem nenhuma conclusão.

            Então, essa falta de credibilidade do nosso Congresso existe por causa dessas questões.

            Houve um momento em que nós cassamos o Presidente da República, e o povo foi todo à rua a favor do Congresso Nacional. Quando ele, Presidente, viu que seria cassado, pediu que o povo fosse para a rua de camisa verde e amarela. Vejam que o Presidente Collor teve a sensibilidade de tentar se identificar com a Bandeira do Brasil e com as cores verde e amarela. Mas a coisa já estava tão adiantada, tão adiantada, que o pessoal foi de preto.

            Agora, o Presidente do PT mandou as pessoas irem de camisa vermelha e disputarem o espaço com as outras pessoas. Mas o que é isso, meu Deus do céu? E se diz isso depois de uma reunião com a Presidenta Dilma, com o Presidente Lula, com o Mercadante, com o Santana - o homem da publicidade - e com o Presidente do PT Nacional. Saíram da reunião, e o Presidente do PT Nacional fez uma convocação pelo Brasil afora para o PT, de camisa vermelha, ocupar os espaços e disputar os espaços.

            Agora, no jornal, aparece a Dona Dilma dizendo que não deveria fazer isso. Mas, na verdade, passa pela cabeça de alguém que o Presidente Nacional do PT, que estava em uma reunião de duas horas com o comando do PT, mandaria fazer isso sem falar com a Presidente da República?

            Aí marcam a reunião para agora, às 9 horas. É meio-dia. Falei com tudo que é jornalista, falei com um bando de gente, e ninguém tem notícia nenhuma. Não sabem quem chegou ao Palácio. Só o Carvalho chegou ali. E o Ministro Carvalho ainda deu para a imprensa uma notícia correta, mas que ele não tinha nada que ter dado: está preocupado com a Jornada da Juventude e com o Papa. Era hora de falar nisso?

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Nós, eu e V. Exª, estaremos lá. Já combinamos que nós vamos à Jornada da Juventude com o Papa.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Mas, numa hora como esta, no meio desta confusão, lembrar que o Papa vem aqui e que pode dar confusão? O Ministro dizer isso? Há momento para tudo! Se você vai a um velório, você beija a viúva e lhe dá os pêsames, mas não vai falar: “Vai passar o fim de semana onde?” Em uma reunião como esta, num momento como este, não é hora de falar que está muito preocupado com o que pode acontecer na comunidade, com o que pode acontecer com a juventude e com o Papa. Passei a estar preocupado, porque, se ele está preocupado, alguma coisa deve estar acontecendo.

            Lula, quando nasceu... Perdão! O PT, quando nasceu, nasceu muito bem. Eu o olhava com inveja, porque o MDB já estava deixando de ser aquele meu MDB na hora da luta, da resistência. Se já estava se aproximando dos cargos, eu via que toda aquela minha paixão de achar que nós éramos os heróis da Pátria só ocorria na oposição. Quando chegava a algum cargo, a gente se entregava.

            Era de se esperar que o PT fizesse isso. Vamos fazer justiça que o Governo do Lula teve um lado positivo: salário família etc. e tal. Teve um lado positivo. Vamos falar, com justiça, que a Dilma mostrou um lado positivo. Inclusive, o andamento do mensalão, embora não tivesse muita atividade, foi um lado positivo do Governo dela.

            Agora, hoje, estamos em um momento chave. Já está anunciado que a Presidenta falará à Nação, e até já disseram o horário: na hora do Jornal Nacional, às 20h15. É verdade? Não sei. Acho difícil que ela não fale. Mas, se é para falar e não dizer nada, se é para falar e dizer o que não deve, é melhor não falar. A Dilma deve falar com seus eleitores, com o povo brasileiro. Ela é a Presidente da República e foi eleita com um mar de votos do povo brasileiro, de ricos e de pobres, de brancos e de pretos, de gaúchos, de amazonenses. Ela foi eleita. Reparem que, até pouco tempo, ela obtinha o maior índice de popularidade que um presidente da República obteve até agora; ganhou de Lula, ganhou de todos os outros. Não pode, de uma hora para outra, a Presidente desaprender. Não pode, de uma hora para outra, a Presidente ficar insensível. Não pode, de uma hora para outra, a Presidente ficar sem saber o que dizer.

            A Presidente assumiu a Presidência da República, e veio o PAC nº 2. Se não se sabe o que foi feito e o que não foi feito do PAC nº 1, muito menos se sabe o que é feito do PAC nº 2!

            O PT quase dobrou o número de ministros no Governo da Dilma com relação ao Governo Lula. Digo que dobrou o número entre os ministros do PT e os da confiança da Dilma, que, na verdade, são do PT também.

            E aí o Brasil passou a viver em clima de Copa do Mundo, em clima de Jogos Panamericanos, em clima de Liga dos Campeões.

            Há um projeto de lei de minha autoria, que é a Lei de Licitações. Era um projeto que veio da Câmara e que chegou aqui. Àquela época, eu me dava bem com o MDB, e me deram o projeto para eu relatar. Hoje, se me dão um projeto para relatar, trata-se de nome de estrada, de nome de rua. Fizemos um estudo muito grande, muito profundo. E, à época, ele foi considerado, em âmbito internacional, como um avanço muito grande na moralização das questões.

            Agora, para a Copa do Mundo, retirou-se tudo que é compromisso, não há Lei de Licitações, não há nada! A direção do Congresso nomeou uma comissão por conta dela, para fazer uma nova Lei de Licitações. E fico me perguntando... Primeiro, não quero discutir, mas os nomes não são os que eu botaria. Segundo, numa hora como esta, nesta agitação em que estamos, o Governo já saiu mal, mudando as licitações para a Copa do Mundo. Os estádios da Copa do Mundo não precisam passar por licitações, não precisam de absolutamente nada. É um corre-corre. No meio disso, fazer uma nova lei? Sinceramente, não consigo entender. Sinceramente, não consigo entender.

            E há essa proposta de retirar dos promotores o direito de fazer denúncia. Este é o momento para isso? Estamos no meio de uma discussão! Está lá o mensalão! Há o mensalinho de Minas Gerais, e não se sabe o que dali vai sair, o que não vai sair. Está aí uma discussão intensa com relação a essa matéria. Vamos deixar para mais adiante! Vamos fazer uma discussão genérica de todo o contexto, não apenas subir a Polícia Civil e tentar baixar a Promotoria.

            Então, reparem que, no meio de toda essa confusão, entre as leis que vêm a julgamento, não há uma delas de consenso, não há uma que signifique a busca de um entendimento positivo.

            É isto que a Drª Dilma tem de entender: o que o seu Governo quer, qual o objetivo do seu Governo.

            O grande mal foi que, no início, quando ela governou com categoria, afastou seis ministros que não produziam o necessário, e ganhou toda essa credibilidade que ela tem. Mas, agora, é uma daquelas falas que marcam. O que ela vai falar, hoje, às 20 horas, pela televisão, o que ela vai anunciar e o que ela vai fazer vão carimbar o Governo dela.

            Se ela baixou 10, 12 pontos nas pesquisas, antes dessa confusão toda - meu Deus do céu! -, o que acontecerá, se a sua fala for negativa e se o seu PT fizer alguma coisa parecida com o que fez ontem, na reunião de São Paulo?

            O Senador Cristovam fala e repete a preocupação e a ansiedade dele para o Congresso debater, discutir e buscar alguma coisa para fazer. Outro dia, ele se dirigiu ao Presidente do Senado, titular, que lhe respondeu: “É muito importante, Senador Cristovam. Vamos nos reunir, vamos discutir e vamos ver o que podemos fazer, o que é da nossa ação.” Eu já senti que não vai sair muita coisa de lá. Eu não sei se não era para a gente tentar reunir um grupo de Parlamentares, de todos os partidos, que topem fazer uma reunião e até discutir com a sociedade uma pauta em torno daquilo que nós vamos decidir.

            Eu acho altamente negativa as reuniões dos Presidentes da Câmara e do Senado e dos Líderes das bancadas. Com todo o respeito, não vejo nos Líderes das mais diferentes bancadas o sentido de buscar uma solução, o sentido de se enquadrar no quadro que nós estamos vivendo e tentar fazer alguma coisa. Sinceramente, eu não vejo. Por isso, talvez, a gente possa se reunir e fazer aquilo que eles não fazem.

            Infelizmente, a Presidente fala na sexta, e nós só vamos nos reunir na segunda-feira. Deus queira nos ajudar que, nessa sexta, nesse sábado e nesse domingo, haja uma trégua. Vamos apelar para isso. Que se pare para pensar, porque foram dez dias em que os nervos devem estar à flor da pele por parte de todos.

            Vamos esperar o pronunciamento da Presidente. Vamos ver, Senador Paim, se o PT desta vez não manda o seu pessoal de camisa vermelha confrontar outros que lá estão.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Simon, V. Exa me permite mais um aparte sobre o mesmo tema? Eu comentei com V. Exa num outro momento e, antes de encerrar, eu queria também dizer que, como a Presidenta, eu acho que a intenção foi boa, mas a forma foi errada. O que é que o Presidente Falcão quis dizer ou deveria ter dito? Que todos os militantes - de centrais, confederações, estudantes - deveriam participar desse movimento, um movimento correto, justo, mas evitassem ir de bandeira e de camisa identificando esse partido, aquela central, porque o movimento é claro. Eles dizem: “Nós não somos contra o partido, nós não queremos é partidarizar o movimento.” E isso está correto, se não vai partidarizar e dividir. Então, nenhum partido é bem-vindo, por aquilo que nós ouvimos da própria imprensa por parte dos dirigentes do movimento. Então, eu acho que a orientação em si foi correta. A condução foi errada. Vamos todos participar, porque é um movimento que visa a melhorar a qualidade de vida de todo o povo. Então, tenha certeza absoluta de que fatos como esse não se vão repetir. Quero tranquilizar V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Imagine V. Exª se, agora, no dia de São João, em uma festa, em um baile a caráter, aparecesse alguém de smoking! Como é que ele ia ser recebido?

(Soa a campainha.)

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Muito mal, com certeza.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu encerro, Sr. Presidente, lembrando à Presidente Dilma: o preço nós todos vamos pagar, mas a decisão só ela pode tomar. Só ela pode tomar. E, com essa decisão, não vai sobrar nada de negativo nem para Lula, nem para ninguém. É ela. A Presidente é ela, a responsabilidade é dela. Ela deve falar. E que Deus a ajude. E que possamos estar com a cara bem melhor na próxima segunda-feira.

            Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2013 - Página 39049