Pela Liderança durante a 97ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões acerca dos movimentos de protesto que tem ocorrido em todo o País, especialmente em Brasília.

Autor
Rodrigo Rollemberg (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
Nome completo: Rodrigo Sobral Rollemberg
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA, DISTRITO FEDERAL (DF), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Reflexões acerca dos movimentos de protesto que tem ocorrido em todo o País, especialmente em Brasília.
Aparteantes
Ivo Cassol.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2013 - Página 37650
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA, DISTRITO FEDERAL (DF), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, FATO, POPULAÇÃO, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, OBJETIVO, REIVINDICAÇÃO, MELHORIA, TRANSPORTE COLETIVO URBANO, SAUDE, SEGURANÇA PUBLICA, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), MOTIVO, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, RELAÇÃO, CONSTRUÇÃO, ESTADIO, FUTEBOL.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Prezado Presidente, prezados Senadores, assomo à tribuna na tarde de hoje para fazer, Senador Paulo Paim, algumas reflexões sobre esses movimentos de protesto que vêm tomando conta das capitais brasileiras, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e agora, neste final de semana, em função da Copa das Confederações, as manifestações que tivemos em Brasília.

            Em primeiro lugar, é importante registrar que não devemos simplificar ou reduzir o significado dessas manifestações. Eu diria que todos nós - quem está no Governo, quem é parlamentar, quem está na oposição -, se soubermos fazer a leitura correta dessas manifestações, certamente poderemos dar uma contribuição maior para que o País dê um salto qualitativo e ingresse numa nova era. O que me parece é que a população está solicitando uma nova agenda política, uma nova agenda econômica.

            Eu já tive oportunidade de subir a esta tribuna várias vezes para reconhecer os enormes avanços que tivemos no País nos últimos dez anos: o avanço dos programas sociais, que distribuíram renda; as políticas que, em determinado momento, enfrentaram a crise, estimulando o consumo. Mas o que essas manifestações parecem dizer é que essa agenda está esgotada. Nós precisamos de uma nova agenda, uma agenda que permita ao Brasil retomar os investimentos, especialmente os investimentos naquilo que é essencial para a população brasileira, como mobilidade urbana, como investimentos na segurança, como investimentos na saúde, porque o que essas manifestações parecem dizer é que há uma inconformidade imensa da população das grandes cidades com a qualidade de vida dessas cidades.

            Uma dessas manifestações aconteceu em Brasília neste final de semana, e foi amplamente noticiada, com repercussão muito grande da imprensa. Buscaram entender o que levou a juventude de Brasília, no sábado, de forma espontânea, a manifestar-se contra os gastos excessivos desse estádio de Brasília, o que acabou levando a um momento de constrangimento, como a grande vaia que a Presidenta levou no Estádio Mané Garrincha.

            É importante aqui relativizar as coisas para dizer, em primeiro lugar, que um estádio de futebol é sempre um lugar de muita irreverência, e as pessoas que estão ali para ver o jogo, efetivamente, não estão muito simpáticas aos políticos. Mas é importante registrar que as manifestações contundentes da população do Distrito Federal tiveram um viés próprio. Sem dúvida, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, parte dessa contundência se deve à péssima avaliação do Governo do Distrito Federal e ao incômodo, eu diria até à indignação de parcela significativa da população do Distrito Federal com os gastos excessivos, os gastos extraordinários, os gastos exagerados da Copa, no que se refere ao Distrito Federal, sem que haja qualquer contrapartida de legado que ficará para a nossa cidade.

            A população do Distrito Federal está penando quando precisa de um hospital, está penando quando precisa usar o transporte coletivo, gasta mais de quatro horas por dia em deslocamentos no transporte coletivo. Até as pessoas que utilizam o transporte individual têm uma dificuldade imensa devido aos enormes congestionamentos, em função dos problemas de mobilidade urbana. Essa população do Distrito Federal não tem mais tranquilidade para sair de casa. Os pais e as mães ficam inseguros quando seus filhos saem à noite, porque não sabem como vão voltar, em função do aumento da criminalidade no Distrito Federal. Gastar R$1,2 bilhão até aqui - dados oficiais fornecidos, até aqui, pelo Governo do Distrito Federal, porque as obras do entorno do estádio ainda não estão prontas - parece, para a população do Distrito Federal, um verdadeiro absurdo.

            É importante registrar que a população do Distrito Federal, como a população brasileira, é favorável à realização da Copa, é uma população que gosta de futebol, mas que gostaria de ver e usufruir dos benefícios que a Copa do Mundo deixaria para o País: legado na área de mobilidade urbana, de infraestrutura turística, de qualificação profissional. E isso especialmente a população do Distrito Federal não está vendo. Pelo contrário, nós temos alguns casos que demonstram a completa falta de respeito do Governador do Distrito Federal e do Governo do Distrito Federal com a população, o que, sem dúvida alguma, acirrou os ânimos que levaram a essa manifestação contundente na abertura da Copa das Confederações.

            Vou citar alguns casos aqui: em primeiro lugar, recebemos vários telefonemas de pessoas indignadas na sexta-feira, pessoas que hoje, na rede pública de saúde, estão esperando há seis meses ou um ano para fazer uma cirurgia, e tiveram suas cirurgias canceladas - cirurgias de câncer, cirurgias para colocar válvulas no coração, cirurgias cardíacas - porque precisavam liberar leitos para a Copa das Confederações, Copa essa planejada há tanto tempo, e ainda assim o Governo não soube se planejar para isso. Um verdadeiro escárnio com a população que está no momento mais difícil, quando precisa de um médico, precisa fazer uma cirurgia esperada com longa agonia para ser marcada, e a cirurgia é desmarcada por causa de um jogo de futebol! Essa é a verdadeira realidade.

            Ao mesmo tempo, a cidade que esperava melhorias na mobilidade urbana - e há um jornal da cidade que vem denunciando isso sistematicamente -, que imaginava melhorar a sua mobilidade urbana, está assistindo a uma licitação no transporte público da cidade em que apenas cinco empresas cuidarão, controlarão todo o Distrito Federal, sem nenhum processo de integração com os Municípios da região metropolitana do Distrito Federal, o denominado entorno do Distrito Federal. Pasmem! Os jornais estão mostrando que o chefe, o comandante da comissão de licitação, o coordenador da comissão de licitação, que está licitando todo o transporte público do Distrito Federal, é nada mais, nada menos do que ex-chefe de gabinete do Sr. Durval Barbosa na Codeplan.

            Essa é a realidade do Distrito Federal e é essa a realidade que levou, Senador Ivo Cassol, a essas manifestações contundentes, e tenho convicção de que aquela vaia que a população do Distrito Federal deu na abertura foi para o Governador Agnelo, que não teve sequer a coragem de aparecer numa imagem no telão, porque aí, sim, seria uma vaia ensurdecedora.

            Ouço o Senado Ivo Cassol.

            O Sr. Ivo Cassol (Bloco/PP - RO) - Obrigado, Senador, pelo aparte que me concede. Tenho acompanhado todo o trabalho do Governo do Distrito Federal. Fui prefeito por dois mandatos, fui governador por dois mandatos, e já falei para V. Exª, Sr. Presidente, Senador Ataídes, que vejo com tristeza essa gestão, essa administração que o Governador do Distrito Federal faz aqui em Brasília. Aqui em Brasília, a maioria dos custos de manutenção quem banca é o Governo Federal, a exemplo da Polícia e de tantos outros. Enquanto os Estados e Municípios hoje vivem com o pires na mão, pedindo esmolas, aqui em Brasília há um recurso extraordinário para recuperar as ruas, para fazer as obras de infraestrutura e atender à demanda na área da saúde

(Soa a campainha.)

            O Sr. Ivo Cassol (Bloco/PP - RO) - Infelizmente, o que eu vejo nessa gestão é o caos total, independentemente de cor partidária. Eu presenciei o que V. Exª falou agora, pois estive no jogo no sábado. A Presidente Dilma tem se esforçado diuturnamente para poder colocar o País em franco desenvolvimento e continuar produzindo muito mais. Tem aberto várias situações, e, com certeza, o que aconteceu no último sábado não foi para a Presidente Dilma. O que aconteceu no último sábado, na verdade, no meu ponto de vista - penso da mesma forma que V. Exª -, foi em torno do Governador do Distrito Federal. Por quê? Infelizmente anda a passos de jabuti, a passos de tartaruga. Aqui em Brasília, para recuperar uma avenida, uma rua, parece um parto de elefante - que é de 24 meses ou mais, se não estou enganado. Já passaram dois anos e meio, e as coisas aqui não acontecem. Ao mesmo tempo, temos do outro lado a Presidente do Brasil, que é do meu Partido, que pode, volta e meia, dar uns puxões. Eu sei que ela tem muitos compromissos, a Presidente Dilma, eu sei que ela tem de cobrar de seus ministros e não pode interferir nos governos estaduais ou do Distrito Federal, mas, infelizmente, nós, aqui em Brasília... Eu falei num discurso, na última sexta-feira, que é inaceitável... Olha que situação estamos vivendo aqui em Brasília, e não é só em Brasília: no Brasil inteiro, existem obras paradas. Se V. Exª permitir mais um minuto aqui, Senador Rollemberg, nós temos aqui a saída que vai ao aeroporto. Hoje se privatizou o aeroporto. Temos aqui o Eixão, o Eixinho e mais outras vias. Você sai com três pistas de um lado, mais três do outro, mais duas do outro e chega ao final, antes de pegar a ponte, a galeria lá embaixo, para chegar ao aeroporto, você simplesmente pega uma pista dupla, enquanto aqui em cima existem seis pistas. Eu não consigo entender. Ah, mas dizem que tem um parque! Eu não consigo entender como, num parque, o calango valha mais do que quantos milhões de habitantes vivem aqui em Brasília! Aqui é modelo para todos os governadores em nível federal. Nós precisávamos, urgentemente, que essas obras de infraestrutura não fossem feitas para a Copa do Mundo, gente, pelo amor de Deus! Nós precisarmos fazer isso para o Brasil. Mas, ao mesmo tempo, nós temos que fazer bonito para o mundo. E aqui, só para poder concluir, eu quero dizer sobre o que eu presenciei, no último sábado, a manifestação em frente ao estádio, das pessoas. Eu quero dizer que eu não sou contra as manifestações, eu sou a favor de que, quando alguns segmentos se sintam prejudicados as façam, mas o que esse grupo fez, na verdade, foi contra o Brasil, foi contra os seus pais, foi contra os seus familiares. Aquele não era o momento, aquilo não podia ter acontecido naquela hora, lá eram famílias com as crianças indo para o estádio, quando a Polícia teve que soltar as bombas de gás lacrimogêneo para poder desobstruir a entrada do estádio. E esse evento é um evento para o mundo, então nós temos que vender o que nós temos aqui e, posteriormente, aquelas pessoas que querem fazer alguma reivindicação que façam, mas que, não aproveitem a Copa do Mundo, nem a Copa das Confederações. Eu quero aqui, nos demais Estados da Federação brasileira... Está havendo um problema em São Paulo, está havendo um problema no Rio de Janeiro, da briga das passagens, porque a passagem é mais cara de um lado e é mais cara do outro, é uma situação desigual. Por exemplo, no Rio de Janeiro, está R$2,80, foi para R$2,90. Estão fazendo o levantamento. Lá em São Paulo está R$3,20. Eu quero saber se o preço do combustível em São Paulo é o mesmo preço do combustível do Rio, porque eu tenho certeza que o preço é o mesmo. Então, certas situações são muito distorcidas. Isso é ruim. Agora, aqui em Brasília, é preciso que o Governador acorde o time dele, “bota no toco aqui”, porque Brasília é o nosso cartão postal, tudo o que acontece aqui em Brasília e no Distrito Federal.

(Soa a campainha.)

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - Senador Ivo, primeiro quero registrar que, efetivamente, nós não precisamos retirar nenhuma área de parque para melhorar a mobilidade urbana. Mas, infelizmente, o Governo do Distrito Federal foi o primeiro a retirar a primeira obra da matriz de responsabilidade da Copa, que era o veículo leve sobre trilhos, que ligava exatamente a Asa Sul ao aeroporto de Brasília, exatamente esse trajeto a que V. Exª se refere.

            É importante também registrar, Senador Ivo, que eu acho que as manifestações são absolutamente legítimas, absolutamente legítimas. Nós estamos num País democrático, a juventude tem todo o direito de se manifestar contra o preço abusivo de um estádio.

            Claro, eu sou contra qualquer tipo de violência dos manifestantes e de violência também exagerada da Polícia, como também sou contra a degradação do patrimônio público, mas a manifestação faz parte.

            Agora, o que é ridículo é o Governador menosprezar, querer menosprezar as manifestações populares, dizendo que elas não têm bandeira, que aquelas pessoas que se manifestaram no sábado foram pagas.

            Que bobagem! As bandeiras são estas: primeiro, a indignação em relação ao preço do estádio; depois - está aqui, eles vão se manifestar novamente hoje -, em defesa do transporte público de qualidade; pelas obras do VLT e do metrô, que continuam incompletas; em apoio à marcha contra a corrupção; pela não aprovação da PEC nº 37. São as manifestações, são as bandeiras da juventude que está se manifestando.

            Quero registrar, Senador Ivo, que as pessoas que estão visitando o estádio de Brasília e que foram assistir ao jogo ficaram realmente... O estádio é um estádio bonito; não poderia ser feio depois de se gastarem R$1,2 bilhão. Mas é importante registrar que outros Estados fizeram estádios igualmente bonitos, que vão cumprir a mesma finalidade por muito menos da metade do preço no Distrito Federal.

            Vou dar o exemplo de Pernambuco: R$529 milhões, está no Copa Transparente, para um estádio de 46 mil lugares, vai sair a R$11,5 mil cada lugar. O do Distrito Federal já está em R$1,2 bilhão, e não se fizeram ainda as obras do entorno do parque, que, pelo orçamento do Distrito Federal, custarão mais R$350 milhões. Esse estádio, desse tamanho, estava orçado em R$600 milhões e já está em R$1,2 bilhão. Essa é a situação.

            Então, se nós fizéssemos uma diferença aqui e construíssemos um estádio por R$500 milhões, como Pernambuco construiu, nós teríamos R$700 milhões, que poderiam estar sendo investidos em saúde, em mobilidade urbana, em segurança, em educação. E é isso que indigna a população do Distrito Federal, que se expressa claramente nas pesquisas que estão aqui.

            Isto aqui é uma pesquisa do Instituto O&P feita na semana passada. A pergunta é a seguinte: “Eu vou mencionar algumas áreas de atuação do Governo do Distrito Federal e gostaria que, para cada uma delas, você me dissesse se, ultimamente, ela: está melhorando muito; melhorando; igual; piorando; ou está piorando muito.”

            Aí, vamos.

            Transporte público. A soma de “melhorando muito” com “melhorando” dá 11,7%; a soma de “piorando” com “piorando muito” dá 61,6%.

            Saúde, Senador Ivo Cassol. O Governador cancelou as cirurgias marcadas de gente que está esperando há ano. Cancelou.

(Soa a campainha.)

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - Senador Ataídes, peço-lhe só mais um pouquinho de tempo.

            “Melhorando muito” e “melhorando”, a soma dá 8,1%; “piorando” e “piorando muito”, 73%.

            Esse é o perfil do Governo do Distrito Federal!

            Vamos para a área de segurança pública: Soma de “melhorando muito” e “melhorando”: 16.1%; a soma de “piorando” com “piorando muito”: 53.5%.

            Agora eu pergunto: como V. Exªs, Senador Paulo Paim, imaginavam que iria se manifestar a população do Distrito Federal neste quadro, ao ver o Governo gastar R$1,2 bilhão em um estádio que ainda não está concluído? Ao ver, à véspera do jogo, canceladas as cirurgias de gente que espera há meses, há ano para fazer uma cirurgia? Que tem como chefe da Comissão de Licitação do transporte público da cidade o ex-chefe de gabinete de Durval Barbosa?

(Soa a campainha.)

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - Como essa população, na hora em que tem oportunidade, iria se manifestar?

            A Presidenta Dilma acabou pagando a conta que não é dela. É claro que há insatisfação no País com o aumento da inflação, com a tentativa de casuísmo eleitoral de tentar barrar a criação de um partido político para dificultar a disputa político-eleitoral. A população não é boba, especialmente a população do Distrito Federal, que é informada e está acompanhando o que está acontecendo.

            E nós alertamos aqui várias vezes que essa tentativa de dificultar a criação de partidos para influir no processo eleitoral iria ter consequências na popularidade do Governo. É claro que isso tudo influenciou!

            Mas, sem dúvida alguma, o que garantiu a contundência daquela manifestação no estádio, que criou um constrangimento na abertura dos jogos da Copa das Confederações, foi o desempenho do Governo Agnelo. Foi a forma como este Governador e este Governo estão se comportando diante da população.

(Soa a campainha.)

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - A população ali disse: “Chega de desrespeito! Nós queremos Copa, mas queremos Copa de forma transparente, Copa com legado para a cidade, com legado na área de mobilidade urbana, na área de infraestrutura turística, na área de qualificação profissional. Queremos melhorias na educação, na saúde, na segurança, no transporte público e não admitimos que o dinheiro dos nossos impostos seja gasto de forma perdulária, de forma esquisita, de forma faraônica, como foi gasto nesse estádio de futebol.”

            Era esse o registro que eu gostaria de fazer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2013 - Página 37650