Pela Liderança durante a 97ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre as razões das vaias recebidas pela Presidente Dilma Rousseff durante a abertura da Copa das Confederações.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Reflexão sobre as razões das vaias recebidas pela Presidente Dilma Rousseff durante a abertura da Copa das Confederações.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2013 - Página 37658
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, FATO, MANIFESTAÇÃO, REJEIÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LOCAL, ESTADIO, FUTEBOL, BRASILIA (DF), CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, o Brasil começa a assistir, desde domingo, à Copa das Confederações que, por duas semanas pelo menos, vai atrair as atenções do mundo inteiro para Brasília, para São Paulo, para o Rio de Janeiro, para Fortaleza, para Recife, para Salvador, para subsedes da Copa das Confederações. Será um momento de grande audiência para o nosso País.

            No domingo ocorreu em Brasília a festa inaugural, o primeiro jogo: Brasil e Japão. O anfitrião versus um dos campeões continentais, dando início à competição internacional. Ambiente de alegria, numa casa nova, recém-inaugurada, um belíssimo estádio de futebol, torcedores do Brasil inteiro instalados para comemorar o evento que o Brasil sedia e para desfrutar dos momentos da competição.

            Todo o ambiente era para cima. A festa é do Brasil. A competição é entre o Brasil e um campeão continental. É futebol, que é a alegria do povo. Estavam lá os times; estavam lá 65 mil pessoas que pagaram o ingresso, e estava a Presidente da República, ao lado do Presidente da FIFA.

            E, nas esquinas do Brasil, hoje, de norte a sul, de leste a oeste, o fato que mais se comenta é a manifestação de desagrado dos 65 mil pagantes à Presidente da República. Uma Presidente avaliada recentemente com índice de aprovação elevado - é verdade que caiu sete pontos percentuais -, que se esperava fizesse a abertura da Copa e recebesse uma manifestação positiva por parte dos 65 mil homens e mulheres presentes à competição. Mas o que aconteceu foi o contrário; foi uma manifestação de profundo desagrado; foi vaia.

            Eu, como brasileiro, me sinto constrangido de manifestar esse fato, porque atinge a classe política como um todo. A Presidente da República é uma política, como eu sou um político, e não é bom ver alguém que exerce uma atividade semelhante à sua ser alvo da manifestação repetida de 65 mil pessoas, num momento que deveria ser de alegria, e que foi de apupo.

            Agora, como brasileiro, a par do constrangimento pessoal, eu acho que este momento merece reflexão e merece providências.

            Presidente, ninguém vaia por vaiar. A vaia é uma manifestação de sensação guardada, refletida, coletiva. Não é uma vaia de 10 mil ou de 65 mil, é uma vaia da maioria esmagadora dos 65 mil presentes.

            Essa manifestação deve estar sendo comentada nas esquinas do Brasil, em toda a parte. E eu gostaria de manifestar uma opinião, seja ela ouvida ou não pelo Palácio do Planalto: pior do que a vaia são as discussões ao longo de uma semana, 15 dias, acerca das razões da vaia. O que as pessoas estão conversando nos bares, nos restaurantes, em casa, sobre o que levou 65 mil pessoas da classe média do Brasil, pagantes de um ingresso não barato, a vaiar, por mais de uma vez, a Presidente da República?

            Na medida em que isso seja objeto de discussão e de apreciação - uns dizem ser por essa razão, outros dizem ser por outra e outros mais dizem ser por outras mais -, a avaliação do Governo entra em cheque e ele precisa dar respostas àquela manifestação, sentida e refletida por uma ação de Brasília, de Minas Gerais, de Goiás, do Brasil inteiro que foi para o estádio de futebol de Brasília.

            Eu acho que a manifestação do domingo é um sinal dos tempos. Eu tenho uma avaliação: quem estava lá era a classe média, Presidente Ataídes! Eram pessoas que podiam pagar o custo daquele ingresso, que não era barato. A classe média do Brasil deu um recado com aquela manifestação. A classe média do Brasil que, no último ano - dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, não são meus -, teve aumento em sua renda familiar, considerando-se pai, mãe e um filho de até dois anos, de 6%. Eram R$12.500,00, em maio de 2012; passaram para R$13.500,00, em maio de 2013. Cresceu em mil reais - 6%. Nesse mesmo período, as despesas cresceram 23,6%. Como? Supermercado, feira (25%), no período de maio a maio de 2012 a 2013; farmácia (37,5%); combustíveis (16,6%); telefone celular (14,3%), e por aí vai, um aumento global de 23,6% contra 6% de aumento da renda.

            Os gastos, que eram de R$9.100,00 em maio de 2012, passaram a ser R$11.250,00 em maio de 2013. É claro, a classe média está agredida, porque está conseguindo comprar menos do que comprava há um ano.

            A classe média do Brasil, como eu, aplaude a iniciativa do Governo.

            Presidente, o governo tem que existir para todos. É claro que para os pobres, mas também para os médios e para os empregadores. O governo é de todos os brasileiros, tem que olhar para todos. É claro que, privilegiadamente, para os mais pobres. Mas não pode desprezar os outros. Principalmente quando se vangloria de que os outros cresceram, a classe média teria crescido.

            É verdade que perdemos 23 milhões de brasileiros que deixaram a classe média e voltaram à linha de pobreza, pelas questões inflacionárias. Perderam a condição de participar da classe média 23 milhões de brasileiros, voltaram à linha de pobreza.

            A classe média entende que o dinheiro do Brasil foi, ao longo de algum tempo - eu bato palmas para isto -, usado para o Bolsa Família, para a distribuição de renda pública, fazendo com que os mais pobres do Brasil tivessem a oportunidade, que eu aplaudo, de comprar uma geladeira, de comprar uma televisão, de comprar uma motocicleta. Agora, o governo não pode ser só para isso.

            Essas pessoas ascenderam, mas a classe média - e é ela quem faz a opinião em um país -, na hora em que vê a segurança do Brasil em petição de miséria como está, a saúde do Brasil em petição de miséria como está, a infraestrutura do Brasil, que faz vergonha no contexto internacional das nações, na hora em que vê o Brasil “incompetitivo”... Porque a classe média, quando viaja para a Europa ou para os Estados Unidos, vê lá o objeto de desejo chamado Ipad pela metade do preço do que ele custa aqui; vê lá, nos Estados Unidos, a camisa por pelo menos 40% a menos, quando muito menos do que no Brasil. O Brasil virou um país caro, “incompetitivo”. Então, a classe média, na hora em que vê a segurança, a educação, a carestia, a indústria, em debacle.

            Na hora em que vê isso tudo acontecer, espera uma reação do Governo à altura; espera ver, por exemplo, corte no gasto público. Ao invés disso, vê a criação do 39º ministério. E, mais do que isso, ao invés de ver atendida a sua expectativa de ter um governo que reage à altura diante dos problemas, vê o Governo pegar o dinheiro do trabalhador, do Fundo de Garantia, e anunciar, com pompa e circunstância, um programa para venda aos beneficiários do programa Minha Casa Minha Vida - que é um belo programa, que eu aplaudo - do fogão, da geladeira, da máquina de lavar, para ativar a indústria, que está em declínio, para melhorar de vida - não tenho dúvida sobre isso -, mas não vê nenhuma iniciativa consistente, nenhuma iniciativa que convença, no rumo de ver os seus problemas do dia a dia, ele, que é classe média, atendidos. Daí, vem a decepção.

            Decepção, como? A decepção que o brasileiro que pensa, raciocina, vê ao assistir às denúncias que geraram, por exemplo, o mensalão, e são diárias as denúncias de pecado perante o padrão ético na política, diárias, todo dia, por parte do Governo do PT, e se frustra diante das manobras permanentes dos praticantes do dolo em querer que a decisão tomada por maioria no Supremo Tribunal Federal não produza seus resultados, com os condenados na cadeia.

            São decepções como essas, que, na minha opinião, levaram 65 mil brasileiros, decepcionados com o Governo, a vaiar a Presidente. Estão fartos de verem anúncios feitos e realizações nada. É uma população que entende que este Governo é bom de inaugurar promessa e muito ruim de entregar obra. Promete o trem-bala e não acontece trem-bala nenhum, promete a recuperação do Aeroporto de Guarulhos, do Aeroporto do Galeão, não acontece nada; do Aeroporto de Brasília, não acontece nada.

            Demonizava, na campanha eleitoral, as privatizações e as concessões e agora adere às privatizações e concessões - ainda bem - e espero que adira com convicção para fazer a infraestrutura, ocupar o espaço que precisa ocupar.

            O que me traz à tribuna é essa palavra de reflexão porque a vaia me constrange. Honestamente, me constrange. Eu sou político como a Presidente é. É muito ruim um de nós receber uma vaia como aquela, daquele tamanho, com aquela expressão.

            Agora, é importante refletir sobre as razões da vaia, para que medidas sejam adotadas, para que se tire uma lição daquelas vaias, para que o Brasil ganhe com aquela manifestação, para que se entenda que o Governo é para todos.

            Se é muito bom o Minha Casa Minha Vida, se é muito bom geladeira para os que moram no Minha Casa Minha Vida, é preciso que se olhe a classe média do Brasil, é preciso que se olhem aqueles que são contribuintes, que pagam impostos, e que têm direito à educação, à saúde, a um Governo que combata, de verdade, a inflação, combatendo o gasto público de má qualidade, para que acreditem e confiem no Governo, para que aplaudam o Governo, porque, se não assim for, a vaia vai continuar.

            E, se caiu 7 pontos, na próxima vai cair mais 7 pontos. É um alerta, é um sinal amarelo aceso, e aqui eu falo como brasileiro que quer que as coisas deem certo.

            Eu estava vendo, agora, o dólar ainda em disparada e o Governo sendo obrigado a fazer novo leilão de dólares para conter a alta. Eu estava vendo outro desastre. A ação da Vale do Rio Doce no menor valor desde 1999, na Bolsa de hoje. Por conta de quê? De uma coisa que eu lamento, a crise das commodities e a visão lá fora, porque são os investidores de fora que têm ações da Vale do Rio Doce vendo com desconfiança o Governo do Brasil.

            Há uma onda negativa - como já houve positiva - com relação ao nosso País, e cabe ao Governo conter essa onda negativa. E não é com perfumaria, é com atitude corajosa. A começar pelo corte de gasto público de má qualidade, pela obtenção de recursos para investimentos, para prover o Brasil de infraestrutura e dar ao Brasil, por abaixamento na carga tributária, condições de competitividade. Do contrário, o classe média brasileiro vai se sentir envergonhado do Governo e do País.

            E, antes que seja tarde, mais essa minha palavra de alerta, constrangidamente alerta, mas alerta no sentido de ver o Brasil crescer e, como eu quero, vencer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2013 - Página 37658