Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre as manifestações ocorridas no País nos últimos dias.

Autor
Ruben Figueiró (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Ruben Figueiró de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA, POLITICA NACIONAL.:
  • Reflexão sobre as manifestações ocorridas no País nos últimos dias.
Aparteantes
Pedro Taques.
Publicação
Publicação no DSF de 20/06/2013 - Página 38314
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA, POLITICA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, REFERENCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, OCORRENCIA, BRASIL, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, JUVENTUDE, OBJETIVO, REIVINDICAÇÃO, MELHORIA, GESTÃO, POLITICA NACIONAL, CRITICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, MOTIVO, FALTA, IDENTIDADE.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores ouvintes da Rádio Senado, senhores telespectadores da TV Senado, quero registrar, com muito prazer, também a presença no plenário do Senador Tomás Correia, por quem tenho admiração pelas intervenções que fez quando aqui exerceu o mandato, sobretudo, na Presidência eventual desta Casa, sempre atencioso...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - E presidiu muitas e muitas vezes.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - ... sempre tolerante com os oradores na questão do tempo, o que mostra o seu senso democrático. Eu também gostaria de saudar os Srs. Edis aqui presentes.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há muitos anos, li um pensamento de um sociólogo americano que mantenho gravado na minha memória. Frank Crane afirmava: "Não se envelhece com o passar dos anos e sim com o abandono dos ideais". Nesta fase de minha vida, mantenho aqueles ideais que, na juventude, traziam-me entusiasmo e fibra para lutar pelo que entendia como certo no meu direito de cidadania.

            Confesso a V. Exªs que, nada obstante as travessias caudalosas que tive ao longo destes quase 82 anos de existência, mantenho-me fiel ao que entendi como fé naqueles anos venturosos da academia universitária.

            Agora, ao observar, à distância, a movimentação dos mais jovens do meu País, volto no tempo para puxar da memória momentos marcantes de minha participação em movimentos que, guardados o tempo e as proporções, não são muito diferentes dos que motivam a rebeldia em jovens ante o que ocorre com as decisões de governo, não importa qual a sua esfera.

            Hoje, a razão são vinte centavos. Naquela época, 1957, 30 de maio, lembrando a célebre noite do massacre também da juventude revoltada da Espanha, o famoso dia de São Bartolomeu, jovens universitários da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, a famosa faculdade do Catete, se ergueram num brado que se tornou nacional, como esse que hoje acontece, porque o governo do então Distrito Federal determinou o aumento em vinte centavos - vejam a coincidência - do preço das passagens de bonde, o mais tradicional meio de transporte da população carioca à época.

            A polícia especial, Sr. Presidente, a dos quepes vermelhos, grupo extremamente repressor dos movimentos populares, ainda vigente, por incrível que pareça, no governo democrático de Juscelino Kubitscheck, e fruto do Estado Novo ditatorial de Getúlio Vargas, agia com rigor e violência, com os instrumentos típicos de um governo discricionário.

            Eu, como tantos outros jovens, levei dela muitas cacetadas, cujos sinais ainda nesta idade tenho marcas. Daí porque compreendo como justas as manifestações de rebeldia dos jovens de hoje e espero que os governos tenham, como teve JK naqueles episódios, a compreensão e o respeito à legitimidade dos reclamos democráticos da juventude quando estabeleceu o direito de se reunir e manifestar, respeitada a ordem pública.

            O grito dos universitários, Srs. Senadores, não é aquele que vem seguido pela ação criminosa de baderneiros e vândalos que tudo quebram com prejuízos aos bens públicos e privados.

            Aos jovens idealistas, o respeito a suas ideias. Aos vândalos, a ação da polícia, inapelável.

            É inadmissível que um grupo mínimo de arruaceiros, se comparados à grande massa que se manifesta pacificamente e de forma ordeira, continue a saquear e depredar os prédios públicos e privados, trazendo danos não só financeiros, mas ao patrimônio histórico, como no caso da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e de tantos outros.

            Sr. Presidente Paulo Paim, lembro-me também da frase que o saudoso Ulysses Guimarães costumava dizer. Abro aspas: “Os políticos precisam escutar a voz rouca das ruas”. Fecho aspas. A voz das ruas já não é mais rouca, é altissonante! E parece que o Governo e os partidos políticos não a estão ouvindo.

            Alguém me indagou: o que está acontecendo com os partidos? Somente aqueles de posição extremamente radical estão presentes nos movimentos dos jovens, e, assim mesmo, de uma forma muito discreta. A minha resposta àquele interlocutor foi a de que os jovens se sentem abandonados pelos partidos e a raiz desse distanciamento vem de longe, desde quando se extinguiram aquelas legendas tradicionais pelo Ato Institucional n° 2 do governo militar.

            Até então, a mocidade, sobretudo universitária, estava integrada, pelas suas opções doutrinárias, a algum partido político cujas ações tinham acentuado reflexo nas entidades representativas do estudantado, como a UNE, em nível nacional, as UEEs, nos Estados, e as Umes, nas cidades.

            A UNE, como entidade representativa e autêntica, teve uma curta sobrevida, com o último grito democrático no Congresso de Ibiúna, em São Paulo, em outubro de 1968. Hoje, embora reorganizada, com amplo apoio oficial de recursos, parece refletir o que se condenava no passado: a “pelegada”, graças às benesses governamentais, razão por que nem tem sido lembrada nesses atuais movimentos da juventude que se estouram por todo o País.

            Outro aspecto que eu gostaria de ressaltar, Srªs e Srs. Senadores, é que os partidos não têm conseguindo valer-se deste imenso potencial de mobilização que é a Internet por meio das mídias sociais.

            Concedo, com muita honra, a palavra ao ilustre Senador Francisco Dornelles.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - O Senador Francisco Dornelles vai falar em seguida a V. Exª.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - V. Exª deixou o microfone levantado, mas considero um aparte valioso de V. Exª.

            O Sr. Francisco Dornelles (Bloco/PP - RJ) - Aproveito para cumprimentar V. Exª pelo brilhante pronunciamento.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - Muito obrigado.

            Continuo, Sr. Presidente.

            A revolta que levou milhares de brasileiros às ruas não é liderada por nenhuma grande personalidade. Não foi necessária a organização de nenhum partido, sindicato ou entidade. No entanto, esse inconformismo difuso pode ser mais bem organizado.

            É o momento de buscar as novas cabeças: os futuros comandantes da Nação. As legendas estão envelhecendo. Há muitos anos não desponta, no País, uma verdadeira liderança estudantil.

            Agora, creio que o eminente Senador Pedro Taques, que eu desejo seja o futuro governador do meu Estado querido de Mato Grosso, me honrará com o seu aparte.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Muito obrigado, Senador Ruben Figueiró. V. Exª honra o Estado de Mato Grosso do Sul. Eu concordo com parte do discurso de V. Exª, uma vez que o senhor é um homem cordial, um homem educado. Eu vejo que o sistema partidário no Brasil não está envelhecendo. Ele está podre! Podre! A prova é isso que nós estamos vivendo aqui. Parece que nós estamos no Palácio de Versalhes. Enquanto o cidadão, aí fora, está protestando, nós, aqui, estamos deitados em berço esplêndido. Lá fora, o cidadão está-se manifestando. Nós, da classe política, precisamos nos antenar nisso. O sistema político no Brasil, hoje, é uma farsa: partidos políticos sem ideologia, o Legislativo...

            (Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) -... se apequenando todos os dias, mais ou menos em obediência ao presidencialismo imperial, e a Presidência da República, com todo respeito à Presidente Dilma, vai a São Paulo para falar com o oráculo. Parece O Quarto K, do Mario Puzo. Ela vai falar com o oráculo para resolver a situação.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - Muito obrigado, Senador Pedro Taques.

            Realmente, as minhas palavras não têm o vigor das de V. Exª, até porque V. Exª é mais jovem. É isso que nós esperamos aqui.

            A minha fase já está passando,...

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT. Fora do microfone.) - Não está!

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - ,mas a sua é a voz dos jovens que estão se rebelando nas ruas, numa justa manifestação.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Discordo de V. Exª. V. Exª é mais jovem do que eu. Não é idade que é jovialidade, mas o espírito público que V. Exª detém.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - Senador Pedro Taques, no início de meu discurso, V. Exª deve ter ouvido que não se envelhece com o passar dos anos, mas, sim, pelo abandono dos ideais.

            Eu me considero, pelo menos em ideias,...

            (Soa a campainha.)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - ...tão jovem quando V. Exª.

            Sr. Presidente, já estou concluindo.

            Sr. Presidente, Srs. Senadores, boa parte dos políticos iniciou sua carreira, por assim dizer, no movimento estudantil.

            A indignação nata é inerente da juventude, que quer mudar o mundo, que tem a esperança no futuro e em dias melhores.

            Por isso, já passou da hora de os partidos, com pê maiúsculo, chamarem os jovens para que, efetivamente, participem do processo político. Está na hora de resgatarem a credibilidade da classe política, tão necessária ao sistema representativo e democrático.

            Chamou-me a atenção a falta de lideranças que despontem como reais interlocutores dos manifestantes. Parece-me que alguns dos jovens que têm se manifestado pela imprensa não perceberam a dimensão da grandiosidade deste movimento que se tornou nacional, organizado pelo Facebook.

            (Soa a campainha.)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - Estou concluindo, Sr. Presidente.

            Na capital do meu Estado, Campo Grande, a juventude fará coro às manifestações. Mais de 25 mil pessoas já confirmaram presença, pela mídia social, no ato desta quinta-feira. Prometem três dias de protestos. Agora, não só as capitais, mas as cidades de médio porte também participam do movimento. Pergunto: até quando ocorrerão tais manifestações Brasil afora? Impossível prever. Provavelmente, acabarão como começaram.

            Infelizmente, Sr. Presidente, acho que não estão seguindo a recomendação do Dr. Ulysses Guimarães. Será que os governantes estão ouvindo a voz rouca - eu diria altissonante - das ruas?

            A Presidente Dilma Rousseff disse, ontem, que está atenta à voz das ruas e dividiu o ônus da insatisfação popular com os governos estaduais, os Legislativos e o Judiciário.

            Ora, Sr. Presidente, Srs. Senadores, de fato, há uma queda...

            (Soa a campainha.)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - ...de credibilidade popular em relação às instituições da República e aos partidos políticos. Mas é preciso a Presidência admitir que por trás dos protestos estão a inflação e a carestia, consequências da política econômica do Governo Federal.

            Para tentar apaziguar os ânimos, o Planalto sugeriu a desoneração de impostos no setor de transporte público de passageiros. Porém, medidas imediatistas e de sufoco são o mesmo que tapar o sol com a peneira, porque, afinal, o débito, de uma forma ou de outra, vai acabar no bolso do povo, eis que o Governo, como sempre faz, vai procurar meios para tapar o buraco das finanças públicas.

            As medidas têm que ser de amplo espectro, especialmente no setor de transporte urbano, e é preciso, primeiro, desobstruir o sistema para, assim, permitir o barateamento dos custos. Disciplinar o trânsito, que está caótico até nas pequenas cidades do País, projetar e concluir, em caráter de urgência...

            (Soa a campainha.)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - ...vias expressas e garantir a fiscalização rígida para que os veículos particulares respeitem as normas de tráfego em horário comercial, além, é claro, de garantir um transporte de passageiros eficiente, integrado, limpo, de boa qualidade e a preços justos são apenas alguns dos exemplos.

            Estou concluindo, Sr. Presidente, muito grato pela atenção que V. Exª está me dispensando.

            Especifico esta questão que é um dos motes mais prementes dos protestos que têm tomado as ruas do País nos últimos dias. Mas o clamor pelo passe livre é um dos pontos imersos nesta imensa e difusa pauta de reivindicações, que manifesta o repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público.

            Ainda ontem, ressaltavam, com a ênfase democrática que possuem as duas maiores figuras e expressões do meu Partido, o PSDB: o seu Presidente de Honra, Fernando Henrique Cardoso, e o Presidente nacional, Senador Aécio Neves, que as manifestações que eclodem por todo o País têm a legitimidade da mais autêntica explosão de sentimentos, expressa num espetáculo democrático nas ruas e nas praças.

            Reforçam que é preciso mudar; que os que têm o mando do poder político se despertem e tenham a consciência de que algo não vai bem.

            Sr. Presidente Paulo Paim, no passado, dizia-se que, antes de tomar uma decisão, dever-se-ia ouvir os mais velhos. Hoje, pela explosão das ruas, devemos ter a consciência de que é importante ouvir o brado da juventude.

            Srs. Senadores, é o que penso.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/2013 - Página 38314