Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca dos motivos que levaram a eclosão de manifestações populares em todo País.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Considerações acerca dos motivos que levaram a eclosão de manifestações populares em todo País.
Publicação
Publicação no DSF de 20/06/2013 - Página 38381
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • COMENTARIO, FATO, POPULAÇÃO, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, OBJETIVO, REIVINDICAÇÃO, REDUÇÃO, PREÇO, PASSAGEM, ONIBUS, COMBATE, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS, OBRAS, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, AUSENCIA, INVESTIMENTO, SAUDE, EDUCAÇÃO, TRANSPORTE COLETIVO, DEFESA, NECESSIDADE, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REFERENCIA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, BRASIL.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Flexa Ribeiro, Srªs e Srs. Senadores, Jornal, Agência, Rádio e TV Senado, senhoras e senhores, precisamos acordar diante das manifestações que tomaram as ruas do Brasil.

            Tanto o Governo quanto o Congresso Nacional e o Judiciário precisam assumir as suas responsabilidades. É preciso questionar o Governo diante do quadro econômico que se desenha e que motiva os protestos.

            Nesse sentido, registro em plenário o artigo do jornalista Antônio Machado, publicado no Correio Braziliense de ontem, sob o título “O Saco Explodiu”.

            Machado faz uma análise muito objetiva e pertinente sobre esse movimento cívico vivido nas ruas de diversas capitais e cidades brasileiras, que bateu às portas do Congresso Nacional. Todos nós, agentes públicos dos três Poderes da República, temos o dever de fazer uma reflexão sobre os episódios, livre da venda das paixões.

            Como bem se viu em diversos momentos, houve um repúdio ao levantamento de qualquer bandeira desta ou daquela agremiação partidária. O movimento retrata uma insatisfação generalizada, que não pode ser ignorada pelo Congresso, muito menos pelo Governo ou pelo Judiciário. As diversas motivações, como o aumento das passagens de ônibus e a cobrança quanto ao dinheiro público gasto nos estádios - e não na educação, na saúde e no transporte público - demonstram que a sociedade está bem mais atenta às ações do Poder Público. Sem dúvida, a sociedade se politiza a cada pleito e está disposta a cobrar de todos e de cada um de nós a parcela de responsabilidade nos destinos do Brasil.

            Tem razão Antônio Machado ao dizer que "entender as transformações que detonam os anseios e medos expressos nas manifestações é mais producente do que buscar o rabo do demônio nos movimentos sociais". Não se pode querer, sob qualquer pretexto, minimizar a força representativa das mais de 250 mil pessoas que tomaram as ruas das diversas capitais e, simbolicamente, tomaram o Congresso Nacional.

            Vejo o recado ao Congresso Nacional sob dois ângulos: primeiro, o da inevitável cobrança do papel do Parlamento no sistema de freios e contrapesos, tão caro à República e à democracia. Segundo, o da dimensão de esperança no papel que cada um de nós desempenha como representante do povo e dos Estados.

            Não podemos negar que o sistema de contratação direta, que permitiu a construção dos estádios bilionários, foi aprovado pelo Congresso Nacional. Não podemos negar que o Congresso tem sido passivo diante das infindáveis explicações das autoridades do Governo sobre o controle da inflação e do crescimento econômico. Senador Pedro Taques, não podemos negar a forma como o Brasil tem sido governado, por infindáveis medidas provisórias aprovadas pelo Congresso. Não podemos negar que a Justiça também tem sido alvo da crítica popular pela demora em decidir.

            Vejam, Srªs e Srs. Senadores, que o Poder Executivo parece ainda adormecido e continua a dizer que detém o controle da inflação e a minimizar a dimensão do movimento. O Parlamento não pode abrir mão de ser o freio necessário às ações do Poder Executivo.

            Senador Paim, acertam a imprensa e os especialistas ao apontar que o movimento apanhou todos de surpresa. Acertam mais ainda, Senadora Ana Amélia, ao apontar que a inflação, os desarranjos da economia, o mal-estar do mercado financeiro, a insegurança social, a insatisfação difusa, especialmente dos jovens, acumulam-se e, um dia, chegam às ruas.

            O aumento das passagens foi apenas a gota d'água. A inflação que as famílias encontram nas gôndolas dos supermercados não tem cor, não tem ideologia. A inflação é um número com uma incrível capacidade corrosiva. A inflação rouba o sonho da viagem, do carro novo, do curso de idiomas, do almoço em família do fim de semana. A inflação destrói o orçamento doméstico e acaba com a paz de espírito das famílias. A inflação não precisa de intermediários para ser entendida. Não precisa de explicações sofisticadas de uma equipe econômica desacreditada.

            Sr. Presidente, os movimentos sociais que vemos nas ruas não deverá ser apenas uma febre. Muito mais do que um protesto repentino, as 250 mil pessoas demonstraram o amadurecimento político do brasileiro, sobretudo em relação ao destino dos 40% da carga tributária, à corrupção e ao tamanho da máquina pública.

            Pelas redes sociais, 79 milhões de pessoas falaram de um único tema. Como bem ensina um velho dito popular, o difícil não é mentir, mas continuar mentindo.

            O brasileiro passou oito anos do governo Lula ouvindo infindáveis bravatas que culminaram com a conhecida história da marolinha. Lula gastou a rodo para fazer a sucessora Dilma Rousseff, colocada sob o manto de boa gestora. Que doce ilusão!

            E agora, Presidente Dilma, será que a senhora vai ter humildade para reconhecer a má condução da política econômica e a necessidade de diminuir os gastos públicos? Será que a senhora compreenderá que esses movimentos populares não podem ser resumidos à figura do Velho do Restelo, imortalizada pelo memorável Luís de Camões? Será que a senhora vai entender que as 250 mil pessoas não podem ser rotuladas como pessimistas que fazem mal ao País?

            Srªs e Srs. Senadores, todos nós precisamos refletir detidamente sobre o significado desse movimento cívico que toma as ruas do Brasil. Creio que a Presidente Dilma tem o dever de dar o exemplo e de fazer uma autocrítica, antes que se coloque por terra a estabilidade econômica e o esforço, no sentido de viabilizar o crescimento sustentável do Brasil.

            Encerro com um elogio à manchete do jornal O Popular, do Estado de Goiás, sem ser injusto com a imprensa em geral. O título diz tudo: "Alguma coisa acontece neste País! O Gigante despertou. E um filho teu não foge à luta.”

            Obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/2013 - Página 38381