Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre propostas de reforma política para o Brasil.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA POLITICA.:
  • Reflexão sobre propostas de reforma política para o Brasil.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 28/06/2013 - Página 40328
Assunto
Outros > REFORMA POLITICA.
Indexação
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, CONGRESSO NACIONAL, ELABORAÇÃO, PROPOSTA, DISCUSSÃO, PLEBISCITO, REFERENCIA, REFORMA POLITICA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Senador Pedro Simon, venho falar na mesma linha do que falaram os Senadores que me antecederam, especialmente o Senador Jorge Viana, sobre a ideia de propostas.

            Senador Jorge Viana, o que o povo está dizendo na rua, Senador Simon, não dá para a gente entender bem. Eles falam um idioma diferente daquele a que nos acostumamos. Nós não aprendemos ainda o idioma deles. Por isso, eles repudiam cada um de nós, e com razão -- se não falamos o idioma deles.

            Mas, Senador Jorge Viana, há quatro perguntas que eles estão se fazendo e que estão fazendo a nós.

            A primeira pergunta é: como eleger os políticos do Brasil?

            São quatro perguntas, Senador Aloysio, que, a meu ver, temos de responder aqui.

            A primeira é como eleger os políticos do Brasil, que vão dirigir os destinos da Nação. Como é que a gente elege?

            Da maneira que a gente elege não presta. O Senador Jorge Viana mesmo falou aqui do alto custo das campanhas. Eu falo da maneira como essas campanhas são financiadas; eu falo da maneira como os partidos recebem dinheiro sem transparência. Eles querem saber como é que os políticos deverão ser eleitos.

            Segundo, eles querem saber como é que os políticos devem agir no dia a dia, como é que se faz a política, como esta Casa é capaz de entender o que está se passando lá fora, como é que a gente define as prioridades.

            Terceiro, eles querem saber como é que podem fiscalizar os políticos, como é que o nosso trabalho pode ser fiscalizado, não apenas de quatro em quatro anos, quando nos submetemos à eleição, mas a cada dia, a cada minuto, porque hoje já há instrumentos para isso.

            Acabou o tempo que o convívio do político com o eleitor era a cada quatro anos. Agora é on-line, é constante, até porque se nós não atendermos, eles fazem manifestação a qualquer momento.

            Estão me perguntando quando é que os meninos jovens vão sair das ruas, Senadores. Nunca mais! Porque eles saem do asfalto, mas vão para casa fazer a manifestação. A rua está na casa; a rua de hoje se chama Internet. É uma via que leva as ideias para todos os lugares.

            Os jovens, os manifestantes, claro que vão se cansar de estar no asfalto. Eles vão para casa, mas continuam ligados. E a qualquer instante -- qualquer instante --, qualquer menino deste País pode colocar duas mil, três mil, cinco mil pessoas na rua, na hora que eles quiserem, no lugar que eles quiserem. Basta eles dizerem que “Amanhã, às cinco da tarde, em tal lugar, vamos nos encontrar com a camisa de tal cor.” E as pessoas irão. Não vão cem mil, mas vão mil, duas mil. Para qualquer coisa que eles inventem de protestar, eles juntam gente! É uma guerrilha cibernética, que a gente tem de entender e conviver com ela.

            Então, a primeira é como eleger; a segunda é como agirem os políticos; a terceira é como fiscalizar, e a quarta é como punir.

            Aqui, Senador Pedro Simon, a gente resume tudo que esse povo quer lá fora. E são quatro coisinhas.

            Agora, fazer um plebiscito com três ou quatro coisas de nosso idioma e que são incompreensíveis lá para fora, porque são até para gente, como se o voto é distrital ou é proporcional, ou se é por lista. Fazer perguntas desse tipo não vai resolver a crise. Isso não vai dizer como eleger, não vai dizer para que eleger, não vai dizer como funcionar, não vai dizer como punir. Não é isso. A gente tem é que elaborar uma proposta e aí submetê-la a um referendo, ao mesmo tempo, sem abrir mão do poder que nós recebemos.

            Mas eu acho que nós, aqui, não temos condições de fazer uma proposta satisfatória, porque nós temos um instinto de sobrevivência muito grande em relação ao processo eleitoral. É impossível querer de um político que abra mão dessa sua necessidade eleitoral para votar um projeto de reforma que o sacrifique ou sacrifique o seu partido. Não tem como. A mesma coisa eu falava hoje para uma jornalista: “Seu instinto é conseguir leitores. O nosso é conseguir eleitores”. Elas têm um instinto de sobrevivência “leitoral”; nós temos um instinto de sobrevivência eleitoral.

            Por isso, a proposta que eu faço. E depois vou dar as minhas ideias. São quase cinquenta, que eu distribuí aqui diversas vezes, e talvez tenha chegado o momento de algumas delas serem debatidas. As ideias só prestam quando chegam na hora. Eu elaborei esse documento e soltei antes da hora. Não era hora. A hora talvez tenha chegado.

            Mas a minha proposta de como fazer, Senador Jorge -- como eu lhe disse no aparte que o senhor me concedeu --, é que esta Casa diga: “Nós não temos condições, pelos nossos vícios, de elaborar uma proposta que mude a política no Brasil”. Mas temos a obrigação. Como é que a gente casa a obrigação com não poder fazer? Vamos pedir ajuda. Vamos pedir.

            Cada lei nossa aqui não vai para um consultor da Consultoria do Senado? Vamos pedir isso. Só que, em vez de pedir aos consultores aqui, consultores anônimos, nós pediríamos a um grupo de 20, 30, 40 pessoas deste País, da mais alta consideração na sociedade, respeitadas pela competência e respeitadas pelo espírito público, sintonizadas com a alma do povo e sintonizadas com os textos jurídicos. E pedimos a eles e elas: façam uma proposta para nós. O Congresso quer uma proposta para prestar contas ao povo. Digam como é que vocês veem que deve ser a política decente e saibam que vocês não vão poder ser candidatos oito anos depois, para não terem o problema do instinto de sobrevivência.

            Esse documento, que seria entregue ao Congresso, o Congresso cederia para um referendo e o povo iria dizer “sim” ou “não”. Se o povo disser “sim”, está feita a reforma. Se o povo disser “não”, a gente repete o processo. E, durante o processo eleitoral do referendo, nós vamos ter aqui os Parlamentares defendendo “sim” ou defendendo “não”. Como já fizemos com o parlamentarismo e o presidencialismo, com a liberdade de vender armas ou o controle da venda de armas, nós faríamos com a reforma política.

            Mas eu antevejo uma quantidade de mudanças tão grande de que nós precisamos aqui que não dá para colocar de antemão num plebiscito, a não ser que ponhamos pouquíssimas questões ao povo, e aí nós não vamos atender todas as mudanças.

            Senador Jorge, só para citar algumas das que eu venho defendendo há anos, por exemplo, eu defendo que o voto seja em lista, mas que a ordem dos Deputados na lista seja escolhida pelo eleitor. O eleitor vai à urna, aperta o botão do partido que ele quer, aparece o nome dos candidatos em ordem alfabética ou por sorteio e aí o eleitor escolhe o nome. Colocar isso no plebiscito é difícil de a gente fazer. Além disso, você tem que colocar essa e outra coisa; e ele vai ter de escolher uma ou outra. Ele vai escolher essa ou vai escolher a lista fechada, em que o partido diz a ordem, cada um da gente só vota no partido e elege o primeiro da lista escolhido pela direção. É isso o que a gente quer? Como é que a gente vai colocar cada um desses?

            A redução do custo de campanha para mim é simples. Acaba-se com o programa eleitoral de marketing, Senador Pedro Simon. O horário eleitoral continua, mas cada candidato vai lá e diz o que quer. Fala ele;não fala o marqueteiro. Ele pode até não ir pessoalmente, pode até não ser ao vivo, mas é gravado por ele, ninguém falando por ele, nem imagens, nem trenzinho rodando de um lado para o outro, nem essas mentiras todas que enganam e que custam um dinheirão. E o TSE, a cada ano, diria quanto pode gastar, no máximo, cada candidato.

            Vereador tanto, dependendo da cidade; Deputado tanto, dependendo da cidade. Deputado Federal, Senador, Governador… Define-se o teto de gasto e define-se que a campanha será feita ao vivo, com a cara do candidato, sem marketing. Hoje, na democracia brasileira, só ganham dois tipos de gente: os marqueteiros e os advogados. Os marqueteiros porque as campanhas são feitas com base na embalagem do candidato, e os advogados, porque é tão caótico o processo que eles terminam ganhando dinheiro.

            Nós temos de fazer o financiamento. Temos diversas alternativas. Como colocá-las? Continuar como está: financiamento livre, cada um põe quanto quer? Não dá certo. Fazer financiamento só com pessoas físicas, melhoraria muito.

            (Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Fazer com pessoas físicas, limitando-se a quantidade que cada um pode dar, melhora. E por que não a gente fazer com que…

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC. Fora do microfone.) - O candidato não pode gastar o que quer.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - O candidato não pode gastar o que quer, mas são duas coisas diferentes: uma é quanto o candidato gasta; a outra é de onde ele recebe o dinheiro. São duas coisas diferentes.

            E o Fundo Partidário. Será que não está na hora de a gente acabar com o Fundo Partidário? Por que o partido não é financiado por seus militantes? Seus militantes que ponham o dinheiro para financiar sua causa ou (há uma sugestão antiga do Senador Suplicy), no dia do voto, você colocar o quanto quer dar para o partido. Mas isso é complicado, isso não tem sentido, isso mistura o Estado e partido. Cada militante financia o partido no dia a dia e, na campanha, sob regras, poder-se-ia pegar financiamento, mas limitando-o.

            A perda do mandato para aquele que não cumprir a regra de financiamento tem de ser drástica.

            Eu defendo coisas como, por exemplo, o voto distrital, que o Senador Aloysio é um dos defensores. Eu defendo que nossa Câmara dos Deputados tenha três tipos de Deputados eleitos que, quando se sentarem lá, tenham o mesmo poder. Uma parte seria eleita pelo voto distrital: o Estado é dividido em distrito. Se há nove candidatos (nove vagas), três vagas serão para distritais; outras três eleitas pelo voto direto como o é hoje. Agora, eu defendo que 50 vagas na Câmara dos Deputados sejam para eleição nacional. O Deputado chegaria lá sem representar Estado, mas representaria o País inteiro. E ali se sentarão os grandes nomes da política brasileira, eleitos pelo Brasil inteiro. E não digo que custa caro, porque, com a TV, eles nem vão precisar sair de casa para fazer campanha.

            Outra coisa, eu defendo, e acho que o Senador Aloysio também, o voto distrital para todos os Vereadores do Brasil. É uma proposta antiga que eu defendo. Está impressa nisto aqui.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu defendo a reeleição, por mais de uma vez, de todos os Parlamentares, de todos os dirigentes de clube de futebol, de todos os líderes sindicais. Podem ser reeleitos, sim. Porque um dia desses perguntaram: “Mas você não foi reeleito? Como é que pode ser contra a reeleição?” Não. Eu sou contra mais de uma reeleição. Sou sim. Eu sou a favor de dois mandatos. Dois mandatos a gente pode muito bem ter. E renova.

            Aqui está um Senador que teve diversos mandatos, o Senador Pedro Simon. Ele aqui faria uma falta grande. Mas será que ele não fez falta como Deputado Federal em um desses mandatos? Ou como Governador, outra vez? E depois voltava para aqui. Para que a continuidade?

            O fim da reeleição para Presidente e Governador, desde que aumentando o mandato. Se for para cinco, é o ideal. Mas aí vai haver uma eleição no meio. Se for para seis, não tem eleição no meio. Ele é candidato uma vez junto com os Deputados e uma vez junto com os Vereadores. Não haveria uma eleição a mais.

            Impedimento de aliança para cargos majoritários. O Senador Jorge Viana falou isso. Senador Jorge Viana, estou totalmente de acordo. Tem que obrigar todo partido a ter candidato a Governador, Prefeito e Presidente. Os que não tiverem são partidos livres, mas não são oficiais. Não terão nem mesmo horário eleitoral, porque é tendo candidato no majoritário que você impede a coligação. Tem que ter.

            Outra coisa: Governador e Prefeito. Tem que acabar com isso de eles se licenciarem seis meses antes para serem candidatos. A máquina ainda está com eles. Governador e Prefeito têm que terminar o mandato para o qual foram eleitos. Se renunciarem, não podem ser candidatos. Eles ficam quatro anos fora e se elegem depois de quatro anos, se quiserem. Mas já não mais com a máquina que têm na mão até seis meses antes.

            Há muitas medidas aqui, mas são essas que, a meu ver, dariam um salto, permitiriam que a gente tivesse cassação pelo eleitor -- é claro que tem de haver. Voto sem partido -- tinha que permitir o voto sem partido. Não é a ideia de acabar partido, porque alguns entenderam que eu defendi isso. Eu defendi, de uma maneira até forte, abolir os clubes eleitorais que se chamam partidos.

            Partido é um grupo de pessoas com identidade ética, com identidade programática e isso hoje não temos muito neste País. Poluímos tudo, tanto ética quanto programaticamente, porque transformamos os partidos em clubes eleitorais que nos servem para apresentar nossa candidatura.

            A cassação por omissão é uma quantidade grande, Senador Jorge Viana, que eu não vou ler, porque o que quero aqui é resumir a ideia central. A ideia central é que a reforma política tem que ser muito radical, ela não será possível…

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - … feita pelos Congressistas candidatos, ela terá que ser feita por uma entidade separada. Mas, para não tirar a constitucionalidade do papel do Congresso Nacional, o Congresso convidaria as pessoas. No voto de todos nós aqui, ninguém poderá dizer que haverá protecionismo, o voto aberto, explícito, das essas pessoas que vamos escolher. Elas fariam a proposta e depois submeteríamos a um referendo.

            Com isso, creio que estamos nos aproximando daquilo que o povo quer, não que o povo queira exatamente isso, mas porque os eleitos dessa forma vão estar sintonizados com o povo, com a opinião pública, com os meninos da Internet. Até porque, nessa reforma, tem que ter um veículo para que a população fale com a gente todos os dias.

            Um grupo, com 1,4 milhão brasileiros, apresentou aqui uma reclamação por uma decisão do Senado, que foi a eleição do nosso Presidente. O que fizemos com aquilo? Nada.

            Tem que ter na reforma política um lugar em que se diga que não se pode desprezar um milhão e quatrocentas mil assinaturas. Isso tem que ser todos os dias quase. É quase como tendo 82 Senadores, cada um daqui, e o povo chegando para nós pela Internet. Para dar o voto dele igual ao da gente, é muito pouco; vai dar o voto dele superior ao nosso é demais. Discutamos, descubramos, mas não vamos ser nós que vamos descobrir isso, Senador Cafeteira, não somos nós. Nós não temos como. Um grupo à parte, um grupo de consultoria do Congresso, subordinado à vontade popular, por meio de um referendo.

            O Senador Aloysio tinha pedido um aparte.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Obrigado, Exª. É só para ilustrar quando V. Exª se referiu à complexidade…

(Soa a campainha.)

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - … das questões que seriam submetidas à consulta popular, no caso de um plebiscito. Eu me refiro a temas já submetidos ao crivo da comissão especial constituída pelo Presidente Sarney, que seriam submetidos ao crivo dos eleitores. Por exemplo, voto majoritário uninominal com turno único ou voto majoritário plurinominal? Voto majoritário uninominal com turno único e sistema proporcional com lista fechada ou voto majoritário uninominal com turno único e sistema proporcional de lista aberta? Isso é um exemplo de questão. Nem quem é formado em Direito e com doutorado em Direito Eleitoral é capaz de entender um negócio desse. Imagine… Então, é um absurdo a ideia de fazer um plebiscito sobre temas tão complexos como esse. Um referendo, talvez, para aprovar uma reforma profunda como essa que propõe V. Exª. Agora, para discutir esse tipo de questão, me desculpe. Acho que a intenção da Presidente ao propor essa enormidade é outra. E vou ter oportunidade de ocupar a tribuna para isso.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu vou assistir à sua fala, mas quero dizer que já estou de acordo. A intenção é outra. A intenção é fazer o marketing de que está aceitando o que o povo quer e postergar, indefinidamente, a reforma. É isso. É uma jogada de marketing. E nós estamos nessa situação, nós estamos nessa crise, nós temos 2 milhões de pessoas na rua por usarmos marketing demais, por colocarmos o marqueteiro como sendo o 40º ministro da Presidenta Dilma. São 39 Executivos e um 40º, que é o marqueteiro. E tudo sendo à base do marketing. Esta é uma das causas de o povo ter ido para a rua: quando cai a ficha de que era mentira o que o marketing apresentava, quando cai a ficha de que eles constroem o estádio com o dinheiro do povo, e o povo não tem dinheiro para pagar o ingresso e entrar nele. Cai a ficha! E a ficha cai porque o marketing mostrava uma coisa, e a realidade, depois, mostrou outra. Estamos, outra vez, caindo no vício do marketing.

            E aí eu resumo, dizendo: Senador Jorge Viana, como um dos líderes mesmo do Partido dos Trabalhadores, eu acho que alguém tem que dizer que a maior adversária da Presidente Dilma, hoje, é a candidata Dilma. A candidata Dilma é adversária da Presidenta Dilma, porque é difícil se comportar como Presidenta, numa crise dessa, se comportando como candidata. Como candidata, ela tem que usar o marketing para responder e obter votos imediatos. Como Presidenta, ela tinha que assumir o papel de estadista e dizer: “Eu vou fazer o que é preciso independentemente de ser ou não eleita. Eu vou fazer o que é preciso independentemente de ter partidos comigo. Eu vou fazer o que é preciso para salvar este País da situação que está atravessando”.

            Muitos dizem que aqui a Dilma tem adversário. O adversário da Dilma é a Dilma. A candidata Dilma é adversária da Presidenta Dilma na maneira como ela tem que se comportar no dia a dia.

            O Senador Pedro Simon pediu a palavra.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - A segunda edição é igual à primeira, Senador?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Há poucas diferenças, para melhorar apenas, até porque há poucos meses entre uma e outra.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Eu dei nota 10 para a primeira.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - A segunda deve estar um pouquinho melhor.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Acho, com toda sinceridade, que aqui está o modelo a partir do qual podemos sentar para debater, discutir. V. Exª vem dizendo isso há um bocado de tempo. V. Exª, inclusive, levantou a ideia de, às segundas-feiras e às sextas-feiras, ficarmos aqui para debater, discutir, analisar e, a partir desse debate, dessa análise, chegarmos a uma conclusão. Infelizmente, V. Exª não foi ouvido. O negócio é radicalizar, radicalizar, radicalizar. E chegamos a este ponto. Eu não nego: eu contribuí um pouco para isso, porque há anos venho dizendo que o povo tem que ir para a rua; há anos eu venho dizendo: “Não esperem nada do Congresso, não esperem nada do Executivo” -- e ultimamente, infelizmente, não se deve esperar nada do Judiciário. Isso está acontecendo. Isso é um milagre da tecnologia. Derrubaram o governo no Egito. Isso está sendo debatido no Brasil e está mudando o País. O dia de ontem foi um dia inédito, alguém vai ter que se lembrar de escrever sobre ele: Brasil e Uruguai jogando e nenhum Senador saiu deste plenário. Estávamos aqui discutindo, debatendo, e votamos uma matéria da maior importância, por meio da qual se transformou a corrupção em crime hediondo. V. Exª é um Senador, para mim, emocionante, o senhor é positivo, o senhor é construtivo, o senhor só fala no sentido de querer ajudar, de querer que a coisa vá para frente. V. Exª não fala no sentido de criticar, de combater: “Está errado, está errado!”. Não, V. Exª fala no sentido de buscar um entendimento. Acho, com toda sinceridade, que, no meio disso tudo o que está acontecendo, cada um de nós devia, em primeiro lugar, botar a mão na consciência e dizer que todo mundo tem um pouco de culpa. Eu sou culpado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu sou muito.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Eu não me sinto com autoridade de criticar quem quer que seja. Estou aqui há 40 anos e não fiz porcaria nenhuma. Eu sou culpado. Mas vamos nos unir. O que pode acontecer neste momento em que essas coisas estão ocorrendo é finalmente sentarmos à mesa e debatermos. Vamos discutir, vamos analisar, vamos buscar o entendimento. Vejo do lado da Presidenta algo altamente positivo. Esse estilo dela de ter vindo da luta armada, de mil dificuldades; ela era meio fechada dentro do PT, meio difícil, e agora está abrindo as portas, está tentando debater, tentando discutir. Com toda a sinceridade, acho que se deve discutir e se deve debater. Em segundo lugar, não importa se é plebiscito, se é referendo, ou qualquer coisa que for. Vamos analisar. Não vamos nos negar a discutir plebiscito ou referendo se formos contra um ou outro. Vamos debater. O que acho é que essa crise que estamos vivendo pode ser um grande momento, pelo menos nas coisas positivas. O Supremo é outro Supremo. O Presidente do Supremo teve com a Presidenta da República um belo entendimento, uma bela conversa. Ele disse o que tinha de dizer, o que ele pensa, que é a hora de o povo participar, chega de conchavos, mas disse numa linguagem… Gosto demais do Presidente do Supremo, só acho ele um pouco impetuoso. Mas, com a Presidenta da República, ele foi excepcional. Está na hora de o povo ser ouvido, de o povo participar. Acho que V. Exª é um grande nome que pode ser o coordenador dessa situação. Vamos sentar e vamos debater. Se nós analisarmos, e vou falar com sinceridade, V. Exª disse uma coisa que resume tudo:

(Soa a campainha.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - … é difícil para nós fazermos essa reforma política eleitoreira, porque é difícil votarmos contra nós mesmos. Então, cada um vai votar de acordo com o que acha que soma para si. Porque para votar numa coisa que é ruim para si próprio é preciso muita grandeza. E isso só se faz num grande debate, não se faz numa posição isolada. Vamos tentar fazer isso. Se nós analisarmos esse livro de V. Exª, o qual li e reli, vamos ver que todos os partidos estão divididos em torno disso aqui. Não dá para dizer que o PSDB é uma coisa, o PT é outra e que o PDT é outra. Cada Deputado e cada Senador tem o seu pensamento. Então vamos nos sentar, discutir e encontrar uma fórmula. Não vamos querer a perfeição e não vamos querer fazer tudo que está aqui de uma vez só.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - … Eu acho que seria injusto se essa situação não fosse aproveitada … (Fora do microfone.) … a gurizada, passa a época de ir para a rua, vai para a casa, nós entramos em recesso e em agosto entramos aqui para começar tudo de novo. Eu acho que nós devemos aproveitar agora. Agora é o momento. Agora é a oportunidade. E a sua tese de sentar, discutir e debater é fundamental. E se a Presidenta está vindo e está chamando, vamos conversar com a Presidenta, porque acho que é importante que todo mundo participe desse diálogo. Que o PT venha de cabeça um pouco mais baixa, porque, na verdade, hoje eles estão vendo como a vida muda da noite para o dia. Se eles achavam, há um mês, que iam durar mil anos, hoje já estão sentindo que a coisa é complicada. Vamos nos sentar e debater e verificar que nós também temos a nossa culpa e a nossa responsabilidade. Eu acho, com toda sinceridade, que nós temos condição de fazer isso, e V. Exª, por ser um dos pregadores que vêm fazendo isso ao longo do tempo, pode nos comandar.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado, Senador, pela sua generosidade.

            Concluo, Senador Aloysio, dizendo que essa ideia de querer fazer as coisas como algo de marketing nunca dura muito. Há pouco mais de um ano, um ano e meio, a Presidenta fez um grande marketing em torno da faxina com a qual se livrava de alguns Ministros que eram acusados pelos jornais. A Presidenta cresceu muito com aquela faxina. Mas ela já caiu.

            Eu temo que ela esteja inspirada a fazer nova faxina sobre a forma jurídica, que todas essas propostas dela sejam a ideia de faxina jurídica, que não durará muito.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Desculpe-me, mas ela caiu porque ela fez a faxina, ficou naquilo e voltou a ficar na dependência de PT, PMDB etc. Hoje, a Presidência…

(Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - … está amarrada na política do “é dando que se recebe”.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Exatamente.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - E não houve outro lado que aparecesse, como o povo está mostrando agora, nas ruas, que não é dando que se recebe. Eu acho que poderíamos aproveitar esta ocasião para fazer isso. Ela está dando um novo passo. E, de certa forma, porque não dizer: livrá-la da pressão de A e B querendo amarrar as mãos da Presidente.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Da outra vez, ela fez uma faxina de política; agora, ou ela faz uma faxina de estadista, ou ela não sobrevive na história. Pode chegar ao final do seu Governo, pode até ser reeleita, mas vai ser vista como a Presidenta do povo na rua, contra ela e contra nós.

            Era isto, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/06/2013 - Página 40328