Discurso durante a 98ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise das manifestações ocorridas em várias cidades brasileiras.

Autor
Rodrigo Rollemberg (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
Nome completo: Rodrigo Sobral Rollemberg
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Análise das manifestações ocorridas em várias cidades brasileiras.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/2013 - Página 37975
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • ANALISE, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PAIS, MOTIVO, DEFICIENCIA, SERVIÇO PUBLICO, AREA, SAUDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA, ZONA URBANA.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, Srªs e Srs. Senadores, não posso deixar de voltar a comentar as manifestações populares que tomaram conta do Brasil durante o dia e a noite de ontem. Esse, sem dúvida, é o fato político mais relevante dos últimos anos e que merece de todos nós uma profunda reflexão.

            Importante registrar, Senador Paulo Paim e Senador Eduardo Suplicy, que há algumas coisas em comum nas manifestações que ocorreram nas diversas cidades brasileiras. Em primeiro lugar, uma crítica contundente à política e aos políticos, e nós não podemos deixar de reconhecer isso e de refletir sobre isso, sob pena de não aproveitarmos o momento rico da história nacional para crescermos, para evoluirmos.

            Por outro lado, temos, também, uma crítica acentuada aos serviços públicos, à péssima qualidade dos serviços públicos oferecidos nas grandes cidades brasileiras, especialmente na área de mobilidade urbana, na área de saúde, na área de educação e na área de segurança pública.

            É importante reconhecer - e eu tenho feito isto desta tribuna do Senado - o quanto o Brasil avançou na nossa democracia, e é importante resgatar isso porque foi através da luta de jovens, há 30 anos, que nós conquistamos a democracia, derrotamos a ditadura, fizemos uma Constituição que garantiu a liberdade de expressão, a liberdade de organização partidária, e avançamos.

            Acontece, Srªs e Srs. Senadores, que, no meu entendimento, nós estamos diante de um novo ciclo. As conquistas referentes à democracia, que são reconhecidas e tomadas como patrimônio do povo brasileiro, já são insuficientes diante das novas demandas da população brasileira.

            Nesses 30 anos, a população brasileira passou a ser, majoritariamente, urbana, teve acesso a novas tecnologias, nós conseguimos, através de políticas sociais, reduzir a pobreza, mas apenas reduzir a pobreza, pois ainda há pobreza no País... Ainda existem diferenças sociais gritantes entre classes sociais, entre regiões do País. Se conseguirmos avançar do ponto de vista do emprego, do ponto de vista de programas sociais, nós não avançamos ou avançamos muito pouco naquilo que é fundamental para o dia a dia das populações urbanas brasileiras: o acesso a uma educação de qualidade, o acesso à mobilidade urbana de qualidade, para que as pessoas percam pouco tempo da sua casa para o trabalho e do seu trabalho para sua casa, o acesso aos serviços públicos de saúde, que vêm se deteriorando no País nos últimos anos, e também uma segurança pública de qualidade.

            Os jovens que protestaram em todo o País - e a grande maioria dos manifestantes era de jovens, especialmente aqui, em Brasília -, hoje, são os maiores protagonistas e as maiores vítimas da violência no nosso País. E o brado de indignação ouvido pelas ruas é o brado de que, ao lado de gastos que vêm sendo considerados gastos vultosos, gastos estrondosos, especialmente em algumas capitais, como em Brasília, com a Copa, não há uma contrapartida adequada nos investimentos dos serviços públicos de qualidade, como saúde, como educação, como segurança pública e como transporte.

            Mas é preciso perceber também e reconhecer que nós vivemos uma crise no sistema representativo no Brasil, em que os partidos políticos são muito parecidos e grande parte da população brasileira já não se sente mais representada por esses partidos políticos. Isso é fato.

            Ontem, houve dificuldade quando o conjunto de Senadores tentou buscar uma interlocução com o movimento, porque não havia lideranças definidas, lideranças identificadas, o que é um aspecto positivo. Na verdade, cada cidadão passou a ser um sujeito. Houve utilização em massa das redes sociais para a mobilização desses jovens em todo o Brasil, que vieram para se manifestar, para se manifestar contra a PEC nº 37, para se manifestar contra a degradação dos serviços públicos, para se manifestar contra o aumento das tarifas de ônibus, no caso de São Paulo e do Rio de Janeiro, para se manifestar contra o estado de coisas e contra a forma política com que se estão abordando esses temas.

            É importante reconhecer que, quando se decidiu trazer a Copa ao Brasil - e eu, Senador Paulo Paim, quero registrar que eu defendi a vinda da Copa como um instrumento importante para transformar o Brasil num grande destino turístico -, vendeu-se para a população brasileira que grande parte dos investimentos seriam privados e que nós teríamos grandes ganhos no legado da Copa do Mundo, ganhos em mobilidade urbana, ganhos em infraestrutura turística, ganhos em qualificação profissional. No entanto, o que, efetivamente, nós estamos vendo é que essas coisas não estão ocorrendo, que não há uma contrapartida adequada para os investimentos em estádios.

            Na nossa cidade, por exemplo, Brasília, praticamente, o que vamos ter com esta Copa do Mundo é um estádio, um estádio suntuoso, um estádio bonito, mas um estádio, quando as condições de saúde, de educação, de segurança e de mobilidade urbana, na avaliação da população do Distrito Federal, como tive oportunidade de dizer ontem, aqui, desta tribuna, pioraram. Essa é a visão dessa população.

            Também houve uma inabilidade muito grande do Governador, completamente diferente do que se observou hoje nas manifestações da Presidenta da República, que considerou absolutamente legítimas as manifestações. Ela disse que o Brasil acordou com a democracia mais forte, enquanto o Governador Agnelo afirmava que esses manifestantes eram pagos. A resposta estava aí, ontem, na frente do Congresso Nacional: dezenas de milhares de jovens, nossos filhos, nossos amigos, filhos dos nossos amigos, dos nossos conhecidos, uma nova geração que veio protestar, de forma pacífica, em sua grande maioria, exigindo a melhoria das condições de vida nas cidades, a melhoria da qualidade da política em todo o Brasil.

            Eu quero, aqui, abrir parêntesis para elogiar a atuação da Polícia Legislativa do Senado Federal e para elogiar a atuação da Secretaria de Segurança Pública e da Polícia Militar do Distrito Federal, que não aceitaram provocações ao longo do dia de ontem, mantiveram a tranquilidade, o que nos permitiu ter, depois de muita tensão, o encerramento da manifestação sem nenhum confronto.

            Importante registrar: a esmagadora maioria das pessoas que vieram para a frente do Congresso Nacional o fizeram para se manifestar de forma pacífica, apenas um grupo mais exaltado procurou confrontar a polícia e entrar no Senado Federal. Nós ficamos aqui até quase 11 horas da noite - eu, o Senador Paulo Paim, o Senador Eduardo Suplicy e o Senador Inácio Arruda - acompanhando de perto, junto com a Polícia Legislativa, os acontecimentos no Senado Federal.

            Ouço o Senador Paulo Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Rodrigo Rollemberg, sei que a Senadora Vanessa Grazziotin vai ser tolerante, mas não tem como o Plenário do Senado deixar de debater um tema como este. Como muitos disseram, foi um dia histórico que vai marcar a vida dessa juventude e também a de todos nós. Comungo com V. Exª no entendimento de cumprimentar a Polícia do Senado e a Polícia Militar de Brasília, que, diante daqueles meninos mais exaltados, jogando água, fazendo ofensas, não reagiu em nenhum momento. Ela se manteve fria, na busca do equilíbrio, o que foi fundamental para evitar, inclusive, a possibilidade até mesmo da invasão dos corredores do Senado Federal. V. Exª tem toda razão. Nós quatro, o Senador Rodrigo Rollemberg, o Senador Suplicy, o Senador Inácio Arruda e eu, fomos até a frente do Congresso...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - ..., conversamos com um ou outro líder e eles disseram que não havia diálogo com esse ou aquele líder, porque não havia um líder personalizado, já que era um movimento de massa e que a pauta nós já conhecíamos. Isto que V. Exª está dizendo eu já disse, o Senador Inácio Arruda já disse, o Suplicy já disse, a Senadora Vanessa Grazziotin, que está presidindo a sessão, já disse: é saúde, educação, segurança, é mobilidade, é transporte de qualidade, enfim, é qualidade de vida. É isso o que a população pede. Por isto a nossa posição. Nós todos que estamos neste plenário fomos sujeitos da história no passado, no combate à ditadura, na busca da democracia e de melhor qualidade de vida para o nosso povo. Assim, não poderia ser outra a nossa posição senão a de apoio ao movimento, mas dizendo não à violência. Violência em hipótese nenhuma.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - Senador Paulo Paim, o Ministro Gilberto Gil foi muito feliz quando disse que o povo sabe o que quer, mas que, também, muitas vezes, quer o que não sabe. Mas o povo também sabe o que não quer. A população que veio às ruas não quer retrocessos na política brasileira.

            Não é à toa que, em vários lugares do Brasil, viam-se cartazes contra a aprovação da PEC nº 37. A população não quer reduzir os poderes de investigação do Ministério Público, porque sabe que isso é importante para combater a corrupção, especialmente para combater a corrupção de “colarinho branco”.

            A população não quer o cerceamento à liberdade de organização partidária, especialmente quando esse cerceamento da liberdade de organização partidária é para prejudicar determinado grupo político, em detrimento de outros grupos que estão…

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador Rollemberg?

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF. Fora do microfone.) - Permito, Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Apenas para também manifestar meu testemunho e apoio ao pronunciamento de V. Exª, como fez o Senador Paulo Paim, e reforçar essa recomendação a todos os manifestantes. É uma coisa muito bonita que possa a juventude e possam as pessoas de todas as idades estarem se manifestando em todos os lugares do País. É muito importante que as manifestações se caracterizem pela não violência, pela não depredação. Cada episódio de depredação, de incêndio, de destruição de ônibus e coisas dessa natureza acaba prejudicando os próprios objetivos expressos por aqueles que têm feito as manifestações.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Então, reitero a nossa disposição de estarmos dialogando, seja com o Movimento Passe Livre, seja sobre as demais reivindicações, e nos colocamos aqui à disposição dos movimentos para com eles dialogar. Meus cumprimentos, Senador Rollemberg.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy. Eu iria concluir tratando do mesmo assunto que V. Exª.

            É importante registrar que a maioria dos manifestantes, a grande maioria, estava se manifestando de forma pacífica. Atos de depredação foram, inclusive, vaiados pelos manifestantes em muitas cidades do Brasil. É importante que os próprios manifestantes cuidem disso, para que essas manifestações fantásticas, que podem contribuir para melhorar a qualidade da democracia no Brasil e para melhorar a qualidade da representação política no Brasil, obriguem os políticos a refletirem sobre as mudanças que precisam ser adotadas no fazer política no Brasil e obriguem os partidos a se reciclarem.

(Soa a campainha.)

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - O desejo da grande maioria não pode ser maculado pela manifestação de uma minoria provocadora, que depredou alguns lugares, que invadiu espaços públicos, que depredou o espaço público. Com isso, é claro, não concordamos e temos a convicção de que a maioria da sociedade brasileira não concorda. A sociedade brasileira está solidária com a manifestação da juventude, o que é algo alvissareiro para o nosso País, mas, certamente, não concorda com as manifestações de violência.

            Temos de estar muito atentos para saber compreender as manifestações legítimas da juventude brasileira, que mostrou seu inconformismo com o estado de coisas em várias cidades brasileiras.

            Era esse o registro que eu tinha a fazer, prezada Presidenta, Senadora Vanessa Grazziotin.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/2013 - Página 37975