O SR. WALTER PINHEIRO (Bloco/PT - BA. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero chamar a atenção para um ponto, e V. Exª é uma das pessoas que mais tem, ao longo dos anos, trabalhado nesta Casa com a lógica não só do respeito, mas também do pleno e total apoio a todos os movimentos sociais, às manifestações, eu diria, do processo que é um processo extremamente positivo na sociedade brasileira que é a nossa capacidade de mobilização.

            O dia de ontem foi marcado exatamente por essa síntese daquilo que a própria Presidenta hoje colocou, das mudanças que se processaram no Brasil, do desejo por mudanças e, no aspecto central, daquilo que nós chamamos muito de o novo comportamento da sociedade brasileira.

            Tentar fazer a análise do que foi o processo dessas manifestações é um erro. Aliás, esse foi o erro inicial daqueles que achavam que podiam tangenciar esse processo, meu caro Paulo Paim, e não ir ao centro da questão, principalmente com ausculta, com diálogo e sem o processo de repressão.

            É verdade que o movimento nasceu com um objeto. O objeto da busca por melhoria nas condições de transporte; da busca por melhorias, inclusive, com a redução do preço da tarifa. Mas passamos a conviver com o cenário de quem efetivamente estava num processo de mudança de vida e que não tinha experimentado, por parte da prestação dos serviços, o mesmo caminho de volta.

            Se localizarmos isso bem, poderíamos pontuar, meu caro Senador Paulo Paim, até do ponto de vista do que é o avanço tecnológico. Há setores que experimentaram as mais avançadas ferramentas tecnológicas, mas que continuam prestando serviços como se no passado estivessem, que continuam prestando serviços sem a qualidade que a inovação possibilita. Ora, um trabalhador que passou a ter uma renda muito melhor, que passou a poder se deslocar para fazer outras coisas que não só usar o sistema de transporte para o trabalho e para o lazer, esse sujeito continua ainda, Senador Paulo Paim, tendo que ficar às vezes seis horas dentro de um transporte coletivo, seis horas do seu dia, quando não mais do que isso, a depender inclusive do sistema de trânsito, da mobilidade.

            Ocorreu, ao longo desse período, uma verdadeira degradação da mobilidade urbana. Fomos convivendo com cidades em que o processo de evolução se deu de forma inversa na qualidade de vida e naquilo que se oferece para cada cidadão. Portanto, o que nos experimentamos foi algo que destoa completamente de toda a história da evolução.

            Assim, é extremamente natural que algo que comece reivindicando melhorias no ponto de vista da tarifa chegue até a outras questões da sociedade. A população quer mais saúde, a população quer mais educação, ainda que se possa dizer: “Mas nós interiorizamos, criamos novos parâmetros, adotamos novos marcos, há uma melhoria consubstancial da universalização de serviço!” Mas isso continua ainda, meu caro Presidente Renan, sendo algo muito difícil. A população quer efetivamente poder experimentar.

            É natural que a crítica tenha também a direção a partir da relação com os poderes constituídos, sejam eles municipais, estaduais ou até federal, até porque a partir dessas estruturas é que temos efetivamente a consagração e a implementação de políticas públicas neste País.

            Acredito, meu caro Senador José Pimentel, que a realidade que se apresenta é uma realidade posta a partir, inclusive, da necessidade dessa população de dizer não só que ela está atenta, como ela precisa também participar, cada vez mais, dos atos e dos fatos e das decisões deste País, principalmente num tempo em que essas ferramentas a que aqui me referi deveriam mudar a qualidade dos serviços, deveriam incluir muito mais gente. E essas ferramentas também, meu caro Senador Renan, deveriam permitir um grau maior de ausculta por parte do Poder Público à sociedade, na medida inclusive em que essa ausculta pudesse consolidar a verdadeira construção, meu caro Senador José Sarney, de políticas públicas, guardando relação com a realidade local, com os desejos individuais e, principalmente, com os anseios da população brasileira, anseios esses, em algum tempo, eu diria até estrangulados, ou até represados, em outras fases, inexistentes.

            Portanto, este é um momento em que, mais do que a preocupação ou o temor, o Poder Público tem que ir ao encontro desse clamor, auscultar de forma cada vez mais aguçada, e permitir, através do dialogo, a interação, e não através da repressão.

(Soa a campainha.)

            O SR. WALTER PINHEIRO (Bloco/PT - BA) - Ainda que alguns digam que há excessos aqui, ali e acolá, toda vez que nós temos um processo de manifestação pública, um exagero de um lado ou de outro pode provocar um estopim. Portanto, nessa hora, a boa dose, a capacidade de diálogo, o excessivo exercício, inclusive, da plena democracia, respeitando o direito de todos, essas coisas são fundamentais para que a gente consolide esse nosso estágio democrático hoje vivenciado no Estado brasileiro.

            Por isso, Senador Renan, acredito que a gente está diante de um momento que nos leva claramente a uma possibilidade de, cada vez mais, aí, sim, acirrar na execução de políticas públicas e buscar a solução para os graves problemas ainda vivenciados pelo povo brasileiro.

            Por isso, acho que a Presidenta Dilma foi muito feliz quando disse hoje: “O País acordou de outra forma”.

            Acordou de outra forma, e é importante, inclusive, que esse acordar, esse despertar, esse chamamento sirva exatamente para a gente entender qual o caminho que devemos trilhar para consolidar, de uma vez por todas, a democracia no Brasil, mas, principalmente, para assegurar ao povo brasileiro a universalização de serviço, acesso de forma igual e, por fim, eu diria, para consolidar efetivamente a democratização na distribuição dos recursos da nossa Nação.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.