Discussão durante a 98ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Referente ao PLS n. 240/2013-Complementar.

Autor
Inácio Arruda (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discussão
Resumo por assunto
Outros:
  • Referente ao PLS n. 240/2013-Complementar.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/2013 - Página 38090

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Para discutir. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nós votamos essa matéria aqui no Senado. Numa posição que refletia o sentimento majoritário, conseguimos aprovar uma proposta que não causa prejuízos a nenhuma grande região brasileira e a nenhum Estado. Essa matéria caiu na Câmara porque não alcançou os 257 votos “sim” que eram necessários para que a gente pudesse garantir a sua aprovação. Ela não foi efetivamente derrotada; ela não teve quórum suficiente para ser aprovada.

            Essa proposta do Senador Walter Pinheiro é um dialogo para que a gente possa votar a matéria sem prejuízo para a região que tem mais dificuldade no Brasil, que é a Região Nordeste. É incompreensível... Imagine o Estado do Ceará, que está ali encravado no semiárido, a Paraíba, o Rio Grande do Norte, Pernambuco, o alto sertão pernambucano, alagoano e sergipano, parte do Maranhão, Alagoas - o alto sertão alagoano, eu falei -, Sergipe, mesmo o Piauí! Buscou-se uma manobra para atender ao Piauí, tirar o Piauí da nossa realidade nordestina.

            Querer, companheiros, diminuir recursos dessa região, anunciando que houve um crescimento geral no País e, portanto, essas regiões ganharam também, sinceramente, é um grande equívoco. Um Estado como São Paulo conseguir puxar Estados do Norte que também já cresceram um pouco, já se desenvolveram, mas puxá-los para tirar o Nordeste, nós que temos tido solidariedade intensa com o norte do País? Talvez não haja uma matéria em que a gente não tenha uma unidade grande entre o norte e o nordeste brasileiro. Uma manobra... Puxa vida!

            Senador Pedro Simon, me dê as terras do Rio Grande do Sul! Garanto que a gente transforma essa realidade e que o Rio Grande do Sul, com aquela qualidade de vida, com aquela industrialização que tem, com aquela presença enorme de gente boa, preparada, de um norte que já teve reforma agrária com Brizola, que melhorou e muito o Rio Grande do Sul. Dê-me essas terras. Eu troco, eu dou todo o FPE do Ceará pelas terras do Rio Grande do Sul, para mostrar como é que se governa e garantir qualidade de vida, sem precisar colocar a faca no pescoço do Ceará, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, dos Estados mais pobres da Federação, porque essa é a realidade. Mesmo que o Estado do Rio Grande do Sul tenha dívida, houve um desvario no Rio Grande do Sul. Perdoem-me. O Nordeste não tem que pagar, o Ceará não tem que pagar, me desculpem. Claro que não tem, mas nós não podemos usar de uma manobra para atrair o Amapá ou atrair Roraima ou atrair Rondônia, para alçapar...

(Soa a campainha.)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - ... e fortalecer os que já são os mais fortes. Com todo o respeito, eu quero que cresça muito mais riqueza de São Paulo, mas dobrar os ganhos de São Paulo em detrimento do Nordeste? Sinceramente, isso não dá, isso não é possível, com todo o respeito, mas não é, porque, querendo ou não, o Centro-Oeste também teve ganhos extraordinários, favoráveis, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, uma pujança gigantesca. Nós tivemos que mandar muitos filhos nossos para lá, para sobreviver, buscando a água, buscando a sobrevivência lá em Mato Grosso, lá em Mato Grosso do Sul.

            Então, sinceramente, senhores, essa é a região ainda, lamentavelmente, eu não queria ser a região mais pobre...

(Interrupção do som.)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - ... eu não queria que o meu Estado (Fora do microfone.), Sr. Presidente, eu não gostaria que o meu Estado fosse ainda um Estado pobre nem o Nordeste brasileiro, mas é a realidade, e inverter essa lógica, inverter essa realidade, sinceramente, não é algo aceitável. Não é.

            Eu brinquei que tinha recebido um facão de presente do MST para puxar aqui no plenário. Claro que já morreu gente aqui neste plenário, e nós não vamos chegar a esse extremo, mas, sinceramente, é um golpe lamentável a gente tentar uma manobra para enfraquecer o Nordeste brasileiro, que é ainda a região mais pobre do Brasil, para favorecer o Estado mais rico do Brasil - o mais rico do Brasil, repito -, para dobrar o FPE do Estado mais rico, que é o Estado de São Paulo.

            Sinceramente, perdoem-me o desabafo. Eu não deveria nem estar falando, pelas condições de saúde, pela rouquidão em que aqui estou, mas não poderia, Sr. Presidente, deixar de fazer este desabafo.

(Soa a campainha.)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Aqui estão puxando a corda no pescoço do Nordeste brasileiro, para ajudar as regiões mais ricas do Brasil, as mais ricas. Desculpem-me, mas os senhores estão na região mais rica do Brasil. O Sul do Brasil e o Sudeste são as regiões mais ricas do Brasil e vêm aqui para tirar dinheiro do Nordeste!

            Sinceramente, Sr. Presidente, desculpe-me, mas não é aceitável, não é perdoável se nós cometermos esse crime aqui no plenário.

            É assim que queremos responder às ruas? Deixando mais pobre o Nordeste brasileiro? Desculpem-me, não é por esse caminho. Se formos por esse caminho, vamos ajudar o Nordeste a ficar mais pobre, numa manobra vil, lamentável.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/2013 - Página 38090