Pronunciamento de Paulo Paim em 08/07/2013
Pela Liderança durante a 113ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem ao ex-Presidente da África do Sul, Nelson Mandela.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Pela Liderança
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Homenagem ao ex-Presidente da África do Sul, Nelson Mandela.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/07/2013 - Página 44570
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, AFRICA DO SUL, COMENTARIO, HISTORIA, POLITICO.
O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta Vanessa Grazziotin, vou começar minha homenagem a Nelson Mandela lembrando uma letra que ouvi ser declamada pelo Vice-Presidente da República, José Alencar. Foi ele que, numa atividade no Rio Grande do Sul, tirou um papelzinho do bolso e fez uma declamação, usando a letra de Nelson Cavaquinho e de Guilhermo Brito.
Dizia José Alencar naquela oportunidade:
Quando Eu Me Chamar Saudade
Me dê flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meu ais.
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade.
Quero preces e nada mais
Srª Presidenta, faço esta homenagem hoje a Nelson Mandela. Sei que ele está num momento difícil. V. Exª verá que eu falo muito aqui em flores, como se eu tivesse podendo, neste momento, remeter muitas flores em vida para Nelson Mandela.
Srª Presidenta, há momentos na vida em que o coração e o peito ficam apertados. Procuramos um horizonte que possa dar respostas às nossas dúvidas e angústias.
Os porquês estão por todos os lados, em cada gesto, em cada olhar. Tentamos de todas as formas e meios descobrir uma explicação para algo que não depende de nós, que não compete a nós: o sim ou o não. Isso acompanha a humanidade desde o seu nascimento, dos mais longínquos tempos. Sempre o homem procura respostas para tudo.
Não quer perder o convívio com seus entes queridos: não aceita, se rebela… Mostra todo o seu egoísmo. Já que ele não entende que a vida aqui na Terra é uma passagem e que cada um de nós tem uma missão, e fará, um dia, a sua viagem.
A missão de Nelson Mandela é a de cultivar um grande jardim com flores, plantas, árvores, com muitos frutos, regar diariamente sem desejar nada em troca, podar o necessário para abrir novos caminhos, cuidar, acariciar, fazer o despertar das consciências.
Um jardim onde os homens sejam iguais entre os seus iguais, onde a liberdade cante suas cantigas mais puras, onde o beijo resgate a essência das relações humanas e o abraço conviva lado a lado com as pessoas, com suas diferenças, cores, levando fé, respeito e esperança para o planeta que nos acolhe.
Esse é Nelson Mandela -- um africano de todas as cores e sabedoria, um homem que está no mundo com a feliz missão de cultivar um grande jardim de todas as flores, de todas as cores.
Nelson Mandela nasceu em 1918, na pequena aldeia de Mvezo, no Transkei, região litorânea da África do Sul. Foi batizado com o nome de Rolihlahla -- aquele que puxa o galho da árvore, na língua xhosa.
Seus pais talvez nem imaginassem que, ao dar esse nome, futuramente, nasceria ali uma simbologia a se espalhar pelo mundo, uma referência para todos aqueles que acreditam, militam e, posso dizer, lutam pelos direitos humanos.
Quando estive na África, Senadora Vanessa Grazziotin, nos anos 80, as pessoas me diziam: “Eu puxo o galho da árvore porque quero paz, eu puxo o galho da árvore porque quero liberdade, eu puxo o galho da árvore porque quero direitos iguais e uma vida digna, eu puxo o galho da árvore porque quero que Mandela, que está no cárcere, tenha liberdade plena”.
Talvez, Srª Presidenta, seus próprios pais não soubessem ler nem escrever, mas fizeram de tudo para que o pequeno estudasse. Logo que entrou para a escola, foi obrigado a trocar seu nome de nascimento por um nome inglês. Eis que surge Nelson, Nelson Mandela. Alguns anos depois, já na adolescência, muitos passaram a chamá-lo de Madiba, em referência ao nome do seu clã tribal.
Ele estuda, trabalha, termina os estudos primários, depois secundários, chega à universidade para cursar Direito. Assim, Nelson é considerado e visto como o único estudante negro da sua turma, mas faz amigos, por sua liderança. Tem suas paixões. Não tem acesso à cantina nem às quadras de esporte. Participa de manifestações, é perseguido. E assim, nesse ambiente, começa a nascer o farol da liberdade, da verdade de um grande líder.
A África do Sul era um país que não olhava para o seu povo. Tudo era separado: ônibus para negros, ônibus para brancos, ônibus para indianos, ônibus para mestiços; bares para brancos, bares para negros, bares para indianos ou mestiços. Postos de saúde não havia para negros, nem para indianos, nem mestiços. Somente humilhação, muita pobreza. E Nelson diz: “Vou mudar as leis”.
Em Alexandra (1943), cerca de dez mil pessoas marcham contra o aumento -- vejam bem -- das passagens de ônibus. Coincidência, aqui, no Brasil, a marcha inicia por aí, contra o aumento das passagens de ônibus. Nelson Mandela está à frente. E veio outra marcha, e mais outra, e mais outra, e mais outra. Não somente pelas passagens, mas por terra, por estudo, por saúde. A vitória chega com o povo nas ruas. Nesse momento, Mandela entende que somente a força das vozes nas ruas pode mudar o seu país.
Ele é perseguido, procurado, preso, torturado, humilhado, mas, enfim, libertado. Mandela vê o apartheid -- que significa viver à parte -- chegar, com toda a força, para esmagar o sonho de milhões de sul-africanos.
Assim chegou o apartheid. Uma minoria governa a vida de milhões de negros, indianos, mestiços e brancos, que também lutam pela liberdade e que não aceitam o apartheid. É a não democracia, a maioria proibida de circular livremente. Precisam de passaporte em seu próprio país.
Muitos morreram. Mandela é preso novamente. Estamos em 1964. Ele fica 27 anos no cárcere. Lê muito, estuda muito, escreve cartas, conversa com seus colegas de prisão, há grandes debates, ergue as mãos aos céus e ora com todas as suas forças.
Começa a crescer, no mundo todo, uma campanha de militantes dos direitos humanos exigindo a liberdade de Nelson Mandela. Com suas forças, Mandela diz: “O meu povo e a minha África não merecem esse martírio”.
Antes de ser transferido da Ilha Robben (fim dos anos 80), um prisioneiro levou uma cópia das obras reunidas de Shakespeare para todos os prisioneiros políticos da ala C e pediu que marcassem suas mensagens favoritas.
Mandela não hesitou. Foi até Júlio César, ato 2, cena 2, e marcou o trecho:
Covardes morrem muitas vezes antes de suas mortes. O bravo sente o gosto da morte uma única vez. De tudo que vi, o mais estranho é que os homens tenham medo, já que a morte, um fim necessário, vem quando vem. (Os caminhos de Mandela).
Esse é Nelson Mandela, que na prisão aprendeu, segundo ele mesmo, a ter autocontrole, foco, disciplina, exercício.
Depois da sua libertação, em 11 de fevereiro de 1990, e o fim do "viver à parte”, o apartheid, em 1991, Mandela e o presidente De Klerk trabalham juntos pela reconciliação nacional.
Em 1993, os dois receberam o Prêmio Nobel da Paz. Mandela é eleito o primeiro negro presidente da África do Sul, e, em 1999, ele diz: “Fiz a minha parte, acabei com o apartheid, encaminhei a conciliação e não concorro à reeleição. Saiu pelo mundo a defender os direitos humanos para todos os povos.
Srª Presidenta, fiz essa homenagem a Nelson Mandela, como disse no início da minha fala, com o coração e o peito apertados. Como todos aqui sabem, ele está muito, muito doente. Muito, muito doente. Talvez pelo meu egoísmo eu não queira que ele nos deixe, mas, de tudo isso, eu posso afirmar que agora eu entendo que a grande missão dele é a de cultivar esse grande jardim da humanidade.
Uma homenagem a Nelson Mandela, que, daqui a dez dias, 18 de julho, completará 95 anos. Eu vou ler aqui, para terminar…
Esta é uma homenagem, Srª Presidenta Vanessa Grazziotin, que faço a Nelson Mandela, que, daqui a dez dias, 18 de julho, completará 95 anos.
E termino lendo os versos escritos, em 1875, pelo poeta britânico William Ernest Henley. E por que eu leio este poema? Porque era o poema preferido de Mandela. E aqui eu termino. Como eu digo aqui, Mandela adora este poema, que tem o título Invictus, em latim, e significa Invencível.
Diz o poema que Mandela mais adorava e adora:
Emerjo das ondas negras da noite,
Escuras como o poço que liga os polos,
E agradeço aos deuses, sejam quais forem,
Por me haverem dotado de alma Indomável.
Prisioneiro dos fatos que me atormentam,
Não gemi nem chorei.
Sob o infortúnio dos golpes,
Estou acabado, mas de pé.
Além desse mundo de lágrimas e fúria,
Veja apenas o horror das trevas,
Mas a terrível ameaça dos anos
Não me atinge nem assusta.
Pouco me importa a estreiteza dos caminhos,
Os penosos castigos em minha senda,
Sou senhor do meu destino.
Sou capitão da minha alma.
Srª Presidenta, esse final -- e aqui terminou -- do poema que mais Mandela gostava tem tudo a ver com o momento por que ele passa. Ele diz: “Sou senhor do meu destino, sou capitão da minha alma”.
Nelson Mandela vive. Nelson Mandela nunca morrerá, porque seus ideais estarão sempre vivos entre nós.
Vida longa! Viva Mandela! Vida eterna para os ideais do grande Nelson Mandela!
Muito obrigado, Srª Presidenta, pela gentileza de V. Exª, que ficou aqui. E pode saber que ficarei aí, se necessário for, para a senhora falar, ou qualquer outro orador, porque V. Exª permitiu, embora eu tivesse falado já, por dez minutos, na abertura, que eu falasse, como Líder, para poder homenagear esse grande líder da humanidade, Nelson Mandela.
Muito obrigado.