Discurso durante a 118ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta para o descaso masculino com a saúde e manifestação de apoio aos movimentos sociais contrários à corrupção.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, SAUDE. MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Alerta para o descaso masculino com a saúde e manifestação de apoio aos movimentos sociais contrários à corrupção.
Publicação
Publicação no DSF de 16/07/2013 - Página 47370
Assunto
Outros > HOMENAGEM, SAUDE. MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, HOMEM, DEFESA, NECESSIDADE, EXAME MEDICO, FREQUENCIA, MANUTENÇÃO, SAUDE.
  • COMENTARIO, APOIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, APRESENTAÇÃO, IMPORTANCIA, RECURSOS, SAUDE, INFRAESTRUTURA, HOSPITAL, INVESTIMENTO, FORMAÇÃO, MEDICO, CRITICA, CORRUPÇÃO, PAIS.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Ana Amélia, Srªs e Srs. Senadores, vou abordar outros temas, mas queria começar o pronunciamento falando do dia de hoje, que é o Dia Nacional do Homem.

            Aqui, no Brasil, diferentemente do Dia Internacional do Homem, que é no dia 19 de novembro, comemora-se esse dia em 15 de julho, muito mais com o objetivo de chamar a atenção do homem para os cuidados com a sua saúde.

            Senadora Ana Amélia, eu conheço isso por ser médico, conheço isso por ser homem. Realmente, o homem é, como se diz popularmente, relaxado com a sua saúde. E por isso mesmo o homem morre de doenças que poderiam ser evitáveis de maneira apenas preventiva. Mas no, entanto, o homem realmente não tem, digamos, como as mulheres, uma rotina de cuidar da sua saúde periodicamente, fazer os exames preventivos. E, com isso, nós perdemos às vezes figuras importantes muito cedo na vida. E isso se vê, ainda hoje, embora tenha diminuído um pouco, a diferença da idade média de vida das mulheres e da idade média de vida dos homens.

            Então, eu queria aqui deixar registrado este apelo aos homens: cuidem-se, pensem bem que não é constrangimento -- eles acham que é um constrangimento -- fazer os exames normais de rotina de todo o corpo. Não é só pensar num item.

            O homem, talvez por um complexo de fortaleza, pensa que é fraqueza estar no médico a toda hora. Eu até tinha um tio que se orgulhava de dizer que -- ele tinha uns cinquenta e poucos anos -- que nunca tinha ido a um médico. Isso não é orgulho para ninguém. Então, eu queria deixar isso registrado neste dia, que passa até desapercebido. Ontem me chamou a atenção uma propaganda na televisão, um comercial para vender perfume masculino em homenagem ao dia de hoje, Dia do Homem.

            Mas o tema central, depois desse alerta que faço, desse apelo que faço aos homens, é um outro apelo que quero fazer -- já fiz e quero reiterá-lo aliás --: que nós aproveitemos este momento em que o povo está indo às ruas, em que o povo está reclamando de coisas que todo mundo reconhece que são reivindicações mais do que justas, em que o povo está exigindo o cumprimento da obrigação que deve ter o Governo municipal, o Governo estadual e o Governo Federal no que tange a itens básicos como, por exemplo, saúde, educação, segurança, para fazermos um combate ferrenho à corrupção.

            Nós, de fato, precisamos entender que, se a educação não vai bem, se a saúde não vai bem, se a segurança não vai bem, vai ver, Senador Aloysio, que por trás disso está justamente o ralo da corrupção, tirando desses pontos principais o dinheiro que deveria ser aplicado, por exemplo, para equipar um hospital adequadamente, para haver em todas as regiões hospitais adequados. E aí se tenta resolver essa questão.

            Por exemplo, já que estou falando de saúde, com medidas que, como V. Exª abordou muito bem, vão surtir efeito talvez daqui a 20 anos, mas, na verdade, se agora, agora, agora, começassem…

            Eu tenho ressaltado também que eu confio no Ministro Padilha. No entanto, fico preocupado quando vejo que ele está participando dessas decisões, como vetos ao Ato Médico, a extensão do curso de Medicina, que já é o mais extenso que existe: passar de seis para oito anos, dando a falsa ideia para a população de que isso vai resolver o problema da saúde -- nem a médio, nem a longo prazo.

            É lógico que é preciso haver médico, é preciso haver enfermeira, é preciso haver fisioterapeuta, é preciso haver toda a equipe de saúde, mas, se essa equipe estiver em um hospital que não tem equipamentos adequados, não vai fazer nada. Pelo contrário, ela vai pôr a sua reputação em jogo e, pior, pôr em risco a vida das pessoas. Então, esse não é um privilégio de Estados da Região Norte, não. Tenho certeza de que, no seu Estado de São Paulo -- e tenho os dados --, há Municípios que têm carência de médicos.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP. Fora do microfone.) - Na capital.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR) - Na capital inclusive, como disse V. Exª; na periferia da capital, faltam médicos.

            Agora, um dia desses, vi, na televisão, um centro de saúde, cujos médicos o abandonaram; dos sete, quatro foram embora porque foram assaltados na porta do centro de saúde. Então, é preciso, realmente, que olhemos de maneira muito séria.

            Eu costumo sempre aproveitar uma conclusão da Corregedoria-Geral da República (CGU), que constatou -- no ano passado, publicou uma matéria -- que, nos últimos cinco anos, a partir daquela publicação para trás, tinham sido desviados da Funasa, que é só um órgão do Ministério da Saúde, R$500 milhões. E a Funasa é responsável por n ações de saúde, inclusive assistência aos índios. Mas, na verdade, isso não acontece somente nesse nível, não; acontece, lamentavelmente, no nível da compra de medicamentos, da compra de equipamentos e de material de consumo nos hospitais.

            Então, se nós não estagnarmos essa corrupção, é como ficar olhando alguém sangrando e botar uma bacia embaixo para aparar o sangue, o que não resolve. Se não estancar realmente esse mal -- que aliás afeta todos os setores, mas principalmente a saúde, a educação e a segurança --, que é a corrupção, nós realmente não avançaremos, não melhoraremos este País.

            E o mais importante, aprovamos aqui no Senado a transformação do crime de corrupção em crime hediondo. Muito bem. Agora, o importante é ir mais longe ainda, é evitar que o crime hediondo seja cometido, porque, senão, nós levaremos essa geração de hoje, a maioria dos jovens, com escolas precárias ou até sem escolas… Mas hoje se diz que já está universalizado o ensino. Mas que ensino? De que qualidade?

            Então, eu pertenci a uma época em que a gente brigava para estudar em escola pública, porque as escolas particulares eram tidas como de qualidade inferior. Hoje é o inverso. Tanto se deteriorou o salário do professor como o equipamento, como a segurança das escolas, a ponto de -- estão aí as estatísticas mostrando -- ninguém mais quer estudar para ser professor.

            Então, nós temos também isso na Medicina. Por exemplo, numa área importantíssima como a pediatria, tem havido, a cada ano, menos gente procurando fazer especialização em pediatria. Imagine, se nós não cuidarmos das nossas crianças, como vamos ter adultos bons, sadios?

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP. Fora do microfone.) - Por que isso?

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR) - O desestímulo, Senador Aloysio. Isso acontece pelo desestímulo que se dá ao pediatra, que é uma especialização que exige muito, porque atende uma criança na hora do parto, que é o neonatologista; depois, durante o período em que a criança não fala, e ele tem que ser mais hábil ainda, porque só tem a informação da mãe e o exame, e recebe realmente um salário, comparativamente com outras especialidades, muito pequeno. Então, é preciso que…

            No tempo em que fui estudante de Medicina, já se dizia: se tratarmos bem da saúde da mulher e da saúde das crianças, nós estamos resolvendo 80% dos problemas da saúde pública. Mas na verdade, até que no que tange à saúde da mulher, houve avanços. Mas no que tange à saúde infantil, realmente não tem havido avanços. E isso é triste de ver. Não há interesse dos jovens em serem professores, não há interesse dos médicos em serem pediatras.

            Hoje as subespecializações até ganham campo em certas áreas -- como oftalmologia, dermatologia -- e as outras básicas vão perdendo e, digamos assim, não despertam o interesse que deveriam despertar.

            Pior ainda é que, com essas medidas tomadas agora, eu quero dizer uma coisa: aliado para mim não é aquele que diz só amém e está tudo de acordo. Por exemplo, essas medidas que foram tomadas agora, no que tange à área de saúde, para mim só funcionam como um analgésico ou um anestésico para anestesiar a percepção das coisas, porque não vão, realmente, nem no médio prazo, resolver o problema.

            Nós tínhamos que ser mais eficientes na gestão do recurso da saúde, mais eficientes na fiscalização dessa gestão e, sobretudo, não pararmos essa luta nunca, porque, embora, já em 1914, Ruy Barbosa tenha dito que de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver agigantar-se o poder na mão dos maus, de tanto ver prosperar a injustiça, o homem honesto chega até a ter vergonha de ser honesto, nós não devemos nunca abrir mão do combate, que é difícil, é verdade, tanto que se generaliza.

            Se uma minoria é corrupta, generaliza-se que todo mundo é corrupto. São os políticos. Não existem aqueles maus políticos, não. São os políticos. E com isso até a juventude perde o interesse pela política, não se dedica à política, os homens e mulheres de bem, às vezes, não querem entrar para a política, porque têm medo de se contaminar. Mas há uma frase que diz o seguinte: o que faz o político ser corrupto não é a política, é o voto do cidadão que faz o ladrão virar político.

            Então, nós temos que, de fato, reagir a essa situação. Estou muito feliz de ver essa movimentação nas ruas, de maneira apartidária, e, inclusive, tenho acompanhado, nas redes sociais, já uma convocação de toda a juventude, de todo mundo, jovem de idade e jovem de espírito, para o dia 7 de setembro, de novo, para mostrar, no dia em que se comemora a independência do Brasil, a indignação do povo com relação a esses males, sobretudo a mãe de todos males, que é a corrupção.

            Agora, pergunta-se: o cidadão deve apenas reclamar? Só protestar? Só reivindicar? Não. O cidadão tem que estar de olho na hora da eleição.

            O cidadão tem de medir, realmente, em quem ele está votando, ver a vida dessa pessoa e, realmente, depois, lembrar que se ele votou, por uma ou outra razão, numa pessoa que ele sabia que era corrupta, ele não pode reclamar de que existam vereadores, deputados estaduais e federais, e governadores corruptos.

            É preciso, portanto, fazer um trabalho, daqui até as próximas eleições, e continuá-lo depois para que, de fato, a Nação brasileira, o conjunto da Nação brasileira entenda que o combate à corrupção começa na hora da eleição e, depois, não deve parar durante o exercício do mandato, seja ele legislativo ou executivo.

            O importante, eu gostaria de dizer também, é que, reiterando até, o momento é apropriado para se unirem os três Poderes -- o Executivo, o Judiciário e o Legislativo --, numa operação nacional de combate à corrupção.

            Eu quero, portanto, deixar registrado este meu apelo aos homens, pelo Dia Nacional do Homem, para que cuidem da sua saúde, e, sobretudo, também o meu protesto contra a corrupção que ainda campeia neste País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/07/2013 - Página 47370