Discurso durante a 110ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a política externa brasileira.

Autor
Sergio Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Sergio de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários sobre a política externa brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2013 - Página 42899
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ITAMARATI (MRE), IMPORTANCIA, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, PAIS, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, RELEVANCIA, POLITICA EXTERNA, INTEGRAÇÃO, MEMBROS, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, BRASIL, MERCADO INTERNACIONAL.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Inácio Arruda, Presidente desta sessão, Srªs Senadoras Ana Amélia, Vanessa Grazziotin, Sr. Senador João Capiberibe, senhoras e senhores, caros telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, todos aqueles que nos acompanham, no Brasil, cada vez mais, presenciamos, sentimos os grandes movimentos. Os caminhoneiros estão parando o Brasil, o que trará consequências graves, principalmente de abastecimento e de escoamento. No caso dos médicos, as consequências podem ser lesivas até mesmo à saúde do brasileiro. Movimentos de todos os níveis e de todas as formas ocorrem no Brasil. E todos nós procuramos entender um pouco o porquê disso tudo.

            Há pouco, na Comissão de Relações Exteriores, com o Ministro Pimentel, muito lhe foi indagado sobre a economia brasileira, sobre a indústria, sobre o baixo crescimento. Naturalmente, isso gera desemprego; com insegurança internacional, os investimentos deixam de vir. Precisamos entender um pouco tudo o que está acontecendo no Brasil.

            Hoje, venho fazer um pronunciamento, Sr. Presidente, sobre a atuação do Brasil na política externa, ou sobre a política externa brasileira.

            Primeiramente, gostaria de lembrar o absurdo incidente envolvendo o Presidente da Bolívia Evo Morales, que teve dificultado o retorno ao seu país quando sobrevoou o espaço aéreo de alguns países da Europa em decorrência da suspeita de que transportava o ex-agente da inteligência dos Estados Unidos da América. Ele foi impedido de sobrevoar alguns daqueles países. Trata-se de episódio lastimável que denota grande desrespeito pelo chefe de uma nação irmã.

            Também lamento o ocorrido no Egito, pois representa um retrocesso para a democracia. Naquele país, forças militares forçaram a deposição do presidente, um presidente legitimamente eleito. Acho que existem outras formas de se retirar um presidente eleito do poder.

            Mas Srªs e Srs. Senadores, a minha motivação principal neste pronunciamento é refletir sobre a importância da diplomacia e das relações exteriores para uma nação que pretende ampliar sua participação nas principais discussões do Planeta, bem como elevar sua presença no mercado internacional.

            As relações exteriores de um país têm como ação primordial, principal, aumentar suas relações comerciais. É assim que fazem os Estados Unidos da América, é assim que fazem as grandes nações comerciais no mundo.

            Somos atualmente a 6a ou a 7a economia do mundo. Um país que tem avançado muito na distribuição de suas riquezas e na redução da miséria. Isso é fato. A inclusão das dezenas de milhares de pessoas, na última década, na classe média é fato no nosso País. Uma nação composta por uma população miscigenada, a partir de múltiplas etnias, formadora de uma sociedade pacífica em sua essência e história, e dotada de um regime democrático em franca consolidação. Entendo, portanto, ser absolutamente legítima a pretensão do Brasil de contribuir mais para os grandes debates e desafios mundiais.

            Para tanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a atuação da diplomacia nacional é fundamental e pode ser decisiva. Não apenas para propagar nossas posições sobre as principais questões internacionais, mas, ainda, para demonstrar a vocação do País para o diálogo e a busca de consenso.

            No momento atual, em que acabamos de sediar a Copa das Confederações e nos preparamos para sediar a Copa do Mundo, em 2014, as Olimpíadas, em 2016, cresce em importância a tarefa de nossos diplomatas, especialmente agora, para explicar ao mundo os movimentos e as manifestações que temos visto se multiplicar por várias cidades brasileiras.

            Repudiando os casos de violência, confronto, depredação de património público e privado, que felizmente representam uma minoria absoluta, é importante esclarecer às demais nações do globo o caráter pacífico e democrático das manifestações que se sucedem.

            Mas o Itamaraty tem missões além dessas, e sua tradição de conduta o credencia para continuar ampliando sua presença nos principais fóruns.

            Recentemente, o País teve uma vitória expressiva com a eleição do Embaixador Roberto Azevedo para a Diretoria-Geral da Organização Mundial do Comércio. Antes disso, havia sido bem-sucedido na eleição de José Graziano para Diretor-Geral da FAO. São claras demonstrações da correção dessas estratégias.

            Também, Sr. Presidente, merecem destaque outros movimentos igualmente coordenados pelo Itamaraty, que, a meu juízo, têm se mostrado eficazes para os interesses nacionais.

            Refiro-me, por exemplo, à consolidação dos BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul, como fórum de debate e organização de pautas e ideias comuns entre seus membros. O tamanho e a representatividade dos BRICS no cenário internacional, econômico e geopolítico apontam perspectivas promissoras para o grupo e representam para o Brasil uma oportunidade de se fazer ouvir com mais força.

            Também merece saudação a presença pacificadora do Brasil no Haiti. Na condição de país postulante de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, a demonstração de capacidade em liderar movimentos que assegurem a paz e o bem-estar em países que enfrentam instabilidade política seguramente reforça a legítima pretensão brasileira.

            A participação do Brasil na criação e consolidação do G-20 também merece reconhecimento. Trata-se de mais uma iniciativa cujo objetivo final é exatamente redefinir a governança mundial a partir da nova realidade do Planeta, especialmente depois do fim da Guerra Fria e das sucessivas crises econômicas enfrentadas.

            Também é digna de nota, Sr. Presidente, a posição geral do Brasil em defesa do diálogo e das negociações pacíficas como principal ferramenta para a solução dos conflitos globais.

            Vejam o caso do conflito na Síria. Concordo integralmente com a posição da diplomacia brasileira, de considerar como única alternativa para o fim da violência a solução negociada.

            Sras e Srs. Senadores e Senadoras, lamento imensamente o número absolutamente desnecessário de inocentes mortos, e entendo que o mundo deve pôr fim nisso, afinal já são mais de 100 mil vidas perdidas. Porém, não consigo me convencer de que a estratégia de fornecer armas a qualquer dos grupos envolvidos possa ser bem sucedida.

            Aliás, preocupa-me a ideia de armar a oposição na Síria, que é representada por vários segmentos distintos, alguns deles inclusive suspeitos de vinculação com grupos terroristas internacionais,...

(Soa a campainha.)

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR) - ... como a Al-Qaeda.

            Ao contrário, creio que devemos insistir em uma solução negociada. Para tanto, cresce a importância da conferência que tratará do assunto em Genebra. É fundamental, Sr. Presidente - peço mais alguns minutinhos para concluir -, que todos os que participarão do encontro na Suíça estejam verdadeiramente imbuídos do propósito de efetivamente solucionar a situação, sem belicismo. Espero e defendo que o Itamaraty não meça esforços nesse sentido.

            Por fim, volto minhas atenções para o continente sul-americano e nossa política para integração da região. Aliás, ouvimos hoje o Ministro Pimentel e, recentemente, o Ministro Patriota, na Comissão de Relações Exteriores sobre o assunto.

            Durante muitos anos, o Brasil vem empreendendo grandes esforços em prol da consolidação e do fortalecimento do Mercosul. Ao longo deste período, é perceptível o extraordinário crescimento do comércio entre os membros do Bloco com ganhos substanciais para a balança comercial brasileira.

            Entretanto, é forçoso reconhecer que, nos últimos anos, o Mercosul tenha apresentado dificuldades para o Brasil, tanto nas relações entre os membros, com o acirramento de disputas, quanto no decréscimo das nossas exportações para o Bloco, especialmente para a Argentina.

            No mesmo momento, surge a Aliança do Pacífico, apresentando ao continente um novo agrupamento de países - composto por Chile, Peru e Colômbia - e causando preocupação entre todos que acompanham o comércio externo brasileiro, especialmente em alguns setores do segmento industrial do País.

            Senhoras e Senhores, penso que o momento é de atenção, e a atuação do Itamaraty, Sr. Presidente, no processo, seguramente, será fundamental, para garantirmos o que for melhor para os interesses do Brasil.

            Não se trata de negligenciar o Mercosul nem supervalorizá-lo, mas, sim, fazer com que o Bloco funcione para atender aos interesses de todos os seus membros, e, por conseguinte, o Brasil, o interesse da maior economia do bloco.

            Por fim, Sr. Presidente, temos que estar atentos aos movimentos mundiais de comércio, trabalhando para ampliar a participação do nosso Bloco no mercado internacional. E assim, poderemos, ao fim, louvar os resultados positivos da relação entre o Mercosul e Aliança do Pacífico, o que trará benefícios para todo nosso continente.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.

            Boa tarde a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2013 - Página 42899