Comunicação inadiável durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à abertura da tribuna do Senado Federal para manifestações de jovens.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Apoio à abertura da tribuna do Senado Federal para manifestações de jovens.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2013 - Página 52326
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • APOIO, PROPOSTA, EX SENADOR, ABERTURA, PLENARIO, SENADO, BENEFICIO, CIDADÃO, OBJETIVO, UTILIZAÇÃO, PALAVRA, DEBATE, SENADOR, REFERENCIA, PROBLEMAS BRASILEIROS.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Governo/PDT - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, Senador Paim, o senhor ontem estava aqui, como aliás sempre está, e ouviu uma fala minha em que analisava uma pesquisa mostrando a desmoralização, a reprovação, a nota baixa que recebem no Brasil os serviços públicos.

            Eu quis chamar a atenção para o que está por trás de uma pesquisa que mostra que o povo diz que a saúde tem nota 3,3, que a educação tem 4,3, que a segurança tem já não lembro quanto, mas, por aí, uns 4. O que está por trás é mais do que o número, é mais do que uma crítica ao serviço público: é uma realidade devastadora.

            Quando a gente diz que a segurança não está bem, o que a gente quer realmente dizer é que nós estamos nos matando. E nós estamos matando, especialmente, os nossos jovens. Às vezes, a gente vê uma estatística e não percebe isso. Este é o País onde nós nos matamos pela violência, seja a violência direta, seja a violência do trânsito.

            Quando a gente diz que a saúde está mal, o que a gente tem de saber é que isso quer dizer que há pessoas morrendo, sem razão de morrer, porque a ciência já permite curar, porque o Brasil já tem os recursos para isso, e não faz.

            Quando a gente diz que o transporte público funciona mal, isso não quer dizer, apenas, que os ônibus não estão bem, que quebram. Quer dizer que, neste País, milhões de pessoas perdem três horas por dia no trânsito, jogando fora, portanto, uma parte de sua vida, o que soma um ano e meio durante o período de vida útil de uma pessoa. Isso sem falar que as crianças também ficam prisioneiras, porque, para irem à escola, hoje, sofrem com o problema do trânsito. Acho até que, da maneira como hoje existem faixas especiais para ônibus - o que defendo -, deveríamos ter faixas especiais para os carros que vão levando crianças para a escola também, não só para que cheguem na hora, mas para evitar o trauma, a angústia.

            Mas eu aproveitei tudo isso para propor, ontem, aqui, que o Senado se abra para ouvir as pessoas que estão nas ruas; que esta tribuna seja colocada à disposição de jovens ou não jovens que hoje protestam. Se isso fosse feito na Câmara de Vereadores de Campinas, não teria, provavelmente, acontecido o que aconteceu na noite passada, quando jovens invadiram e quebraram o plenário da Câmara de Vereadores. Se eles tivessem tido espaço para falar, é possível que isso não tivesse acontecido. Não vou garantir que não aconteceria. Por isso, nós deveríamos abrir.

            Também deveria abrir-se a Câmara dos Deputados - e falei com um Deputado, hoje, para apresentar essa proposta em que dei entrada ontem aqui -, bem como todas as Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores. Nós deveríamos abrir.

            E vim aqui repetir, porque eu não estava alerta, não conhecia que já existe um projeto nesse sentido, de 2008. Imaginem: desde 2008, há um projeto nesse sentido, de autoria do então Senador Expedito Júnior.

            S. Exª apresentou um projeto que faz com que o Senado abra o seu plenário, ou seja, que se mude o Regimento Interno, que passaria a vigorar acrescido de um capítulo, que dispõe que, até o limite de 15 oradores, por cinco minutos cada, cidadãos teriam o direito a vir ao plenário do Senador fazer a fala que desejassem, uma vez por mês, numa sexta-feira.

            Que uso melhor daríamos nós para as sextas-feiras, quando, em geral, poucos de nós aqui vimos? Que coisa melhor do que usar as sextas-feiras para que os jovens falem, com transmissão pela TV Senado, pela TV Câmara, pela televisão de cada assembleia legislativa e Câmara de Vereadores, como hoje quase todas já têm?

            E S. Exª ainda dá mais uma série de indicações sobre como se regulamentar isso.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Governo/PDT - DF) - Portanto, vim aqui fazer justiça ao Senador Expedito Júnior e vim, também, dizer que lamento que um projeto nesse sentido, de 2008 - repito: 2008! -, esteja paralisado em alguma Comissão do Senado.

            Depois a gente acha estranho quando o povo vai para as ruas. Nós engavetamos um projeto desse alcance por oito anos, até aqui - e é capaz de continuar, porque é capaz de essa minha fala não dar resultados -, negando essa tribuna para que algumas pessoas do povo venham a usá-la.

            A minha proposta não é exatamente a de fazer isso regularmente - e eu assino a proposta do Senador Expedito Júnior -, mas a minha é mais simples e mais imediata, não precisando sequer mudar o Regimento: que apenas convidemos essas pessoas a virem aqui. Eu quero ouvir o que as pessoas que estão nas ruas têm a dizer, e não apenas pelas pesquisas de opinião, como a que li ontem aqui, feita pelo Ibope, Datafolha e outras entidades.

            Não! Eu quero ouvir; eu quero olhar nos olhos! E nós sabemos que, hoje, não há muito espaço para nós, políticos, irmos conversar com essas pessoas nas ruas. É preciso assumir essa deficiência, essa falha que temos hoje: é difícil irmos lá ouvi-los. Acho lamentável ouvi-los filtrados pela imprensa ou pelos institutos de pesquisa. A solução é, pois, trazê-los aqui. Que venham, que venham aqui alguns e que digam para nós por que estão nas ruas? O que não estamos fazendo e que eles gostariam que fizéssemos? Quais são as propostas deles para o futuro do Brasil?

            Eu quero, portanto, hoje, Senador, ratificar o documento a que dei entrada ontem, cujo destino ainda desconheço - e isso é uma cobrança que estou fazendo -, e apoiar a proposta do Senador Expedito Júnior. Que desarquivemos essa proposta, esteja ela onde estiver, e tratemos com seriedade a possibilidade de que o Senado use a sua tribuna para que o povo fale, por meio dela, para nós que estamos aqui e fale para o povo, pelos instrumentos que temos como a Rádio Senado e a TV Senado.

            Fica aqui, portanto, Senador Paim, o meu apoio a essa proposta do Expedito Júnior, que nem Senador é mais, e a minha cobrança de uma resposta ao documento que deixei ontem na Mesa, assinado, inclusive, pelo Vice-Presidente do Senado, Senador Jorge Viana.

            É isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2013 - Página 52326