Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à violência ocorrida em meio às manifestações populares; e outro assunto.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Repúdio à violência ocorrida em meio às manifestações populares; e outro assunto.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2013 - Página 52328
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, DISCUSSÃO, RESOLUÇÃO, FATOR, PREVIDENCIA SOCIAL, NECESSIDADE, RECEBIMENTO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, RELAÇÃO, PRESIDENTE, ENTIDADE, AERONAUTA, AEROVIARIO, DEBATE, PAGAMENTO, FUNDO DE PREVIDENCIA, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG).
  • REPUDIO, UTILIZAÇÃO, VIOLENCIA, POPULAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Senador Paulo Paim, quero confirmar: a Senadora Angela Portela e os Senadores Wellington Dias, Walter Pinheiro, Humberto Costa, Jorge Viana, Paulo Paim e Eduardo Suplicy - éramos cerca de oito Senadores nessa audiência com a Presidenta Dilma. Como alguns de nossos colegas tinham compromissos em seus Estados hoje, essa reunião, que havia sido marcada para as 16h, foi antecipada para as 11h, Na verdade, iniciou-se por volta de 11h30min e lá ficamos até às 14h. Assim, foram duas horas e meia de um diálogo muito produtivo.

            Queremos todos agradecer à Presidenta Dilma Rousseff que nos recebeu, juntamente com a Ministra Ideli Salvatti, de Assuntos Institucionais, e o Ministro do Desenvolvimento Industrial, Fernando Pimentel, e pôde-nos ouvir. Todos nós expressamos a nossa confiança no bom governo que Sua Excelência tem realizado, o quanto queremos ajudá-la, com o máximo de nossas energias, para que seja reeleita e como será positivo que o governo tenha uma interação ainda melhor com todos nós, Senadores, não só os da nossa própria Bancada, mas com os 81 Senadores, e que possam os ministros sempre estar conosco interagindo.

            V. Exª falou da sua preocupação quanto à resolução do fator previdenciário, e ambos mencionamos a importância de Sua Excelência receber a comissão de representantes do Aerus, que se encontra lá, no Salão Verde.

            É fato que a Presidenta disse que já havia dialogado com o Presidente Renan Calheiros, dizendo que irá receber, sim, a Srª Graziella, a Presidente da entidade dos aeronautas e aeroviários. Sua Excelência ainda não tem uma solução definitiva, mas vai conversar com a comissão - e, por oportuno, quero cumprimentá-lo por sua atuação nessa causa tão nobre.

            A Presidenta, inclusive, expressou o seu sentimento de preocupação e de solidariedade para com eles, uma vez que sabe que muitas dessas pessoas estão com seus 70, 80 anos. E, a propósito, Sua Excelência mencionou que, quando observa a história dessas pessoas, tem vontade até de chorar.

            Ressalto ainda que tivermos a oportunidade de encaminhar à Presidenta uma proposta de decreto legislativo, que nós, do PT, encaminhamos como sugestões de diversas perguntas. Também pude entregar à Presidenta uma carta, que, embora já lhe houvesse endereçado, dessa vez, assim, pessoal e oralmente, achei por bem novamente fazê-lo, sugerindo que seja constituído um grupo de trabalho para se pensar em como será, um dia, a transição do Programa Bolsa Família para a Renda Básica de Cidadania. Na oportunidade, também, mencionei a Sua Excelência o tema sobre o qual quero falar: “Manifestações sim; violência não”.

            Black Bloc são grupos de jovens, vestidos de negro, com máscaras negras, que participam de manifestações, desde 1970, em Seattle, nos Estados Unidos. Começaram aqui pelo Brasil, pelo Facebook, em 2012, e têm aparecido nas manifestações de junho e julho passados.

            O grupo, hostil à imprensa, se manifestou ao Portal Diário Liberdade através de um e-mail, enviado pela reportagem, com várias perguntas que foram respondidas com um texto, onde diziam: “Somos o grupo que está na frente das grandes manifestações em momentos de conflito. Não somos nós que iniciamos. Somos nós que seguramos a bomba e tomamos tiros, para que o restante possa correr. Enquanto a maioria corre, nós retardamos o opressor ao máximo”.

            O texto destaca que não existe uma organização fixa e que o grupo pode ser visto como um coletivo temporário de anarquistas. O grupo nega que existam líderes e também diz que não há reuniões e que os integrantes têm entre 17 e 30 anos. “A Corporação Policial torna-se nossa inimiga somente a partir do momento em que suas ações tomam um caráter opressor ou repressor. Somos pessoas como quaisquer outras. Temos vida, temos que estudar e trabalhar”, conclui o texto.

            As bandeiras do Black bloc são o fim das opressões e do autoritarismo. Deixam claro que seus inimigos não são os partidos políticos, mas, sim, todas as organizações que promovem a opressão do homem pelo homem. Como afirma um membro do Black Bloc ao Diário Liberdade:

Nós somos contra qualquer autoritarismo. Temos como inimigos aqueles que se colocam acima dos outros. Não aceitamos que ninguém tenha poder sobre ninguém. Acreditamos na solidariedade, liberdade e justiça. Queremos a democracia direta, com organização e sem autoridade. Nossos inimigos são os que humilham, os que não respeitam o próximo, os que tiram a igualdade e impõem sobre a população o que acham certo. Nós lutamos contra tudo o que reprime, tudo o que nos aprisiona. Reivindicamos o direito da sociedade e damos voz e apoio ao povo.

            Polêmico, o Black Bloc ganhou as páginas dos jornais de todo o País com uma visão distorcida e estereotipada. O grupo se defende das acusações de que incitaria atos de violência e expõe sua ideologia, pregando a unidade das forças que lutam contra o sistema independentemente das diferenças ideológicas:

Acreditamos que cada um tem o direito de escolher o que quer ser, no que acreditar e pelo que lutar. Não aprovamos o preconceito. Cada um nasceu do jeito que é, branco, negro, hétero, homossexual, homem, mulher [...] Cada um tem seu propósito no mundo e não cabe a ninguém julgar. Igualdade e justiça, é nisso que acreditamos e é isso que apoiamos. Todos estão lutando pelo que acham certo, só estamos fazendo o mesmo e tentando assim dar mais voz, mais expressão aos movimentos. Somos anarquistas, mas isso não nos torna vândalos ou pregadores da violência. Respondemos aos ataques da polícia, apenas. Não queremos ninguém ferido, queremos proteger, mesmo que, às vezes, algo saia errado. Queremos ajudar e acreditamos que toda ajuda é válida, mesmo com ideologias diferentes. A união faz a força e nesse momento a força é o povo, sem distinção de ideologia.

            Aqui fecho aspas para a declaração das pessoas que fazem parte do Black Bloc.

            Concordo que a união faz a força, mas não acredito na solução de problemas por meios violentos, pois violência acaba gerando violência. Basta ver alguns líderes que nunca precisaram de violência para transformar a sociedade.

            No mundo moderno, temos o caso de Mahatma Ghandi, que venceu os colonizadores britânicos e tornou a Índia o grande país que é hoje. Temos também o caso de Nelson Mandela, que ficou 27 anos na prisão e conseguiu o fim do Apartheid, tornando a África do Sul um dos países emergentes mais importantes do mundo.

            Isto nos indica que tudo o que precisamos ter para sermos livres conseguiremos com mais eficácia e sem derramamento de sangue, sem o pânico dos métodos violentos.

            Black Bloc, não seria melhor usar de métodos pacíficos para se alcançarem os objetivos pretendidos?

            Essa é a indagação que quero fazer a eles, caro Senador Aloysio Nunes, porque acredito sempre na forma da não violência e por isso que estou hoje fazendo esta reflexão.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Eu compartilho com V. Exª, Senador Suplicy, do seu repúdio à violência como forma de ação política e como forma de relacionamento entre as pessoas, entre as nações. Agora, o que não entendi do seu pronunciamento é que V. Exª parecia inicialmente ler um texto emanado desse movimento e...

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - Eu li para poder compreender o que eles estão pensando.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Isso, era exatamente o que eu gostaria de entender. Pelo que depreendo, eles dizem que são contra a violência, é isso? Mas, na verdade, eles vão para arrebentar mesmo, são aqueles marombados que vão com a cara tampada, vão para dar pancada, para depredar. Esse é o Black Bloc, pelo que eu sei.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - Na palavra deles, não são...

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - É um movimento anarquista, mas com métodos fascistas.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - Dizem eles: “Não somos nós que iniciamos, somos nós que seguramos a bomba e tomamos tiros para que o restante possa correr.”

(Soa a campainha.)

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - É, são fascistas, no fundo.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - Mas, na verdade, pelas cenas que eu vi na televisão, as iniciativas de muitas vezes lançar barras de ferro contra vitrines, lançar bombas molotov que incendiaram um soldado, lançar...

            No caso, às vezes, a polícia, outro dia, infelizmente, ao reagir a uma situação como essa, acabou ferindo a jornalista Juliana no rosto, o que também não foi bom. Obviamente, isso tudo nos preocupa, mas eu quero aqui prosseguir um pouquinho.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Receba a minha solidariedade, Senador, ao seu repúdio à violência.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - Muito obrigado.

            Avalio que não se justifica o emprego da violência na defesa de ideias. Ideias são combatidas com ideias! O emprego da violência desvirtua os objetivos maiores das manifestações populares.

            Ainda ontem eu disse: “Nossa sociedade tem uma tendência para a solução pacífica dos conflitos”. Não é à toa que o Papa Francisco foi tão bem recebido ao dizer: “Diálogo, diálogo, diálogo.” E acredito que devemos todos nos exemplos maiores de Gandhi, Mandela, Martin Luther King Jr., entre outros. Assim, adotando uma conduta pautada pelo diálogo, reivindicando de forma firme mas ordeira, poderemos modificar, realmente, a estrutura social de nosso País.

            Essa é a mensagem que deixo para o Black Bloc e os anônimos e demais grupos que de alguma forma estão na rua clamando por reformas sociais, políticas e econômicas.

            Vamos reivindicar, sim, mas respeitando o direito dos outros, o patrimônio público e o privado. Assim, as manifestações poderão angariar o respeito de toda a sociedade brasileira...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - ... e atingir seus objetivos. Vejam o exemplo de Martin Luther King Jr., quando, em 28 de agosto de 1963, conclamou o fim do racismo nos Estados Unidos para mais de 250 pessoas nas escadas do Lincoln Memorial, durante a Marcha de Washington por Emprego e Liberdade no dia em que se comemoravam os cem anos da abolição da escravidão nos Estados Unidos. O discurso foi um momento decisivo para a constituição dos direitos civis americanos, quando disse - eu vou pedir a permissão ao querido Senador Paulo Paim para, pelo menos, citar aqui um trecho tão relevante das palavras de Martin Luther King Jr.:

Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que, embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - [...] celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississipi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor da opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho de que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. [...]

Eu tenho um sonho de que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação;

(Soa a campainha.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - ... nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos.

Eu tenho um sonho de que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que [...] [regressamos] para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos,[ir para a cadeia] juntos, defender a liberdade juntos, e quem sabe seremos um dia livres.

(Interrupção do som.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - Este será o dia, quando todas as crianças...

(Soa a campainha.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - ... de Deus poderão cantar com um novo significado ."Meu país, [minha] doce terra de liberdade, [para você] eu [...] canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos, de qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!" E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York. [...]

Nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania. [...] Nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado. [...] Nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee. [...] Em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) -

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir as mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:"[Somos finalmente livres], afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres [finalmente]."

            Assim, sigamos as recomendações de Martin Luther King. Não vamos estar tomando do cálice do veneno da guerra, do ódio, da vingança. Vamos sempre procurar confrontar a força física com a força da alma.

            Muito obrigado. Que possam...

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - ... brasileiros e brasileiras agir (Fora do microfone.) com a não violência.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Governo/PT - SP) - Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2013 - Página 52328